A Astronomia Segue Viva no Brasil
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria publicada ontem (11/09) no site
da “Revista VEJA” destacando que Área Astronômica no Brasil segue viva, apesar
do descaso governamental com a Ciência Brasileira.
Duda Falcão
CIÊNCIA
A Astronomia Segue Viva no Brasil
Por Leticia Fuentes
Revista Veja
11 set 2017, 18h16
(NAOJ/Divulgação)
Imagem do telescópio japonês Subaru, no Havaí. O Brasil
participará
de um projeto para construir dois equipamentos de alta tecnologia
que serão acoplados ao telescópio.
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Não é de hoje que o investimento em ciência e
tecnologia no Brasil não anda bem. De 2014 para cá, o setor vem sofrendo
cortes sucessivos em seu orçamento, após um breve período de crescimento. E
desde que o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação se juntou ao das
comunicações, logo no início do governo de Michel Temer (PMDB), sem aumento no
orçamento, a briga para conseguir financiar pesquisas e outros projetos no país
tem sido cada vez mais dura. Em um cenário tão pessimista para a ciência
brasileira, a XLI Reunião da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), que
promoveu uma série de encontros na última semana para apresentar o que há de
novo na pesquisa em astronomia no Brasil e no mundo, trouxe uma
esperança. Entre os destaques do que foi discutido, encontram-se não só estudos
de ponta realizados por equipes nacionais, mas também parcerias com países que
são referência mundial em inovação e até a fundação
de uma associação de pesquisadores para estudo de vida fora da Terra. (veja
a matéria anterior postada no Blog)
Pesquisa no Brasil
Apesar de todas as dificuldades orçamentárias, a
quantidade de artigos científicos publicados por brasileiros aumentou nos
últimos anos. Só em astronomia, o número que era de aproximadamente 4.000
pesquisas divulgadas entre 2000 e 2009 saltou para 5.300 de 2010 a 2017. “Esse
crescimento só aconteceu por causa dos investimentos que fizemos na última
década”, afirma o astrofísico Thiago Signorini Gonçalves, professor da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador de comunicação da
SAB. “Mas devemos começar a sentir o peso dos cortes [no orçamento] já nos
próximos anos.”
Como destacou Gonçalves, o impacto dos estudos
publicados, ou seja, quantas citações esses artigos recebem em outras
pesquisas, também é um fator levado em consideração para avaliar a qualidade
das pesquisas de um país. E, nesse quesito, o Brasil está muito atrás de países
como os Estados Unidos e algumas nações europeias. “Isso não é só uma questão
da qualidade da pesquisa que é realizada aqui, também é uma questão de
visibilidade. O Brasil precisa de parcerias com outros países, pois não adianta
só os brasileiros lerem as pesquisas que são realizadas aqui”, defende o
astrofísico.
Por isso, um dos pontos destacados pela SAB em sua
reunião anual foi justamente a questão da internacionalização da astronomia
brasileira. A fundação da Sociedade Brasileira de Astrobiologia (SBA) durante o
evento, associação de pesquisadores para estudo da vida dentro e fora da Terra
– um dos temas mais pesquisados no mundo em astronomia nos últimos anos –, foi
um indicativo de que o Brasil já está correndo atrás desse atraso. Mas, além dessa,
há outras apostas do nosso país para os próximos anos, incluindo dois grandes
projetos internacionais.
Telescópio Internacional
Uma das iniciativas apresentadas foi BINGO, um telescópio
que será construído pelo Brasil em parceria com Reino Unido, Suíça e Uruguai
para estudar a matéria escura (um tipo de matéria que não emite luz, mas que os
cientistas sabem que existe porque pode ser detectada por meio de ondas
gravitacionais). Esse material, cuja existência foi prevista por Albert Einstein
no começo do século XX, corresponderia a 70% da composição do universo.
O projeto, estimado em 4,2 milhões de dólares (13 milhões
de reais), teve 76% de seus custos financiados pelo Brasil, por meio da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Segundo o
pesquisador Carlos Alexandre Wuensche, do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), inicialmente a ideia era que o telescópio ficasse localizado
no Uruguai – mas, após a extinção de um critério técnico, decidiu-se que ele seria
instalado aqui no Brasil, na Paraíba. “O fato de construí-lo aqui permite
envolver com mais eficácia as empresas brasileiras e reduz o custo do projeto”,
comenta o pesquisador.
Segundo Wuensche, BINGO foi projetado para estudar o
universo quando ele tinha entre 5 e 12 bilhões de anos (hoje ele tem 13,7
bilhões de anos). O telescópio identifica oscilações na matéria, chamadas
bárions, medindo a intensidade da emissão de átomos de hidrogênio. “[BINGO] foi
concebido para ter uma estrutura e manutenção bastante simples, sem partes
móveis e sem partes que necessitem resfriamento”, afirma o pesquisador.
Segundo ele, o desafio do Brasil é fabricar cinco cones,
ou cornetas, de quase cinco metros de comprimento com dois metros de abertura.
Além disso, os cientistas brasileiros ficarão encarregados de fazer espelhos e
receptores de baixo ruído. “Penso que o Brasil foi convidado, inicialmente,
mais por uma questão logística do que pela contribuição científica que poderia
dar. Ao longo do projeto a capacidade do Brasil foi aparecendo e hoje temos
condições de discutir praticamente todos os subsistemas do projeto de igual
para igual. Contribuímos não só com a maior parte dos recursos, mas também com
muita experiência científica”, avalia o pesquisador.
Tecnologia de Ponta
Outro projeto apresentado durante o evento foi o SuMIRe,
que envolve a construção de dois instrumentos de alta tecnologia para o
telescópio japonês Subaru, localizado no Havaí. Com expectativa de conclusão em
2020, esse projeto prevê a participação do Brasil em duas frentes: na
construção de uma câmera de alta resolução que será acoplada ao telescópio e no
desenvolvimento de um espectrógrafo, utilizado no estudo dos espectros
luminosos.
No total, a iniciativa terá um custo de 130 milhões de
dólares (400 milhões de reais). “O Brasil colaborou principalmente com o
alojamento de pesquisadores e outros custos relacionados às equipes que estão
trabalhando no projeto. A maior parte do financiamento, no entanto, foi feita
pelo Japão”, disse o holandês Roderik Overzier, do Observatório Nacional, no
Rio de Janeiro, que está envolvido na iniciativa. O astrofísico veio para o
Brasil em 2013, em um momento promissor para a ciência nacional. Naquela época,
o Brasil começou um diálogo para se juntar ao Observatório Europeu do Sul (ESO,
na sigla em inglês), um dos maiores grupos internacionais para construção de
observatórios no mundo – até hoje, no entanto, nenhuma decisão foi tomada.
Mesmo desanimado com a demora da negociação com o ESO,
Overzier afirma não ter perdido as esperanças na ciência brasileira e enxerga
no SuMIRe uma grande oportunidade. “Acho que é um grande avanço mostrar que
podemos fabricar equipamentos de grande tecnologia aqui e não precisar importar
de outros países”, afirma.
Trazendo para discussão esses projetos e contando com
renomados convidados brasileiros e estrangeiros, a SAB mostrou em sua reunião
anual uma luz, ainda que tímida, no fim do túnel para a ciência brasileira. As
apresentações realizadas durante o encontro deixam claro que o principal
empecilho para astronomia no Brasil não é a falta de capacidade ou a ausência
de pesquisadores qualificados – e sim a dificuldade em conseguir recursos e
bolsas de pesquisa, que, muitas vezes, acabam afastando cientistas e
obrigando-os a partir para outros países em busca de cenários mais favoráveis
ao desenvolvimento da ciência e tecnologia.
“Queremos sentar na mesma mesa de países que são
referência mundial em pesquisa e conversar de igual para igual. Mas, para isso,
é preciso fomentar o crescimento do ensino de astronomia”, afirma Thiago
Signorini Gonçalves. Segundo o astrofísico, o Brasil já provou que quando se
investe em ciência e tecnologia, os resultados aparecem em um curto período de
tempo. “Se você quer ter visibilidade, precisa de gente qualificada trabalhando
ali. E não temos como fazer isso sem investimento.”
Fonte: Site da Revista VEJA - 11/09/2017
Comentário: Pois é leitor, a Astronomia Brasileira tem
enfrentado dificuldades herculanas (não diferente da Ciência Brasileira como um
todo) numa gangorra de baixo e médio investimento desde que foi implantada no país
décadas atrás. Porém com dedicação, sapiência, comprometimento e seriedade,
apesar das dificuldades, esta dinâmica Classe Astronômica Brasileira vem
encontrando soluções que fizeram a mesma avançar significamente nos últimos 20
anos, apesar de acharmos que este avanço poderia ter sido bem maior caso interagisse
de forma vigorosa com o Programa Espacial do país, como alias acontece nos
outros Programa Espaciais bem sucedidos no mundo. Entretanto leitor como
interagir com um programa que no mesmo período não teve o desenvolvimento que
se esperava dele? Difícil, né verdade? Mas através de iniciativas pontuais e independentes
desses desgovernos de merda, como por exemplo, a Missão Lunar Garatéa-L, a área
de Astronomia Espacial acende aí uma luz de esperança que, quem sabe, um dia, a
Comunidade Astronômica possa contribuir significamente para o desenvolvimento
espacial do país.
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