Método Inovador de Ensino é Aplicado no Curso de Engenharia Aeroespacial da UFSM
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante nota postada dia (22/12) no
site da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sobre um Método Inovador de
Ensino aplicado no Curso de Engenharia Aeroespacial desta universidade,
apresentado que foi a comunidade acadêmica durante a primeira rodada de
apresentações de trabalhos de CPIO da UFSM no final do segundo semestre de 2017.
Duda Falcão
GERAL
Método Inovador de Ensino é Aplicado no
Curso de
Engenharia Aeroespacial da UFSM
22/12/2017 - 11:35
O curso de Engenharia Aeroespacial da UFSM conta com um
método inovador de ensino, o CDIO (conceive,
design, implement, operate ). O método tem sua origem no Massachusetts
Institute of Technology (MIT) e já está espalhado pelo mundo, em diversas
escolas de Engenharia. Na UFSM, é chamado de CPIO (Concepção, Projeto,
Implementação e Operação). A ideia é que os alunos desenvolvam atividades
inerentes à profissão de engenharia desde o primeiro ano do curso.
Em reforma curricular recente, foram criadas quatro
disciplinas obrigatórias extra-classe: CPIO 1, CPIO 2, CPIO 3 e CPIO 4, que são
ofertadas no segundo, quarto, sexto e oitavo semestres do curso,
respectivamente. O nono semestre é dedicado à atividade tradicional de Trabalho
de Conclusão de Curso (TCC).
Atualmente, o curso de Engenharia Aeroespacial conta com
3 turmas, que ingressaram nos anos de 2015, 2016 e 2017, que se encontram no
sexto, quarto e segundo semestre, respectivamente. Idealmente, todos deveriam
cursar CPIO 1 no segundo semestre, no entanto, devido à adaptação curricular,
no semestre corrente, todas as turmas realizaram o CPIO 1.
A ideia do método é promover um avanço progressivo das
atividades dos alunos, sempre avaliando pelo menos um dos itens C, P, I ou O.
Por exemplo, em CPIO 1, os discentes devem desenvolver concepção e introdução
ao projeto. Em CPIO 2, devem desenvolver concepção e projeto com introdução à
implementação. Estas diretrizes, no entanto, não são obrigatórias: se um grupo
de alunos deseja avançar para fases seguintes, serão encorajados.
Os alunos propõem projetos e os desenvolvem,
obrigatoriamente em grupo, sob a supervisão de um professor coordenador geral
da disciplina. Além disso, outros professores trabalham como orientadores. A
disciplina de CPIO é extra classe e contabiliza 60 horas de encargos aos
alunos, dando-lhes a liberdade de tomar o protagonismo de sua formação.
Trata-se de uma abordagem de ensino aprendizagem centrada no discente, na qual
o docente é um colaborador.
Para exercer o controle do andamento das atividades,
existem requisitos mínimos: apresentação de pré-projeto no início do semestre,
relatório parcial em meados e relatório final e apresentação oral ao término do
período letivo.
No final do segundo semestre de 2017, foi realizada a
primeira rodada de apresentações de trabalhos de CPIO na UFSM (ver abaixo).
Envolveram-se 20 grupos com 72 alunos ao todo. Também participaram das
atividades 6 professores.
Mesmo com temas semelhantes, nenhum grupo repetiu
trabalhos, todos eram complementares. A integração entre os grupos é encorajada
pelos professores, sendo que muitos deles já possuem colaboração. No
geral, os alunos manifestaram grande atenção pelo desenvolvimento de
tecnologia, desejando trabalhar para suprir carências nacionais no setor
aeroespacial.
Alguns projetos extrapolaram as fronteiras da
universidade, tais como a cooperação com a empresa Erres, para adaptação de um
sistema de assentos e o projeto em conjunto com a a Ala 4 (Base Aérea de Santa
Maria), para estudo de atividades de manutenção.
O professor do curso de Engenharia de Telecomunicações da
UFSM e colaborador do curso de Engenharia Aeroespacial Marcelo Zanetti
participou das apresentações e deixou seu parecer: “A maior parte dos cursos de
engenharia no Brasil possui currículos enormes, com disciplinas focadas e pouco
relacionadas. Portanto é comum que o aluno se interesse mais por certas
disciplinas, enquanto que outras são encaradas como meros obstáculos a serem
transpostos para diplomação. Muitos desses obstáculos desmotivam os alunos,
resultando em evasão no ensino superior, principalmente entre aqueles de
primeiro ano. Assim é louvável o pioneirismo do curso de Engenharia
Aeroespacial na adoção da metodologia CPIO a partir do segundo semestre de seu
currículo obrigatório, cujo impacto mais óbvio é justamente promover entre seu
corpo discente uma maior conscientização sobre a relevância de cada um de seus
componentes curriculares. Além disso, frente aos projetos ambiciosos e
empolgantes propostos pelas equipes de alunos nessa primeira edição do CPIO,
contando com uma massa crítica discente/docente já presente, e comprometimento institucional,
espera-se que o CPIO inicie uma reação em cadeia que resultará no
estabelecimento de Santa Maria como um polo tecnológico aeroespacial. Ver para
crer ou plantar para colher?"
Os temas desenvolvidos pelos grupos de alunos
> Seis envolveram o projeto de foguetes ou seus
subsistemas:
- Protótipo de motor foguete a propelente liquido de baixo
custo para fins didáticos - Conduzido por alunos do segundo semestre, já
resultou na montagem de um protótipo.
- Construção de um motor foguete - Trabalho
de alunos do segundo semestre, trata da concepção, dimensionamento e construção
de um motor foguete a combustível sólido, o qual já está em fase avançada de
montagem.
- Concepção de um foguete sonda de pequeno porte
- Desenvolvido por alunos do quarto e sexto semestres, trata-se de um projeto
bem detalhado, cobrindo vários sub sistemas de um foguete a combustível sólido
de dois estágios. Contou com a participação do estudante visitante estrangeiro
Diego Andrés Silva Vera, o qual cursa engenharia aeronáutica na Bolívia.
- Projeto e desenvolvimento de uma bancada
vertical de testes de motor foguete de até 400 Newtons - Conduzido por
alunos do segundo e quarto semestres, o qual tem por objetivo desenvolver uma
estrutura que pode ser incorporada por laboratórios didáticos e pelo grupo UFSM
Rocket Lab.
- Concepção e projeto de um foguete experimental
básico - Desenvolvido por alunos do segundo semestre, com foco em
dimensionamento inicial e estudo da tecnologia.
> Dois trabalhos foram desenvolvidos acerca do
tema de motores aeronáuticos:
- Concepção de um motor a reação didático - Conduzido
por alunos do quarto semestre, trata-se de ampla revisão bibliográfica sobre
motores a jato, com a concepção e desenhos de um motor turbo fan didático
(baseado no avião A380) para ser futuramente construído didaticamente (sem
combustão) para exposição em laboratório.
- Princípios da propulsão a jato - Conduzido
por alunos do segundo semestre, trata da concepção e projeto de um motor a jato
em miniatura, o qual será operacional para fins didáticos. No momento, algumas
peças do motor já começaram a ser fabricadas em laboratório do colégio técnico
industrial (CTISM).
> Cinco trabalhos foram conduzidos acerca de
projeto de aeronaves:
- Planador de voo livre Urubuzinho - Conduzido por alunos do segundo semestre,
trata-se de um projeto de longo prazo de planador de competição, o qual
iniciou-se com a concepção e projeto preliminar de um planador de voo livre
(não tripulado);
- Desenvolvimento de Veículo aéreo não tripulado
para uso experimental - Efetuado por alunos do 6 semestre, tratou da
concepção e integração de um veículo aéreo não tripulado (VANT) de pequeno
porte a partir de peças comerciais, visando a prática de engenharia de
sistemas.
- Aeronave remotamente pilotada para aplicação
agrícola: com fins de pulverização e mapeamento - Estudo elaborado por alunos do quarto
semestre, trata da identificação de oportunidade de mercado e concepção de um VANT
que seja passível de utilização em aplicações agrícolas no Rio Grande do Sul,
complementando o trabalho já realizado por aeronaves tripuladas.
- MDO
Process for conceptual design of a remotely piloted aircraft - Conduzido
por aluna do sexto semestre, em conjunto com uma aluna da Engenharia Mecânica,
trata de uma ferramenta computacional para otimização sistemática de projetos
de VANTs em etapas iniciais (projeto conceitual).
- Estudo da implementação de veículos aéreos não
tripulados na sociedade brasileira visando nacionalização tecnológica e redução
de riscos - Conduzido por alunos do segundo e sexto semestres, trata da
investigação de cenário e proposição de uma concepção de VANT para aplicações
compatíveis com a realidade brasileira.
> Quatro trabalhos foram conduzidos acerca de
sistemas aeroespaciais:
- Projeto e implementação de um programa para
aquisição de dados de vibração de asas de ARP e validação de seu modelo
matemático - Conduzido por alunos do sexto semestre, já resultou em um
protótipo envolvendo a eletrônica de aquisição de dados o programa de
processamento de sinais, bem como sua interface gráfica.
- Projeto de um sistema de ajuste dos assentos da
aeronave Tucano R - Trabalho desenvolvido por alunos do sexto e quarto
semestres. Tratou-se de uma colaboração com a empresa aeronáutica Erres de
Santa Maria para adaptação dos assentos da aeronave produzida pela mesma.
- Rotores de helicópteros - Conduzido por alunos
do segundo e quarto semestre, tratou de revisão bibliográfica sobre helicópteros
no Brasil com foco em seus rotores. A imagem abaixo é emblemática, pois
demonstra os alunos no papel central da atividade de ensino-aprendizagem, com o
professor participando como mais um elo da corrente do desenvolvimento do
conhecimento.
- Bancada de simulação de controle automático
- Conduzido por alunos do quarto semestre, tratou de uma revisão sobre os
controles de veículos lançadores e uma proposta de bancada didática para
controlar o apontamento de uma tubeira de foguete.
> Dois projetos foram desenvolvidos no âmbito
de ensino:
- Concepção e implementação de um curso de introdução
a ferramentas computacionais com aplicação em fluidodinâmica para engenharia
aeroespacial - Conduzido por alunos do sexto semestre contando com apoio do
FIEN (Fundo de Incentivo ao Ensino da PROGRAD). Os discentes ofertaram cursos
para os colegas de modo a utilizar o laboratório de computação recém implantado
para o curso. É uma oportunidade de capacitar os próprios colegas com
ferramentas que os mesmos podem usar em seus trabalhos de CPIO.
- Cursos de introdução a ferramentas
computacionais para engenharia aeroespacial: MATLAB e Simulink - Conduzido
por uma aluna do sexto semestre junto de um aluno do curso de Engenharia de
Telecomunicações, também contou com o apoio do FIEN e seguiu a mesma filosofia
do curso apontado anteriormente.
> Dois projetos foram conduzidos acerca de
ferramentas e processos de gestão:
- Análise das atividades de manutenção executadas na
Ala 4 e proposta de um modelo esquematizado de gestão - Conduzido por
alunas do sexto semestre, insere-se no âmbito da parceria entre a UFSM e a
Força Aérea Brasileira, objetivando estudos que visam o aprofundamento da
formação acadêmica, mas também dando retorno para a outra instituição, no caso,
a Ala 4 (Base Aérea de Santa Maria);
- Projeto de dirigível ARES X-579 - Conduzido por
alunos do segundo e quarto semestres. O projeto se iniciou por pesquisa de
mercado, definindo, a partir de interação com a comunidade, um produto de seu
interesse. Passando, em seguida, por importantes fases tais como: definição da
marca, campanha de marketing, concepção de preço, etc. Alguns resultados já são
dignos de registro de propriedade intelectual.
Visão de fora
O professor Pedro Paglione, que trabalhou 40 anos no
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), participou como professor visitante
na UFSM da comissão que avaliou os trabalhos. Ele deixou seu relato: “foi muito
gratificante participar, como professor visitante na UFSM, da comissão que
avaliou as apresentações e os relatórios finais realizados pelos alunos do
primeiro curso de CPIO na UFSM. Repensar a maneira de se ensinar engenharia
atualmente é uma necessidade indiscutível. Vários artigos e publicações sobre o
tema vêm corroborar a minha experiência e anseio no sentido de um novo método
de ensino de engenharia, no qual os alunos atuem também de maneira ativa, executando
projetos que os levem a pensar em todos os aspectos ligados à concepção, ao
projeto, à implementação e à operação de um novo produto de engenharia. Deve-se
buscar um compromisso entre a experiência prática os diversos cursos de
graduação que vão fornecer os conhecimentos da física e das ferramentas
adicionais (matemática, computação, etc) indispensáveis para a solução de um
problema de engenhar. (...) Isto vai, indubitavelmente, motivar, de forma
extraordinária, a curiosidade e, portanto, a vontade do aluno de engenharia em
finalizar o seu curso de engenharia. Acredito que o número de desistências deva
cair consideravelmente, se o aluno, logo no início de seu aprendizado for
levado a cursar uma matéria de CPIO, onde ele, inicialmente, perceba a necessidade
das matérias que ainda vai cursar, quando tenta resolver um problema de
engenharia. A participação do aluno em um grupo que vai ser designado para
solução de um projeto de CPIO é também uma outra forma extraordinária de
tirá-lo de um eventual isolamento na universidade; uma das causas frequente que
levam alunos a desistir do curso de engenharia. Por outro lado, o professor
precisa aprender a sair de sua eventual zona de conforto, onde apenas se
preocupa com assuntos de sua especialidade. A solução de um problema de
engenharia é multidisciplinar e todas as matérias lecionadas têm a mesma
importância na formação de um bom engenheiro. Sem prática, não se forma um bom
engenheiro e cursos de CPIO, durante a graduação, suprimem esta lacuna. Deve-se
também incentivar a participação do aluno, durante a graduação, se possível, a
experiências práticas em firmas de engenharia, considerando-as como matérias
cursadas. Isto era comum no passado e, infelizmente, deixou de ser requisito
necessário à formação atual do engenheiro. Foi uma experiência sensacional
assistir às apresentações dos alunos, neste primeiro curso de CPIO da UFSM, e
constatar que alguns dos trabalhos são propostas inovadoras valiosas e,
portanto, merecem ser patenteadas.”
Fonte: Site da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Comentário: Muito interessante essa notícia e mostra a abrangência
dos projetos aeroespaciais em curso na UFSM. Entretanto, estranhei a falta de
projetos relacionados com pequenos satélites, já que a UFSM trabalha na área junto
com o INPE no Programa dos satélites NanosatC-Br.
Olá, sei que pode não ser adequado perguntar neste post, mas enfim...
ResponderExcluirMeu sonho é trabalhar nessa área(inclusive meu grande sonho é projetar um satélite rs), entretanto eu curso engenharia de computação e gostaria de saber se com essa formação eu consigo atuar no setor espacial.
Eu estudo na USP de São Carlos e algo que me motivou foi o engenheiro mecatrônico Lucas Fonseca de lá, mas a formaçao dele é mais parecida com a de e. aeroespacial... Até existe uma ênfase em robótica na e. comp., mas é focada em visão e navegação.
Eu estou no caminho certo ou preciso muda-lo?
Agradeço desde já.
Olá Auro!
ExcluirPoxa jovem amigo, se você tem acesso ao Eng. Lucas Fonseca, ele poderá lhe orientar melhor do que a gente ou então indicar alguém na própria USP que possa, entende? Boa sorte.
Abs
Duda Falcão
(Blog Brazilian Space)
Eu falaria com alguns excelentes professores do dep. De aeronáutica ai de SC, ou mesmo com o Lucas, mas sinceramente, como eng da computação vc tem várias áreas para trabalhar na aeroesp. Pense num mestrado no ita, inpe, uema por exemplo
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