Pesquisadores Procuram Sinais de Uma Nova Física
Olá leitor!
Segue abaixo uma notícia postada hoje (21/03) no site da
“Agência FAPESP”, destacando que pesquisadores procuram 'sinais' de uma Nova
Física e entre eles um grupo de
pesquisadores do Instituto de Física (IF) da Universidade de São Paulo (USP).
Duda Falcão
Especiais
Pesquisadores Procuram
Sinais de Uma Nova Física
Por Elton
Alisson
21/03/2013
Grupo do Instituto de Física
da Universidade de São Paulo
inicia
projeto para prever os
fenômenos que deverão ser
observados nos experimentos
do
LHC a partir de 2015
(foto: Wikimedia)
|
Agência
FAPESP – Após
concluir, em dezembro, a primeira fase de grandes testes experimentais à
procura de partículas elementares, o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla
em inglês), da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN, na sigla em
inglês), na Suíça, só voltará a realizar esse tipo de experimento em 2015 –
quando será aumentada a intensidade dos feixes de raios de prótons e a energia
no centro de massa do maior acelerador de partículas do mundo.
Durante o
intervalo de dois anos, no entanto, a comunidade internacional de físicos
teóricos desenvolverá uma série de modelos numéricos e simulações para prever
os tipos de fenômenos que deverão ser observados experimentalmente nos
detectores de partículas do LHC a partir de 2015.
Um grupo de
pesquisadores do Instituto de Física (IF) da Universidade de São Paulo (USP),
por exemplo, iniciou um projeto de pesquisa Temático, com apoio da FAPESP, para
procurar, na nova rodada de experimentos do LHC, sinais de uma nova Física,
além do chamado “Modelo Padrão” – teoria construída nos últimos 50 anos que
descreve as interações forte, fraca e eletromagnética das partículas
fundamentais que constituem toda a matéria.
“Os próximos
dois anos serão muitos intensos, tanto na teoria como na simulação, para que em
2015, quando o LHC retomar os experimentos com prótons com maior intensidade e
energia, nós já tenhamos nossas previsões concluídas, de modo que os físicos
experimentais possam procurar pela nova Física além do Modelo Padrão”, disse
Gustavo Alberto Burdman, professor do IF e coordenador do projeto, à Agência
FAPESP.
Burdman foi
um dos palestrantes da Conferência USP sobre Cosmologia, Estruturas de Larga Escala e Primeiros
Objetos, realizada nos dias 4 a 7 de fevereiro, em São Paulo.
De acordo
com o pesquisador, com o achado no CERN, no início de julho, do bóson de Higgs
(partícula subatômica hipotética, postulada em 1964 pelo físico britânico Peter
Higgs), se presumiu que o Modelo Padrão da física de partículas teria sido
completamente validado.
A teoria do
Modelo Padrão e do próprio bóson de Higgs apresentam, contudo, lacunas, segundo
Burdman, que levam os físicos teóricos e experimentais a considerar a
possibilidade de que exista Física além dela.
“O fato de o
bóson de Higgs ter severos problemas de estabilidade e o Modelo Padrão não
incluir determinadas partículas que observamos nos levam a acreditar que existe
uma nova Física na escala que está sendo estudada pelo LHC”, disse Burdman.
“O aumento
da intensidade dos feixes de raios de prótons e da energia nos testes que serão
realizados a partir de 2015 no colisor vão nos permitir procurar por essa
Física além do Modelo Padrão”, afirmou.
Matéria Escura
Ao longo do
projeto de pesquisa temático, Burdman e os pesquisadores do IF Renata Funchal e
Oscar José Pinto Eboli construirão teorias e simulações que preveem a
existência de algumas partículas não descritas no Modelo Padrão. Uma delas é a
matéria escura.
Responsável
por cerca de 30% da densidade de energia do Universo, a partícula, que recebeu
o nome de “escura” por não emitir luz, não está no “radar” do Modelo Padrão de
física de partículas.
“O Modelo
Padrão não contém nenhum tipo de partícula que pode ser a matéria escura. Por
isso, precisamos construir teorias para explicar os problemas apresentados pelo
Modelo Padrão relacionados com a matéria escura”, afirmou Burdman.
Uma das
principais questões a serem respondidas sobre a partícula, de acordo com o
pesquisador, é o que ela realmente é. O que se sabe é que a matéria escura não
é composta por partículas que interagem eletromagneticamente, como nêutrons e
prótons, detectáveis pelos instrumentos de medição convencionais.
“Nós não
fazemos a menor ideia do que seja a matéria escura. Por isso, precisamos
estender o Modelo Padrão para termos modelos teóricos que a prevejam”, avaliou
Burdman.
Teoria Como
Guia
De acordo
com o pesquisador, o que se observa nos testes experimentais com prótons
realizados no LHC são sinais de partículas existentes no Modelo Padrão.
Já os sinais
de partículas que os modelos construídos pelos físicos teóricos indicam que
podem ser produzidas na escala dos experimentos realizados no colisor do CERN –
como o bóson de Higgs e a matéria escura – são, no entanto, instáveis em sua
maioria e decaem (se dividem) imediatamente após serem produzidos em partículas
estáveis observadas nos experimentos. Além disso, estão escondidas por baixo de
diversos ruídos produzidos pelo Modelo Padrão, o que impede que sejam
visualizadas.
De modo a
orientar como os sinais dessas novas partículas podem ser extraídos dos
experimentos, os modelos de identidade de física de partículas e as simulações
realizadas pelos físicos teóricos devem indicar quais partículas fora do Modelo
Padrão podem ser detectadas nas colisões, em quais partículas irão decair, com
qual probabilidade e em que direção, entre outras informações.
“Para
procurar alguma partícula específica no tipo de experimentos realizados no LHC,
é preciso ter uma guia para saber onde e como procurar. E essa guia é a
teoria”, explicou Burdman.
Uma vez
identificados nos experimentos os sinais e o seu padrão – como a frequência com
que ocorrem –, os físicos teóricos reconstroem seus modelos, de modo a
certificar se os fenômenos realmente são observados nos experimentos e se vão
além do Modelo Padrão.
“Nós,
físicos teóricos, falamos o que deve ser procurado nos experimentos e, por sua
vez, os experimentais nos dizem o que é observado para que possamos ajustar
nossas teorias”, disse Burdman.
“Foi com
base nesse diálogo entre os físicos teóricos e os experimentais que o Modelo
Padrão de física de partículas foi construído ao longo dos últimos 50 anos e
esperamos repeti-lo agora na procura da Física além do Modelo Padrão”, avaliou.
Atualização
do Cluster de Computadores
Para testar
e traduzir os modelos desenvolvidos pelos físicos teóricos em previsões com
altos níveis de detalhes dos eventos que podem ser observados experimentalmente
nos detectores do LHC, é necessário o uso de ferramentas computacionais de alto
desempenho para realizar simulações numéricas, explicou Burdman.
As
simulações realizadas pelo grupo de pesquisadores do IF da USP – tanto para o
LHC como para experimentos com neutrinos (partícula subatômica sem carga
elétrica) e matéria escura – são feitas em um cluster de computadores
localizado no Departamento de Física Matemática.
O parque de
processamento, no entanto, é antigo e deverá ser atualizado por meio do projeto
de pesquisa temático realizado com apoio da FAPESP. “O projeto temático deverá
nos dar um grande poder de realizar simulações computacionais compatíveis tanto
com os primeiros dados do LHC, que começaram a ser divulgados agora, como os
que serão gerados a partir de 2015, com as colisões de altas energias”, estimou
Burdman.
Dados de
Mais Alta Energia
Na primeira
fase de testes com prótons, iniciada em 2010, o LHC obteve dados sobre colisões
de prótons a uma energia de 8 TeV, em vez de 14 TeV no centro de massa, como
previsto inicialmente.
Por causa
disso, na avaliação de Burdman, o acelerador de partículas de mais alta energia
existente no mundo só começou a realizar agora, de fato, o trabalho para o qual
foi concebido.
“O novo
estágio do LHC, com maior energia e intensidade do feixe de prótons, permitirá
testar tanto partículas com massas maiores do que prevíamos, como também medir
com maior precisão as interações do bóson de Higgs com outras partículas
conhecidas”, disse Burdman.
Por
enquanto, de acordo com o pesquisador, o que se sabe é que há fortes indicações
de que a partícula detectada no CERN, em julho, é o bóson de Higgs postulado
pelo Modelo Padrão.
Como os
dados ainda são muito preliminares, no entanto, as medições das interações da
partícula com outras já conhecidas apresentam margens de erro muito grandes, de
acordo com o pesquisador.
“Ainda há
muito espaço para que as interações do bóson de Higgs sejam não padrão, o que
sinalizaria uma nova Física. Mas, para comprovar isso, é necessário realizar
medições com maior precisão, como as que o LHC deve possibilitar na próxima
rodada de testes experimentais”, indicou.
“Nossa
expectativa é que algumas das teorias que desenvolveremos, ou alguma outra que
não pensamos, possa ser construída a partir dos dados gerados pelo LHC nos
próximos anos”, afirmou.
Fonte: Site da Agência FAPESP
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