Segundo Thelma Kurg a Descrição de Algumas Atividades do Edital do MMA Leva a Crer Que Pode Haver Sobreposição

Olá leitor!

Segue abaixo uma entrevista publicada  na edição de maio do “Jornal do SindCT” destacando que segundo a pesquisadora Telma Krug do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a descrição de algumas atividades do edital do Ministério do Meio Ambiente (MMA) leva realmente a crer que pode haver sobreposição.

Duda Falcão

CIÊNCIA & TECNOLOGIA

“A Descrição de Algumas Atividades Leva a Crer
Que Pode Haver Sobreposição”, Explica Thelma

Antonio Biondi e
Maurício Hashizume
Jornal do SindCT
Edição nº 57
Maio de 2017

Foto: Fernanda Soares/SindCT
Thelma Krug
Pesquisadora sênior do INPE e vice-presidente do IPCC, Thelma Krug respondeu às perguntas do Jornal do SindCT sobre sua saída do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Nas respostas encaminhadas por e-mail à reportagem, Thelma analisa detalhadamente onde os trabalhos do INPE e o edital podem vir a ser sobrepor.

Que avaliação a senhora faz deste edital do MMA? Há ou não sobreposição com o PRODES?

Thelma. O edital do MMA contempla várias atividades, muitas das quais sem relação com as atividades que o INPE desenvolve na Coordenação de Observação da Terra (OBT) ou no Centro de Ciências do Sistema Terrestre (CCST). Infelizmente, o edital não possui a clareza necessária para que se faça uma análise acurada da potencial sobreposição aos monitoramentos realizados pelo INPE. A descrição de algumas atividades leva a crer que pode, sim, haver sobreposição de atividades. Por exemplo, uma das atividades compreende a interpretação visual de imagens orbitais em áreas/polígonos de remanescentes florestais, digitalização dos polígonos de desmatamento, redigitalização dos polígonos de remanescentes, que é exatamente o que o INPE faz para a Amazônia e para o Cerrado.

Uma outra atividade, denominada processamento e interpretação de imagens de radar para a identificação de alterações da cobertura florestal, contempla também a interpretação visual de imagens orbitais adquiridas pelo satélite europeu ESA-Sentinel em áreas/polígonos de remanescentes florestais, digitalização dos polígonos de desmatamento, redigitalização dos polígonos de remanescentes. O Ministério da Defesa, através do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM), em parceria com o INPE, está em fase de desenvolvimento de um sistema de monitoramento do desmatamento utilizando imagens de radar, que complementam o monitoramento operacional do INPE baseado em imagens óticas.

Uma outra atividade, denominada desenvolvimento e aplicação de modelos matemáticos e/ou algoritmos e/ou redes neurais, e que consiste no desenvolvimento de modelos matemáticos e algoritmos de alta complexidade para modelagem de fauna, flora, uso do solo, degradação, entre outros, é apresentada de forma tão ampla, que torna difícil uma análise objetiva dos produtos a serem entregues. O INPE desenvolve modelos, como o LuccME (Uso da Terra e Mudança da Cobertura em um Ambiente de Modelagem) que, potencialmente, têm uma interface com a descrição no edital.

Finalmente, cabe ressaltar que uma das atividades contempladas no edital, qual seja, Cálculo de Emissões de Gases de Efeito Estufa, que envolve a mensuração de emissões com base na quantidade de biomassa associadas às mudanças no uso do solo (desmatamento) nos biomas brasileiros usando a metodologia adotada pela Convenção do Clima, tem uma clara duplicação com o esforço realizado no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, responsável pela submissão do Brasil junto à Convenção do Clima dos inventários nacionais de gases de efeito estufa, que são submetidos a consulta pública e avaliação internacional. Uma duplicação de esforços pode originar dados inconsistentes dentro do próprio governo, decorrentes do uso de diferentes definições, produtos satelitários e unidades de mapeamento distintas.

Existe relação entre a sua saída do MMA e esse edital?

Thelma. De fato, houve algumas discordâncias internas, provocadas principalmente pela falta de um melhor entendimento sobre os produtos que o INPE fornece ao IBAMA/Ministério do Meio Ambiente, como parte de um Acordo de Cooperação celebrado entre as duas instituições. Detecções de desmatamentos são enviadas diariamente ao Ibama, utilizando dados do satélite indiano Resourcesat-2 e do CBERS-4. A cada cinco dias, toda a Amazônia Legal é coberta com dados que visam apoiar as ações de fiscalização e controle do IBAMA. Não tem o objetivo de estimar semanalmente a área desmatada, até porque, durante a época chuvosa, os dados de sensores óticos são limitados, uma vez que não conseguem fornecer informações sobre as áreas persistentemente cobertas de nuvens. Claro que a cada cinco dias, algumas áreas anteriormente cobertas por nuvens conseguem ser imageadas, complementando os dados de alerta. Esse é o motivo da parceria CENSIPAM/INPE – ou seja, mapear as áreas persistentemente cobertas por nuvens com sensores de radar, insensíveis à presença de nuvens, mas de processamento extremamente complexo.

Havia interesse expresso do MMA em um novo sistema de monitoramento, mas infelizmente não foi estabelecido um diálogo do Ministério com outros órgãos federais que geram dados e informações, de forma a informar as limitações dos produtos existentes e explorar a capacidade de o próprio governo poder prover as necessidades do MMA. Até porque o governo tem uma capacidade muito maior de assegurar a continuidade da geração de produtos e serviços relevantes ao país, como é o caso do PRODES, que gera dados consistentes do desmatamento na Amazônia Legal há 30 anos, com credibilidade nacional e internacional.

A publicação do edital ocorreu em um momento em que o próprio MMA sinalizava a implementação de um sistema de monitoramento que respondesse melhor às suas necessidades. É legítimo que o MMA idealize um sistema de monitoramento próprio, e utilize seus recursos da forma como julgar mais conveniente. A preocupação é evitar-se a duplicação de esforços dentro do próprio governo federal e o dispêndio desnecessário de recursos públicos, já tão escassos. Pergunta-se, ao mesmo tempo, se a redução do desmatamento se dará com mais dados além daqueles já disponibilizados diariamente ao IBAMA, ou se seria mais eficiente investir em campanhas de fiscalização em campo, que são extremamente onerosas, já que envolvem, em muitos casos, além dos próprios fiscais do IBAMA, as polícias Federal e Estaduais, além da Força Nacional.

Cabe ressaltar que somente 5% dos alertas de desmatamento enviados ao IBAMA e verificados em campo por aquele órgão geraram falsos positivos, ou seja, não correspondiam à classificação enviada pelo INPE (desmatamento corte raso, degradação por fogo, degradação por corte seletivo de madeira etc). Ou seja, o sistema de alerta em operação é acurado o suficiente para apoiar as ações do Ibama, que tem uma capacidade limitada para utilizar toda a informação gerada. Por exemplo, em 2016, foram enviados 244 boletins ao IBAMA, com quase 55.000 polígonos de alerta de desmatamento e 38.000 polígonos de alerta de degradação florestal.


Fonte: Jornal do SindCT - Edição 57ª - Maio de 2017

Comentário: Pois é leitor, estava pronto para fazer um grande comentário sobre isso, mas estou casado desta palhaçada toda. Para um bom entendedor, basta se perguntar quem é a Dra. Thelma Krug e quem é esse energúmeno Ministro do MMA, já que aí você vai ter uma ideia aproximada do que está realmente acontecendo.

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