Precisamos Ir à Lua

Olá leitor!

Segue abaixo um interessantíssimo artigo escrito por um Professor de Pós-Graduação do ITA postado dia (24/05) no site “www.mudancasabruptas.com.br” defendo a necessidade do Brasil também ir a Lua.

Duda Falcão

Precisamos Ir à Lua

Marco Antonio Leonel Caetano*
Sexta-feira, 24 de Maio, 2013

"Eu percebi três vulcões em diferentes lugares no lado escuro da Lua nova. Dois deles estão praticamente extintos[...] O terceiro mostra uma erupção de fogo real, ou matéria luminosa[...] Sua luz é muito mais brilhante do que o núcleo do cometa descoberto em Paris no dia 10 deste mês." William Herschel 19 de Abril de 1787, 10 h 36 min.

"O vulcão queimou com maior violência esta noite do que na noite passada[...]. Como Jupiter estava perto, eu coloquei meu telescópio no terceiro satélite e estimei o diâmetro da parte que estava queimando igual ao menos duas vezes o tamanho do satélite. Nós calculamos a matéria quente maior do que 3 milhas de diâmetro[...] Não percebi fenômeno similar na última Lua, embora eu tenha usado o mesmo equipamento[...]. William Herschel 20 de Abril de 1787, 10 h 2 min.

O que foi que Sir Willian Herschel viu na cratera Aristarchus? Exatamente pode ter sido a imagem abaixo que muitos relatam na internet.

Cratera Aristarchus iluminada

E qual foi o telescópio que Herschel observou? O telescópio foi o da imagem a seguir com cerca de 20 metros de comprimento.

Telescópio de Wiiliam Herschel

Mas quem foi Sir William Herschel? Foi ninguém mais do que o descobridor de Urano, o descobridor da radiação cósmica infravermelha e descobridor dos pulsares binários. Sua contribuição para a astronomia mundial do século XVIII foi tão importante que ele recebeu o título de nobreza de Sir (cavaleiro da rainha). Herschel ainda conta nesses textos, que ele já tinha observado esse fenômeno da Lua em 1783. Seus relatos estão num famoso artigo para a prestigiada Royal Society com o título "Uma análise de três Vulcões na Lua" (An Account of Three Volcanos in the Moon).

William Herschel

Essa não é uma história de teoria das conspirações, mas de um fato científico observado por um dos maiores astrônomos do mundo. Esse fantástico relato foi descrito por um pesquisador russo em 1961 e foi tão importante que a Nasa o traduziu e colocou em seu relatório que foi preparado para os futuros astronautas. Ainda incipiente na era espacial, é interessante avaliar os chamados NASA Technical Translation (NASA TT), onde a NASA traduzia muitos documentos e relatos russos.

Um especial foi o relato de um "report" da NASA, onde o russo T. N. Klado relatou em seu artigo "Descrições de Observações de Vulcões Lunares nos séculos 18 e 19", toda a novela gerada em cima do artigo de Herschel e sua angústia para não ser desacreditado pela comunidade científica. O relatório reproduzido pela NASA em 1965 não conta apenas a história de Herschel, mas de muitos outros astrônomos da Royal Society de Londres, confirmando a observação de Herschel. Na época em que enviou seu artigo sobre os vulcões, ninguém menos do que Eyler, o filho de Euler (famoso e importante matemático), quem analisou e publicou o texto para a Royal Society.

É possível encontrar no youtube muitos vídeos sobre as possíveis "manipulações " da NASA em dados, cálculos e imagens sobre a viagem à Lua. A maioria parece muito convincente, tomando as sombras da Lua como UFOS, OVNIS, e até um louco que achou um "dragão gigante" do tamanho de uma cidade inteira. Pessoas que não conhecem a verdadeira ciência, acreditam nesses videos e repassam como verdade fatos inventados ou alucinados. Nesse caso dos vulcões, apesar de bizarro, o artigo existe no relatório como mostrado na imagem de capa abaixo:

Artigo NASA TT F - 310 (1965)

O relatório não está nos porões da surdina, escondido, e no Brasil poderá ser encontrado nas grandes universidades ou institutos que tenham cursos na área espacial. Um desses locais é o subsolo da biblioteca do ITA, onde estão praticamente todos os relatórios da NASA que envolveram o projeto Apollo e tudo a respeito da Lua.

Prateleiras do subsolo da biblioteca do ITA
onde estão os relatórios da NASA

E o melhor de tudo é que, quem não pode ir até São José dos Campos-SP na biblioteca do ITA, não precisa se lamentar. A NASA tem uma boa parte desse acervo digital e público. O acervo é muito fantástico com relatórios, fotos, imagens e vídeos de tudo que envolveu a missão Apollo e a Lua (acesse aqui). Inclusive é possível encontrar o relatório de 1965 nesses arquivos digitais.

Mas isso não quer dizer que algumas dúvidas às vezes levantadas realmente se tornem estranhas. Como todos puderam ver na imagem acima, o relatório é da NASA de 1965, mas no entanto a NASA afirmou durante todo esse tempo, até o ano de 2012, que não existiam vulcões na Lua, mas sim crateras de meteoros. Por que seu próprio relatório, com símbolo da NASA, foi refutado durante tanto tempo. Por que um relatório que esteve inclusive nas mãos dos astronautas foi deixado de lado como sem sentido?

Em fevereiro do ano passado (2012), depois das fantásticas análises da sonda espacial Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO), a NASA finalmente deu crédito de que realmente existem vulcões na Lua, e não apenas crateras de impacto por meteoros. Mas com uma ressalva. A última erupção foi há 400 milhões de anos atrás! Poderia William Herschel, descobridor de planetas, de radiação, com observações da Lua rigorosamente detalhadas ter um erro tão primário, tão infantil? E os outros astrônomos que também relataram o fato? O que Herschel viu na Lua?

O que ele viu, deve ter sido o mesmo que Armstrong da Apollo 11 relatou. O centro de controle da missão Apollo 11 em Houston, numa das passagens do módulo espacial pela Lua, avisou por rádio:

- Ei rapazes, tem uns astrônomos aqui alertando para atividade estranha na cratera Aristarchus. Vocês podem conferir isso?

- Sim, estamos passando exatamente agora sobre a Aristarchus e tem um brilho magnífico fora do comum e muito diferente do brilho das outras crateras da Lua.

Ou seja, a cratera Aristarchus não possui apenas o brilho de reflexo lunar.

Imagem da sonda espacial
militar Clementine (1993)
Em 1993 a NASA enviou a sonda Clementine com os melhores e mais refinados equipamentos para fazer as imagens mais nítidas da Lua. Só tinha um detalhe desagradável. Ela era para uso militar!

Ao baixar do site oficial da NASA a imagem do Pólo Sul da Lua, temos o mosaico ao lado. O site é o Lunar and Planetary Institute. Muitos apoiadores da teoria da conspiração afirmam que as imagens do polo sul estão alteradas ou borradas, escondendo algo. A região é muito fácil de ser encontrada no googlemoon, próxima a cratera Drygalsky e uma continuação da cratera Boltzman. Realmente existe uma região escura na imagem (em vermelho).

Aumento da imagem da sonda
espacial militar Clementine (1993)
Quando aproximamos por "zoom" aparece uma tarja preta. Essa tarja não é pixel, não é borrão, mas pela análise de processamento de imagem, foi colocada artificialmente. Como? Numa imagem oficial uma tarja artificial?

Claro que existem outras imagens da mesma região nos dias recentes, e conferir isso se torna interessante. A qualidade das novas sondas conseguem ver detalhes impressionantes dentro das crateras lunares. Se nas imagens ao lado, da sonda militar Clementine, tem uma restrição proposital ou não, e sendo ela de 1993, as sondas atuais já corrigiriam isso. Certo?

Imagem do google moon
Errado! O Japão lançou em 2007 a sonda mais avançada até então. A agência espacial do Japão se chama Jaxa. A sonda enviada até a lua é a Kaguya - SELENE. Essa sonda orbitou a Lua a apenas 50 km de altitude e depois descendo ainda mais até 10 km de altitude.

Em 16 de Abril de 2009 ela foi jogada de propósito contra o solo lunar para avaliar através do impacto qual a composição do solo. Na verdade o Japão afirmou que estava procurando gelo e indiretamente água.

A imagem ao lado é a que está presente no google moon. Ela é dessa sonda japonesa que deveria ter precisão de 10 metros. Num primeiro momento se estranha a qualidade, sendo ela pior do que as fotos antigas da NASA quando da missão Apollo.

E finalmente, um segundo fato é que ao passar exatamente sob o ponto da cratera Boltzman, no mesmo lugar da tarja militar da sonda Clementine, um borrão estraga e deforma a imagem. Ou seja, 16 anos depois, com uma outra sonda, outras tecnologias, o mesmo local continua com defeito de imagem?

E se tentarmos com a sonda LRO, a mais precisa de todas, também existe um borrão ou deformação exatamente no mesmo ponto. Quem tiver o programa do google Earth para rodar em seu computador, ao escolher "Lua" poderá aumentar diversas regiões da imagem da Lua. Inclusive é possível ver o caminho percorrido pelas missões Apollo. Essas imagens são da sonda LRO. E também nessas imagens, a mesma região está distorcida e com borrão. Por que todas as sondas estão borrando a imagem no mesmo local?

A Índia lançou uma sonda para impactar crateras no sul da Lua. E achou ...água congelada. A NASA então fez o mesmo com um módulo da LRO, jogando exatamente sobre o Pólo Sul da Lua. Também acharam gelo e indicou água congelada. Mas só isso?

Não, eles também acharam 1,6% de ... ouro! Tudo bem que isso não significa nada, já que essa quantidade não justifica o enorme investimento para se tirar algumas pepitas de ouro. Mas serão somente algumas gramas mesmo?

Se olharmos para trás, dos países em desenvolvimento e novos pólos financeiros pós-crise de 2008, apenas nós, os brasileiros, estamos fora desse desafio lunar. Até 1987, Brasil, China e Índia estavam no mesmo estágio de foguetes espaciais. Na verdade naquela época a Índia já tinha 4 satélites próprios, mas ainda muito incipientes.

Foguete Long March (China)
A China tinha o Long March ("Longa Marcha") que mantinha em segredo absoluto sua técnica de lançar algumas pequenas cápsulas e recuperá-las. Eram vôos pobres, davam duas voltas na Terra e retornavam. E no Brasil tínhamos o VLS (Veículo Lançador de Satélites) terminando de ser construído. No entanto, os EUA forçaram diversos países da época a não venderem chip para controlador de movimento ou repassar tecnologia dessa área, com medo do seu uso militar pelo Brasil.

A China tem agora um novo e robusto foguete (ao lado) que já levou 3 astronautas ao espaço. Já lançaram uma sonda para a Lua e já falam em mandar astronautas à Lua, sobretudo ao Pólo Sul onde os americanos da Apollo não foram. Novamente aparece o Pólo Sul na história.

Foguete da Índia
O foguete da Índia (ao lado), que também era um monstro feio, se desenvolveu e parece mesmo um verdadeiro artefato espacial, digno de elogios devido ao seu desenvolvimento recorde.

Com orçamento controlado e recheado de grandes engenheiros, com mão de obra especializada e barata, o artefato indiano agora já poderá lançar também astronautas.

Será que Japão, China e Índia correram e aceleraram seus programas apenas para uma aventura espacial? Será que esses países estão pensando apenas em tirar fotos da Lua? Obviamente que não. O que eles estão fazendo é o que o mundo inteiro fez com a Antártica. Inclusive o Brasil fez também. Todo mundo correu com qualquer tipo de navio para marcar território e extrair possíveis riquezas do Pólo Sul terrestre.

Depois de um acordo internacional, apenas países que tinham participado da corrida à Antártica tinham direito à uma base na terra dos pinguins.

E o Brasil... parou ! O projeto espacial que tinha duas vertentes separadas, mas com mesmo objetivo, hoje está "manco". O CTA estava construindo o VLS e o INPE os primeiros satélites de coleta de dados. O INPE firmou vários acordos com a China, com a Índia e quando o satélite estava pronto ficou esperando o VLS. Como o projeto demorou, o INPE lançou seu primeiro satélite através do lançador americano Pegasus.

O VLS fez 3 testes e todos falharam no lançamento. Em sua última versão, o VLS realmente dava orgulho, pois foi feito sem recursos financeiros, sem recursos humanos adequados e a toque de tartaruga. Mas saiu do chão. Infelizmente saiu e voltou explodindo os sonhos. O VLS era assim:

Plataforma de lançamento do VLS

E com a tragédia de 2003 ficou assim

Plataforma de lançamento do VLS
depois da tragédia de 2003

Hoje uma nova versão do VLS está sendo trabalhada, mas o estrago já está feito. Se em 1987 estávamos cerca de 5 anos atrasados em relação à China e Índia, hoje estamos 20 anos atrasados. Paramos completamente, pela desmotivação de salário e da falta de orçamento adequado. Faltam cientistas adequados, faltam sonhos adequados e a ambição acabou. O governo perdeu o rumo completamente pois, ao invés de cientistas no comando dos projetos, entraram politicos que nunca realmente projetaram nada. Os verdadeiros caciques da ciência nacional estão preocupados apenas em estar do lado da sala da presidência, e não em cobrar esforços para alavancar essa área de desenvolvimento.

Muitos vão afirmar: "não temos dinheiro para comida dos pobres e vamos colocar em foguetes?" Se essa for a visão, então devemos fechar o INPE e o CTA junto com o ITA, pois não dá para apenas gastar dinheiro e ficar brincando de ciência. Se entrou na linha de produção, tem que terminar o serviço. Um país tem que ter estratégia de longo período, estratégia de competição em todas as áreas e não apenas nas áreas que dão votos.

Não são apenas 1,6% de ouro na Lua. Essa porcentagem veio apenas de uma cratera, numa ínfima região, por apenas uma sonda. Quem conhece de Estatística sabe que a amostragem precisa ser significativamente maior, em diversas partes da Lua. Por exemplo, ninguém sabe (ou sabe mas esconde) o que são os pontos brilhantes na cratera Aristarchus de William Herschel. Claro que vão dizer que são areia e que refletem a luz solar de forma diferente. No entanto olhando atentamente, percebe-se que mesmo em fotos preto e branco o brilho é muito diferente (imagem da LRO abaixo). E além do mais, será que Sir William Herschel estava errado e viu o "dragão de São Jorge" soltando fogo?

Imagem dentro da cratera Aristarchus
feita pela sonda LRO

O fato é que em breve, a Lua será demarcada. Se tem ouro ou não, não vem ao caso. Se estamos com rótulo de país em desenvolvimento, essa é uma linha primordial. Claro que as "bolsas alimentação" são importantes. Mas a alegação de que somente essa área é importante fere o princípio de desenvolvimento e do progresso do país. Dinheiro existe no país. O problema é que temos que tirar esse dinheiro das mãos dos lunáticos ladrões e colocar nas mãos de quem pode fazer equipamentos lunáticos reais e rentáveis. Sem marcar território, no futuro seremos apenas uma raiz velha e atrofiada presa ao solo da Terra.

* Marco Antonio Leonel Caetano - Matemático, Mestre (ITA), Doutor (ITA) em Eng. Aeronáutica, Professor de Computação do INSPER, professor da pós-graduação ITA. Consultor FAPESP, CNPq e ME


Comentários

  1. Excelente artigo. Espero que não fiquemos a ver navios nisso tudo.

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  2. Disse tudo tínhamos que fazer artigos como esse chegar as mãos de mais brasileiros.

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  3. Eu comparo a conquista da Lua como a conquista do continente Antártico, é um investimento para o futuro. Lua fonte de He3 combustível para reatores de fusão nuclear. Como a Antártida a Lua será dividida, quem não tiver uma base lunar ficará fora da partilha.....se o Brasil continuar gastando 9 bilhões de reais com o Congresso Nacional e mais outros tantos bilhões em estádios de futebol (política do "pão e circo") estaremos cada dia mais longe do sonho espacial.

    Miraglia
    www.edgeofspace.com.br

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  4. Pois é... infelizmente o Brasil tem problemas imensos com desvios financeiros que poderiam render muitos sucessos se fossem esses, investidos na ciência e desenvolvimento do nosso país.

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