Falhas do Ciência sem Fronteiras São Custo do Aprendizado, diz Ministro
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria
publicada no site do jornal Folha de São Paulo dia (27/04) e postada hoje
(29/07) no site do “Jornal da
Ciência” da SBPC, destacando que
segundo o Ministro Clelio Campolina as falhas do “Programa Ciência sem
Fronteiras” são custo do aprendizado.
Duda Falcão
Notícias
Falhas do Ciência sem Fronteiras São
Custo do Aprendizado, diz Ministro
Entrevista do ministro de CT&I Clelio Campolina
publicada na Folha de São Paulo
Jornal Folha de São Paulo
27/04/2014
Na entrevista, concedida em seu gabinete, Campolina
defendeu o programa Ciência sem Fronteiras, que envia estudantes para o
exterior, mas admitiu que precisa ser aprimorado. Segundo ele, as falhas
ocorridas são o custo do "aprender fazendo".
A instabilidade política na
Ucrânia, parceira do Brasil no projeto binacional para a construção do foguete
Cyclone-4, com investimentos em torno de R$ 230 milhões, também preocupa o
ministro.
Já o projeto Andar de Novo,
liderado pelo neurocientista Miguel Nicolelis é considerado
"controverso" e tem continuidade ainda "sob avaliação".
Leia abaixo trechos da entrevista.
Folha - O
senhor é o terceiro ministro desde o início do governo Dilma. Houve críticas na
comunidade científica sobre a descontinuidade na pasta. Como o senhor as
recebeu?
Clélio
Campolina - Eu tenho
absoluta identidade com a comunidade acadêmica. Já me reuni com a presidente da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, com o presidente da Academia
Brasileira de Ciências e com os reitores das universidades federais. Houve uma
apreensão da comunidade, é natural. Eu venho da academia, onde o contraditório
está presente o tempo todo.
O que é
possível fazer em nove meses?
Não estamos interrompendo nenhum
projeto em andamento. Estamos lançando editais de curto prazo para irrigar o
sistema acadêmico. Estamos reavaliando os INCTs (Institutos Nacionais de
Ciência e Tecnologia) para lançarmos uma nova proposta em maio. Ciência e
tecnologia têm de ser vistos como projetos de Estado, que não têm resultado
imediato. Estamos preparando um plano para propor à presidenta.
A crise na
Ucrânia pode ter impactos no programa binacional para a construção do veículo
lançador de foguetes Cyclone-4?
O mundo inteiro está olhando para
a Ucrânia para saber o que vai acontecer. Não sejamos ingênuos, nós estamos
preocupados. Estamos avaliando como vamos nos posicionar diante disso, já
colocamos muito dinheiro nesse projeto, há uma empresa binacional. Estou
conversando com o Ministério das Relações Exteriores e estamos analisando as
implicações para tomar as decisões políticas necessárias.
O que
significa, para o governo, o projeto Andar de Novo, que pretende colocar uma
pessoa com lesão medular usando um exoesqueleto para dar o pontapé inicial da
Copa?
É um projeto controverso. Não sou
neurocientista e não sei se vai dar certo ou errado. Mas sabemos que todo
projeto de pesquisa tem riscos. E esse é um projeto na fronteira do
conhecimento. Sei que há controvérsias sobre o projeto, porque converso com
neurocientistas. Há problemas éticos no projeto, se deve ou não expor a pessoa
na abertura da Copa, mas eu não posso falar sobre algo que eu não sei.
O Andar de
Novo tem o apoio incondicional do governo?
O projeto está em implementação.
A continuidade ou não depende de avaliações. Não posso dizer que há apoio [do
governo] ou que não há apoio.
Como lidar
com grandes projetos como a participação do Brasil no ESO [Observatório Europeu
do Sul], o novo anel de luz síncrotron e o reator multipropósito para a
produção de radiofármacos diante de um orçamento apertado?
Em relação ao ESO há uma
controvérsia dentro da comunidade acadêmica devido ao seu custo. Nós vamos ter
de ouvir a comunidade astronômica para tomar uma decisão política. Já o
laboratório de multipropósito e o novo anel de luz síncrotron são equipamentos
decisivos para o salto do Brasil. São caros, mas compatíveis com o orçamento.
Defenderei que sejam incluídos como projetos do PAC.
Não vêm
ocorrendo muitos problemas no programa Ciência sem Fronteiras?
Eu não diria que há muitos
problemas. Agora, o programa precisa ser aperfeiçoado? Precisa. Há todo um
processo de aprendizado. Mas mandar essa quantidade de estudantes para o
exterior é um sucesso, eles realimentam criticamente o ambiente universitário
brasileiro. A melhor forma de inovar é "learn by doing" [aprender
fazendo]. Se você fizer um projeto para definir tudo antes, não começa nunca.
Os problemas são um custo desse aprender fazendo.
Não é
difícil aferir os benefícios do programa sem uma metodologia de avaliação
desses alunos?
É muito difícil uma metodologia
universal para avaliar esses alunos. Mas há um esforço em avaliar esse
estudante quando ele volta. O maior desafio das universidade é que, como temos
uma estrutura curricular diferente das estrangeiras, tem de ter um esforço de
reconhecimento do que foi feito lá fora. As universidades estão passando por um
processo de reavaliação de seus currículos à luz dos currículos internacionais.
Haverá algum
desdobramento do programa?
Isso está sendo discutido. O
Ministério da Educação está discutindo isso junto com a Capes e o CNPq. Uma das
posições é que em vez de centralizar o programa, talvez fosse interessante
transferir a gestão para as universidades. Eu ainda não sei a forma como ele
vai continuar, mas ele é importante. Uma das intenções do programa é atrair
alunos estrangeiros. Nós já atraímos muitos, mas precisamos ampliar a nossa
capacidade de atrair alunos de países desenvolvidos, e uma das barreiras é a
língua.
Mas essa
atração não está abaixo das expectativas?
Você achou que iríamos trazer
alunos europeus e americanos todos de uma vez? Essa expectativa é equivocada. A
educação brasileira não pauta o mundo. Alguns departamentos de universidades
estão cheias de alunos europeus e americanos, agora, não podemos querer que
universidades mais novas consigam atrair alunos de países desenvolvidos. Essa
atração é uma questão de tempo. Já há pós-graduações oferecendo cursos em
inglês.
As
universidades brasileiras estão preparadas para essa internacionalização?
Creio que a questão da língua
inglesa está sendo resolvida mais rápido do que esperávamos. Há problemas de
contratação e por isso estamos trabalhando pesado para aprovarmos Código
Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Há problemas reconhecidos de gestão
nas universidades brasileiras. Flexibilização para trazer pesquisadores
estrangeiros, toda a discussão.
Quais os
principais pontos em debate no Código Nacional de Ciência e Tecnologia?
Principalmente facilitar a ponte
entre o sistema acadêmico universitário e o empresarial. Toda a questão de
transferência da propriedade intelectual; a questão da flexibilização do regime
de compras. Quem está na universidade, sabe a dificuldade de importar insumos
do exterior. Se é preciso fazer concorrência pública, é preciso comprar pelo
menos preço, mas, muitas vezes não temos a qualidade desejada.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo via Site do Jornal da Ciência
de 29/04/2014
Comentários
Postar um comentário