Cientistas Descobrem Outro 'Sistema Solar', Com Mesmo Número de Planetas Que o Nosso

Olá leitor!

Segue abaixo uma matéria postada ontem (14/12) no site do jornal “O Globo” destacando que Cientistas descobriram outro 'Sistema Solar' com o mesmo número de planetas que temos no nosso.

Duda Falcão

CIÊNCIA

Cientistas Descobrem Outro 'Sistema Solar',
Com Mesmo Número de Planetas Que o Nosso

É a primeira vez que se encontra tantos exoplanetas ao redor de uma estrela distante

Por Cesar Baima
Jornal O Globo
14/12/2017 - 16:32
Atualizado 14/12/2017 - 22:19

Foto: Divulgação / NASA
Com a descoberta do oitavo planeta em torno da estrela Kepler-90,
o sistema é o primeiro a se igualar ao nosso em número de objetos do tipo.

RIO — Cientistas anunciaram nesta quinta-feira a descoberta do primeiro sistema estelar com pelo menos tantos planetas quanto o nosso. Designado Kepler-90, ele já tinha sete planetas conhecidos, aos quais os pesquisadores Andrew Vanderburg, astrônomo da Universidade do Texas, e Christopher Shallue, engenheiro de software da divisão de inteligência artificial do Google, acrescentaram mais um - totalizando oito como o Sistema Solar - graças à aplicação de um novo método de aprendizado de máquina com base em redes neurais em dados coletados durante quatro anos pelo telescópio espacial Kepler, da NASA, em sua missão original, entre 2009 e 2013.



Cientistas anunciaram ontem a descoberta do primeiro sistema estelar com pelo menos tantos planetas quanto o nosso. Designado Kepler-90, ele já tinha sete planetas conhecidos, aos quais os pesquisadores Andrew Vanderburg, astrônomo da Universidade do Texas, e Christopher Shallue, engenheiro de software da divisão de inteligência artificial do Google, acrescentaram mais um — totalizando oito como o Sistema Solar — graças à aplicação de um novo método de aprendizado de máquina com base em redes neurais em dados coletados durante quatro anos pelo telescópio espacial Kepler, da NASA, em sua missão original, entre 2009 e 2013.

— Quando lançamos o Kepler em 2009 não sabíamos se os exoplanetas eram comuns ou não — lembrou Paul Hertz, diretor da Divisão de Astrofísica da NASA, em teleconferência de anúncio da descoberta realizada nesta quinta, da qual O GLOBO participou. — Hoje sabemos que quase todas estrelas têm planetas, e desta vez encontramos o primeiro sistema com oito deles, empatando com o nosso como o de maior número de planetas conhecidos. O Kepler-90i é uma amostra de como a aplicação de novos métodos no enorme arquivo de dados da missão Kepler pode levar a grandes descobertas, e há muitas mais a serem feitas.

Batizado Kepler-90i, o mais novo integrante do sistema seria um planeta rochoso como o nosso, mas cerca de 30% maior, próximo do limite mínimo para ser classificado como um tipo conhecido como “Super-Terra”. Mas ele está tão perto de sua estrela — também um pouco maior e mais quente que o Sol —, que seu “ano” dura apenas 14,4 dias e faz de sua temperatura infernal, em estimados mais de 427 graus Celsius, o suficiente para derreter chumbo. Assim, é muito pouco provável, se não impossível, que ele tenha vida, ao menos como a conhecemos.

— Não é exatamente um lugar que gostaríamos de visitar — resumiu Vanderburg, também durante a teleconferência promovida pela NASA.

Semelhanças Não São Tantas

E apesar de ter o mesmo número de planetas que nosso Sistema Solar, as semelhanças do Kepler-90 com nossa vizinhança cósmica praticamente param por aí. Isso porque, embora também siga o padrão visto na nossa vizinhança cósmica de planetas pequenos e rochosos mais próximos da estrela e os gigantes gasosos mais afastados, todos oito no sistema estão “apertados” numa região menor do que a órbita da Terra. Por isso, os cientistas acreditam que podem existir ainda mais objetos planetários na órbita da estrela ainda não detectados.

— Apenas arranhamos a superfície — considerou Jessie Dotson, cientista do projeto Kepler no Centro de Pesquisas Ames da NASA, na Califórnia, e quarta participante da teleconferência de ontem. — Em apenas duas décadas fomos de alguns poucos exoplanetas conhecidos para milhares. E as diferentes “estrelas-mães”, tamanhos dos planetas e períodos orbitais encontrados são uma amostra clara da enorme diversidade dos sistemas planetários no Universo. Estou ansiosa para ver quantas descobertas poderemos fazer quando redes neurais como esta forem usadas para analisar dados de outras regiões do céu e de outras missões em busca de exoplanetas.

O Sistema Kepler-90

O QUE FOI DESCOBERTO

Um oitavo planeta foi identificado orbitando uma estrela distante parecida com o Sol, chamada Kepler-90. O planeta foi batizado Kepler-90i.

O QUE ISSO SIGNIFICA

Agora, conhecemos pelo menos um outro sistema com tantos planetas quanto o nosso Sistema Solar.

O uso de métodos de inteligência artificial deve levar à descoberta de mais planetas “escondidos” nos dados de Kepler.

COMO FOI FEITA A DESCOBERTA

1 - Os pesquisadores usaram dados coletados pelo telescópio espacial Kepler, da NASA.

2 - O telescópio mede as oscilações de brilho das estrelas quando planetas na sua órbita passam na frente delas.

3 - Os pesquisadores usaram tecnologia desenvolvida por engenheiros do Google para “ensinar” o computador a detectar sinais fracos da presença de planetas em estrelas distantes.

O NOVO PLANETA DESCOBERTO

Planeta Kepler-90i - A superfície do planeta Kepler-90i é muito quente. A temperatura é de aproximadamente 427° C. Isso faz com que seja improvável haver vida como a conhecemos no planeta

Fonte: NASA

Para encontrar planetas, o Kepler usa um método conhecido como “de trânsito”, no qual busca por alterações periódicas no brilho de estrelas distantes ocasionadas pela passagem destes objetos em frente a elas de seu ponto de vista — fenômeno conhecido na astronomia como “trânsito”, daí o nome. Nos quatro anos de sua missão original, o telescópio espacial acumulou cerca de 35 mil destes sinais. Os mais “fortes” foram diligentemente analisados pelos cientistas, usando algoritmos de computador relativamente simples ou mesmo “no olho”, nos últimos anos, levando à descoberta de mais de 2,3 mil planetas extrassolares, além de outros cerca de 4,5 mil “candidatos” que ainda dependem de observações adicionais com outros equipamentos para terem sua existência confirmada.

Mas restaram outros milhares de sinais muito “fracos” para serem detectados e classificados desta forma. Diante disso, Vanderburg e Shallue imaginaram se não seria possível “ensinar” um computador a “peneirar” os dados do Kepler em busca de possíveis planetas “perdidos” neles. Assim, eles usaram a maior parte dos 15 mil dos sinais que já tinham sido analisados pelos cientistas para “treinar” uma rede neural, um tipo de inteligência artificial, na identificação dos que seriam de fato resultantes de trânsitos planetários ou que teriam sido provocados por outros fenômenos astronômicos. Posteriormente, em um teste da capacidade do modelo de aprendizado de máquina, eles apresentaram à inteligência artificial treinada o restante dos sinais já analisados, que identificou corretamente os planetas conhecidos ou falsos positivos 96% das vezes.

Era hora então de aplicar a rede neural nos sinais ainda não classificados nos dados do Kepler. Para esta primeira experiência, eles selecionaram os obtidos de 670 sistemas estelares onde múltiplos exoplanetas já tinham sido encontrados, pensando que provavelmente entre eles estariam outros não detectados. E estavam certos.

— Este é o tipo de situação que o aprendizado de máquina pode brilhar — disse Shallue na teleconferência da NASA. — Se com os sinais mais fortes já é como procurar uma agulha num palheiro, com os mais fracos é como buscar uma agulha num palheiro muito, muito maior. São mais dados do que seria humanamente possível analisar num período razoável de tempo. Tivemos muitos falsos positivos, mas também apanhamos muitos potenciais planetas reais.

E, de fato, o Kepler-90i não foi o único exoplaneta que a dupla conseguiu confirmar até agora usando a rede neural. No sistema Kepler-80 a inteligência artificial também identificou um sexto integrante até então desconhecido. Designado Kepler-80g, ele é menor que o Kepler-90i e um pouco maior que a Terra, com um diâmetro cerca de 13% maior, também orbitando sua estrela em um período muito curto de tempo, cerca de 14,6 dias. Assim, mesmo a estrela neste caso sendo um pouco menor e mais “fria” que o Sol, sua temperatura ainda é calculada como muito alta para que possa abrigar vida como conhecemos, ficando por volta dos 150 graus Celsius.

A Busca Por um ‘Gêmeo’ da Terra

O uso das redes neurais também traz a esperança de extrair dos dados da missão original do Kepler a descoberta mais aguardada, e cobiçada, pelos cientistas na “caça” por exoplanetas: um verdadeiro “gêmeo” da Terra, isto é, um planeta com tamanho similar ao nosso, orbitando uma estrela como o Sol a uma distância também semelhante. Isso porque tal achado está no limite da capacidade do telescópio espacial no período em que ele funcionou plenamente.


— Uma das razões porque não encontramos este “gêmeo” da Terra é que eles são mesmo difíceis de encontrar, no limite do que o Kepler podia fazer — explicou Vanderburg. — Mas é possível que talvez, usando a rede neural, encontremos este planeta tão buscado nos dados do Kepler.

Outra possibilidade, disse Shallue, é “treinar” uma inteligência artificial parecida para fazer busca similar nos dados da nova missão de busca por exoplanetas TESS, que a Nasa pretende lançar no ano que vem.

— Aí temos duas opções: podemos esperar que humanos ou outros algoritmos tenham classificado observações suficientes para o aprendizado da máquina ou então, numa estratégia mais exploratória, simular estes sinais e usá-los para treinar a rede neural, aplicando-a posteriormente nos dados reais da TESS — concluiu.



Fonte: Site do Jornal o Globo - http://oglobo.globo.com

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