Brasileiros Criam Modelo Para Avaliar Possibilidade de Vida em Lua de Júpiter
Olá leitor!
Segue abaixo um matéria publicada dia (22/01) no site da
Agência FAPESP, destacando que Brasileiros criam modelo para avaliar
possibilidade de vida em Lua de Júpiter.
Duda Falcão
Notícias
Brasileiros Criam Modelo Para Avaliar
Possibilidade de
Vida em Lua de Júpiter
Por José Tadeu Arantes
Agência FAPESP
22 de janeiro de 2018
Imagem: NASA
Satélite Europa tem enorme oceano de água líquida
aquecida
sob crosta gelada, cujo fundo constitui cenário semelhante ao da
Terra
primitiva e pode eventualmente abrigar microrganismos.
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Europa, a lua gelada de Júpiter, tem sido um dos
principais alvos de interesse da Astrobiologia, como um possível ambiente
habitável no Sistema Solar. Isso porque tem, debaixo de uma crosta de gelo com
estimados 10 quilômetros de espessura, um oceano de água líquida com mais de
100 quilômetros de profundidade. Uma importante fonte de energia, decorrente da
interação gravitacional com Júpiter, mantém essa água aquecida.
Por isso, Europa tornou-se um objeto tão interessante. E
a NASA, a agência espacial dos Estados Unidos, está planejando uma missão,
provavelmente para os anos 2030, com o propósito de estudar a habitabilidade e
indícios de atividade biológica no oceano líquido do satélite. Trata-se de um
projeto real, já em andamento.
Uma pesquisa teórica, voltada para a avaliação da
habitabilidade microbiana em Europa a partir de dados colhidos em ambientes
análogos existentes na Terra, foi realizada por um grupo de pesquisadores
brasileiros: Thiago Altair Ferreira, Marcio Guilherme Bronzato de Avellar, Fabio Rodrigues e Douglas Galante. O artigo, assinado pelos quatro, acaba
de ser publicado em Scientific Reports.
O estudo foi apoiado pela FAPESP por meio do Projeto
Temático “O
Sistema Terra e a evolução da vida durante o Neoproterozoico”, da Bolsa
de Pós-doutorado “Estrelas compactas em binárias: investigando a composição da
matéria superdensa” e da Bolsa de Mestrado “Ambientes
radioativos naturais como fontes de desequilíbrio químico local e suas
potenciais implicações prebióticas”.
“O que fizemos foi explorar os possíveis efeitos de uma
fonte de energia biologicamente aproveitável em Europa, com base em informações
obtidas em contexto terrestre análogo”, disse o coordenador do estudo, Douglas
Galante, pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e do
Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia (NAP-Astrobio) do Instituto de Astronomia,
Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), à Agência
FAPESP.
O contexto terrestre análogo foi encontrado na mina de
ouro de Mponeng, na África do Sul, localizada a 2,8 quilômetros de
profundidade. Nela, descobriu-se recentemente a bactéria Candidatus
Desulforudis audaxviator, que sobrevive sem luz solar a partir da hidrólise
radioativa da água.
“Nessa mina subterrânea de grande profundidade, há
rachaduras por onde vaza água com a presença de urânio radioativo. O urânio
quebra as moléculas de água produzindo radicais livres [H+, OH- e outros].
Os radicais livres atacam as rochas do entorno, especialmente a pirita [dissulfeto
de ferro, FeS2], produzindo sulfatos. E as bactérias utilizam os
sulfatos para sintetizar ATP [trifosfato de adenosina], nucleotídeo
responsável pelo armazenamento de energia nas células”, descreveu o
pesquisador. “Foi a primeira vez que se observou um ecossistema que subsiste
diretamente com base na energia nuclear.”
Segundo Galante e colegas, o ambiente colonizado por
bactérias na mina de Mponeng é um excelente análogo do ambiente presumivelmente
existente no fundo oceânico de Europa.
“Estudamos como os parâmetros encontrados em Mponeng
poderiam ser transpostos para Europa de forma que a lua de Júpiter também
apresentasse condições de abrigar ecossistemas semelhantes”, disse Galante.
O primeiro e mais óbvio requisito é a existência de água
líquida. A presença de um oceano líquido subterrâneo em Europa deve-se à “força
de maré” exercida pela poderosa atração gravitacional de Júpiter.
Diferentemente da Lua terrestre, cuja órbita é quase
circular, Europa descreve uma trajetória elíptica muito excêntrica. Por isso,
sofre deformação geométrica periódica ao longo do percurso. Quando se aproxima
do planeta, sua forma é esticada pelo fortíssimo puxão gravitacional. Quando se
afasta, sua forma volta a encolher.
Esse “estica-encolhe” libera enorme quantidade de energia
térmica no interior de Europa. Assim, enquanto sua superfície tem a temperatura
do espaço profundo, na faixa de menos 270 °C, portanto próxima do zero
absoluto, seu subsolo é capaz de alojar um oceano de água não apenas líquida,
mas também aquecida.
“Desse modo, em uma região muito distante do Sol e não
iluminada pela luz solar, existe um ambiente bastante favorável para a
existência de vida, tal como a conhecemos. Porém, não basta existir água
líquida aquecida. É preciso que haja também uma fonte de desequilíbrio químico,
capaz de gerar energia biologicamente aproveitável”, disse Galante.
Conforme explicou o pesquisador, os gradientes químicos –
isto é, as diferenças de concentração de moléculas, íons ou elétrons em regiões
distintas – são a base de toda a bioenergética conhecida na Terra. A respiração
celular, a fotossíntese, a produção de ATP, a condução de impulsos nervosos e
tantos outros processos são, todos eles, baseados na existência de gradientes
químicos. Essas diferenças de concentração, que produzem uma direção e um
sentido, configuram a chave que destrava a atividade biológica.
“As emanações hidrotermais – de hidrogênio molecular [H2],
ácido sulfídrico [H2S], ácido sulfúrico [H2SO4],
metano [CH4] e outras – são importantes fontes de
desequilíbrios químicos e eventuais fatores de 'transdução biológica' – isto é,
da transformação do desequilíbrio em energia biologicamente aproveitável. Essas
fontes hidrotermais são o cenário mais plausível para a origem da vida na
Terra”, disse.
Urânio, Tório e Potássio
O modelo proposto por Charles Darwin (1809-1882), de um
meio aquoso aquecido rico em sais fosfóricos e de amônia como cenário para a
origem da vida, provavelmente não aconteceu em uma poça superficial – como
imaginou o naturalista britânico –, mas, sim, em um fundo oceânico, abastecido
por fonte hidrotermal.
“Quisemos avaliar a possibilidade de algo semelhante
estar acontecendo em Europa. Para tanto, seria necessária uma emanação de água,
proveniente do subsolo, que carregasse elementos químicos capazes de produzir
tal desequilíbrio. No estágio atual, não temos dados para saber se isso ocorre
em Europa. Tal processo depende da química do solo, da dinâmica do hidrotermalismo
e de outras variáveis, que, no caso da lua de Júpiter, ainda são desconhecidas.
Por isso, procuramos por um efeito físico mais universal que tivesse grande
probabilidade de acontecer. E esse efeito é justamente o da ação da
radioatividade”, explicou Galante.
Quando o Sistema Solar se formou, ele incorporou uma
quantidade de radionuclídeos produzidos pela estrela supernova da geração
anterior, cuja explosão ejetou no espaço a matéria que viria a constituir o Sol
e todos os astros que em torno dele orbitam. Os vários corpos do Sistema Solar
dotados de núcleos rochosos agregaram esses materiais radioativos.
“Tal presença já foi detectada e medida na Terra, nos
meteoritos que chegam à Terra e em Marte. Por isso, podemos afirmar, com certa
tranquilidade, que deve ter ocorrido também em Europa. Em nosso estudo,
trabalhamos com três elementos radioativos: urânio, tório e potássio. Pois são
os mais abundantes no contexto terrestre. Com base nas porcentagens encontradas
na Terra, nos meteoritos e em Marte, pudemos presumir as quantidades
eventualmente existentes em Europa”, disse Galante.
“A partir das quantidades, foi possível estimar a energia
liberada, como essa energia estaria interagindo com a água de seu entorno e a
eficiência da hidrólise radioativa da água resultante dessa interação na
geração de radicais livres. Tais radicais livres são a fonte do desequilíbrio
químico. No contexto de Mponeng, como já dissemos, eles interagem com a pirita,
produzindo sulfatos, que são utilizados pelas bactérias para sintetizar ATP”,
disse.
O estudo mostrou, de forma consistente, que a existência
de material radioativo, em quantidades bastante realistas, já seria um
fortíssimo propiciador da vida naquela lua. Outro ingrediente necessário é a
pirita. Ignora-se se Europa possui pirita ou não. É bastante provável que sim,
uma vez que o enxofre (S) e o ferro (Fe) são elementos abundantes no Sistema
Solar. Mas este seria um importante tópico a investigar em uma eventual missão
espacial à lua de Júpiter.
“Uma das propostas decorrentes de nosso estudo é que,
para avaliar a habitabilidade de um corpo celeste, se deve procurar por traços
de pirita. Esse é um dos testes do nosso modelo”, sublinhou Galante.
“Europa parece ter, no fundo oceânico, condições muito
parecidas com aquelas que existiram na Terra primitiva, em seu primeiro bilhão
de anos. Então, estudar Europa hoje é, em certa medida, semelhante a olhar para
o nosso próprio planeta no passado. Além do interesse intrínseco que a
habitabilidade e a existência de atividade biológica em Europa possam ter, esse
estudo também é uma porta para o entendimento da origem e evolução da vida no
Universo”, disse.
Caso se confirme a existência de atividade microbiana em
Europa, uma pergunta óbvia será se as bactérias presentes na lua jupteriana
surgiram lá mesmo ou migraram de outras regiões do Sistema Solar, ou até mesmo
de lugares mais distantes. Parece ficção científica, mas esta é também a
pergunta que se faz em relação à própria vida na Terra. Uma pergunta para a
qual a ciência ainda não tem resposta, pois, no estágio atual do conhecimento
científico, não há dados irrecusáveis a favor ou contra uma eventual origem
exógena para a vida terrestre.
A antiga teoria da panspermia ou propagação da vida pelo
Universo – que foi retomada com novos argumentos pelo astrônomo britânico Fred
Hoyle (1915-2001) e seu antigo aluno Nalin Chandra Wickramasinghe, nascido em
1939 no Sri Lanka e atualmente diretor do Buckingham Centre for Astrobiology,
da University of Buckingham, no Reino Unido – continua um tema em aberto. Não
foi confirmada nem rechaçada de forma cabal.
“Não encontramos, até hoje, evidência de vida fora da
Terra. O que temos mostrado em laboratório é que microrganismos, de diferentes
tipos, são altamente resistentes e capazes de sobreviver a viagens espaciais.
Um cenário possível seria que microrganismos eventualmente ejetados de Marte
pelo choque de um cometa viajassem pelo espaço e chegassem à Terra. Sabemos que
isso poderia acontecer. Mas não temos nenhuma evidência de que tenha
acontecido”, disse Galante.
Cientistas de 26 universidades e instituições de pesquisa
do Japão estão conduzindo atualmente o experimento Tanpopo na Estação Espacial
Internacional. A missão consiste na coleta de amostras de poeira cósmica para o
posterior rastreamento de compostos prebióticos ou mesmo de microrganismos. Se
tais microrganismos existirem, mesmo que tenham chegado ao espaço próximo a
partir da própria Terra, isso constituirá um formidável argumento a favor da
disseminação da vida além dos limites da atmosfera terrestre.
O artigo Microbial habitability of Europa sustained by
radioactive sources (doi:10.1038/s41598-017-18470-z), de Thiago Altair,
Marcio G. B. de Avellar, Fabio Rodrigues e Douglas Galante, está publicado em www.nature.com/articles/s41598-017-18470-z.
Fonte: Site da Agência FAPESP
Comentário: Pois é enquanto o nosso Patinho Feio se desintegra
e é assimilado pelos gringos, a Astronomia e mais recentemente a Astrobiologia Brasileiras , avançam a passos largos e
poderiam até avançar ainda mais, caso tivesse mais apoio e principalmente se tivéssemos
investido em missões espaciais astronômicas e Astrobiológicas além da órbita terrestre ou de
espaço profundo, como é o caso da Missão Lunar Garatéa-L, esta sem qualquer
envolvimento governamental. Poderíamos por exemplo (com a tecnologia já desenvolvida
do LNA e na USP), esta trabalhando numa espécie de telescópio espacial para ser
colocado na órbita terrestre ou após a órbita lunar em conjunto com outros
países latino-americanos como a Argentina, o Chile e o México (só citando
alguns exemplos), ou uma missão que testasse em órbita da Lua (por exemplo) a resistência de organismos extremófilos. Porém falta visão, determinação, comprometimento e seriedade de um desgoverno
que tem em pauta o saque e a manutenção do POPULISMO, infelizmente.
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