O Ministro Marcos Pontes de Retorno da China e a Histórica 'Carta de Foz do Iguaçu'
Olá leitor!
Durante sua viagem de retorno da China para o Brasil, onde
foi acompanhar o lançamento dos dois satélite brasileiros (CBERS-4A e
FloripaSat-1), o Ministro Marcos Pontes fazendo escala em um Aeroporto da
França (creio eu que o de Paris), postou em seu Instagram o vídeo abaixo. Veja.
Bom leitor quero aqui aproveitar para parabenizar em um ‘contexto-geral’
ao Ministro Marcos Pontes pelo trabalho realizado em seu primeiro ano de gestão
da C&T brasileira, e ao mesmo tempo desejar-lhe sucesso em 2020. Parabéns
ministro “Well Done”.
Entretanto como brasileiro divulgador e defensor do nosso ‘Patinho
Feio’, sem qualquer deslumbramento e muito consciente da situação que se
encontra o nosso pequeno e insignificante ‘Bípede de Penas Feioso’, não posso aqui
concordar que tenha sido um bom ano para o Setor Espacial do país, mesmo com a
grande vitória sobre a típica hipocrisia, estupidez e mau-caratismo da esquerda
na questão do AST, vitória esta realmente significativa e necessária, mas que representa
apenas um pequeno barco a flutuar sem rumo num oceano de coisas erradas que
ocorrem nos bastidores das atividades espaciais do país há décadas.
Poderia aqui citar um verdadeiro jornal de motivos ministro,
mas o senhor bem sabe que a situação é extremamente caótica, e ao mesmo tempo já está de posse
de um documento histórico, a ‘Carta de Foz do Iguaçu’ produzida pela Comunidade
Espacial Brasileira durante o ‘I Congresso Aeroespacial Brasileiro (I CAB)’ em
novembro de 2018 (quando então o senhor era ainda candidato a ministro) com 24 sugestões
para transformar definitivamente o PEB em um belo e majestoso Cisne Branco.
Como cidadão brasileiro Ministro Pontes ‘apelo’ para que o
senhor dê ouvidos as 24 sugestões daqueles que realmente entendem desta joça e
vivem diariamente as suas dificuldades, e não a burrocratas de carreira que não
enxergam (por uma razão ou outra) sequer um palmo diante de seus narizes. Na esperança
que o senhor venha dar ouvidos a este velho e cansado divulgador e defensor de
nosso ‘Patinho Feio’, reproduzo abaixo para o senhor e para toda a Sociedade
Brasileira a ‘Carta de Foz do Iguaçu’, documento histórico que teve entre seus
idealizadores uma pessoa séria, dedicada, competente e muito conhecida e respeitada pelo senhor.
Duda Falcão
CARTA DE FOZ DO IGUAÇU
Após anos de anseio da comunidade aeroespacial
brasileira, realizou-se o I CONGRESSO AEROESPACIAL BRASILEIRO, em Foz do
Iguaçu-PR, de 1 a 3 de Novembro de 2018, com o objetivo de estabelecer “Diálogos
entre Academia, Indústria e Política Pública em prol de um Programa Espacial
Brasileiro (PEB) sustentável e impactante”. Durante o evento os participantes
buscaram avaliar, objetivamente, os caminhos tomados e os resultados obtidos
até então pelo PEB, bem como apresentaram propostas realistas, racionais e
pragmáticas, voltadas para: a governança e a gestão do setor espacial; os
programas de missões satelitais; os programas de acesso ao espaço; os programas
e operação de infraestrutura de solo e de centros de lançamento; na pesquisa,
integração e inovação na indústria, nos institutos de pesquisa e na academia;
no estímulo da produção industrial e no mercado de soluções para o setor
espacial; na formação, na atualização permanente, na valorização e na
retenção de talentos e de mão de obra especializada para o setor.
Diante disso, os temas elencados foram debatidos e as
propostas apresentadas foram compiladas no presente documento, na esperança que
as aspirações nacionais se concretizem e promovam a mudança necessária para um
ciclo virtuoso de desenvolvimento para atender aos anseios do estado
brasileiro, para estimular a indústria e o mercado do setor aeroespacial, para
promover a pesquisa acadêmica, e, principalmente, para gerar resultados para a
sociedade.
Após a realização de amplos debates, os congressistas, ao
final do encontro, deliberaram por aprovar a presente carta que apresenta
diretrizes, recomendações e sugestões, cujos termos referenciais para as
respectivas áreas temáticas são os seguintes:
I - Estratégia Nacional, Políticas, Programas,
Governança e Gestão
1. Reafirmar o caráter pacífico brasileiro,
historicamente reconhecido em todo mundo, nas atividades, nacionais ou em
parcerias internacionais, de exploração espacial, de acesso ao espaço e outras
afins.
2. Sugerir a inclusão do domínio, da atualização e
da manutenção ininterruptas da capacidade de exploração, de operação e de
atuação no espaço e no acesso ao espaço, no rol dos objetivos nacionais
permanentes, provendo o arcabouço legal, a estrutura de governança e de gestão
e os recursos necessários à sua consecução.
3. Reconhecer a necessidade do uso de equipamentos
e sistemas espaciais para manutenção da segurança pública e da autodefesa
territorial, marítima e aérea nacional, em consonância com a mundialmente
reconhecida tradição não beligerante de nosso país, de modo a salvaguardar as
nossas fronteiras e o nosso território contra ações terroristas, criminosas ou
outros tipos de agressões contrárias à nossa índole pacificadora.
4. Recomendar ao ente governamental sobre a
necessidade de se preservar, de fato e de direito, a condução predominantemente
civil do Programa Espacial Brasileiro, de suas políticas e ações, assim como
ocorre com o Ministério da Defesa e as Forças Armadas, de modo a afiançar e
reforçar internacionalmente o nosso caráter pacificador, evitando situações de
crises de confiabilidade e medidas protetivas internacionais, como embargos e
ou restrições técnicas e comerciais, oriundas de desconfianças ou má-interpretação
dos nossos objetivos e atividades.
5. Sugerir que, dado o caráter estratégico
nacional já elencado, a condução civil do Programa Espacial Brasileiro seja
vinculada à estrutura da Presidência da República ou ligada diretamente ao
Gabinete do Ministério da Ciência e Tecnologia, de modo a permitir um nível de
interlocução transversal em todo o governo, inclusive para favorecer a
unicidade de subordinação e sincronicidade de ações com os conselhos
ministeriais, da segurança e defesa nacional e outros entes correlatos e afins,
tais como aqueles vinculados à segurança institucional, à segurança pública e a
defesa nacional.
6. Destacar a necessidade de alinhamento,
harmonização e sincronização da Estratégia Nacional para o Setor Espacial, da
Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais e do Programa
Espacial Brasileiro com a Estratégia Nacional de Defesa e com o Sistema
Nacional de Segurança Pública.
7. Sugerir que o ente responsável pela condução do
Programa Estratégico de Sistemas Espaciais - PESE seja tecnicamente
vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional - GSI, de modo a subsidiá-lo
no que se refere aos sistemas e aplicações de autodefesa, de segurança
institucional e de segurança pública nacionais, visando permitir, o máximo
possível, o seu alinhamento e a racionalização de recursos, incluso os
orçamentários, com os sistemas e aplicações civis de propósito geral ou
governamental.
8. Recomendar a necessidade de reformulação e
atualização do arcabouço legal nacional para permitir a harmonização entre a
Estratégia Nacional do Setor Espacial, a Política Nacional de Desenvolvimento
das Atividades Espaciais - PNDAE, o Sistema Nacional de Desenvolvimento de
Atividades Espaciais - SINDAE, o Programa Nacional de Atividades Espaciais –
PNAE, a Estratégia Nacional de Defesa - END e o Programa Estratégico de
Sistemas Espaciais - PESE , o Sistema Nacional de Segurança Institucional e o
Sistema Nacional de Segurança Pública, bem como a reestruturação dos seus
entes, subsistemas e programas.
9. Recomendar a avaliação e seleção criteriosa de
presidente, diretores, gestores e de técnicos para todos os cargos,
preferencialmente os de carreira na área espacial, com a exigência de
comprovação de notória competência técnica no setor e/ou de gestão pública na
área espacial.
II - Programas de Sistemas Satelitais, Infraestrutura de Solo e Aplicações
10. Recomendar que os programas de sistemas
satelitais sejam atualizados com as novas tendências do mercado internacional,
mais eficientes e focados em atender as demandas nacionais de forma realista,
racional e criteriosa, de modo a manter e ampliar o uso de tais tecnologias,
diminuindo os riscos de descontinuidade de tais serviços e suas aplicações,
através do equacionamento do quadrinômio: desenvolvimento e domínio tecnológico
nacional; necessidades nacionais; despesas; e retorno para a sociedade.
11. Alertar para a necessidade urgente de
harmonização entre o PEB e o PESE e revisão dos atuais projetos nacionais,
inclusive com a antecipação da revisão do PNAE 2012 – 2021 para o ano de 2019,
de modo a permitir que o Plano Plurianual 2020 – 2023 já reflita tais melhorias
em termos de políticas públicas, programas e orçamento, evitando que haja um
hiato de 4 anos para que os rumos do país no segmento espacial, inclusive pela
falta de dotação decorrente da imposição da execução orçamentária prevista em
lei.
12. Sugerir a utilização mais intensiva de
veículos aéreos não tripulados e plataformas de grandes altitudes, tanto de
modo complementar quanto substitutivo aos dispositivos satelitais, quando
factível, em missões de sensoriamento remoto, vigilância, coleta de dados,
dentre outras, tendo em vista que o tempo de desenvolvimento, os riscos e os
investimentos inerentes a tais dispositivos são menores que os dos satélites,
considerando a criticidade, a aplicabilidade, a eficácia e a eficiência de tal
emprego.
III - Programas de Sistemas e de Infraestrutura de
Acesso ao Espaço
13. Reforçar a importância e a urgência da
aprovação do acordo de salvaguardas de modo a permitir ao País ter acesso a
tecnologias restritas até então e também poder dispor comercialmente de sua
infraestrutura de acesso ao espaço, como o Centro de Lançamento de Alcântara,
para lançamentos comerciais de maior porte, e o Centro de Lançamento da
Barreira do Inferno, para voos de veículos suborbitais modificados para
lançamento de cubesats ou para lançamentos de experimentos suborbitais
padrões.
IV - Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Integrada na
Indústria, nos Institutos de Pesquisa e na Academia
14. Reiterar a necessidade de criação e aporte de
recursos em fundos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico específicos para o
setor espacial para serem geridos pelos órgãos de fomento, de modo a assegurar
tais atividades, principalmente, nos níveis de maturidade tecnológicas
inferiores ao TRL 3, para as universidades, e TRL 6, para os institutos de
pesquisa e startups do setor, com as devidas cobranças de resultados efetivos.
15. Reforçar a importância de se utilizar de
instrumentos como parcerias público privadas (PPP), fundos de investimento
privados, e outros que estejam inseridos na lei de inovação, de modo a permitir
o impulsionamento do desenvolvimento tecnológico para os níveis de maturidade
tecnológica TRL 7, 8 e 9.
V - Indústria e Mercado Aeroespacial Nacional e
Internacional
16. Recomendar que sejam asseguradas condições
favoráveis a empreendimentos estrangeiros sem restrições, considerando que o
crescimento exponencial das atividades espaciais, exemplificado pela crescente
participação do setor privado e o desenvolvimento de novas vertentes, criou uma
janela de oportunidade única para quem estiver pronto para aproveitá-la, o que,
caso contrário, implicaria na perda de se criar um cluster espacial
internacionalmente competitivo.
17. Enfatizar a necessidade da criação de
condições competitivas para empresas e startups nacionais com a
desburocratização, a desoneração tributária e fundos de investimentos formados
com capital dos Bancos Nacionais em parceria com investidores privados, de modo
a propiciar a incubação destas até um nível de maturidade mais robusto.
18. Recomendar a elaboração e promulgação de
legislação que crie condições para que empresas interessadas em atividades de
explotação de recursos espaciais se instalem no Brasil, a exemplo do que fez
Luxemburgo recentemente, inclusive prevendo instrumentos para parcerias
estratégicas internacionais nesse tema.
19. Reconhecer o papel das atividades espaciais na
promoção do desenvolvimento sustentável, em sintonia com o que foi deliberado
pela UNISPACE+50 (4ª Conferência das Nações Unidas sobre a Exploração e Uso
Pacífico do Espaço Exterior, realizada em julho de 2018) e a resolução dela
derivada, endossada pela 73ª Assembleia Geral das Nações Unidas, ocorrida no
final de setembro de 2018.
VI - Formação, Atualização, Valorização e Retenção de Talentos e de Mão de Obra Especializada
20. Recomendar fortemente a reativação do Centro
Regional de Educação em Ciência e Tecnologia Espacial da América Latina e
Caribe (CRECTEALC), instituição vinculada às Nações Unidas (ONU), cuja chefia é
alternada entre o Brasil e o México, a qual deveria já estar sob o comando
nacional desde janeiro de 2017, de modo a permitir que o Brasil possa formar
mão de obra nacional e internacional, utilizando as universidades e institutos
de pesquisa do setor espacial como campi internacional, similarmente ao
que fazem brilhantemente a Índia (com o seu equivalente para a Ásia) e a China
(com o centro para Ásia e Pacífico), além dos demais centros do oriente médio e
os dois centros da África (Marrocos, para língua francesa, e Nigéria, para
língua inglesa).
21. Reiterar a necessidade reivindicada há anos
pela comunidade de entusiastas do PEB de que a atividade de espaçomodelista
seja regulamentada junto ao Exército e a Força Aérea, em todo território
nacional, de modo a se prover a segurança jurídica e parâmetros legais de sua
atuação, inclusive, determinando áreas e condições específicas para o exercício
dos lançamentos, e aquisição / fabrico controlado de propelentes, analogamente
ao que foi feito recentemente com a regulamentação das atividades com drones
no Brasil.
22. Sugerir a criação de um programa de bolsas e
ou estágios em instituições públicas ou privadas do setor espacial, para
estudantes ou recém graduados, de modo a estreitar o conhecimento teórico com a
prática de mercado.
23. Reforçar a necessidade de recomposição da
força de trabalho dos institutos de pesquisa do SINDAE, considerando que mais
de 60% dos quadros estão próximos da aposentadoria, fato este que evidencia um
alto risco de perda do capital informacional acumulado por esses colaboradores
com o seu afastamento das suas atividades, bem como a de possibilidade de
interrupção de pesquisas e de projetos em andamento.
24. Recomendar a institucionalização da Medalha do
Mérito Espacial do Brasil como instrumento de reconhecimento, valorização
e premiação, próprio e específico para o setor espacial, de servidores
(militares e civis) ou pessoas e instituições de expressão, brasileiros ou
estrangeiros, que tenham prestados relevantes serviços ao PEB, sugerindo ainda
que os 21 heróis do acidente ocorrido em Alcântara em 22 de agosto de 2003
sejam, por intermédio das suas famílias, os primeiro agraciados com tal
comenda.
Foz do Iguaçu, Paraná, 03 de novembro de 2018.
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