AEB Descuida de Contratos e Põe em Risco a Conclusão do Satélite PMM/Amazônia-1
Olá leitor!
Segue abaixo outro artigo publicado na edição de junho do “Jornal
do SindCT”, este tendo como tema as dificuldades enfrentadas pelo Programa da Plataforma Multimissão (PMM), problemas estes que afetam diretamente o desenvolvimento do Satélite Amazônia-1.
Duda Falcão
CIÊNCIA E
TECNOLOGIA 2
AEB
Descuida de Contratos e Põe em Risco
a Conclusão do Satélite PMM/Amazônia-1
Programa
Plataforma Multimissão
Shirley
Marciano
Jornal do SindCT
Edição nº 38
Junho de 2015
Previsto para 2007, o lançamento desse satélite só deverá
ocorrer em 2017. A MECTRON, empresa do Grupo Odebrecht, deixou de entregar ao
INPE equipamentos que foi contratada para produzir. Desde 2001 a Agência
Espacial Brasileira (AEB) vem tentando desenvolver um projeto inteiramente
nacional denominado Plataforma Multimissão (PMM). Tal plataforma espacial
serviria de “apoio” para diferentes sensores (cargas úteis), de modo a permitir
o desenvolvimento de diferentes satélites, com missões distintas, e que
poderiam ser postos em órbita por meio de diferentes veículos lançadores (foguetes)
disponíveis no mercado.
O cronograma original previa o lançamento do primeiro
satélite baseado na PMM já em 2007. Contudo, percalços de natureza técnica,
administrativa e jurídica vêm postergando o lançamento inaugural por vários
anos, a ponto de ainda hoje não se saber ao certo quando ele se dará.
Apesar de a AEB figurar como main-contractor ou principal
responsável pela condução do programa, coube ao Instituto Nacional de Pesquisa
Espaciais (INPE) a tarefa de fiscalizar e conduzir todos os assuntos de
natureza técnica relacionados ao desenvolvimento do projeto. Após várias
tentativas frustradas de se buscar uma parceria internacional para o
desenvolvimento de uma carga útil para a PMM, finalmente definiu- -se que a
primeira missão baseada nesta plataforma seria inteiramente nacional, com o
objetivo de realizar o imageamento da região amazônica.
O principal contrato de fornecimento de equipamentos para
o satélite Amazônia 1, conhecido pela sigla PMM/AMZ- 1, foi conquistado pelo
Consórcio PMM, formado pelas empresas Fundação Ezute (antiga Atech, líder do
consórcio); CENIC, responsável pela estrutura do satélite; FIBRAFORTE,
encarregada do sistema de propulsão, da estrutura do painel solar e de alguns
equipamentos de apoio; e a MECTRON (uma divisão da Odebrecht Defesa e
Tecnologia, empresa pertencente ao Grupo Odebrecht), responsável pelos sistemas
de suprimento de energia e de telemetria e telecomando.
Embora as outras empresas do Consórcio PMM já tenham
entregado os equipamentos que ficaram sob sua responsabilidade, alguns
equipamentos fundamentais para a conclusão do satélite, a cargo da MECTRON,
ainda não foram entregues, colocando em risco a continuidade do programa AMZ-1.
Extraoficialmente, profissionais ligados ao programa
afirmam que a MECTRON depara-se com sérias dificuldades técnicas para
desenvolver os produtos que ficaram sob sua responsabilidade. A MECTRON, por
sua vez, reclama que os atrasos foram causados pelo próprio contratante, a AEB,
em função de falhas na especificação técnica dos produtos. Não é novidade que
existam percalços no desenvolvimento de equipamentos com alta tecnologia
embarcada, em especial quando se trata de equipamentos para uso espacial.
De fato, há a necessidade de várias revisões de projeto,
com a possibilidade de se implementarem novas soluções de engenharia, afetando
eventualmente o escopo do objeto contratado nas licitações. Tudo isso pode
levar a incertezas e atrasos no cronograma de desenvolvimento por parte das
empresas contratadas. Além disso, muitos se queixam do próprio arcabouço
jurídico relacionado aos contratos, alegando que a Lei 8.666/93 (Lei de
Licitações) não contemplaria toda a complexidade e especificidade da compra de
produtos tão singulares como as partes de um satélite.
Rescisão Amigável?
Evidentemente, não se trata de uma dificuldade técnica
qualquer. Seria um nó daqueles difíceis de desatar, a ponto de fontes ligadas
ao programa afirmarem que, recentemente, quando se detectou grande risco de
inviabilidade técnico-financeira do contrato, as partes tentaram uma rescisão
contratual amigável.
O acordo teria sido formalizado e enviado para consulta
na Advocacia-Geral à União (AGU), a quem cabe emitir parecer sobre todos os
contratos do governo federal. Ante o parecer negativo da AGU, a MECTRON mudou
de tática, passando a acusar supostas falhas do INPE e da AEB como explicação
para haver deixado de entregar os produtos contratados. A reportagem do Jornal
do SindCT obteve a informação de que, posteriormente, a empresa MECTRON teria
recuado da decisão de responsabilizar o INPE e a AEB pelo não cumprimento do
contrato.
“Quem acompanhou sabe que de certo modo houve muita
benevolência da AEB com relação aos problemas enfrentados pela MECTRON, porque,
ao final das contas, há um esforço do governo para que essas empresas continuem
de pé para dar continuidade aos projetos futuros”, disse um empresário do setor
que preferiu não se identificar.
Entre a AEB e a gigante MECTRON-ODEBRECHT encontram- se
as empresas de menor porte que compõem o Consórcio PMM e que poderão sair
prejudicadas desta disputa. Estas empresas entregaram os produtos que ficaram
sob sua responsabilidade, porém ainda não receberam o total que lhes caberia no
contrato. Isto porque a divisão de responsabilidades dentro do Consórcio define
a repartição dos pagamentos pelo contratante às empresas por cada subsistema
qualificado entregue.
A ideia era que todos os subsistemas progredissem
paralelamente, mas não foi o que aconteceu. Assim, quando as empresas menores
finalizaram as suas respectivas parcelas do trabalho, a MECTRON recebeu o
percentual relativo à entrega feita por suas parceiras. Por outro lado, como
esta empresa ainda não entregou muitos dos itens sob sua responsabilidade, as
demais parceiras do consórcio aguardam o desfecho para que possam receber.
“Todos esses contratos da administração pública
normalmente têm um percentual final retido que depende da conclusão total do
objeto, e este também não foi transferido às empresas do Consórcio”, explica
Jadir Gonçalves, diretor da FIBRAFORTE. “Para uma empresa pequena como a nossa,
que trabalha na área espacial, esse prejuízo financeiro é fatal.
Como não temos outros contratos, não temos como realocar
as equipes em outras atividades”, lamenta Thomas Leomil Shaw, outro diretor da
FIBRAFORTE. “Na verdade você fica com o contrato aberto e não pode simplesmente
ir lá e desligar os funcionários e depois ligá-los de novo. Não é assim que
funciona. São equipes qualificadas para aquela finalidade. E sempre que a
situação se prolonga, acaba custando mais”, completa Francisco Manoel Corrêa
Dias, da CENIC. Sobre a possibilidade de entrarem com processos judiciais para
tentarem receber esses valores, os empresários afirmaram que irão aguardar um
acerto direto entre a MECTRON e a AEB.
Desproporção
A atitude prudente das empresas menores quanto a uma
eventual ação judicial pode ser entendida quando se leva em consideração a
desproporção entre os modestos meios que elas possuem e aqueles à disposição da
gigante Odebrecht e da própria AEB, uma agência governamental.
A discrepância entre as empresas consorciadas decorre
principalmente da venda da MECTRON à Odebrecht Defesa e Tecnologia, em 2011, o
que abriu as portas à participação desta empresa na disputa por contratos na
área espacial. “No que diz respeito à configuração do satélite Amazônia-1,
estão sendo travadas discussões no intuito de encontrar alternativas para
contornar os problemas com a plataforma e com sua carga útil. Tão logo seja
escolhida a alternativa que melhor atenda ao interesse público, será definido o
veículo lançador a ser utilizado e estabelecida a data para lançamento”,
declarou ao Jornal do SindCT Petrônio Noronha de Souza, diretor de Política
Espacial e Investimentos Estratégicos da AEB. “No que diz respeito ao contrato
de fornecimento de equipamentos para o programa PMM/ AMZ-1, a AEB está
avaliando e, do ponto de vista técnico e jurídico, caso venha a ser
identificado eventual dano ao Erário, serão adotadas as providências cabíveis”,
conclui Souza.
Outro contrato de fornecimento do programa PMM/AMZ-1 que
se encontra paralisado por problemas de ordem técnico- -financeira é o que
prevê o desenvolvimento de uma nova câmera de imageamento da Terra, a chamada
AWFI, a cargo da empresa Opto Eletrônica, de São Carlos.
Esta câmera seria uma versão modernizada da câmera WFI
(sigla em inglês para Imageador de Campo Aberto) presente em todos os satélites
da série CBERS, que o Brasil desenvolve em conjunto com a China. AEB e INPE já
começam a trabalhar com um “plano B”, que prevê a utilização da mesma câmera
utilizada no CBERS (WFI) como carga útil do satélite AMZ-1.
O Sistema de Atitude e Órbita da PMM/AMZ-1, comprado da
estatal argentina INVAP com dispensa de licitação, por R$ 47, 5 milhões, já foi
fabricado e testado. O equipamento de voo já se encontra no setor de
armazenagem do Laboratório de Integração e Testes (LIT) do INPE (leia mais
detalhes sobre esta aquisição em http:// migre.me/qFRT5). Refeitas as contas, o
projeto PMM/AMZ-1, que consumiu mais de R$ 76,8 milhões desde 2001, e que tinha
como meta colocar seu primeiro satélite em órbita em 2007, deverá fazer seu
primeiro lançamento apenas no segundo semestre de 2017.
Consultada pelo Jornal do SindCT, a MECTRON declarou em
nota que o contrato com a AEB “recebeu recentemente a classificação de SECRETO
e, por esse motivo, a empresa fica impossibilitada de responder às questões
solicitadas”. Também procurada, a Fundação Ezute, empresa líder do Consórcio
PMM, não respondeu nem entrou em contato até o fechamento desta edição. Cabe
uma pergunta: como a AEB, como main- -contractor, permitiu que a situação
chegasse a este ponto, se há meios legais e administrativos para se aplicar
multas por mora contratual e a União pode rescindir unilateralmente os
contratos que por ventura não estejam se desenvolvendo a contento?
Órbita Polar
A PMM é uma plataforma genérica para satélites na classe
de 500 kg. Com massa de 250 kg, ela provê os recursos necessários, em termos de
potência, controle, comunicação e outros, para operar em órbita uma carga útil
de até 280 kg.
Reúne todos os equipamentos que desempenham funções
necessárias à sobrevivência de um satélite, independentemente do tipo de órbita
ou de apontamento. O Amazônia-1 é um satélite de órbita polar, baseado na
plataforma PMM, que tem como missão gerar imagens do planeta a cada 4 dias. Sua
característica de revisita rápida permitirá a melhoria nos dados de alerta de
desmatamento na Amazônia em tempo real e também fornecerá imagens frequentes das
áreas agrícolas brasileiras.
Por essa razão, possui um imageador óptico de visada
larga (AWFI ou WFI), que consiste em uma câmera com três bandas no VIS
(espectro visível) e uma banda no NIR (infravermelho próximo), capaz de
observar uma faixa de 720 km sobre a Terra, com 40 m de resolução.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 38ª - Junho de 2015
Interesse público?
ResponderExcluirBrincadeira! Somente foram levados em conta os interesses pessoais dos diretamente envolvidos.
Prejuízo ao Erário?
Claro que houve e muito! Como sempre o povo está pagando por isto na falta de hospitais, de tecnologia gerada, etc...
Contrato Secreto?
Sim, para encobrir as mazelas e a possibilidade de descoberta dos verdadeiros culpados, dos cúmplices e favorecidos por tal situação. Deixar sigilosa a solução de colocar panos quentes e empurrar toda a sujeira para baixo do tapete. Enquanto isto, os responsáveis continuam por lá, livres, leves e soltos!
Todo projeto espacial é composto por fases, revisões apuradas. Como este projeto foi em frente sem o cumprimento de tais fases? Como tais fases foram pagas e dadas como cumpridas sem a entrega daquilo que tais fases determinavam? Onde estão os relatórios que apontavam os problemas? Porque este contrato teve mais de 14 aditivos? Precisou de mais de 10 anos para perceberem que nada estava saindo? O TCU já interrogou os responsáveis? Já foi investigar o que cada um fez ou deixou de fazer? Quais as conclusões destas averiguações? E o Ministério Público? Ele está acompanhando isto de perto? Porque deixar a investigação e a solução nas mãos dos mesmos que enterraram este projeto é muita incompetência ou mesmo conivência com a situação, não acham?
Este blog devia fazer uma campanha para exigir a investigação e o acompanhamento público desta situação! E verão que isto é somente mais um item na malversação de recursos públicos em favor de interesses pessoais (poder, viagens, diárias, promoções).
Este tipo de denúncia ou situação não aparece na grande impressa do país?
ResponderExcluirPorque?
Não está na hora disto acontecer?
Não tem nenhum Sérgio Moro para o PEB?
eu ficava pensando qual seria o motivo dos projetos Aero-Espaciais no Brasil serem tão modestos e por que seu VLS nunca teve Sucesso, a resposta veio ontem , quando eu recebi de um amigo , fotos do Centro de Lançamento de Kourou , e pelo visto quem comanda a Área são os Militares, é um verdadeiro Complexo Aero-Espacial, tem o Ariane Launch Zone, Carbet Toukan, Centro Espacial de Guiana, quem quiser observar tais fotos , basta entrar no Google Maps e direcionar para o Norte do Brasil, depois da fronteira com o Amapá, precisamente à Oeste da Capital de Caiena , e à Oeste de Kourou.
ResponderExcluir.
foi investidos bilhões de Euros, vários países da Euro tem sua contribuição , é algo grandioso mesmo e super organizado, não temos dúvidas que são obras de 1° mundo, e pelo visto eles não querem Concorrência com o Brasil, pois o Brasil não tem a responsabilidade de um país de 1° mundo .
a AEB , o INPE , o ITA , a Embraer , o IAE , o DCTA e todas as instituições deveriam ser administradas por Militares Brasileiros sob juramento de honra a bandeira brasileira, do contrário vira o que vemos hoje, inércia , sabotagens , desordem , e falta de compromissos estabelecidos .
ResponderExcluirPelo que tenho acompanhado no blog, a Mectron vem atrasando entrega de sistemas em vários projetos do PEB. Não seria a hora de encontrar uma empresa que possa realmente entregar esses sistemas. Pois ficar dependendo assim não dá certo.
ResponderExcluirJorge Aragão, fica muito difícil construir algo onde os Comandantes querem nossa derrota, nosso país está sendo Sabotado diariamente, veja o exemplo desse governo da Dilma, onde o Ministro da Fazenda preza em desvalorizar o Real, aumenta a Selic, aumenta impostos, e aumenta os Combustíveis em época de Queda do Barril no mercado mundial, tudo isso fica evidente que estamos sendo governados pelos nosso Inimigos, o mesmo acontece com o PEB
ResponderExcluiro PEB está sofrendo Sabotagens com concorrência de Verbas com um Foguete da UCRÂNIA, fica super complicado ter Esperança em algum projeto da AEB
ResponderExcluira Culpa não é da AEB , ela faz o que pode com os recursos minúsculos, o grande Câncer do Brasil , chama-se o Governo Brasileiro, onde está sendo Fantoche nas Mãos dos EUA e UE , e eu agoro começo a suspeitar que a Rússia tmb é contra o progresso brasileiro, já que tem Foguetes instalados em Kourou e na Rússia.
ResponderExcluirVocê está bem enganado!
ExcluirA AEB é um monte de politicalha, alimentou os pagamentos à Mectron sem a devida contrapartida de entrega do que deveria, apadrinha um monte de gerentes que só pensam em se auto promover, financiando projetos pessoais sem algum compromissos com metas. Cite um grande sucesso da AEB e de nosso programa espacial? Se encontrar, analise quanto custou e seu retorno real! Difícil, né?
Eu recomendaria um movimento de investigação do MP!