Possível Família do Planeta-Anão Ceres é Identificada
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo postado dia (13/04) no site da “Agência
FAPESP” destacando que segundo um estudo de um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em
colaboração com colegas do Southwest Research Institute, dos EUA, possível família do Planeta-Anão Ceres é identificada.
Duda Falcão
Notícias
Possível
Família do
Planeta-Anão Ceres é Identificada
Por Elton Alisson
Agência FAPESP
13 de abril 2016
(Foto: Ceres fotografada pela espaçonave
Dawn,
em maio de 2015/Wikimedia Commons)
Descoberta poderá contribuir para melhor
compreensão da
história do Sistema Solar.
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A despeito dos
indícios de que Ceres, o maior corpo do cinturão principal de asteroides do
Sistema Solar – situado entre as órbitas de Marte e Júpiter –, deveria possuir
uma família de fragmentos originados de colisões ao longo dos últimos bilhões
de anos, até então não tinham sido encontradas pistas que confirmassem essa
hipótese.
Agora,
contudo, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (UNESP),
campus de Guaratinguetá, em colaboração com colegas do Southwest Research
Institute, dos Estados Unidos, encontrou vestígios de uma possível família
antiga dispersa (paleofamília) do planeta-anão.
Os
pesquisadores identificaram um conjunto de 156 asteroides em uma região
primitiva do cinturão principal de asteroides – caracterizada pela baixa
densidade de objetos –, cuja taxonomia, cores (classificação) e albedo
(quantidade de luz refletida) indicam que podem ser fragmentos de Ceres.
Resultado de
um projeto realizado com apoio
da FAPESP, a descoberta foi descrita em um artigo publicado na revista Monthly
Notices of the Royal Astronomical Society.
“O fato de
ainda não se ter encontrado até agora uma família de asteroides de Ceres
representa um dos maiores problemas da dinâmica dos asteroides”, disse Valério
Carruba, professor da UNESP de Guaratinguetá e principal autor do estudo, à Agência
FAPESP.
“A descoberta
de uma possível família deste corpo pode contribuir para entendermos melhor a
história do Sistema Solar”, avaliou.
De acordo com
o pesquisador, enquanto outros asteroides do mesmo tipo espectral (frequências
de radiação eletromagnética) de Ceres, como Hygiea e Euphrosyne, já têm
famílias reconhecidas, até agora ainda não tinha sido identificado nenhum grupo
de asteroides que poderiam ser fragmentos do planeta-anão, que possui 900
quilômetros (km) de diâmetro.
Estima-se,
porém, que cerca de 10 crateras com mais de 300 km de diâmetro podem ter sido
formadas em Ceres em razão de colisões com outros objetos ao longo dos últimos
4,5 bilhões de anos.
E dados de
observação da sonda espacial Dawn, lançada pela NASA em 2007 para examinar
Ceres e Vesta – o segundo maior corpo do cinturão principal de asteroides, com
aproximadamente 400 quilômetros de diâmetro –, corroboraram essa estimativa ao
mostrar que pelo menos duas crateras com 280 km de diâmetro foram formadas nos
últimos 2 bilhões de anos na superfície de Ceres.
Dessa forma,
Ceres pode ter expelido um número significativo de fragmentos e formado ao
menos duas famílias.
Os métodos
tradicionais usados para a identificação de famílias de asteroides, entretanto,
não detectaram até agora nenhuma família de Ceres.
“As técnicas
usuais para identificação de famílias de asteroides se concentram em observar
objetos vizinhos a Ceres na região central do cinturão principal de
asteroides”, explicou Carruba.
“Acontece que
colisões e ressonâncias seculares lineares com Ceres [quando um corpo menor
e outro de massa maior sincronizam o período de rotação (precessão) do ponto
mais próximo do Sol da órbita (pericentro) ou do nó ascendente da órbita,
podendo alterar a excentricidade ou a inclinação do corpo menor e tornar sua
órbita mais instável] podem ter empobrecido a população de objetos próximos
ao asteroide nessa região do cinturão principal. Dessa forma, não é possível
encontrar muitos objetos vizinhos a Ceres”, afirmou.
Outro
problema, segundo o pesquisador, é que na região central do cinturão principal
há uma concentração maior de asteroides, principalmente do tipo C – o tipo de
asteroide mais comum, como Ceres, que tem pouca capacidade de refletir luz,
baixa densidade e é associado a regiões mais externas do Sistema Solar.
E há duas
grandes famílias de asteroides do mesmo tipo espectral de Ceres nessa região, a
Dora e a Chloris.
“Ao realizar
um estudo por espectrofotometria astronômica [em que se analisa o espectro
da radiação eletromagnética dos objetos observados por telescópios] é
difícil saber se esses objetos do tipo C no cinturão principal integram uma
possível família de Ceres ou pertencem às famílias dos asteroides Dora e
Chloris”, ponderou Carruba.
Além disso,
estima-se que as velocidades iniciais de ejeção de Ceres por colisões devem ter
sido significativamente maiores que as observadas em qualquer outro corpo no
cinturão principal – incluindo Vesta, o segundo maior corpo do cinturão
principal.
Dessa forma,
os fragmentos de Ceres podem ter se espalhado por uma área muito maior do
cinturão principal de asteroides e seriam significativamente mais distantes
entre si do que a distância de objetos formados em colisões de corpos menores
que o planeta-anão.
Região Primitiva
Com base
nessas constatações, os pesquisadores propuseram, em vez de tentar identificar
possíveis membros da família de Ceres perto do planeta-anão na região central
do cinturão de asteroides, olhar para uma região pristina (primitiva) do
cinturão de asteroides, entre as ressonâncias 5J: 2a e 7J: -3a de movimento
médio com Júpiter.
A hipótese
deles é que fragmentos de Ceres, da ordem de quilômetros, podem ter alcançado
essa região do cinturão principal de asteroides que foi esvaziada durante a
fase do bombardeio pesado tardio, ocorrida entre 4,3 e 3,8 bilhões de anos
atrás, quando se estima que um imenso número de asteroides tenha atingido o
Sistema Solar, causando um grande número de crateras na Lua e em outros corpos.
Desde então, a
entrada de material fora de outras áreas do cinturão principal de asteroides
para essa região primitiva ficou limitada.
“Algumas das
vantagens de estudar essa região é justamente a baixa densidade de asteroides e
a falta de outras grandes famílias do tipo C com excentricidades [medida do
achatamento de uma órbita elíptica] e inclinações comparáveis às de Ceres”,
disse Carruba.
“Isso torna a
identificação de possíveis membros da família de Ceres nessa região mais fácil”,
afirmou.
A fim de
confirmar suas hipóteses, os pesquisadores realizaram um estudo dos albedos e
das cores dos objetos encontrados nessa região do cinturão principal de
asteroides.
Os resultados
das análises indicaram que 156 objetos na região apresentam fotometria e albedo
compatíveis com asteroides do tipo C, como Ceres, que reflete apenas 9% da luz
que incide sobre ele.
Os estudos
estatísticos realizados pelos pesquisadores também indicaram que a distribuição
em inclinações desses objetos é compatível como sendo originados de Ceres.
“Ainda não há
uma prova definitiva de que exista uma família de Ceres, porque esses objetos
que identificamos são candidatos do tipo C, e ainda não foram obtidos espectros
completos no visível e no infravermelho para confirmar a classificação. Mas há
provas circunstanciais bastante fortes”, afirmou Carruba.
Segundo o
pesquisador, não há nenhuma fonte de objetos do tipo C na região primitiva do
cinturão principal que poderia explicar a concentração desse tipo de asteroides
naquela área.
O artigo “Footprints
of a possible Ceres asteroid paleo-family” (doi: 10.1093/mnras/stw380), de
Carruba e outros, pode ser lido na revista Monthly Notices of the Royal
Astronomical Society em http://mnras.oxfordjournals.org/content/458/1/1117.
Fonte: Site da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP)
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