Espaço Mais Aberto Para Países Pobres
Olá leitor!
Segue abaixo mais um interessante
artigo escrito pelo Sr. José
Monserrat Filho e postado pelo
companheiro André Mileski ontem (01/08) em seu no Blog Panorama Espacial.
Duda Falcão
Espaço Mais Aberto Para Países Pobres
José Monserrat Filho *
“... os Estados-Partes do Tratado deverão
fundamentar-se sobre os princípios da cooperação e de assistência mútua e
exercerão as suas atividades no espaço cósmico, inclusive na Lua e demais
corpos celestes, levando devidamente em conta os interesses correspondentes dos
demais Estados-Partes do Tratado.”
Do Artigo IX do Tratado do Espaço, de
1967, a lei maior do espaço exterior
A China assinou acordo de cooperação com o Escritório
das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (United Nations Office
for Outer Space Affairs – UNOOSA), abrindo à colaboração mundial sua Estação
Espacial Tiangong 3 (“Palácio Celestial”, in chinês), que deverá estar
operacional em 2022, munida de um módulo central e dois módulos experimentais.
Pelo acordo de 16 de julho de 2016, a futura estação
espacial será aberta a experiências científicas e a astronautas, cientistas e
engenheiros envolvidos com cargas úteis (satélites, sondas) dos países membros
das Nações Unidas, sem restrições.
Tudo indica: é um programa novo e abrangente de
cooperação espacial internacional. Destina-se, em especial, a proporcionar
maior e melhor acesso ao espaço para os países em desenvolvimento –
reconhecidamente, a parte majoritária mais necessitada do nosso planeta. Inclui
a cooperação internacional em voos espaciais tripulados e outras atividades
espaciais importantes.
Numa época de aguda e crescente concentração global de
renda, alarmante desigualdade entre países, povos e pessoas, e a mais intensa
privatização das atividades espaciais nos Estados Unidos (EUA) e Europa, o
programa dá a nítida impressão de inaugurar um caminho bem distinto, de
ambiciosa inclusão espacial e inusitado interesse público internacional.
A iniciativa foi anunciada por Aimin Niu, porta-voz da
China Manned Space Agency (CMSA) – que parece adequado traduzir como
Agência de Voos Espaciais Tripulados da China. "O acordo propiciará
oportunidades excitantes à criação de capacidades espaciais ainda maiores nos
países em desenvolvimento e ampliará a consciência dos benefícios humanos que a
tecnologia espacial pode trazer à humanidade e assim promover a aplicação
efetiva dos objetivos do desenvolvimento sustentável", acrescentou Aimin
Niu, em entrevista à Astrowatch.net.
Ampliar a consciência dos benefícios humanos que a
tecnologia espacial pode trazer à humanidade e promover o desenvolvimento
sustentável – só pode significar a realização de grande esforço educacional
e cultural, alinhado com a certeza de real acesso a tais benefícios e à meta do
desenvolvimento sustentável, sonhada e apregoada por todos os povos e países.
Niu disse ainda que “a China está disposta a treinar
astronautas de outros países. O apoio financeiro às suas missões de voo será
negociado entre parceiros e compartilhado por eles”. Quer dizer: na preparação
de astronautas, atividade sabidamente cara, o serviço em princípio será pago,
mas, dependendo do país, certamente poderá haver ajuda financeira chinesa,
como, aliás, tem acontecido em muitas outras áreas. Afinal, um dos principais
propósitos do acordo é permitir o avanço espacial dos países mais carentes.
Tiangong 3 acolherá três astronautas em tempo integral
e até seis em sistema de rodízio. E abrigará o futuro telescópio espacial
chinês, Xuntian. Equipada com tecnologias de ponta e instalações multi-propósito
de bordo, a estação será um laboratório para experimentos em microgravidade nos
campos da física, biologia e ciências da vida, bem como para observação da
Terra, revelou Niu. Tudo à disposição dos países membros das Nações Unidas.
O acordo se compromete a fortalecer o programa da
UNOOSA, criado em 2010 e intitulado Human Space Technology Initiative
(HSTI), que visa capacitar países no desenvolvimento de tecnologias espaciais
para estimular o desenvolvimento humano. Esse programa está em perfeita
sintonia com as prioridades temáticas da UNISPACE+50, encontro de alto nível
sobre “O Espaço como Condutor do Desenvolvimento Sócio Econômico Sustentável”,
que, em 2018, vai comemorar os 50 anos da 1ª Conferência das Nações Unidas
sobre Exploração e Uso Pacífico do Espaço Exterior (UNISPACE I), realizada de
15 a 18 de outubro de 1968. São duas as prioridades temáticas: “A Construção de
Competências para o Século XXI” e “Acessibilidade ao Espaço”.
Graças ao acordo, a China espera incrementar a
cooperação multilateral no espaço, com ampla participação dos países
membros das Nações Unidas e organizações internacionais, segundo o princípio do
uso pacífico do espaço, igualdade e benefícios mútuos e desenvolvimento
conjunto, afirmou Wu Ping, diretor adjunto da Agência de Voos Espaciais
Tripulados (CMSA) da China.
A cooperação com desenvolvimento conjunto é uma das
diretrizes estratégicas do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE
2012–2021), elaborado pela Agência Espacial Brasileira (AEB). A diretriz reza:
“Ampliar as parcerias com outros países, priorizando o desenvolvimento conjunto
de projetos tecnológicos e industriais de interesse mútuo”. A ideia é colocar
pesquisadores e engenheiros de dois ou mais países lado a lado, trabalhando
juntos.
Resumindo, Wu Ping frisou: “A exploração do espaço é
sonho e desejo comum da humanidade. Cremos que a implementação do acordo
promoverá em definitivo a cooperação internacional na exploração do espaço, e
criará oportunidades para os Estados Membros das Nações Unidas, em particular
os países em desenvolvimento, de participarem e se beneficiarem do uso da
estação espacial da China”.
Se este acordo se tornar realidade, estaremos diante
de duas novidades, uma prática e outra jurídica. A novidade prática é que,
pela primeira vez na Era Espacial, a estação espacial de um país se abrirá ao
uso de todos os demais países membros das Nações Unidas. A novidade jurídica é
que, também pela primeira vez, um país se compromete legalmente a cooperar numa
área espacial de relevo com qualquer um dos países membros das Nações Unidas ou
com todos eles, em particular com os países em desenvolvimento, bem como com
organizações internacionais.
Não será um novo e mais amplo conceito de cooperação
espacial internacional?
Difícil, nesta hora, deixar de lembrar a Estação
Espacial Internacional (International Space Station – ISS), construída
entre 1998 e 2010 sob a liderança dos Estados Unidos (EUA), que jamais convidou
a China para integrá-la, nem quando mantinha com ela excelentes relações e
negócios. A ISS só pode ser usada pelos países que ratificaram seu acordo de
fundação: Canadá, EUA, Japão, Rússia, e – através da Agência Espacial Europeia
(ESA) – Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Itália, Países Baixos,
Noruega, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suíça.
A Agência Espacial Brasileira chegou a firmar um
acordo com a NASA, a agência espacial dos EUA, em 1997, durante a visita ao
Brasil do então presidente americano Bill Clinton. Mas depois se viu que o
custo de US$ 120 milhões para as seis peças da ISS encomendadas ao Brasil
superava o orçamento disponível da AEB. O Brasil, então, mais interessado em
investir em seus próprios projetos, afastou-se da ISS. Um desses projetos,
aliás, é o da construção do foguete lançador VLS-1, que nunca foi aceito pelo Departamento
de Estado dos EUA.
O acordo China-UNOOSA concretiza, talvez pela primeira
vez, a “Declaração sobre a Cooperação Internacional na Exploração e Uso do
Espaço Exterior em Benefício e no Interesse de todos os Estados, levando em
Especial Consideração as Necessidades dos Países em Desenvolvimento”, aprovada
pela Assembleia Geral das Nações Unidas em sua Resolução 51/122, de 13 de
dezembro de 1996. No ponto 3, a Declaração recomenda: “Todos os Estados,
especialmente aqueles com importante capacidade espacial e com programas de
exploração e uso do espaço exterior, devem contribuir para a promoção e o
avanço da cooperação internacional em bases equitativas e mutuamente
aceitáveis. Neste contexto, atenção especial deve ser prestada ao bem e ao
interesse dos países em desenvolvimento...”
Provavelmente, jamais um acordo foi tão claro e
específico em dar efetiva atenção ou levar verdadeiramente em conta os
direitos e interesses dos países em desenvolvimento no campo das atividades
espaciais. A Resolução 51/122 da Assembleia Geral das Nações Unidas, apenas
recomendativa e voluntária, deu origem, enfim, a um grande acordo internacional
obrigatório.
* Vice-Presidente da Associação Brasileira de Direito
Aeronáutico e Espacial (SBDA), Diretor Honorário do Instituto Internacional de
Direito Espacial, Membro Pleno da Academia Internacional de Astronáutica (IAA)
e ex-Chefe da Assessoria Internacional do Ministério de Ciência, Tecnologia e
Inovação
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
Sinceramente, só acreditando em duendes. A China certamente cobrará alto pelo uso de suas instalações, colonizando e mantendo no atraso seus "parceiros da humanidade". Não há espaço para romantismo nisso. O Brasil precisa acordar de sua mediocridade e levar a sério seu papel no mundo, que certamente não é à sombra da China ou de quem quer que seja.
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