Expansão do CLA Preocupa os Quilombolas de Alcântara
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada na edição de agosto do
“Jornal do SindCT” destacando que a expansão do CLA preocupa os Quilombolas de
Alcântara.
Duda Falcão
BRASIL - I
Expansão do CLA Preocupa
os Quilombolas de Alcântara
Acordo com Estados Unidos e transformação em “Centro Espacial”
levam governo a
ampliar a área. Incorporação de 12,6 mil hectares à área
do Centro de Lançamento
poderá desalojar 200 famílias, advertem as
lideranças. Comando da FAB diz
reconhecer o direito das comunidades às terras, mas
ressalva que cabe
à outros órgãos do governo “resolução
da situação”
Por Pedro Biondi
Jornal do SindCT
Edição nº 60
Agosto de 2017
A luta por reconhecimento e respeito a seus
territórios continua na ordem do dia das 156 comunidades quilombolas
certificadas de Alcântara (MA), que aguardam a titulação de suas
terras agora procuram evitar a expansão do Centro de Lançamento
de Alcântara (CLA).
Administrado pela Força Aérea Brasileira
(FAB), o CLA, no litoral maranhense, ocupa hoje cerca de 8,7 mil
hectares (ha) e a intenção do governo federal é destinar a ele
mais 12,6 mil ha, mais que dobrando seu perímetro. (Cada ha corresponde à área
média de um campo oficial de futebol.)
Ocorre que os 2 mil ha originalmente desapropriados
para a ponta de lança do Programa Nacional de Atividades Espaciais
(PNAE) estão no território identificado como étnico.
A anexação dessa faixa rumo ao mar afetará
famílias que vivem, basicamente, da agricultura, do extrativismo e da
pesca, advertem a lideranças quilombolas.
Em 25 de julho, movimentos sociais bloquearam o
acesso ao CLA contra esse planejamento e contra a submissão da infraestrutura
aos interesses dos Estados Unidos, país com o qual, conforme
noticiado, foi estabelecido acordo, a ser submetido ao
Congresso Nacional.
“As comunidades não são contra o projeto,
mas não aceitam a ampliação da área da base espacial”, diz Ivo
Fonseca, coordenador executivo da Coordenação Nacional de
Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).
A entidade levou o assunto ao Conselho
Nacional de Direitos Humanos (CNDH), que marcou missão para o
município maranhense em 29 e 30 de agosto, com audiência
pública no dia seguinte. “Nunca é bom o deslocamento de pessoas
de seus lugares históricos, né?”, observa o integrante do
movimento negro local Servulo Borges.
“Queremos mostrar para a sociedade brasileira que o
projeto inicial teve ônus para essas comunidades, das quais 312
famílias foram removidas da região litorânea, e que aquilo que o
governo está chamando de ‘consolidação’ vai causar desorganização
social novamente, desalojando desta vez 23 núcleos e
200 famílias. Aqui não é um vazio demográfico, é um
lugar habitado por pessoas que têm uma história, uma cultura que
se reproduz e tem de ser respeitada.”
Borges lembra que o país responde a denúncia na
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pelas remoções
da década de 1980, parte delas sem indenização. Segundo o
alcantarense, as expectativas de melhora na saúde e na educação
também não se concretizaram. “O Brasil quer fazer acordo de
cooperação? Faça com quem quiser, mas não passará por cima dos
direitos dessas pessoas”, resume.
Consenso negado o alto escalão federal andou visitando o
CLA e dando declarações sobre sua transformação no “Centro Espacial de
Alcântara” (CEA), com inauguração pretendida para 2021.
Em 12 de abril, o ministro da Defesa, Raul Jungmann,
afirmou que, além dos EUA, França, Rússia e Israel mostraram interesse em
usufruir da localidade, que propicia economia significativa de combustível na
colocação de satélites em órbita. Jungmann descartou uma governança que
afete a soberania nacional.
“Este Centro é o que tem melhores condições não
só geográficas, mas também em termos de equipamento em todo o
hemisfério sul do planeta”, declarou.
“Uma joia”, no dizer do titular do Ministério
da Defesa (MD), que pode gerar US$ 1,5 bilhão de receita anual e para isso precisa de seis bases.
Atualmente, de acordo com o MD, o complexo certifica
operadores e lança veículos suborbitais e foguetes de treinamento,
totalizando quatro operações por ano, com uma média de cinco lançamentos
de foguetes suborbitais, número que seria ampliado.
Jungmann informou que o processo de
conciliação fundiária estava sendo finalizado na Casa Civil.
“Pelas informações que nós temos, já existe um pré-acordo, para
que seja feito o remanejamento dessas famílias, para que elas tenham
absoluta condição de habitação e de, obviamente, levar a sua vida”,
disse.
A existência desse suposto consenso, porém, foi
contestada pelo então chefe da Representação Regional da
Fundação Cultural Palmares (FCP) no Maranhão, Pedro
Celestino, em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia.
Exonerado dois meses depois, ele negou ao Jornal do SindCT que
sua demissão se deva à declaração.
Em 22 de agosto, pousaram no CLA o ministro--chefe
da Casa Civil, Eliseu Padilha, o comandante da FAB,
tenente-brigadeiro Nivaldo Luiz Rossato, e o ministro-chefe do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general
Sergio Etchegoyen.
Padilha avaliou que a unidade
está subaproveitada. “Nós queremos que o CLA tenha um aproveitamento
pleno e esse é o diálogo que vamos levar ao presidente Temer”,
enfatizou.
Diante e pedido de entrevista do Jornal do SindCT, o Comando da Aeronáutica encaminhou nota em que reconhece como legítimo o direito das comunidades tradicionais às suas terras, ressalvando porém que a expedição de tais títulos extrapola as competências da instituição, “cabendo a outros órgãos da administração pública a resolução da situação atual”.
Diante e pedido de entrevista do Jornal do SindCT, o Comando da Aeronáutica encaminhou nota em que reconhece como legítimo o direito das comunidades tradicionais às suas terras, ressalvando porém que a expedição de tais títulos extrapola as competências da instituição, “cabendo a outros órgãos da administração pública a resolução da situação atual”.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC) entregou a diversos órgãos federais, inclusive à PGR
e à FCP, uma moção de repúdio ao deslocamento compulsório de
comunidades quilombolas e em defesa da Base Espacial. A moção exige titulação das terras e condena a
cessão do CLA aos EUA.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 60ª - Agosto de 2017
Comentário: Gente o acordo com os EUA é necessário, se
quisermos a colaboração deles na assinatura do Acordo de Salvaguardas, pois
sem esse acordo o Brasil não terá como operar no mercado de lançamentos comerciais
de microssatélites e nanossatélites, o que levaria ao VLM-1 a ser subtilizado.
A questão aqui não é esta, a questão é como será feito esse acordo. Há competência
e seriedade no ME/MD/MCTIC para conduzir com sapiência as negociações de ambos esses acordos (o de uso da Base de Alcântara e o de Salvaguardas Tecnológicas) com os
americanos ou qualquer outro acordo com quem quer que seja??? Está que é a questão. É preciso lembrar
de que desde a instalação do centro no inicio dos anos 80 que a ideia do CEA já
existia, e previa o uso de vários sítios de lançamentos por outras nações. A própria questão dos Quilombolas coloca em
dúvida a competência e seriedade do governo em conduzir negociações nesta área,
já que toda esta questão foi criada devido à falta de compromisso
governamental com as promessas que foram feitas e não cumpridas. Vocês do Desgoverno
TEMER que se dizem interessados no PEB, tomem a iniciativa urbanizando as vilas
existentes, fazendo melhorias em suas casas, criando escolas, postos médicos e
gerando oportunidades de emprego, bem como bolsas de estudos para jovens Quilombolas
em universidades e centro técnicos da região, e depois com o exemplo dado, sentem-se
com as lideranças e discutam esta ampliação. Vocês notarão que a receptividade dessa
gente será outra e cumprindo a risca com o que for acordado com essas 200 famílias de agora,
este problema deixará de existir. Coloquem-se no lugar deles e se perguntem: “Será
que vocês acreditariam novamente em promessas do governo?” Está ai leitor o porquê
da necessidade de cumprir primeiro com as outras comunidades o que foi acordado
nos anos 80. É claro que nessa história toda tem o dedo de ONGS estrangeiras disfarçadas bem como de aproveitadores de todas as especies que visam atrapalhar o desenvolvimento espacial do país e também aqueles PIRATAS que querem se beneficiar da situação, mas a brecha para que eles atuem foi justamente criada pelo não cumprimento por parte do governo com as promessas feitas nos anos 80. Se assim fosse, hoje certamente esses vermes não teriam como agir, pelo menos não utilizado-se dos Quilombolas.
Comentários
Postar um comentário