Laser Sobre os Nanotubos
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo publicado na edição 196 (junho de
2012) da “Revista Pesquisa FAPESP” destacando que professor
da UFMG recebe prêmio internacional por contribuição em Nanociência.
Duda Falcão
POLÍTICA C&T
Laser Sobre os Nanotubos
Professor da UFMG recebe
prêmio internacional
por contribuição em
nanociência
FABRÍCIO MARQUES
Edição 196
Junho de 2012
© LÉO RAMOS
Ado Jório em seu laboratório: pesquisa de ponta num assunto que interessa a várias disciplinas |
O físico Ado Jório de Vasconcelos, de 39 anos, professor
titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi agraciado em abril
com o Prêmio ICTP 2011, que distingue contribuições originais em física e matemática feitas por
cientistas com menos de 40 anos de idade de países em desenvolvimento. O prêmio é concedido desde
1982 pelo The Abdus Salam International Centre for Theoretical Physics (ICPT), com sede
em Trieste, na Itália, uma tradicional instituição de pesquisa em física teórica e matemática
mantida pelo governo italiano, a Agência Internacional de Energia Nuclear
(AIEA) e a UNESCO. O ICTP reconheceu o trabalho do pesquisador mineiro com a aplicação de uma
técnica conhecida como espectroscopia Raman na identificação das propriedades de
nanotubos de carbono.
Os nanotubos de carbono são cilindros ocos extremamente
fortes e finos – seu diâmetro é 100 mil vezes menor do que um fio de cabelo. Bons condutores
térmicos, podem se comportar como metais ou semicondutores, propriedades que os tornam
ingredientes importantes na fabricação de dispositivos eletrônicos e materiais leves.
Ao aplicar a espectroscopia Raman para caracterizar os nanotubos de carbono, Jório ajudou a
identificar novas aplicações para eles. “Os nanotubos são produzidos em escala de bilhões e
suas propriedades são variáveis. Eles variam em diâmetro e na helicidade de suas ligações.
Meu trabalho teve impacto porque permitiu isolá-los um a um e descobrir um mundo de propriedades”,
explica o pesquisador mineiro.
“O trabalho de Jório é um exemplo para muitos de seu continente
e fora dele”, disse Erio Tosatti, cientista do ICTP, ao justificar a premiação.
“É pouco comum encontrar trabalhos experimentais de alto nível em países em
desenvolvimento, pela dificuldade de trabalhar num ambiente de poucos
recursos.” Ele vai receber € 3 mil, uma escultura e um certificado. É a quarta vez que um brasileiro ganha o Prêmio ICTP. Em 1992 foi concedido para Elcio
Abdalla e, em 1984, a Ricardo
Osório Galvão, ambos do Instituto de Física da Universidade de São
Paulo, e, em 1988, entregue a José Nelson Onuchic, ex-professor do Instituto de
Física de São Carlos, da USP, e atualmente pesquisador da Universidade da
Califórnia em San Diego.
Ado Jório trabalha com nanotubos de carbono desde que fez
pós-doutorado, em 2000, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), e desde
então se tornou referência internacional no assunto. “Como as aplicações dos
nanotubos interessam a vários campos do conhecimento, como a química, a física,
a biologia, as ciências dos materiais, a medicina e a engenharia, os 152
artigos de que sou autor ou coautor já alcançaram mais de 10 mil citações, um
número muito expressivo”, diz. Na lista dos 26 artigos científicos brasileiros
publicados entre 2001 e 2005 que receberam mais de 200 citações, compilada na
base Web of Science pelo pró-reitor de Pesquisa da USP, Marco Antonio Zago,
dois trabalhos têm Jório como um dos autores -ambos tratam da caracterização de
nanotubos de carbono usando a espectroscopia Raman. Num deles, publicado no New Journal of Physics,
o pesquisador é o autor principal. No outro, publicado na Physical Review Letters,
ele é coautor, juntamente com Marcos Assunção Pimenta, seu orientador de
doutorado, também professor da UFMG e um dos precursores no estudo dos
nanotubos de carbono no país (ver Pesquisa FAPESP nº 187).
Ado Jório apresenta um índice H 52 – o índice H é uma
medida que relaciona a quantidade e o impacto da produção de um pesquisador. Um
índice H 52 significa que pelo menos 52 de seus artigos repercutiram a ponto de
serem citados em 52 outros trabalhos. O índice H varia muito entre os campos do
conhecimento, pois o impacto de um artigo depende do tamanho da comunidade de
pesquisadores. Seu criador, o físico J.E. Hirsch, da Universidade da Califórnia
em San Diego, calculou que, na média, os vencedores do Nobel têm índice H 30. A
repercussão de seus artigos, observa Jório, catalisou uma centena de colaborações
internacionais e já o levou a fazer cerca de 50 palestras em congressos
internacionais.
Frequência
de Vibração
A espectroscopia Raman é uma técnica descoberta há 90
anos que analisa as frequências da luz que incide em uma substância e a luz
reemitida por ela. A diferença de energia entre a radiação incidente e a
espalhada corresponde à energia com que átomos presentes na área estudada estão
vibrando. Essa frequência de vibração permite descobrir como os átomos estão
ligados, ter informação sobre a geometria molecular, sobre como as espécies
químicas presentes interagem entre si e com o ambiente, entre outras – o que
ajuda a mensurar suas propriedades mecânicas, elásticas, térmicas e
eletrônicas. O fenômeno foi identificado em 1928 pelo indiano Chandrasekhara
Venkata Raman, que ganharia o Nobel de Física dois anos mais tarde. A técnica
tem sido útil, por exemplo, na identificação de materiais de obras de arte.
Ganhou espaço nos anos 1960 após o advento dos raios laser e é muito usado para
caracterizar materiais de carbono. O uso da técnica em escala microscópica
permite o estudo de áreas de até 1 µm (10-6 m) de diâmetro. Daí sua utilidade no estudo
de nanotubos, que tiveram um boom a partir dos anos 1990.
Entre 2007 e 2009, Ado Jório trabalhou no Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), ajudando a
desenvolver metodologias para medidas e análises das propriedades de nanoestruturas
de carbono. “Além do avanço no conhecimento, sempre me preocupei em desenvolver
utilidades sólidas para a pesquisa. Me dediquei à questão da metrologia dessa
técnica com o Inmetro”, diz o pesquisador, que também tem interesse na gestão
da inovação dentro das universidades. Desde 2009, ele dirige a Coordenadoria de
Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG, núcleo de inovação tecnológica
responsável pela gestão da propriedade intelectual, transferência de tecnologia
e formação de empresas dentro da instituição. Nascido em Belo Horizonte, Jório
se graduou e se doutorou na UFMG, fez especialização no Centre National de la
Recherche Scientifique (CNRS), França, e pós-doutorado no MIT. Casado, é pai de
duas filhas.
Fonte: Revista Pesquisa FAPESP - Edição 196 – Junho de 2012
Comentário: Essa é mais uma notícia interessante que deve
interessar também ao INPE, ao DCTA/IAE e as empresas que estão envolvidas com
projetos do PEB, já que o uso da tecnologia dos nanotubos de carbono nas
atividades espaciais é pretendida e pesquisada a algum tempo em algumas dessas
instituições. Gostaríamos de agradecer uma vez mais ao leitor paulista José
Ildefonso pelo envio desse artigo.
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