A História do Físico Brasileiro Que Foi de Minas a Marte
Olá leitor!
Segue abaixo uma
matéria publicada ontem (27/03) no site do jornal “O Estado de São Paulo”, destacando
que o físico brasileiro Ivo Gontijo que participou do projeto do rover “Curiosity”
da NASA, lança novo livro contando não só os detalhes da aventura que envolveu
este projeto, bem como o seu lançamento, seu pouso histórico e também a sua
singular trajetória pessoal.
Duda Falcão
CIÊNCIA
A História do Físico Que Foi de Minas a Marte
Brasileiro Ivair
Gontijo narra em livro sua participação na missão Curiosity
Por Fábio de
Castro
O Estado de S.
Paulo
27 Março 2018 |
03h00
Foto: Arquivo
pessoal
Equipe de Gontijo projetou radares para pouso de veículo.
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Em agosto de
2012, o Curiosity pousava em Marte, tornando-se o maior e mais sofisticado
veículo espacial a ser enviado com sucesso a outro planeta. Os radares que
permitiram o pouso - um momento crítico da missão - foram projetados por uma
equipe liderada pelo físico brasileiro Ivair Gontijo, pesquisador do Jet
Propulsion Laboratory (JPL), da agência espacial americana (NASA).
Em seu novo
livro A Caminho de Marte, que acaba de ser lançado, Gontijo conta não
apenas os detalhes da aventura que envolveu o projeto, o lançamento e o pouso
histórico do Curiosity, mas também sua singular trajetória pessoal.
Criado na pequena
cidade de Moema, às margens do Rio São Francisco, no interior de Minas Gerais,
Gontijo decidiu trocar seu emprego em uma fazenda pelo curso de Física na
Universidade Federal de Minas Gerais, deixando seus familiares incrédulos. Era
só o começo: antes de chegar à NASA, ele ainda fez doutorado e pós-doutorados
na Escócia e nos Estados Unidos.
"O objetivo
do livro é mostrar para os estudantes e para os brasileiros em geral que
conseguir algo como trabalhar na NASA está ao alcance da maioria das pessoas que
está disposta a pagar o preço: um preço alto em horas de trabalho e estudo, em
foco e planejamento", disse Gontijo ao Estado.
Veja abaixo o vídeo que acompanha a matéria:
O autor
intercala a narrativa de sua própria trajetória com a história de estudos sobre
Marte, que segundo ele tem apaixonado a humanidade há 25 séculos. "Nós
cientistas precisamos tornar a ciência mais acessível, mais emocionante para a
população, porque nenhum país vai para frente sem muita ciência e tecnologia.
Eu procuro mostrar que a ciência pode ser tão emocionante como um gol em final de
Copa do Mundo", afirmou.
Conseguir um
emprego na NASA, segundo Gontijo, foi extremamente difícil. Além da formação
sólida e dos anos de estudo intenso, foi preciso se armar de uma insistência
"astronômica".
"Não foi na
primeira vez que bati na porta da NASA que consegui entrar. Na primeira vez,
fiz uma entrevista, me ofereceram um emprego temporário e eu achei que não
valia à pena. Depois, tive um contato com o gerente de uma das missões, que
avisou que precisavam de alguém com meu perfil. Me deu os e-mails de 12 pessoas
do laboratório e ninguém nunca respondeu. Eu não desisti", conta.
"Um dia um
engenheiro do JPL me ligou, dizendo que encontrou meu currículo no site de uma
conferência e que precisavam de uma pessoa exatamente com minha formação. Fiz
uma entrevista, mas não deu certo. Foi preciso esperar mais um ano. Conto todos
os detalhes no livro", disse o físico.
Missão - Segundo Gontijo, o Curiosity é o veículo mais sofisticado que já foi construído
e enviado a outro planeta. A tarefa era dificultada pelo tamanho do veículo.
Semelhante a um carro compacto, o Curiosity pesaria 900 quilos na Terra e
possui um mastro de dois metros de altura.
"A missão
anterior envolvia um veículo muito menor, em torno de 200 quilos. A tecnologia
toda para viabilizar o pouso do Curiosity em Marte não existia antes, tivemos
de reinventá-la. A tecnologia que utilizamos nas missões anteriores, com
airbags, não funcionaria nessa circunstância. Tínhamos de fazer o veículo
descer em suas rodas", explicou.
Segundo o
cientista, o trabalho em uma missão dessas dimensões é exigente e tenso: nos
momentos críticos, como lançamento e pouso, basta uma falha entre milhares
possíveis para se perderem anos de trabalho e bilhões de dólares.
"O processo
de descida em Marte ficou conhecido como 'os sete minutos de terror', porque o
veículo estava se aproximando do planeta a 28 mil quilômetros por hora, em rota
de colisão e em queda livre. Essa velocidade precisava ser reduzida a zero em
apenas sete minutos", contou.
Antes da
descida, a cápsula que continha o Curiosity perde a energia na atmosfera
marciana, usando um escudo frontal de calor. "Depois um paraquedas é
utilizado para reduzir ainda mais a velocidade. Na descida final, nos últimos
quatro ou seis quilômetros, usamos retrofoguetes", explica.
Com o voo
controlado pelos retrofoguetes, o veículo é colocado no chão com um guindaste,
que em seguida se afasta para não causar danos ao equipamento.
"Correu
tudo melhor do que esperávamos. Quando vi meu colega na sala de controle
dizendo 'nós achamos o solo com o radar', realmente acreditei que aquilo daria
certo. Em seguida, lembro das comemorações na sala de controle, com muitos
gritos e lágrimas. Foi espetacular", lembra.
Se os radares de
Gontijo não funcionassem, o Curiosity se espatifaria na superfície marciana e
tudo estaria perdido. "Os colegas diziam que se os radares não
funcionassem, todo o resto seria irrelevante, porque o veículo viraria um monte
de ferro velho na superfície de Marte. O projeto custou US$ 2,5 bilhões. Então
a tensão era grande."
De acordo com
Gontijo, a missão do Curiosity já terminou oficialmente, mas o veículo continua
fazendo pesquisas na superfície marciana, onde percorreu pouco mais de 18
quilômetros. "Já encontramos o leito seco de um rio, o fundo de um lago,
rochas sedimentares e locais onde havia água com pH neutro, que uma pessoa
poderia beber."
Os operadores da
NASA recebem dados do Curiosity diariamente, até hoje. Após a recepção, os
dados científicos são discutidos, as fotos são analisadas e os engenheiros,
técnicos e cientistas decidem o que fazer no dia seguinte.
"Os
comandos são programados e enviados a Marte todos os dias, para um satélite que
está na órbita do planeta. O satélite repassa os dados ao veículo no solo, ele
executa esses comandos, coleta dados e, na tarde marciana, transmite novos
dados para a direção do céu marciano onde passará o satélite, que os reenvia à
Terra", explicou.
‘Sete Minutos
de Terror’
O físico
brasileiro Ivair Gontijo, da NASA, projetou os radares que permitiram o
complexo pouso do veículo Curiosity na superfície de Marte.
Fonte: NASA, Crédito GN - ESTADÃO
Futuro - Atualmente, Gontijo está trabalhando na próxima missão para Marte - a Mars 2020
-, que enviará ao planeta vermelho um veículo semelhante ao Curiosity.
"Esse novo veículo terá um conjunto diferente de instrumentos e descerá em
um local distinto. A ideia é que ele seja um coletor de amostras", disse o
cientista.
As amostras
coletadas pelo veículo da Mars 2020 serão colocadas roboticamente em tubos, que
serão selados hermeticamente e deixados na superfície do planeta. Uma segunda
missão será enviada para coletar as amostras, que serão colocadas em um pequeno
foguete e enviadas à órbita de Marte.
"Ali, as
amostras vão ficar girando em torno de Marte. Uma terceira missão - a mais
simples e mais barata - sairá então da Terra, encontrará as amostras na órbita
de Marte e trará tudo de volta à Terra. Isso é necessário porque temos na Terra
laboratórios muito sofisticados para analisar as amostras, que chegam a ocupar
um prédio inteiro - e nenhum instrumento que possa ser enviado atualmente a
Marte teria a mesma capacidade de análise."
Um dos objetivos
da exploração de Marte, segundo Gontijo, é encontrar vestígios de vida no
planeta. Para os cientistas, mesmo que fosse um vestígio fóssil de uma forma
muito primitiva de vida, como uma bactéria, totalmente extinta, já seria uma
descoberta histórica sem igual.
"Seria
talvez uma das maiores descobertas da espécie humana. Todos os seres vivos da
Terra têm a mesma origem e todos - dos vírus aos seres humanos - usamos o mesmo
processo, que é a codificação em DNA. Se a vida se formar em outro planeta,
será que ela usaria o mesmo processo?
Não sabemos. Se um dia descobrirmos vida
fora da Terra, essa será a primeira coisa a ser estudada: como são os processos
que formam a vida em outro planeta? Seria um descoberta espetacular."
Fonte: Site do
jornal O Estado de São Paulo - 27/03/2018
Comentário: Simplesmente fantástico, parabenizo ao físico
Ivo Gontijo pela sua trajetória e pelo lançamento deste livro que gostaria de
adquiri-lo. Tem um grande cientista brasileiro que trabalhou no PEB e que
considero um amigo que costuma dizer em nosso Grupo do ZAP “PEB em Debate” que,
diferentemente de décadas atrás, hoje o país tem uma massa de profissionais
dentro do País e fora dele que poderiam esta fazendo a diferença, mas não há vontade
politica para isso. Profissionais estes que em países sérios são disputados a
peso de ouro e aqui nesta caricatura de país são menosprezados e desperdiçados.
O Dr. Ivo Gontijo é um grande exemplo disto. Fazer o que? Aproveitamos para agradecer
a nossa leitora Mariana Amorim Fraga pelo envio desta matéria.
Parabéns ao Dr. Gontijo, que ele inspire outros a seguir seus passos - ou quem sabe buscar seus caminhos por aqui mesmo?
ResponderExcluirAproveito para compartilhar uma notícia que me chegou hoje, e que pode ser uma nova história como essa, começando agora: http://www.portalnews.com.br/_conteudo/2018/03/cidades/76201-estudante-mogiana-pode-participar-de-curso-na-nasa.html
Duda, que tal publicar um post sobre isso?