Aplicações de Cube e Nanosats no Brasil e no Mundo nos Últimos Anos
Olá leitor!
Segue um interessante artigo escrito pelo pesquisador Dr.
Otavio Durão e publicado ontem (16/10) pelo companheiro André Mileski em seu “Blog Panorama Espacial”,
tendo como destaque a aplicação nos últimos anos de Cube e Nanosats no Brasil e
no Mundo.
Duda Falcão
Aplicações de Cube e Nanosats no Brasil
e no Mundo nos
Últimos Anos
Dr. Otávio Durão*
16/10/2016
Há dois anos e meio, em artigo publicado por Tecnologia
& Defesa (edição nº 136), diversas projeções foram feitas sobre a
utilização de cube e nanosats e, desde então, aquelas estimativas vieram se
materializando não só no Brasil, mas também no exterior. No primeiro caso, com
três lançamentos de cubesats e vários outros em desenvolvimento, e, lá fora,
com aplicações cada vez mais ambiciosas e sofisticadas, inclusive com missões à
Lua e Marte (aqui como apoio de comunicação entre um satélite em órbita e um
veículo no solo daquele planeta, funcionando com um relay de comunicação).
Cubesats Brasileiros
Em 19 de junho de 2014 foi lançada a primeira missão
brasileira utilizando um cubesat, da base russa de Yasni, com um lançador
DNEPR, a 20 km ao norte da fronteira com o Cazaquistão. Denominado
NanosatC-Br1, integra uma missão que utiliza um cubesat do tipo 1U (um litro de
volume, um quilo de massa e em formato cúbico com 10 cm de aresta). A missão
foi desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
gerenciada pelo seu Centro Regional Sul, localizado no campus da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), e em cooperação com este estabelecimento de
ensino.
Um de seus três experimentos é um magnetômetro para
medidas do campo magnético da Terra, especialmente na Anomalia Magnética do
Atlântico Sul (AMAS). Um segundo experimento é o primeiro circuito integrado
projetado no Brasil para resistência à radiação, que utilizou no projeto
biblioteca própria desenvolvida pela Santa Maria Design House, da UFSM. O outro
é um FPGA, com um software tolerante a falhas, desenvolvido pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O NanosatC-Br1 completou dois anos no
espaço e continua a transmitir dados de seus experimentos e de seus
subsistemas. É o primeiro satélite brasileiro a obter dados do meio espacial,
tornando-se também a primeira missão espacial científica brasileira a gerar
dados no espaço. A figura abaixo mostra o traço de uma órbita do NanosatC-Br1
sobre a região da AMAS. À esquerda da reta o tempo da leitura e à direita os
valores do campo magnético naquela órbita a 614 km. de altitude. As curvas
representam valores do campo magnético naquela região obtidas por modelos
conhecidos.
Medidas do campo magnético da Terra obtidas pelo
NanosatC-Br1
sobre a AMAS. Crédito da imagem: Dr. Marlos Rockenbach,
do INPE.
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Os outros dois experimentos no NanosatC-Br1 também
geraram informações valiosas sobre os efeitos da radiação em componentes
eletrônicos e possíveis mitigações por projetos ou software, este no caso do
uso de FPGAs industriais. Todos esses resultados já foram divulgados em eventos
e/ou publicações nacionais e internacionais.
AESP-14
Este cubesat, também um 1U, foi desenvolvido por alunos
do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), com suporte de bolsistas do
Laboratório de Integração e Testes do INPE. Ele diferenciou-se em seu propósito
na medida que todos os seus subsistemas foram desenvolvidos localmente, tendo
sido o primeiro neste aspecto. Foi lançado em 5 de fevereiro de 2015, da
Estação Espacial Internacional (ISS), com uma vida útil pretendida de três
meses. Infelizmente, o AESP-14 nunca chegou a se comunicar e, por isso, não se
pode ter certeza do que realmente falhou no projeto, embora testes anteriores
em solo de abertura de antena tenham indicado problemas técnicos de falha neste
procedimento.
Programa SERPENS
Trata-se de um programa de cubesats organizado e
coordenado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) para envolver um maior número
de universidades brasileiras no desenvolvimento de missões com a utilização
desses engenhos. A primeira missão, o SERPENS-1, foi lançada em 18 de agosto de
2015, também através da Estação Espacial Internacional, e já reentrou na
atmosfera tendo encerrado seu ciclo. A coordenação das universidades foi da
Universidade de Brasília e utilizou um cubesat do tipo 3U (3 litros de volume,
aprox. 10x10x30 cm.). O projeto contou também com uma parceria com a
Universidade de Vigo, na Espanha, com cada país ocupando aproximadamente metade
do cubesat com seus experimentos.
O Programa, no momento, desenvolve o seu segundo cubesat,
denominado SERPENS-2. Desta vez a coordenação das universidades brasileiras é
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A AEB já planeja o
desenvolvimento de outros cube e nanosats, posteriormente, no mesmo Programa.
Outros Nacionais
Vários outros projetos de cube e nanosats estão em
desenvolvimento no Brasil com lançamentos próximos. O primeiro deles é o
ITASAT, um 6U, desenvolvido pelo ITA e já concluído, cujo lançamento a bordo de
um foguete Falcon 9 deve ocorrer nos próximos meses, possivelmente em 2017. Ele
contém vários experimentos desenvolvidos por outras universidades e
instituições brasileiras, como a Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), INPE e AMSAT-Br. Possui também uma câmera para sensoriamento remoto de
baixa resolução.
Dentro do Programa NanosatC-Br, há o NanosatC-Br2, desta
vez um 2U, com o dobro da capacidade de experimentos do que o seu predecessor,
o NanosatC-Br1. Além de versões mais avançados dos três experimentos que estão
voando no NanosatC-Br1, o segundo cubesat levará também uma sonda de Langmuir,
para medidas na ionosfera, um subsistema de determinação de atitude (o primeiro
desenvolvido no Brasil para satélites) com tripla redundância (cooperação UFMG,
INPE e UFABC) e um experimento de transmissão de dados entre radioamadores da
AMSAT-Br/LABRE. O lançamento do NanosatC-Br-2 está previsto para abril de 2017.
O INPE, através de um outro de seus centros regionais, o
do Nordeste (CRN), no campus da UFRN, em Natal, desenvolve o CONASAT, um
cubesat 8U com missão idêntica à dos satélites brasileiros de coleta de dados
(SCD-1 e 2), lançados na década de 1990. Esses tinham mais de 100 kg., enquanto
o CONASAT, com redundância de todos os seus subsistemas, tem massa de 8,4 kg. O
transpônder para a retransmissão dos dados foi desenvolvido pelo CRN e fará o
seu primeiro teste em voo como uma das cargas úteis do ITASAT. A plataforma do
modelo de engenharia do CONASAT já está disponível.
Projetos Internacionais
Em 2015, mais de 200 cubesats foram lançados. Em 2014, em
um único lançamento, foram 36 satélites, sendo a grande maioria cubesats. Este
recorde será quebrado este ano com o lançamento de mais de 80 satélites, entre
eles o ITASAT, em um lançamento único através do Falcon 9, da empresa Space X.
A National Aeronautics and Space Administration (NASA) realizou concorrência e
selecionou três empresas para desenvolver lançadores de pequeno porte para este
tipo de satélite em grande número, simultaneamente, e não mais de “carona” com
um lançamento onde todos os demais satélites são subordinados à órbita do
satélite principal lançado. A Estação Espacial Internacional tem lançado dezenas
de cubesats regularmente. Há dois mecanismos específicos a bordo para isso; um,
de uma companhia norte- americana; e outro; japonês. Lançamentos da ISS de
cubesats têm a vantagem de reentrar na atmosfera em meses, evitando o acúmulo
do lixo espacial.
A tecnologia evolui aceleradamente permitindo missões em
sensoriamento remoto com nanosats em torno de 10U com resolução abaixo de 5
metros. Melhores rádios para comunicação em distâncias muito maiores do que as
de órbita baixa (em torno de 600 km) e em frequências de comunicação em bandas
que permitem uma taxa de transmissão de dados ao solo cada vez maiores. O
desenvolvimento de pequenos propulsores para uso por cubesat também trará
missões cada vez mais complexas com manobras de órbitas e o uso de formações e
constelações de cubesats para sensoriamento remoto e comunicações, com
revisitas cada vez menores.
Uma ideia do desenvolvimento dessa tecnologia já
contempla missões interplanetárias à Lua e a Marte, já em desenvolvimento e com
lançamento previsto para 2018. No caso dos testes do SLS – Space Launch System,
o novo ançador de grande porte da NASA, que levará seis cubesats 12U e, pelo
menos um deles, para exame do gelo na Lua. Na missão à Marte, dois cubesats
farão o papel de relay de dados entre um veículo na superfície e um satélite em
órbita daquele planeta. O Jet Propulsion Lab (JPL), que é nos Estados Unidos o
responsável pela maioria das missões interplanetárias tem promovido
regularmente workshops internacionais para tratar dessas missões, atraído pelo
baixo custo e as possibilidade que apresentam.
Livre Iniciativa
O setor privado rapidamente compreendeu o potencial das
aplicações dos cubesats como uma tecnologia disruptiva para o setor espacial.
Várias empresas no exterior que propõem missões com cube e nanosats têm
conseguido obter investimentos de fundos privados que somam dezenas e até
centenas de milhões de dólares. A mais bem sucedida tem sido a PlanetLabs
(recentemente renomeada apenas Planet) que já lançou dezenas de cubesats 3U
para a formação de uma constelação de mais de 100 cubesats em uma missão de
sensoriamento remoto que inclui vídeos. A resolução pretendida é de 5 metros.
Várias outras empresas de sensoriamento remoto no exterior estão em formação e
em processo de captação para obter resoluções de até 1 metro com nanosats com
suas constelações, uma delas argentina.
Empresas também estão em formação no exterior para
explorar o uso de constelações com cube/nanosats em comunicações de dados e
voz, que podem atingir tempo real para determinadas faixas de latitudes. Uma
dessas empresas utilizará um dos novos lançadores mencionados acima resultado
da concorrência da NASA para os seus pretendidos 200 cubesats 3U em latitude de
+15° a -15°, o que inclui uma boa parte da população brasileira. Outras
dedicam-se a aplicações diversas utilizando o baixo custo dos cubesat e a
possibilidade de formação de constelações numerosas. Por exemplo, em aplicações
de localização de embarcações ou aeronaves. Ou mesmo usando o resultado de
missões científicas para fins comerciais, como no caso de uma empresa que
utiliza constelação de cubesats para missões de radio ocultação com GPS para o
fornecimento para outras empresas de previsão meteorológica no sentido de
refinar a previsão para micro-regiões.
A maioria desses empreendimentos está em formação e
deverão estar em operação plena nos próximos anos, mas também quase todos já
lançaram cubesat precursores de suas constelações. São os prestadores de
serviços com o uso de cubesats. Outras empresas, mais numerosas, e em geral de
pequeno e médio portes, mas em crescimento, fornecem os cubesats. Não raro são
oriundas de universidades que lançaram seus cubesats e que tiveram pequenas
empresas fundadas por seus alunos, as quais crescem há anos regularmente e
profissionalizam-se cada vez mais, expandindo sua estrutura de desenvolvimento,
marketing e fabricação. São exemplos a ISIS (Holanda, da Technical University
of Delft), Clyde Space (Escócia, da Universidade de Glasgow), Blue Canyon
(Estados Unidos) e GOMSpace (Dinamarca, da Universidade de Aalborg). Esta
última lançou recentemente suas ações na bolsa de Estocolmo.
No Brasil houve algum movimento de empresas que já atuam
no setor espacial em desenvolver cubesats, mas sem progressos de monta.
Entretanto, as primeiras empresas brasileiras que anteriormente atuaram em
aplicações relacionadas ao setor espacial começam a se movimentar no sentido de
oferecer serviços com suas constelações próprias de cube e nanosats, em
sensoriamento remoto e comunicação de dados. Será interessante observar em
futuro próximo se estas iniciativas se materializarão.
Aplicações em Defesa
Em junho último, o Núcleo do Centro de Operações
Espaciais (NuCOPE-P) do Comando da Aeronáutica, organizou o 1° Intl. CubSat
Sumposium of Brasilia, em cooperação com universidades norte-americanas e o
Comando Sul da Força Aérea dos Estados Unidos, com grande participação civil e
militar. Pelo Brasil estiveram presentes apresentando projetos com cubesats,
muitos com possibilidades de aplicações em defesa, representantes de
instituições como o INPE, ITA, Universidade de Brasília (UnB), UFSC, UFRGS,
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade de São Paulo (USP).
Um dos objetivos do simpósio foi o de promover possíveis cooperações no tema
Entre as possíveis aplicações apresentadas estão as de
sensoriamento remoto para monitoramento, na Amazônia, para detecção de pistas
clandestinas e cartografia, comunicação ponto a ponto de pacotes de dado ou em
tempo real, sistemas de identificação automática (AIS) e outras. Foi mostrado
que algumas dessas aplicações são próximas a algumas que serão executadas em
missões com cube e nanosats já em andamento e com lançamento próximo pelo
Brasil.
Foi apresentado o Programa SNAP – SMDC Nanosatellite Program, onde o SMDC é o
US Army Space and Missile Defense Command. Este Programa utiliza cubesats 3U
para comunicação ponto a ponto além do horizonte em caráter experimental para
comunicações de dados e voz, e que já realizou mais de um lançamento destes
cubesats.
Nos Estados Unidos, o National Reconnaissance Office
(NRO), responsável pelas missões de observação da Terra em defesa daquele país,
está passando do estágio de utilização dos cube e nanosats de demonstração de
tecnologias para missões de aplicações, de acordo com a sua diretora, Betty
Sapp, em palestra proferida no GEOINT 2016, da US Geospatial Inteligence
Foundation, em maio último.
* Otavio Durão é engenheiro do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE).
Referências
1 –
“NanosatC-Br1 The First Brazilian CubeSat, and Beyond”; Otavio Durão e Nelson
Jorge Schuch; Small Satellite Conference; Utah, USA; 2015 (http://digitalcommons.usu.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=3297&context=smallsat)
3 –
“Sky and Space to launch 200 nano-satellites with Virgin Galactic”; Corinne
Reichert; ZD Net; Junho 2016 (http://www.zdnet.com/article/sky-and-space-to-launch-200-nano-satellites-with-virgin-galactic/)
4 – “FAB promove Simpósio Internacional de
Nanossatélites”; WWW.fab.mil.br; Junho 2016 (http://www.fab.mil.br/noticias/mostra/26057/TECNOLOGIA%20-%20FAB%20promove%20Simp%C3%B3sio%20Internacional%20de%20Nanossat%C3%A9lites)
5 –
“NRO Embraces Cubesats for Testing Advanced Technologies”; Amy Clamper; Space
News; Agosto, 10, 2009.
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
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