Entrevista com o Idealizador do Projeto UBATUBA SAT

Olá leitor!

O ano de 2011 tem trazido a nós amantes da astronáutica, da tecnologia espacial desenvolvida no Brasil e da educação direcionada para o setor, algumas notícias animadoras e esperançosas, pelo menos em relação a iniciativas não governamentais.

Dentro desse contexto, podemos citar dentre as mais significativas a participação de quatro equipes brasileiras no Prêmio N-Prize (UnB, NTA, Coyote Rockets, Edge of Space), o lançamento pela Coyote Rockets Company dos Programas CAE e Skyward Brasil, o lançamento do primeiro Spacecamp brasileiro pela Acrux Aerospace Tecnologies, a parceria estabelecida pelo grupo  Edge Of Space com a empresa sérvia “EdePro” para o desenvolvimento de um motor-foguete a propulsão líquida de 50kN, o envolvimento de diversas universidades em atividades espaciais e principalmente o desenvolvimento de um Tubesat (pequeno satélite) por estudantes do ensino médio de uma escola municipal da cidade de Ubatuba-SP (Projeto UBATUBASAT – Tancredo-1).

Aluna trabalha em placa do satélite
(Foto: Elaine Pinho)
Desde que tivemos ciência dessa iniciativa dos estudantes da Escola Municipal Tancredo Neves de Ubatuba, vínhamos tentando de várias formas entrar em contato com o idealizador do projeto, o professor Cândido Moura, sem qualquer sucesso e confesso que já tínhamos pedido a esperança.

Entretanto, após uma conversa informal que tivemos com o diretor da Acrux, o senhor Oswaldo Loureda (ao qual aproveito para agradecer publicamente), conseguimos então através dele o e-mail do professor e imediatamente entramos em contato.

O professor Cândido Moura foi muito receptivo e atencioso para com o nosso blog, respondendo a todas as nossas perguntas que seguem abaixo na íntegra. O blog “BRAZILIAN SPACE" aproveita para agradecer ao professor Moura pela atenção e desejar sucesso ao mesmo e a todos os envolvidos no projeto.

AVANTE TANCREDO-1

Duda  Falcão

Professor Cândido com alguns
alunos do Projeto
(Foto: Elaine Pinho)
BRAZILIAN SPACE: Professor Cândido, nos fale sobre o senhor. Sua idade, formação, onde nasceu, trajetória profissional e desde quando o senhor trabalha na Escola Municipal Tancredo Neves de Ubatuba?

PROF. CÂNDIDO MOURA: Tenho 51 anos, nasci em Ubatuba, sou graduado em Física pela Universidade de Taubaté e tenho três pós  na área de gestão.  Trabalho na escola Tancredo desde 83.  A Escola Tancredo até 10 anos atrás era uma escola técnica de segundo grau exclusivamente na área de gestão (Administração, Contabilidade, Secretariado).  Nessa época ela se fundiu com outra escola municipal e passou a ter o ensino fundamental de 5ª a 8ª série. E há cinco anos dei aula pela primeira vez no ensino fundamental.

BRAZILIAN SPACE: Como surgiu à idéia da criação desse projeto de satélite e o que lhe estimulou a realizá-lo?

PROF. CÂNDIDO MOURA: Em fevereiro de 2010, li na revista Superinteressante uma nota que a Interorbital Systems, da Califórnia, tinha desenvolvido um foguete – um novo lançador – de baixo custo e estava comercializando kits de microsatélites e eu achei interessante montar um com meus alunos. Conversei com colegas professores e com alguns empresários, pois sabia que teria que levantar recursos na iniciativa privada e todos gostaram da idéia. Entramos em contato com a empresa americana que confirmou as informações e enviou a minuta de contrato para analisarmos. E a empresa já nesse momento, no primeiro contato, nos informou que os nossos alunos seriam os mais jovens do mundo a participar de uma pesquisa espacial e também nos alertou que precisaríamos de um suporte técnico. Por conta disso recorremos ao INPE que já na primeira reunião se prontificou a nos ajudar.

Em setembro já tínhamos a parte burocrática e financeira praticamente resolvida.  Fizemos então a apresentação do projeto para os alunos e para os pais e iniciamos o treinamento deles construindo um arduino (uma cpu)  que permite você controlar um robô  ou automatizar uma residência, como sendo o primeiro treinamento para que eles pudessem adquirir as habilidades para depois construir o satélite.

Já fiz outros projetos ligadas a área de ciência mas eram todos pontuais. Eu acho que o ensino de ciência no Brasil ocorre de forma equivocada que normalmente se coloca um texto sobre algum assunto de ciência e se faz algumas perguntas cujas respostas estão no texto. De modo que o aluno se forma e muitas vezes nunca pisou num laboratório ou nunca teve nenhum contato com a ciência propriamente dita. Achei que esse assunto – tecnologia espacial – é bem abrangente, um grande guarda chuva para que várias áreas da ciência concorrem para viabilizá-la.

Aluno trabalho no satélite
sob a supervisão de uma
professora (Foto: Elaine Pinho)
BRAZILIAN SPACE: Professor, quantas crianças estão atualmente envolvidas no desenvolvimento do satélite e são todas elas da Escola Municipal Tancredo Neves ou existem crianças de outras escolas participando do projeto?

PROF. CÂNDIDO MOURA: Cerca de  60 alunos estão envolvidos no projeto e todos estudam na escola Tancredo e pertencem ao sétimo ano.

BRAZILIAN SPACE: Professor Cândido, em nosso primeiro contato por e-mail o senhor fez questão de dividir a realização desse projeto com outras instituições e pessoas. Esclarecendo para nossos leitores professor, quais seriam essas instituições e pessoas que colaboraram e/ou ainda colaboram para o sucesso desse projeto?

PROF. CÂNDIDO MOURA:  Os professores de ciência (Mariléia, Rogério, Patrícia, Marcelo), os professores de inglês (Mariana e Emerson), a equipe gestora da escola; a prefeitura de Ubatuba, muito especialmente a Secretaria de Educação; o INPE; a empresa Globalcode e os nossos patrocinadores. Outro grande incentivador é o físico Dr. Sergio Mascarenhas da USP, ele é o grande divulgador do nosso trabalho, se você ficou sabendo do UBATUBA SAT deve isso a ele e não a mim.

BRAZILIAN SPACE: Professor, recentemente o senhor esteve participando como palestrante do “International Symposium on Space Technology and Science (ISTS) ocorrido no Japão. Fale-nos como surgiu a possibilidade de sua participação neste simpósio, os objetivos alcançados e a repercussão de sua palestra durante o evento.

PROF. CÂNDIDO MOURA:  Eu e mais três pesquisadores do INPE escrevemos um artigo cientifico (na realidade, o segundo que produzimos)  e submetemos aos organizadores do congresso japonês. O artigo foi aceito e havia necessidade de algum dos autores apresentá-lo de acordo com as regras do congresso. A palestra despertou interesse quase que unânime entre os ouvintes, foram feitas várias perguntas, inclusive estourando o nosso tempo previsto de apresentação. Ao escrevermos o artigo queríamos apresentar o trabalho para a comunidade científica internacional e através do congresso conseguimos atingir esse objetivo. O artigo anterior  nós apresentamos no 13º IGIP, que é uma entidade de origem austríaca, cuja finalidade é melhorar o ensino de engenharia no mundo.

Fotos do simpósio no Japão

BRAZILIAN SPACE: Professor nos fale sobre o satélite, seu tamanho, função, data de lançamento, local, foguete lançador.

PROF. CÂNDIDO MOURA: O UBATUSUBA SAT é um satélite que pesa 750 gramas tem 8.9 cm de diâmetro e 12.7 de altura. É um rack de quatro placas de circuito impresso, uma delas com antena de recepção e transmissão, outra com controle de energia elétrica, outra com computador de bordo e a outra com transciver.

Deveremos terminar a sua construção em setembro. Daí ele será testado no LIT, que é o laboratório de integração e testes do INPE e será exportado para os EUA para ser colocado em órbita em novembro.

O Tancredo1, que é o nome do primeiro satélite do programa UBATUBA SAT, será lançado da Califórnia ou ainda de Tonga, que é uma ilha no Pacifico ao lado da Austrália, caso o governo americano autorize a exportação do foguete para aquele país, como pretende a Interorbital.

Deveremos levar seis alunos aos Estados Unidos para participarem de uma jornada cientifica que será organizada pela Interorbital para eles. Ainda não sabemos se será possível conjugar essa jornada com o lançamento.

O satélite Tancredo-1 que está sendo
construído pelo alunos da Escola Tancredo
Neves deUbatuba (Foto: Elaine Pinho)
BRAZILIAN SPACE: Professor haverá alguma forma de monitorar o satélite no espaço, e neste caso de onde isso será feito?

PROF. CÂNDIDO MOURA: Será possível sim, e o monitoramente será feito a partir da nossa própria escola. Para tanto, vamos instalar uma antena com essa finalidade.

BRAZILIAN SPACE: Professor, segundo informações colhidas pelo blog, existe uma espécie de subprojeto que é parte integrante do projeto de desenvolvimento do satélite que se chama “Projeto UBATUBINO”. Fale-nos sobre esse projeto professor e mais especificamente sobre a sua função e objetivos?

PROF. CÂNDIDO MOURA: O UBATUBINO foi desenvolvido pela Globalcode, que é uma empresa que originalmente foi contratada para dar um treinamento para os professores na área de eletrônica. Eles se encantaram com o projeto e passaram a ser colaboradores a partir daí. Eles desenvolveram essa placa, que é uma CPU, que permite você controlar um robô, ou automatizar uma residência e, o primeiro treinamento que os alunos receberam na área de eletrônica, foi feita através da construção dessa placa. Eu pretendo, na continuação do projeto, construir can sats e pretendo usar o arduino para isto. Vamos conversar com o Vinicius e a Iara da Globalcode sobre isto.

BRAZILIAN SPACE: Professor Cândido, com a finalização do “Projeto UBATUBASAT” existe o seu interesse e de seus colaboradores em seguir em frente com a realização de algum outro projeto de satélite?

PROF. CÂNDIDO MOURA: O nome foi escolhido propositalmente para indicar o nosso objetivo de construirmos o Tancredo 2. Acho que podemos  a partir do arduino construirmos can sats e lançarmos aqui de Ubatuba mesmo. Na “I Semana de Astronomia e Astronáutica” da escola Tancredo  realizada agora em julho, o Dr. Osvaldo Loureda lançou um foguete aqui em Ubatuba. Acho que podemos conciliar as duas coisas e treinarmos alunos na quinta série para fazer isto. Eu vi o pessoal fazendo isto no Japão só que com alunos universitários e existe inclusive competições internacionais  de can sat.

BRAZILIAN SPACE: Professor Cândido, recentemente quatro equipes brasileiras se inscreveram para participar do prêmio N-Prize (http://www.n-prize.com/), são elas: Grupo de Propulsão Hibrida da UnB, Núcleo Tecnológico do Agreste (NTA), Edge Of Space e a Coyote Rockets Company. Assim sendo professor, com a experiência adquirida pelo senhor e por sua equipe no Projeto UBATUBASAT, e como um dos objetivos da competição é justamente colocar um pico ou nanosatélite em órbita, e já que essas equipes estão mais envolvidas com o foguete lançador, não seria interessante um contato de seu grupo para saber qual dessas equipes estaria interessada numa parceria?

PROF. CÂNDIDO MOURA: Pelo que entendi, o desafio é construir um satélite com menos de 20 gramas e até agora não vislumbrei um meio de construir algo operacional com essa massa. De qualquer forma, pretendo conhecer melhor as equipes e se  eventualmente surgir alguma possibilidade a gente gostaria sim de participar e efetivar uma parceria com alguma delas. Eu acho que um subproduto importante dessa competição é que de repente poderemos ter alguma empresa no Brasil que tenha um lançador capaz de colocar um cubsat em órbita, o que seria um grande avanço para nós.

BRAZILIAN SPACE: Professor Cândido, na opinião do blog sua iniciativa inovadora deve servir de exemplo para outras instituições educacionais através do País. Assim sendo, o senhor estaria disposto a realizar palestras sobre a sua experiência com este projeto caso existam instituições educacionais interessadas, e em caso positivo, o que essas instituições devem fazer para entrar em contato com o senhor?

PROF. CÂNDIDO MOURA: Fui convidado para dar uma palestra na semana de aeronáutica da USP em agosto, e desde que eu consiga conciliar essa atividade com as minhas aulas, farei com o maior prazer. Basta encontrar em contato com a escola (12) 3832-6221.
Professores Cândido e Patricia com alguns dos
alunos envolvidos no projeto (Foto: Elaine Pinho)
 
BRAZILIAN SPACE: Finalizando professor, qual é a sua expectativa com relação ao desempenho do governo DILMA no setor espacial?

PROF. CÂNDIDO MOURA: A gente espera que o setor tenha todo o respaldo que precisa e que consiga superar o seu maior gargalo, que em minha opinião, é ter um lançador próprio.

Comentários

  1. bom eu adori o projeto bjs julia que é uma grande fa de vcs

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  2. Valeu Julia!

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

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  3. Boa tarde ... Sou Engenheiro Eletrônico ... não tenho interesse em me aparecer ... mas sim em ajudar com meus conhecimentos, se necessários, neste projeto. Existe algum e-mail para contato?
    Obrigado.

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  4. Olá Anônimo!

    Entrei em contato com o Prof. Cândido e ele me autorizou a passar-lhe o e-mail dele que é: candidomoura3@gmail.com , tá ok? Boa sorte.

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

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  5. Parabéns pelo projeto e apoio aos alunos, sou rádio amador, idealizei em fazer um satélite, mas na minha cidade não obtive muito apoio em 2008, fico muito feliz, é um enorme passo rumo à pesquisa e ensentivos aos alunos!

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