Brasil-Ucrânia, Comédia de Erros
Olá
leitor!
Segue abaixo um
artigo opinião escrito pelo Sr. Rubens Barbosa da FIESP e publicado dia 13/05 no site do
jornal “O Estado de São Paulo”, tendo como destaque o desastroso Acordo Espacial Brasil-Ucrânia.
Duda Falcão
OPINIÃO
Brasil-Ucrânia,
Comédia de Erros
Rubens Barbosa*
O Estado de S. Paulo
13 de maio de
2014 | 2h 08
Em razão dos
possíveis desdobramentos nos campos militar, político e econômico, a crise na
Ucrânia tem gerado forte preocupação. Ao confrontar a Rússia, EUA e Europa ressuscitam
considerações geopolíticas que gostariam de deixar para trás. Consumada a
incorporação da Crimeia ao território russo, o mundo espera o desfecho das
disputas pelos territórios do leste da Ucrânia, na fronteira com a Rússia, onde
se concentra a maioria da população de origem e de língua russas.
Quais os interesses do Brasil na relação com a
Ucrânia? Poucos talvez possam identificar assuntos em comum com país tão
distante.
O Brasil no governo Lula se associou à Ucrânia para
a cessão de espaço para lançamento de satélites comerciais do Centro de Lançamento
de Satélites em Alcântara. Para isso, foi criada a empresa mista Alcântara
Cyclone Space (ACS), formada em partes iguais, que já consumiu US$ 918 milhões
do lado brasileiro, tendo sido metade aportada em meados de 2013, sob a forma
de aumento de capital, sem nenhum resultado concreto até aqui. A ideia era
aproveitar o programa ucraniano para, se tudo desse certo, desenvolver uma
indústria voltada para lançamentos no Brasil. Toda essa negociação com a
Ucrânia está cercada de circunstâncias que mostram a maneira descoordenada como
muitos projetos de grande relevância estratégica foram tratados nos últimos
anos.
O programa espacial brasileiro de desenvolvimento
de Veículos Lançadores de Satélites (VLS) e de aproveitamento comercial da Base
de Alcântara colocaria o Brasil no mercado global, dominado em mais de 85% por
lançamentos de satélites de comunicação de empresas norte-americanas. Para
viabilizar a entrada do Brasil nesse mercado, o governo FHC negociou acordo de
salvaguarda tecnológica com os EUA. Por questões ideológicas, o PT na oposição
e, depois, no governo ficou contra o acordo que, paralisado no Congresso, foi
abandonado. O governo Lula, no entanto, para viabilizar a cooperação com a
Ucrânia, teve de assinar um acordo de salvaguardas tecnológicas com o governo
de Kiev. O acordo com a Ucrânia, traduzido quase literalmente do firmado com os
EUA, foi rapidamente aprovado pelo Congresso com o apoio entusiasmado do PT.
Chegou-se mesmo a discutir um segundo acordo, que atenuasse cláusulas draconianas
que restringiam o acesso das autoridades brasileiras aos equipamentos
ucranianos e ampliasse a cooperação para o desenvolvimento conjunto de um novo
VLS (Cyclone V).
Soube, no ano passado, que a Ucrânia havia feito
gestões junto do governo de Washington para que o acordo de salvaguarda
tecnológica com o Brasil fosse retomado, porque o foguete ucraniano incorpora
peças e componentes americanos. Assim, o VLS Cyclone só poderia ser lançado de
Alcântara se o acordo Brasil-EUA estivesse em vigor.
Essa comédia de erros está atrasando por mais de 15
anos o programa brasileiro de utilização comercial da Base de Alcântara. Será
que as autoridades brasileiras não sabiam que o acordo com os EUA era
indispensável para levar adiante o projeto com a Ucrânia?
O quiproquó não termina aí. A empresa que
teoricamente produziria o foguete lançador dos satélites comerciais de
Alcântara está localizada na área industrial da Ucrânia, exatamente no
território agora conflagrado pela presença de população russa, transferida para
a região para operar o complexo industrial militar que Moscou havia criado
naquele país, então parte da URSS. O que acontecerá se esse território for
incorporado à Rússia?
Além disso, a Ucrânia, sem condições de fazer os
aportes financeiros necessários, pela precária situação de sua economia,
contribuiu para reduzir o projeto a um sonho de uma noite de verão. A
negociação com a Ucrânia teve clara motivação ideológica para evitar a
dependência dos EUA. A maneira desastrada como todo o processo foi operado é mais
um exemplo de um equívoco cometido por considerações político-partidárias. Os
investimentos feitos pelo governo brasileiro não serão recuperados e o caos
doméstico ucraniano inviabiliza qualquer esforço para a retomada do projeto.
O acordo de salvaguarda tecnológica com os EUA,
depois da visita do presidente Barack Obama ao Brasil em 2011, estava sofrendo
modificações para ser apresentado às autoridades norte-americanas. A negociação
do acordo, contudo, está paralisada, como tudo o que é realmente importante na
relação com os EUA. A decisão da presidente Dilma Rousseff de só normalizar as
relações bilaterais depois de um eventual pedido de desculpas de Obama pelo
monitoramento indevido da Agência Nacional de Segurança (NSA) dificulta o
desenlace da crise entre os dois países. Como o pedido dificilmente será
atendido, este e outros temas de interesse brasileiro dormem nos escaninhos da
burocracia itamaratiana.
Críticos cobram um posicionamento da política
externa, outrora tão ativa e altiva, em relação aos graves acontecimentos que
culminaram com a anexação da Crimeia à Rússia e com os distúrbios em diversas
cidades ucranianas.
A paralisia da diplomacia brasileira pode ser
explicada por um conjunto de fatores: o Brasil ser membro do BRICS, hoje um
bloco institucionalizado, com reuniões presidenciais (a próxima ocorrerá em
Fortaleza, em julho) e ministeriais todos os anos; pela dificuldade de lidar
com o imbróglio em que nos metemos com o acordo de cooperação no Centro de
Lançamento de Alcântara; e pela deliberada política do governo Dilma de
encolhimento da política externa e da não participação do Brasil na cena
internacional.
Fica cada vez mais evidente a necessidade de uma
nova política externa que restaure a influência do Itamaraty, para evitar
situações como a da Ucrânia, e restabeleça a voz e a presença do Brasil no
exterior.
*Rubens Barbosa é presidente do Conselho de
Comércio Exterior da FIESP.
Fonte: Site do
jornal O Estado de São Paulo - 13/05/2014
Comentário: Pois é, mesmo não concordando em parte com a
visão do Sr. Rubens Barbosa que apesar de tudo parece favorável ao acordo, pois
consideramos o mesmo um desastre financeiro, comercial, tecnológico e possivelmente
ecológico sem precedentes na história da astronáutica mundial (caso realmente sejam
empreendidos lançamentos de Alcântara com esse trambolho tóxico ucraniano) o
artigo traz informações políticas interessantes, mas que não são completamente verdadeiras
e sim expressam a visão do autor. Mas enfim... tá aí o artigo para aqueles que ainda acreditam que vivemos num país sério e buscam explicações fantasiosas para assim tentar explicar o que está acontecendo.
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