Astronomia no BRICS e História do LNA
Olá leitor!
Segue abaixo mais um interessante
artigo escrito pelo Sr. José
Monserrat Filho e postado pelo
companheiro André Mileski ontem (06/12) em seu no Blog Panorama Espacial.
Duda Falcão
Astronomia no BRICS e
História do LNA
José
Monserrat Filho *
A história da Astronomia é
uma história de horizontes em retirada.”
Edwin Powell Hubble (1889-1953), astrônomo norte-americano
A 1ª Reunião de Trabalho do
BRICS sobre Astronomia será realizada na
Cidade do Cabo (Cape Town), África do Sul, de 10 a 12 deste mês – ou seja, de quinta-feira
a sábado próximos.
BRICS é o fórum criado em 2008,
hoje composto por cinco países – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Seu objetivo é promover programas e projetos de cooperação nas mais diversas
áreas da política, economia, comércio, finanças, ciência e tecnologia, educação
e cultura, com o fim de estimular o desenvolvimento com inclusão social.
A Astronomia é uma das áreas
prioritárias definidas no Plano de Trabalho¹, aprovado na II Reunião dos
Ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação dos países do BRICS, que teve lugar
em Brasília, no dia 18 de março de 2015. A cooperação em Astronomia – ficou
também decidido – será liderada pela África do Sul, cuja Ministra de Ciência e
Tecnologia, Naledi Pandor (1953-) goza de grande prestígio no país. Ela conduz
a Pasta de C&T pela segunda vez, depois de se consagrar como dinâmica e
criativa Ministra da Educação.
Por que a África do Sul foi
escolhida como líder do BRICS-Astronomia?
O país vai sediar a maior rede
de rádio telescópios do mundo, a SKA (Square Kilometer Array), integrada por
três mil “pratos” – distribuídos numa área de cerca de um quilômetro quadrado.
Os “pratos” se espalharão por vastas distâncias para oferecer resolução
semelhante à de um só com a mesma área.
“A SKA será o principal projeto
das últimas décadas, uma completa revolução na Rádio Astronomia”, diz Ted
Williams, diretor do Observatório Astronômico da África do Sul. E acrescenta:
“A maior parte do SKA estará instalada na África, abrangendo oito países”
(África do Sul, Botswana, Gana, Ilhas Maurício, Madagascar, Moçambique,
Namíbia e Zâmbia; pequena parte do projeto será construída na Austrália).
Afirma-se que o sistema deverá examinar o céu com mais rapidez do que qualquer
outro instrumento.
A África do Sul conta também
com o o Grande Telescópio Sul-Africano (Southern African Large Telescope –
SALT), inaugurado em 2005.
O Observatório Astronômico
Sul-Africano é o centro nacional de astronomia ótica e infravermelha do país.
Criado em 1972, é gerido pela Fundação Nacional de Pesquisa (National Research
Foundation of South Africa).
“A astronomia está realmente
prestes a explodir no continente Africano”,
anunciou o astrônomo Kartik Shet, membro do Observatóio Nacional de Rádio
Astronomia dos EUA (US National Radio Astronomy Observatory – NRAO), durante
conferência da Sociedade Americana de Astronomia, reunida em Washington, em
janeiro passado. O desafio, a seu ver, é fazer com que os astrônomos africanos
se beneficiem do surgimento de facilidades em construção em seu meio. “Nós
queremos construir, a longo prazo, parcerias sustentáveis mutuamente benéficas,
tanto para os EUA quanto para a África. Não queremos drenar as informações da
África.”
O início da construção da
SKA – estimada em 1,6 bilhões de dólares – está programado para 2016. As primeiras observações estão previstas para 2019. O
funcionamento completo deve ocorrer em 2024. Uma obra, portanto, planejada para
nove anos.
Os sul-africanos consideram a
Astronomia como “uma porta de entrada científica para incentivar as crianças a
estudarem matemática e ciência. Esse é uma forte razão para o projeto SKA
provocar grande impacto”.
A África do Sul também é
sede internacional do Programa Astronomia para o Desenvolvimento, fruto de parceria com a União Astronômica Internacional
(IAU). O programa coordena ampla gama de atividades internacionais que utilizam
a astronomia como instrumento educativo e de desenvolvimento. A ministra Naledi
Pandor disse na ocasião que todos os envolvidos com Astronomia no país, desde
os que trabalham em solo até os que respondem pelas mais altas funções de
decisão, partilham da visão de que esta ciência vai desempenhar papel
importante no desenvolvimento da sociedade.
A 1ª Reunião do BRICS sobre
Astronomia tem como tema geral “Desafios e Oportunidades para a Astronomia nos
Países do BRICS”. No dia 10 de dezembro, o
Diretor do Projeto Sul-Africano SKA, Rob Adam, proferirá a conferência
inaugural (keynote) sobre “A Importância Estratégica do Square Kilometer Array
(SKA) para a Ciência Global”.
No mesmo dia, a Sessão I do
evento versará sobre “As Estratégias e Políticas para a Astronomia nos Países
do BRICS – Perspectivas Governamentais”, e a Sessão II tratará do tema
“Desenvolvimentos e Oportunidades Industriais para a Astronomia nos
Países do BRICS”.
No dia 12, os participantes
visitarão a SKA e o Observatório SALT, e o dia 13 será dedicado à instalação do
Grupo de Trabalho do BRICS sobre Astronomia, quando se discutirá o relatório
sobre as sessões do primeiro dia, bem como as ideias e projetos de cooperação
do novo Grupo de Trabalho.
O Diretor do Laboratório
Nacional de Astrofísica (LNA/MCTI), Bruno Castilho, participará – por meio de videoconferência – do Fórum de
Ciência da África do Sul, presidido pela Ministra Neledi Pandor, a realizar-se
em Pretória, em 8 e 9 de dezembro, na véspera da 1ª Reunião do BRICS sobre
Astronomia, na Cidade do Cabo. Bruno intervirá no dia 8, como membro da mesa
que fará apresentações sobre o tema “Explorando o Estimulante Potencial para
uma Parceria do BRICS em Astronomia” (Exploring the Exciting Potential for
BRICS Partnership in Astronomy).
O LNA é a primeira instituição
científica criada no Brasil (em 1985), com estrutura de laboratório nacional e, como tal, coloca sua infraestrutura observacional à
disposição de toda a comunidade astronômica brasileira. Sua sede administrativa
fica em Itajubá, Minas Gerais, enquanto seu telescópio ótico – o maior
existente existente no país, com espelho primário de 1,60m de diâmetro –, está
instalado no Observatório de Pico dos Dias, a 1.860m de altura, no vizinho
município de Brazópolis. A primeira luz do Pico dos Dias ocorreu em 1980.
Não deixe de visitar o
Observatório de Picos dos Dias. É deslumbrante e inesquecível.
“A história do LNA (…)
confunde-se com a história da astronomia brasileira nos últimos 50 anos, e, mais especificamente, com a história da astrofísica no
país”, afirma-se no primoroso livro (álbum), lançado agora em dezembro,
intitulado “Da Serra da Mantiqueira às Montanhas do Havaí – A História do
Laboratório Nacional de Astrofísica”.2
* Vice-Presidente da
Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), Diretor
Honorário do Instituto Internacional de Direito Espacial, Membro Pleno da
Academia Internacional de Astronáutica (IAA) e ex-Chefe da Assessoria
Internacional do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da
Agência Espacial Brasileira (AEB).
Referências:
1) O Plano de Trabalho do
BRICS em CT&I reúne cinco áreas prioritárias: (a) prevenção e mitigação de
desastres naturais, a ser liderada pelo Brasil; (b) recursos hídricos e
tratamento de poluentes, a ser liderada pela Rússia; (c) tecnologias
geoespaciais e suas aplicações, a ser liderada pela Índia; (d) recursos
energéticos novos e renováveis e eficiência energética, a ser liderada pela
China; (e) astronomia, a ser liderada pela África do Sul.
2) Trabalho de autoria de Christina Helena de Motta Barboza, Sérgio Tadeu de
Niemeyer Lamarão e Cristina de Amorim Machado, editado pelo Museu de Astronomia
e Ciências Afins (MAST/MCTI), em 1915, com 212 páginas fartamente ilustradas.
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
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