São Paulo Ganha Rede de Estações de Sistemas GPS
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postado hoje (25/06) no site da
“Agência FAPESP”, destacando que o Estado de São Paulo ganhou rede de estações
de Sistemas de Navegação Por Satélite.
Duda Falcão
Especiais
São Paulo Ganha Rede de Estações de
Sistemas de Navegação Por Satélite
Por Elton Alisson
25/06/2013
Divulgação
Construída para fins de pesquisa, a GNSS-SP também deve contribuir para melhorar a aplicação da tecnologia em áreas como a agricultura de precisão e previsão do tempo |
Agência
FAPESP – A
comunidade científica paulista usuária de Sistemas Globais de Navegação por
Satélite (GNSS, na sigla em inglês) passou a dispor de melhor infraestrutura
para utilização dessa tecnologia para fins de pesquisa em áreas como a Geodésia
(determinação da forma, dimensões e campo de gravidade da Terra), cartografia,
modelagem da ionosfera (camada que cobre a Terra, formada por íons e elétrons)
e da troposfera (localizada entre a superfície da Terra e a ionosfera).
Pesquisadores
da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Presidente Prudente, em
parceria com colegas da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ),
da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI/USP) e do Centro de
Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), implantaram a primeira rede de estações GNSS ativa
do Estado de São Paulo.
Batizada de
GNSS-SP, a rede foi construída no âmbito de um Projeto Temático, realizado com apoio da FAPESP.
“Agora
dispomos de uma rede de receptores GNSS em São Paulo, funcionando em tempo
real, criada para fins de pesquisa, mas que também deve contribuir para
melhorar a aplicação de sistemas de navegação por satélite em setores como o de
agricultura de precisão, posicionamento terrestre, aéreo e offshore e
previsão de tempo, entre outros”, disse João Francisco Galera Monico, professor
da UNESP de Presidente Prudente e coordenador do projeto, à Agência FAPESP.
Os
pesquisadores participantes do projeto realizaram, no dia 20 de junho, em São
Paulo, o terceiro workshop do Projeto Temático, durante a conferência
MundoGEO#Connect LatinAmerica 2013, em que apresentaram alguns dos principais
resultados alcançados.
De acordo
com Monico, a rede GNSS-SP conta atualmente com 20 estações ativas, espalhadas
por diferentes municípios paulistas.
Em cada uma
dessas estações há um receptor GNSS conectado com a internet, que rastreia um
conjunto de satélites GNSS em operação – como o GPS, dos Estados Unidos, e
GLONASS, da Rússia – e captam em tempo real os sinais eletromagnéticos que
enviam para a Terra.
Os sinais
dos satélites recebidos pelos receptores são remetidos para um centro de
processamento e armazenamento de dados, localizado no campus da UNESP em
Presidente Prudente, e disponibilizados em uma plataforma on-line para
usuários cadastrados para utilização em pesquisa.
Dados de
algumas estações também são enviados para o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), que os disponibiliza para o público em geral por meio da
Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (RBMC).
Mas, além
disso, os dados de satélites fornecidos pelas estações GNSS também poderão ser
usados a partir da própria estação como referência para realização de posicionamento
relativo – em que um usuário com um receptor GNSS estático ou móvel, próximo a
uma das estações, pode obter suas coordenadas com boa acurácia.
“A
utilização de dados de redes GNSS ativas, como a GNSS-SP, para realização de
posicionamento relativo é uma tendência que deverá aumentar cada vez mais”,
estima Monico.
“Hoje os
aparelhos celulares que possuem GPS fornecem posição com precisão da ordem de
12 metros. Mas, no futuro, quando passarem a receber correções de estações
GNSS, fornecerão posição da ordem de meio metro”, exemplificou o
pesquisador, explicando que, quanto menor a distância da posição fornecida
pelo GNSS, melhor a acurácia das coordenadas do ponto de interesse.
Efeitos da Ionosfera
Segundo o
pesquisador, a rede também possibilitou monitorar melhor a ionosfera e ampliar
o conhecimento em relação a seus efeitos sobre os sinais emitidos pelos
satélites, que, ao passar pela atmosfera, sofrem interferências e chegam à
Terra com variações que vão desde a atenuação da potência até alterações na
direção de propagação e velocidade da onda eletromagnética.
Ao
atravessar a ionosfera, por exemplo, os sinais dos satélites se chocam com
elétrons, que alteram sua velocidade. Já ao seguir pela troposfera, são
afetados pelo vapor d’água, que pode ser estimado e utilizado para melhorar os
modelos de previsão de tempo, uma vez que algumas das estações da rede GNNS-SP
são integradas com medidores de temperatura, pressão e umidade.
Os
receptores das estações GNSS medem os sinais eletromagnéticos captados dos
satélites e os decodificam em dados que podem ser observados pelos
pesquisadores para avaliar as influências que sofreram durante a passagem pela
atmosfera.
“Para nós,
que trabalhamos com posicionamento geodésico [determinação de posição sobre
a superfície terrestre por meio de sistema de coordenadas], essas
interferências da atmosfera sobre os sinais dos satélites degradam a posição e
são erros que queremos eliminar para melhorar a acurácia do posicionamento”,
disse Paulo de Oliveira Camargo, professor da UNESP de Presidente Prudente, e
um dos pesquisadores principais participantes do projeto.
“Mas para
outras áreas, como a das ciências espaciais, esses erros são sinais importantes
por meio dos quais é possível calcular o total de elétrons e gerar modelos da
ionosfera, fazer inferências sobre suas irregularidades e detectar causas de
distúrbios como a cintilação ionosférica”, comparou.
Caracterizado
por uma alteração do campo magnético durante a passagem do sinal dos satélites
pela ionosfera, o fenômeno ocorre com maior intensidade no intervalo das 18h às
2h, no horário local. Em função disso, prejudica a utilização de GNSS na
agricultura de precisão, em que a tecnologia é usada para orientar a direção de
máquinas colheitadeiras dotadas de receptores de GNSS para piloto automático
tanto de dia como à noite.
Durante os
períodos de cintilação ionosférica, os sinais dos satélites captados por
estações base e enviados para um retransmissor móvel, que os retransmite para
as máquinas agrícolas, são afetados. Como consequência, as máquinas podem ter a
qualidade da posição deteriorada e não se localizar adequadamente na área de
plantação onde realizam colheita à noite, por exemplo. “Esse é um problema para
o qual nós estamos tentando encontrar uma solução”, disse Monico.
A fim de
analisar os efeitos do fenômeno, aumentar a compreensão sobre suas causas e
desenvolver novas técnicas de contramedidas a serem implementadas em receptores
de GNSS, pesquisadores da UNESP, Petrobras e da Universidade de Nottingham, do
Reino Unido, entre outros concluíram no início de 2012 o projeto “Concept for
ionospheric scintillation mitigation for professional GNSS in Latin America”
(CIGALA, na sigla em inglês).
Financiado
pela Comunidade Europeia, o projeto também deu origem a uma rede de estações
GNSS situadas nas cidades de Manaus (AM), Palmas (TO), Macaé (RJ), Porto Alegre
(RS) e Presidente Prudente e São José dos Campos, ambas em São Paulo.
Em
continuação ao CIGALA, em novembro de 2012 foi iniciado o projeto “Counterign
GNSS high accuray applications limitations due to ionospheric disturbances in
Brazil” (CALIBRA, na sigla em inglês).
Também
financiado pela Comunidade Europeia e com a participação de pesquisadores de
algumas das instituições que atuaram no CIGALA, alguns dos objetivos do
projeto, que deverá ser concluído no final de 2014, são melhorar e desenvolver
novos algoritmos para mitigar os efeitos causados pelos distúrbios da ionosfera
para posicionamento de GNSS de alta precisão.
O projeto
também prevê a instalação de mais cinco estações de GNSS em diferentes estados
brasileiros.
“Esses dois
projetos, com o GNSS-SP, constituíram uma infraestrutura de monitoramento da
ionosfera que está coletando dados desde 2011”, disse Bruno Vani, que realiza
mestrado na UNESP de Presidente Prudente e participa dos três projetos.
Análise de Dados
Segundo o
pesquisador, até agora já foram coletados mais de 13 terabytes de dados e 7,5
bilhões de registros de monitoramento da ionosfera pelos três projetos.
A cada
minuto, um receptor fornece mais de 60 parâmetros diferentes da ionosfera,
gerados por um conjunto de satélites, como a variação do sinal nos últimos 60
segundos. Os dados das observações são apresentados em arquivos com colunas de
informação que são disponibilizados em um portal
na internet, em português e inglês.
Por meio de
técnicas de visualização e relação de dados, utilizadas pela ferramenta, os
usuários podem saber como está a situação da ionosfera em um determinado dia,
por exemplo, e utilizá-la para realização de pesquisas em diversas áreas e para
desenvolvimento de técnicas que possam mitigar os efeitos da ionosfera no
posicionamento.
A base de
dados permite aos pesquisadores avaliar os picos de cintilação ionosférica no
intervalo de um dia ou de uma semana, por exemplo, e identificar qual o
satélite mais afetado. Mas, apesar de estar em um estágio bastante avançado de
desenvolvimento, ainda requer avanços.
“Como
recebemos grandes volumes de dados, é importante que também tenhamos
infraestrutura para analisá-los e para detectar comportamentos específicos da
ionosfera”, ressaltou Vani.
“Nós temos
dificuldades, por exemplo, de posicionar em períodos de disponibilidade de
dados ameaçada, quando poucos satélites estão sendo rastreados e estão sobre
forte incidência de cintilação. Pode ser que, nesse momento, não tenhamos
capacidade de posicionamento”, disse.
Para
solucionar esse problema, os pesquisadores participantes dos projetos Calibra e
GNSS-SP estão desenvolvendo uma ferramenta de computação para exploração e
análise de dados baseada em softwares livres.
O programa
permitirá aos pesquisadores excluir um determinado satélite mais afetado pela
cintilação ionosférica do rastreamento para possibilitar melhorar o
posicionamento ou prever qual deles está mais suscetível aos distúrbios
ionosféricos, por exemplo.
“A ionosfera
é uma camada muito instável que sofre variações em diversas escalas do tempo –
durante o dia, ao longo das estações do ano e dos ciclos solares, que ocorrem
em períodos de 11 em 11 anos – e é difícil saber como estará daqui a um mês”,
disse Marco Mendonça, outro mestrando participante do projeto. “O software para
exploração e análise de dados vai nos ajudar a responder a essa questão”,
afirmou.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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