Blog Entrevista Cofundador da Empresa AIRVANTIS

Olá leitor!

Uma vez mais o Blog BRAZILIAN SPACE na sua função de informar os nossos leitores sobre as atividades espaciais brasileiras, dando sequência à série de entrevistas com profissionais que atuam em nosso Programa Espacial, trago agora para vocês uma entrevista com um dos jovens mais promissores que atualmente atuam nesse setor em nosso país.

Trata-se do Engenheiro Mecatrônico pela USP São Carlos e Mestre em Engenharia de Sistemas Espaciais pelo Institut Supérieur de l'Aéronautique et de l'Espace (ISAE-Supaero) da França, o Sr. Lucas Fonseca, diretor e cofundador da pequena empresa espacial brasileira AIRVANTIS e atualmente atuando também como professor convidado da USP São Carlos.

Nessa interessante entrevista, o Eng. Lucas nos fala sobre sua trajetória profissional, sobre os projetos da AIRVANTIS e sobre uma fantástica e inovadora missão lunar que está sendo desenvolvida nos laboratórios da USP São Carlos e de outras instituições. Além disso, o Eng. Lucas divulga o interesse da AIRVANTIS de realizar projetos espaciais conjuntos com outras empresas brasileiras (ai incluídos projetos de motores-foguetes líquidos e de Veículos Lançadores de satélites) e não deixa expressar a sua preocupação com o atual rumo do Programa Espacial Brasileiro, que como sabemos, não anda nada bem das pernas.

Enfim, convido os nossos leitores para que leiam com atenção essa interessante entrevista e aproveito para agradecer publicamente ao Eng. Lucas Fonseca pela atenção dispensada para ao nosso blog. Boa leitura a todos.

Duda Falcão

Eng. Lucas Fonseca
BRAZILIAN SPACE: Sr. Lucas, para os leitores que não o conhecem nos fale sobre o senhor, sua idade, formação, onde nasceu, trajetória profissional, etc...

LUCAS FONSECA:  Sou natural de Santos-SP e estou prestes a completar meus 30 anos. Me mudei em 2003 para o interior do estado para cursar a primeira turma de Engenharia Mecatrônica da USP de São Carlos. Durante minha graduação, segui a Via Crucis comum do estudante de engenharia no Brasil: participei de um programa de estágio e posteriormente me tornei Trainee de uma grande empresa americana de bens de consumo.  Já na época da graduação tinha vontade de atuar na área espacial e por diversas vezes enviei meu currículo para agências espaciais estrangeiras (sem muito sucesso na época). Sair do país para estagiar também não era muito trivial e perdi a chance de ir trabalhar na Alemanha durante a faculdade pelo processo burocrático inerente da USP para fixar parcerias. Hoje em dia com o programa CsF, esse tipo de barreira foi de fato reduzida e vejo com bons olhos essa chance do estudante de graduação ir viver uma cultura distinta lá fora, sendo um grande incentivador dessa prática com meus alunos.

Fiquei por 3 anos no mercado nacional trabalhando para essa indústria  que citei, mas percebi que seria um eterno frustrado em não ir atrás do sonho de atuar com tecnologia espacial. Percebi que não teria chances de pular diretamente para uma agência apenas com o diploma de graduação da USP e portanto teria que voltar a estudar em alguma escola que fosse referência na área.

Assumindo os riscos e indo atrás do meu sonho, apliquei para 5 universidades europeias que possuíam cursos de engenharia espacial com reconhecida excelência. Felizmente fui aprovado em todas e tive a oportunidade de escolher a que considerava melhor. Fui para A França cursar o mestrado de especialização em engenharia de sistemas espaciais no Institut Supérieur de l'Aéronautique et de l'Espace (ISAE-Supaero) que fica em Toulouse. O interessante é que o mestrado de especialização só é permitido para quem já tenha um título de mestre previamente. Como nosso sistema de educação de 5 anos em engenharia é distinto do sistema europeu, nossa carga horária já caracteriza nossos engenheiros como mestres na França, e assim pude cursar o curso de especialização diretamente.

Acho que o grande benefício do curso de especialização é o contato com a indústria. Durante o mestrado, participei de dois projetos de consultoria (empresas europeias vão até a faculdade e contratam os alunos de pós-graduação para desenvolverem trabalhos).

No primeiro trabalho, uma pequena consultoria francesa chamada Devil-Hop nos contatou para desenvolvermos um estudo mercadológico da inclusão de lançadores de até 150 kg de carga útil em órbita baixa.

Nosso segundo trabalho foi mais extenso e envolveu um número considerável de pessoas. A Astrium-EADS fez um pedido para que concebêssemos a fase 0 de um projeto que tinha como intuito modificar a atual função do módulo de carga autônomo (ATV) que supre a estação espacial internacional (ISS) com provisões e combustível. A ideia do projeto era que o módulo conseguisse, além de abastecer a ISS, realizar operação de reentrada orbital, tornando-se assim uma alternativa europeia para resgate de astronautas, além de criar a possibilidade de retornar dejetos e fazer reuso de partes internas do módulo em próximos lançamentos (atualmente o módulo é consumido na reentrada atmosférica).

Outra característica interessante desse tipo de mestrado, é que a dissertação deve ser escrita junto à indústria. Com isso, consegui uma posição dentro de um projeto europeu chamado Missão Rosetta e fui escrever a dissertação do mestrado dentro da DLR em Colônia. Para quem não conhece, a Missão Rosetta é a primeira tentativa de se pousar um módulo em um cometa (o que deve ocorrer em 2014 se tudo der certo). Meu trabalho consistia na elaboração de um software que predizia a orientação da sonda em relação a superfície do cometa durante o pouso. O cometa ao se aproximar do Sol produz um fenômeno conhecido como outgassing, pois ao aquecer a superfície do cometa, os gases de seu núcleo são expelidos para o espaço em altíssima velocidade. O que eu fiz foi basicamente entender qual o impacto do outgassing no contato com a sonda e quais atitudes assumir para pousar a sonda em segurança.

Após o término da dissertação fui contratado pela DLR e continuei trabalhando com projetos de espaço profundo durante 2 anos. Continuei na missão Rosetta fazendo atividades diversas e tive um contato rápido com a missão Hayabusa 2, um projetoa da JAXA que conta com a participação de algumas outras agências (no caso da DLR, a agência alemã tem uma pequena sonda acoplada na missão chamada Mascot).

Retornei ao Brasil em janeiro de 2012 como co-fundador da Airvantis e além das atividades comerciais, ajudo no projeto da USP de São Carlos com CubeSats como professor convidado. Também me tornei Vanguard da empresa Planetary Resourcers, participando de uma comunidade mundial de pessoas que ajudam a empresa com divulgação, ideias e feedbacks de suas atividades.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Lucas, é sabido de que o senhor voltou da Europa para criar a empresa AIRVANTIS. Como surgiu à idéia da criação dessa empresa, e o que lhe motivou a seguir essa ideia?

LUCAS FONSECA: Bom, foram vários. Esses projetos que produzi dentro do ISAE-Supaero me colocaram em contato com alguns projetos europeus interessantes. Inicialmente montamos uma sociedade de 4 brasileiros expatriados que trabalhavam na área aeroespacial para discutir possíveis projetos europeus que poderiam ser implementados no Brasil. Existia um consórcio de alguns países desenvolvendo há 20 anos uma solução de logística através de dirigíveis. Ficamos 1 ano negociando com o representando do projeto e fundamos a Airvantis como um suporte técnico de implementação do projeto no Brasil. Infelizmente esse projeto foi congelado com a crise europeia e nunca conseguimos de fato trabalhar com a ideia no Brasil. Fora isso, trouxe a ideia do projeto do lançador de baixo-custo para  injeção de 150kg de carga útil em baixa-órbita. Sempre focamos no motor de propulsão líquida por acreditar ser o mais indicado em uma aplicação de baixo-custo (existem diversos fatores para essa crença, mas isso renderia muito pano pra manga e fugiria ao intuito dessa entrevista ). O projeto do lançador de baixo-custo necessita de um bom investimento pra sair do papel e depois de quase dois anos batendo a cabeça no Brasil, percebi que não teria outra possibilidade que não engavetar essa ideia. Portanto, os projetos que me trouxeram para o Brasil não são minha fonte de renda atual. Isso me serviu muito para aprendizado de que não podemos nos apegar aos projetos e devemos estar sempre prontos para “pivotear” nossas ideias.  Ainda acredito no lançador espacial e até visualizo o VLM como a resposta para parte desse problema (e eu diria até como uma resposta ao mercado mundial), mas ando descrente no caminhar das coisas.

No fim das contas, o CubeSat era algo mais acessível e tangível para a realidade brasileira (do que adiantaria um lançador de baixo-custo sem uma carga útil de fácil acesso?). Se comprarmos de prateleira no exterior, por exemplo, temos um sistema pronto com menos de uma centena de milhares de reais. Como percebi que a atividade era muito pouca explorada no Brasil, vi aí uma oportunidade de mercado.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Lucas, em nosso primeiro contato, há quase dois anos, os dois projetos da AIRVANTIS que chamaram a nossa atenção foi o projeto de um motor-foguete líquido e o projeto de um pequeno veículo lançador de satélites. Esses projetos avançaram de alguma forma?

LUCAS FONSECA: Como disse, não houve e foram engavetados. Contatei diversas pessoas de esferas distintas (políticos, empresários, investidores anjos, capital ventura, etc.) e percebi que não iria obter o montante de dinheiro necessário nem para a fase 0 do projeto. Infelizmente o dinheiro que o governo contempla através de edital não é suficiente para impulsionar um lançador espacial. Não desencorajo ninguém que venha pesquisando essa área no Brasil a desistir, mas eu não enxergo possibilidade de aplicação comercial.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Lucas, em março desse ano o senhor divulgou que a empresa AIRVANTIS em conjunto com o curso de Engenharia Mecatrônica da USP São Carlos iria desenvolver um sistema de CubeSats (Nanosatélites) nos próximos 2 anos. Posteriormente divulgou também que o grupo iria desenvolver uma pequena Sonda Lunar para ser posicionada no ponto “L2 da Terra-Lua”. Como vai o andamento desses projetos?

LUCAS FONSECA: Montar um projeto espacial de baixa-órbita já é complexo, imagine desenvolver algo que vá além da Lua. E é aí que está a motivação e a vontade de fazer acontecer. Acho que meu principal papel nisso tudo é mostrar para os alunos que outros alunos da mesma faixa etária fazem coisas parecidas em países que possuem atividades espaciais constantes. Por isso fiz questão de incluir outras universidades no projeto, que é o caso da própria ISAE-Supaero onde eu estudei e que ajuda os estudantes da USP na parte da Análise da Missão. Outras universidades mostraram interesse de participar, mas para isso preciso garantir que vou ter subsídios para enviar meus alunos para desenvolver atividades nessas universidades estrangeiras. As bolsas CsF destinadas as atividades espaciais são exclusivas de cursos de engenharia aeroespacial (e não temos esse curso ainda na USP), então em um primeiro momento, não podemos fazer uso do programa CsF. Mas estou em contato com a AEB e acredito que exista a chance de enviar esses alunos de cursos variados e que se interessam em desenvolver esse projeto, pois estariam contribuindo para o desenvolvimento da área no Brasil.

O grupo que desenvolve o projeto,  batizado de Zenith, conta com 18 pessoas atualmente de diversos cursos e venho ajudando quinzenalmente o grupo com aulas sobre assuntos relacionados a projetos espaciais. Atualmente temos um déficit de pesquisadores brasileiros que queiram desenvolver a parte científica da missão. (pelo que tenho visto, é algo comum entre todas as iniciativas de CubeSat no país). Venho conversando com o pessoal que cuida da parte científica do Aster, quem sabe não saia algo bacana disso, vamos ver.

Acho que seria interessante constituir uma comissão permanente de pesquisadores que publiquem as oportunidades científicas que existem para projetos acadêmicos. Gostaria de lembrar que todo projeto espacial é feito para usuários que tem algum tipo de demanda científica. Sem essa demanda, não existe a necessidade de projetos espaciais (exceção para missões que procuram apenas demonstrar a prova de novas tecnologias). No nosso caso, nos baseamos na demanda de usuários americanos e europeus para definir o projeto, mas acredito plenamente que pesquisadores brasileiros poderiam tirar muito proveito dessa missão que estamos propondo e tenho expectativa de receber uma demanda nacional também de pesquisas a serem realizadas.


Concepções Artísticas da Missão Lunar da USP São Carlos.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Lucas qual seria exatamente a função desse sistema de cubesats?

LUCAS FONSECA:   A Agência Espacial Europeia pretende posicionar uma estação tripulada nesse local através de um projeto que deve começar em 2025. Na verdade a estação não vai ficar posicionada exatamente no ponto L2, ela vai prescrever uma órbita artificial chamada de Halo em torno do ponto L2. Um dos principais motivadores dessa região Trans-Lunar é a possibilidade de contato visual constante com a face mais distante da Lua e ainda sim manter o contato visual com a Terra. Isso tornaria a colonização da Lua, especialmente na face mais distante, mais segura.

Como essa região ainda é pouco explorada, não se sabe ao certo qual o nível de radiação que existe nessa região. A função do sistema CubeSat (que nesse caso chamamos de LunarCube) seria a investigação do nível de radiação de forma que produza dados coerentes para os requisitos da futura estação tripulada. Além disso, queremos testar algumas tecnologias novas e possivelmente realizar outras missões científicas e tirar algumas fotos.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Lucas como surgiu à ideia de se realizar o projeto da sonda lunar?

LUCAS FONSECA:  Na procura de uma missão científica, acabei contatando uma pesquisadora da NASA que é brasileira, a Dra. Rosaly Lopes. Existe um movimento muito forte no EUA e na Europa de missões interplanetárias envolvendo CubeSats e a Dra. Rosaly nos colocou em contato com uma pesquisadora da JPL que vem trabalhando com isso (Dra. Julie Castillo-Rogez). Essa pesquisadora nos passou uma lista de missões que a NASA pretendia fazer mas faltavam recursos e pessoas para executar. O próprio pessoal da JPL nos orientou procurar pesquisadores do CNES em Toulouse, pois eles teriam interesses em um projeto similar, e daí surgiu essa ajuda do ISAE-Supaero (que está situado na mesma região em que se encontra o CNES e muitos professores são pesquisadores do CNES também). Infelizmente não contamos mais com a ajuda da JPL, mas sou grato pelo impulso inicial que deram no projeto. A decisão da missão em si veio com o contato direto de pessoas ligadas ao CNES, que nos trouxeram esse problema da radiação em relação à futura estação.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Lucas, existe a participação de outras instituições nesses projetos?

LUCAS FONSECA:  No Brasil, temos a ajuda constante de alguns pesquisadores do INPE que vêm nos ajudando desde o começo com a missão. Gostaria de citar duas pessoas em especial, o Dr. Otávio Durão e o Dr. Valdemir Carrara. Temos o interesse do IEAv em contribuir com a parte do ambiente espacial, tanto na parte de proteção dos equipamentos contra radiação, quanto na carga útil que deverá medir a radiação. Esse grupo do IEAv é comandado pelo Dr. Odair Lelis

Fora isso, duas consultorias já ministraram gratuitamente workshops na USP para auxiliar os alunos no desenvolvimento das atividades. A Delicato Consultoria ajudou na parte de gestão de projetos e a Ethics Engineering na parte de garantia de produto.

Fora do Brasil, além da participação inicial da JPL-NASA, temos o envolvimento do ISAE-Supaero que de certa forma já inclui a participação de staff do CNES. Recebi ainda um email de intenção da Politécnica de Milão para participar da análise de possíveis trajetórias. Contactei alguns amigos na DLR e a agência parece estar aberta para colaborar na parte das operações que a missão demandará durante o voo, mas ainda não acordamos nada.

Todas essas entidades já sinalizaram a intenção de receber os alunos brasileiros, por isso considero importante aproveitar o CsF para criar o vínculo de maneira oficial. É difícil e burocrático assinar um convênio via USP com qualquer agência estrangeira e por isso seria interessante um envolvimento maior da AEB.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Lucas como a AIRVANTIS vê a possibilidade de parceria com outras empresas brasileiras para realizar projetos espaciais conjuntos, como por exemplo, o de motores-foguetes líquidos e até mesmo de um veículo lançador de satélites?

LUCAS FONSECA: Bom, sempre tive aberto a isso, inclusive apresentei uma primeira ideia sobre uma possível rede de colaboração para várias empresas em um workshop que ocorreu na AEB no ano passado. Não tive um retorno. Mas não me sinto desprestigiado e nem culpo ninguém pela falta de interesse, pois atualmente está claro para mim a inexistência do mercado para suportar uma iniciativa dessas. Por mais aficionado que eu seja pelo o tema, tenho que deixar a emoção de lado e ser pragmático com o que o mercado apresenta.

Atualmente dentro da área espacial estamos focados em CubeSats. Acho que esse assunto seria mais pertinente para um envolvimento de outras empresas. Estamos prontos para desenvolver nossa própria plataforma de CubeSats, mas ainda falta o interesse do publico em geral e com isso existe a necessidade de educar e mostrar o quão viável e proveitosa essa iniciativa é para o mercado nacional. Tenho feito um trabalho com universidades por acreditar que esse é um primeiro passo para que tenhamos um pool de projetos contínuos.  Atualmente além da USP, venho conversando sobre projetos de CubeSat com a Escola de Engenharia Mauá e a UFRN. Também estamos em contato com o INPE-RN e demonstramos a intenção de ajudar no projeto CONASAT (seja através de mão-de-obra de estudantes do Zenith que eu poderia orientar ou mesmo iniciativas comerciais da Airvantis)

BRAZILIAN SPACE: Sr. Lucas, a AIRVANTIS também tem algum plano para atuar na área educacional, mais especificamente no ensino fundamental e médio?

LUCAS FONSECA:  Eu acho sensacional o projeto Tancrêdo I do pessoal de Ubatuba, gostaria muito de passar parte do meu tempo contribuindo com esse tipo de projeto no Brasil. Entendo que muitas pessoas doam parte do seu tempo para desenvolverem atividades nessa área no Brasil e podemos citar seu próprio exemplo Duda, que até pouco tempo não tinha nenhum tipo de incentivo financeiro para manter o blog, e mesmo agora sei que não é algo constante. Eu vivo algo parecido, desde que comecei meu projeto com a USP, apenas tive custos com a iniciativa. Desenvolvo a atividade porque tenho formação na área e vejo como um meio de contribuir com a sociedade. Infelizmente não consigo abraçar mais atividades que não me trazem retorno financeiro, pois tenho outras responsabilidades com a Airvantis que são meu ganha pão diário e que tomam quase a totalidade do meu tempo.
Mas eu estou aberto para conversar com qualquer pessoa que queira desenvolver qualquer tipo de atividade espacial. Ficaria honrado de ajudar iniciativas educacionais, apenas não consigo mais correr atrás delas.

BRAZILIAN SPACE: Sr. Lucas, qual é a opinião pessoal sobre a atual Política Espacial Brasileira, isto é, se é que podemos denominá-la dessa forma?

LUCAS FONSECA: Preciso deixar claro que o problema que temos não é restrito com o PEB. A ciência de um modo geral é rejeitada no Brasil. Somos um país focado em commodities e tem sido assim desde sempre. O PEB está cheio de boas intenções e acredito que cheio de bons profissionais. Mas sem dinheiro não tem santo que faz milagre. Já temos uma quantidade módica de projetos e um orçamento enxuto, acho que se tentarmos reduzir mais ainda o programa, é melhor fechar as portas.

O que eu vivenciei na Europa enquanto estive lá, é a crescente falta de verba para novas atividades espaciais e necessidade de justificar o uso do dinheiro público perante a sociedade. O que todas as grandes agências têm feito é o compartilhamento de investimentos e riscos. Talvez esteja aí o caminho para o Brasil para se envolver em frentes mais diversas; assumir pequenas partes desses programas compartilhados, mas desde que garanta a entrega da parte que se propuser a fazer e assim começar a construir uma confiança na comunidade científica mundial.

Ainda por último, mas talvez o ponto mais importante. As empresas brasileiras devem tentar enxergar o mercado espacial sem a dependência eterna do órgão público. É sabido que vivemos longos vales de falta investimento por parte do governo em área tecnológica e isso impossibilita negócios sustentáveis nessa área. Existe um movimento ganhando força que é o NewSpace. Inclusive tenho dado algumas palestras sobre o assunto no Brasil e podemos abordar isso melhor futuramente caso os leitores tenham interesse. Mas resumindo, está surgindo um ecossistema de empresas que não são dependentes de motivadores públicos. Logicamente é impossível migrar de uma atividade que sempre teve um cunho público para um perfil privado do dia pra noite, mas empresas já estão desbravando esse novo mercado há alguns anos (como a SpaceX) e agora é hora de pegar carona nessa iniciativa. Quando penso em fazer uma plataforma CubeSat, gostaria sim de receber um incentivo governamental para isso, mas não posso apostar minhas fichas apenas em editais e programas de incentivo do governo. Acho que para todos os novos empresários que querem se aventurar nesse segmento, deveriam necessariamente enxergar esse mercado global que está emergindo e não focar apenas no Brasil.

BRAZILIAN SPACE: Finalizando Sr. Lucas, o senhor teria algo mais que gostaria de acrescentar para os nossos leitores?

LUCAS FONSECA:  Eu sou um apaixonado pela temática espacial. Se alguém me perguntar se deveria apostar nessa área, eu digo: Claro! A profissão é magnífica e os desafios imensuráveis. Felizmente ou infelizmente, ter uma formação na área espacial te permite desenvolver tecnologias duais que funcionam muito bem para outras áreas tecnológicas. Hoje em dia eu consigo sobreviver com atividades que são voltadas as indústrias de energia e petróleo & gás. Existe um mercado espacial no Brasil imaturo, mas não acho que esteja tudo perdido. Vejo com muito bons olhos o movimento NewSpace e acho que quem quiser mudar o rumo do mercado nacional tem chances muito promissoras para os próximos anos utilizando esse conceito de iniciativas privadas.

Lidamos com todos os embargos tecnológicos por culpa nossa. A partir do momento que tivermos nossa própria tecnologia, vai aparecer um monte de vendedor americano tentando colocar produto no mercado e que atualmente são rotulados sob o selo do ITAR. Estamos nessa situação em que precisamos sair do Status Quo e desenvolver essas tecnologias faltantes para fazer a engrenagem rodar e nos tornarmos um player no mercado mundial. Eu sozinho não tenho a pretensão de mudar nada, mas me candidato a fazer parte desse movimento no Brasil.

Quem quiser me contatar para conversar sobre qualquer assunto espacial, deixo meu contato: lucas.fonseca@airvantis.com.br

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