INPE Recebe Colaboração de Especialista Russo

Olá leitor!

Segue abaixo uma interessante entrevista publicada no “Jornal do SindCT” de junho de 2013, jornal esse editado pelo “Sindicato dos Servidores Públicos Federais na Área de C&T (SindCT), com o especialista russo da área térmica, Vladimir Barantsevich, que está colaborando como consultor técnico (pesquisador-visitante) com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) na área de projeto e fabricação de tubos de calor.

Duda Falcão

SindCT Entrevista

INPE Recebe Colaboração de Especialista Russo

Vladimir Barantsevich: uma vida dedicada à ciência e ao esporte

Por Gino Genaro
Jornal do SindCT
Junho de 2013

Vladimir Barantsevich nasceu em 27de julho de 1937, em Penza, às margens do rio Sura, na Rússia. É especialista da área térmica, tendo atuado por mais de 40 anos na área de projeto e fabricação de tubos de calor.

Barantsevich desenvolveu mais de 20 tipos de perfis de tubos de calor ranhurados em alumínio para aplicação espacial, tendo colaborado na elaboração da norma ESA PSS-49. 
Hoje, aos 76 anos, atua como consultor técnico e, como hobby, pratica corrida de orientação, esporte ainda pouco difundido no Brasil, mas que conta com milhares de adeptos mundo afora, especialmente nos países escandinavos.

De passagem pelo Brasil, como pesquisador-visitante do Inpe, Barantsevich concedeu esta entrevista ao Jornal do SindCT.

Jornal do SindCT (JS): Qual a sua formação técnica? Onde estudou?

Vladimir Barantsevich (VB): Me formei em 1961, pelo Instituto de Engenharia de Transporte de Moscou (MIIT), da Faculdade de Sistemas de Energia; em 1969 recebi o título de Doutor. A partir de 1967, passei a trabalhar na Research and Production Corporation Space Monitoring Systems, Information & Control and Electromechanical Complexes - VNIIEM Corporation. Ainda neste ano, ao ler um artigo na revista russa Técnica para Jovens sobre tubos de calor, me apaixonei pelo assunto e, a partir de 1970, passei a me dedicar exclusivamente ao estudo destes dispositivos.

JS: Quando e onde começou a atuar na área espacial?

VB: Foi nos anos 1970, como chefe do Laboratório de Sistemas de Controle Térmico e Tubos de Calor da VNIIEM Corp. Tomei parte em vários programas de satélites como o Meteor, Meteor-Priroda 3-1 e 3-2, Meteor-3 e 3M, Electro-1, Ro-1, Intercosmos-Bolgaria 1300, Meteor-TOMS, dentre outros.

JS: No período 1957-1991 aconteceu a “corrida espacial” entre a extinta URSS e os EUA. O Sr. participou de alguma forma dela?

VB: Na verdade, não. A área de tubos de calor sempre foi muito concorrida e popular no meio científico da época, e acabávamos atuando mais pela paixão à ciência do que por motivos de ordem política.

JS: Em que medida o avanço tecnológico obtido pela URSS na área espacial se reverteu para outros ramos da economia (indústria automobilística, eletrodomésticos, etc.)?

VB: A área espacial, de fato, sempre contribuiu para o avanço técnico de outras áreas e para o progresso técnico do país como um todo.

JS: Como se organiza o parque industrial ligado à área espacial na Rússia? Há empresas estatais e privadas?

VB: O parque industrial sempre foi majoritariamente estatal. Atualmente existem algumas empresas privadas, mas que atuam de acordo com as políticas e diretrizes da Roscosmos, a agência espacial russa.

JS: Qual a participação do Estado hoje na área espacial?

VB: Continua cabendo ao Estado todo o financiamento, planejamento, e análise de novas missões. Por exemplo, atualmente a Rússia está construindo um novo cosmódromo (local de lançamento de foguetes), no extremo oriente do país, no vale do rio Amur, próximo a Vladivostok. Esta necessidade surgiu após a Rússia perder sua autonomia administrativa sobre o Cazaquistão, que passou a cobrar aluguel pela utilização da base de Baikonur.

JS: Além de pesquisador, o Sr. pratica uma modalidade específica de atletismo, certo? Conte-nos um pouco sobre este esporte. Ele é comum na Rússia? O Sr. participa de campeonatos?

VB: Sempre pratiquei atletismo, mas, há cerca de 25 anos, comecei a me  interessar pela corrida de orientação. [Espécie de rally a pé, que consiste basicamente em um competidor, equipado apenas com uma bússola e um mapa topográfico, onde estão marcados os locais por onde ele deve passar. Nesses lugares, existem prismas juntamente com picotadores, com o qual o atleta deve picotar um cartão de controle, assinalando sua passagem. Ganha quem fizer o percurso no menor tempo]. Desde então, sempre participei de vários campeonatos. Em 2012, por exemplo, participei de 68 provas, tendo chegado ao pódio em 15 delas, sendo 10 em primeiro lugar na minha categoria. Também tomei parte em nove campeonatos mundiais. Este tipo de esporte está ficando cada dia mais popular; há muitas crianças praticando o esporte, inclusive nas escolas da Rússia.

JS: Qual seu próximo desafio?

VB: Atualmente meu objetivo é apenas continuar com saúde, e só.

JS: O Sr. é testemunha ocular das profundas transformações econômicas e sociais por que vem passando a Rússia nos últimos anos. O que o Sr. destacaria como ponto mais positivo e mais negativo causado pelo fim da URSS em 1991?

VB: Os anos 1990 foram muito difíceis para o país, com forte impacto para toda a população; foi bastante dolorido. Atualmente há mais liberdades políticas, mais democracia e o país vem se recuperando rapidamente.

Saiba mais:

Tubos de calor são dispositivos que funcionam de forma passiva (sem necessitar de controle e sem consumir energia), e servem para conduzir calor de uma região mais quente para outra mais fria, de forma altamente eficiente. 

É largamente utilizado para se fazer o controle de temperatura de satélites no espaço. Também são utilizados na indústria e em equipamentos eletrônicos, como laptops. Consistem de um tubo lacrado, contendo uma parede interna porosa e um determinado fluído (amônia ou acetona).

O Jornal do SindCT agradece  Olga Kchoukina pela realização e tradução da entrevista.



Fonte: Jornal do SindCT - Edição 23ª - Junho de 2013

Comentários

  1. Orientação, para mim, é um esporte por excelência. Mexe na mente, mexe do físico, e se convive com a natureza, visto que a maioria das competições é feita no 'meio do mato' (florestas, prados, bosques, etc).

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