Sistema do INPE Irá Prevê a Ocorrência de Raios Com 24 Horas de Antecedência
Olá leitor!
Segue abaixo uma nota publicada hoje (25/09) no site da Agência FAPESP, destacando que sistema
desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) irá prevê a
ocorrência de Raios com 24 horas de antecedência.
Duda Falcão
Notícias
Sistema Prevê a Ocorrência de Raios
Com 24 Horas de Antecedência
Elton Alisson
Agência FAPESP
25 de setembro de 2015
(Foto: INPE)
Durante as tempestades que aconteceram nos dias 7 e 8 de
setembro,
em São Paulo, os pesquisadores do ELAT registraram 14 raios
ascendentes.
|
Além de saber
por meio dos serviços de previsão do tempo existentes no Brasil se devem
carregar um casaco ou um guarda-chuva ao sair de casa, os moradores de todas as
regiões do país também poderão ser alertados do risco de estarem expostos a
raios durante uma tempestade e tomar medidas de proteção.
É que
pesquisadores do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT), do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), desenvolveram um sistema capaz de
prever a ocorrência de raios com 24 horas de antecedência.
Resultado do
projeto “Detecção de sinais de variabilidade
relacionados a mudanças climáticas na incidência de descargas atmosféricas no
Brasil”, apoiado pela FAPESP, o sistema estará disponível no
próximo verão – estação em que são registrados 80% dos raios no país.
“A ideia é
contribuir para a diminuição do número de mortes e feridos por raios no Brasil,
país que apresenta a maior incidência de descargas atmosféricas no mundo [com
58 milhões por ano]”, disse Osmar Pinto Junior, coordenador do ELAT e do
projeto, à Agência FAPESP.
“Ao prever com
antecedência e razoável margem de acerto em quais regiões os raios podem
ocorrer, o sistema permitirá à população tomar medidas de precaução. Com isso,
será possível diminuir as estatísticas de cerca de 110 mortes e 500 pessoas
feridas, em média, anualmente por esse fenômeno no país”, avaliou Pinto Junior.
O sistema se
baseia em um modelo meteorológico internacional, chamado Weather Research and
Forecasting (WRF), e dados de descargas atmosféricas dentro de nuvens – que
podem resultar em raios –, obtidos por observações do solo e registrados pela
Rede Brasileira de Detecção de Descargas Atmosféricas (BrasilDAT).
As variáveis
meteorológicas que influenciam a formação de raios indicadas pelo modelo WRF –
como vento, temperatura, umidade e concentração de gelo nas nuvens em
diferentes altitudes, entre outras – são comparadas pelo sistema com dados de
descargas atmosféricas dentro de nuvens registradas pela BrasilDAT por meio de
modelos matemáticos e ferramentas estatísticas.
Com isso, o
sistema é capaz de prever em quais áreas de uma cidade como São Paulo, por exemplo,
há maior probabilidade de formação e ocorrência de raios no dia seguinte ao da
previsão.
“O sistema não
consegue prever onde um raio vai cair exatamente porque ainda apresenta uma
margem de incerteza de 10 a 20 quilômetros entre o local exato onde a descarga
atmosférica deve ocorrer e o previsto”, explicou Pinto Junior. “Mas permite
prever quais municípios do país ou regiões de São Paulo, por exemplo, podem ser
atingidos por raios”, ponderou.
A fim de
validar o sistema, os pesquisadores realizaram um teste durante o verão de
2013, abrangendo inicialmente a região Sudeste do país. Os resultados do estudo
foram publicados na revista Atmospheric Research.
No verão de
2014, os testes foram estendidos para, aproximadamente, 80% do território
brasileiro.
Os resultados
indicaram que o sistema foi capaz de prever um dia antes, com uma margem de 85%
de acerto, em quais regiões ocorreram os 85 mil raios que atingiram o solo do
total de 580 mil descargas atmosféricas registradas pela BrasilDAT em todo o
país no dia 14 de janeiro deste ano, por exemplo.
“Essa margem
de acerto nos surpreendeu, porque os sistemas de previsão de tempo usados
atualmente no Brasil também têm uma margem de acerto semelhante”, afirmou Pinto
Junior.
“Achávamos
que, pelo fato de a previsão de raios ser mais complexa do que a de tempo, o
sistema fosse apresentar uma margem de acerto menor, da ordem de 70%”, afirmou.
Variação de
Raios
Uma das
constatações feitas pelos pesquisadores durante os testes para validação do
sistema foi que houve uma diminuição de cerca de 50% no número de descargas
atmosféricas durante o verão de 2014 no Sudeste – quando a região registrou a
maior seca das últimas décadas – em comparação com o de 2013.
A principal
razão para isso foi que houve um bloqueio atmosférico que impediu a chegada de
sistemas frontais – encontro de duas frentes de ar, como fria e quente – do Sul
do país para o Sudeste, impossibilitando a formação de tempestades, explicou
Pinto Junior.
“A maior parte
das tempestades no verão é formada quando os sistemas frontais vindos do Sul do
país chegam ao Sudeste, onde se chocam com o ar quente, que é mais leve, e o
jogam para cima, facilitando a formação de tempestades que produzem raios”,
detalhou.
As tempestades
que produzem raios são formadas a partir da elevação do vapor d’água do solo
até altitudes onde ocorre a formação de partículas de gelo, explicou Pinto
Junior.
O atrito das
partículas de gelo no interior das nuvens as deixam carregadas, e as cargas
elétricas podem dar origem a uma faísca que evolui para a formação de um raio
geralmente dentro da própria nuvem, mas às vezes também em direção ao solo,
como os chamados raios descendentes, afirmou.
“Também há os
denominados raios ascendentes, que partem de estruturas altas na superfície e
se propagam em direção à nuvens”, ressaltou.
Durante as
tempestades que aconteceram nos dias 7 e 8 de setembro, em São Paulo, os
pesquisadores do ELAT registraram 14 raios ascendentes saindo de torres de TV
no Pico do Jaraguá – o ponto culminante da cidade, que registra mais raios
ascendentes do que a média mundial.
“Esses 14
raios ascendentes ocorreram em um intervalo de 24 horas e superaram a média de
todo o último verão, quando foram registrados nove raios ascendentes”, disse
Marcelo Saba, pesquisador do ELAT.
Os raios
ascendentes, contudo, são mais difíceis de serem previstos, mas representam um
risco menor por representarem menos de 1% dos raios, ponderam os pesquisadores
do ELAT.
De acordo com
eles, regiões quentes e úmidas favorecem a formação de tempestades e raios.
O Brasil, por
ser o maior país tropical do mundo, lidera o ranking de países com maior
incidência de raios no planeta.
O país, porém,
é o sétimo em número de mortes causadas por raios no mundo, atrás da China
(700), Índia (450), Nigéria (400), México (220), África do Sul e Malásia –
ambos com 150.
“Mais de 80%
das mortes fatais causadas por raios no Brasil poderão ser evitadas se tivermos
um sistema eficiente de previsão desse fenômeno e orientar a população para
tomar medidas de prevenção”, avaliou Pinto Junior.
As previsões
feitas pelo novo sistema serão disponibilizadas, em dezembro, no site
do ELAT.
A pretensão
dos pesquisadores é que o sistema seja usado pelos meios de comunicação para
divulgar a previsão de raios, assim como já fazem com a previsão de tempo.
O artigo “Lightning
forecasting in southeastern Brazil using the WRF model” (doi:
10.1016/j.atmosres.2013.01.008), de Pinto Junior e outros, pode ser lido na Atmospheric
Research em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0169809513000458.
Fonte: Site da Agência FAPESP
Comentários
Postar um comentário