Mais Nitrogênio no Aglomerado
Olá leitor!
Segue abaixo uma interessante matéria publicada na edição
de dezembro de 2013 da “Revista Pesquisa FAPESP” destacando que estudo do astrofísico brasileiro Ricardo Schiavon publicado na revista Astrophysical JournalLetters parece reforçar a ideia
de que estrelas de idade e composição distintas formam os mais antigos
agrupamentos de matéria das galáxias.
Duda Falcão
CIÊNCIA
Mais Nitrogênio no Aglomerado
Estrelas de idade e composição
distintas formam os
mais antigos agrupamentos
de matéria das galáxias
MARCOS PIVETTA
Edição 214 - Dezembro de
2013
© DALCANTON, WILLIAMS
& CALDWELL / ADAM EVANS
Surgidos
entre 12 e 10 bilhões de anos atrás, os sistemas estelares mais antigos ainda
existentes na Via Láctea e outras galáxias são enormes agrupamentos de matéria
que reúnem centenas de milhares de estrelas. Na Via Láctea são conhecidos
em torno de 160 sistemas desse tipo, distribuídos sob a forma de um halo em
torno da galáxia. Denominadas tecnicamente aglomerados globulares, tais
formações podem guardar a chave para a compreensão de alguns dos mistérios do
Universo primordial. Até o final da década passada, a ideia corrente entre os
astrofísicos era a de que todas as estrelas de um aglomerado teriam se formado
de uma só vez e, basicamente, com a mesma composição química. Observações mais
recentes, no entanto, lançaram dúvidas sobre esse modelo ao mostrarem que há em
certos aglomerados globulares várias gerações de estrelas, com distintas idades
e diferentes abundâncias de certos elementos da tabela periódica. Em
outras palavras, o processo de formação dos aglomerados não deve ter sido tão
simples como se cogitou no passado.
Um
artigo científico publicado em 10 de outubro na revista Astrophysical
JournalLetters pelo astrofísico brasileiro Ricardo Schiavon, professor
da Universidade John Moores de Liverpool, Inglaterra, reforça essa suspeita
atual. No trabalho, Schiavon apresenta uma espécie de lei que parece reger a
dinâmica envolvida no surgimento dos aglomerados: quanto maior for a
massa desse tipo de formação, maior a quantidade de nitrogênio presente em suas
estrelas. Tal correlação é interpretada como uma evidência de que realmente
existem várias gerações de estrelas dentro dos aglomerados e de que as
populações estelares mais jovens são mais ricas em nitrogênio do que as mais
antigas. “Pela primeira vez estabeleceu-se de maneira sólida uma correlação
empírica entre um parâmetro global dos aglomerados globulares, como a sua
massa, e a composição química das suas estrelas”, diz Schiavon. “Essa ligação
sugere fortemente que os aglomerados de fato sofreram uma evolução química
intrínseca.” Com o passar do tempo, o meio interestelar dos aglomerados,
constituído de poeira e gás, deve ter se tornado mais rico em nitrogênio –
produzido e ejetado pelas primeiras gerações de estrelas ali formadas
– e a maior quantidade desse elemento foi progressivamente incorporada à
composição das populações subsequentes de estrelas surgidas no interior desses
sistemas.
Ao
lado de colegas dos Estados Unidos e Canadá, o brasileiro encontrou essa
correlação depois de ter medido a luz integrada – a luminosidade média de todas
as estrelas de 72 aglomerados de Andrômeda, a maior galáxia espiral situada nas
proximidades da Via Láctea. Além de estudar a abundância de nitrogênio,
os pesquisadores analisaram as quantidades de carbono, ferro, magnésio e
cálcio nos aglomerados. Mas, nesses casos, não encontraram uma conexão clara
entre massa e qualquer um desses elementos. Embora os aglomerados de nossa
própria galáxia estejam muito mais próximos, os pesquisadores optaram por
trabalhar com a galáxia vizinha. “Em certo sentido, é mais fácil estudar
os aglomerados de Andrômeda do que os de nossa galáxia porque não precisamos
olhar em meio a uma floresta de estrelas situadas no “primeiro plano” da nossa
visão”, diz o astrofísico Charlie Conroy, da Universidade da Califórnia em
Santa Cruz, coautor do trabalho. “Mas os resultados que encontramos devem valer
para aglomerados de quaisquer galáxias, inclusive a Via Láctea.”
Estrelas
de Médio Porte
O
nitrogênio é sintetizado em grande quantidade por estrelas de porte
intermediário, com massa de quatro a oito vezes maior do que a do Sol. Como só
foi encontrada uma correlação entre a massa dos aglomerados e a presença desse
elemento em suas estrelas, os astrofísicos suspeitam que o processo de
enriquecimento químico ocorrido no interior desse tipo de formação estelar se
deu por meio da incorporação de matéria ejetada por estrelas de tamanho
médio. Quando atingem a meia-idade, tais estrelas ejetam grande
quantidade de massa sob a forma de ventos estelares. Grandemente
enriquecido em nitrogênio, esse material contaminou o gás onde se formaram as
gerações mais jovens de estrelas, que, assim, se tornaram mais ricas nesse
elemento.
Para
a astrofísica Beatriz Barbuy, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências
Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), especialista na
caracterização química de populações estelares (que não participou do estudo
com os aglomerados globulares), o trabalho de Schiavon e seus colegas foi bem
feito e apresenta resultados consistentes. “A correlação encontrada entre massa
e abundância de nitrogênio é importante em vista da grande resistência que
havia no passado à ideia de autoenriquecimento de aglomerados”, diz Beatriz.
“Ela também confirma as evidências atuais de que há diversas populações de
estrelas subsequentes em aglomerados.”
Artigo
científico
SCHIAVON, R.P. et al. Star clusters in
M31. V. Evidence for self-enrichment in old M31 clusters from integrated
spectroscopy. The
Astrophysical Journal Letters. v. 776, n. 1. 10 out. 2013.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 214 – Dezembro de
2013
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