Asteroide Bee-Zed Tem Órbita na Contramão, Conforme Previu Pesquisadora da UNESP

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Segue abaixo uma notícia postada hoje (25/04) no site da Agência FAPESP, destacando que o conforme foi previsto pela pesquisadora brasileira Helena Morais da UNESP, o Asteroide Bee-Zed tem mesmo órbita na contramão.

Duda Falcão

Notícias

Asteroide Bee-Zed Tem Órbita na Contramão,
Conforme Previu Pesquisadora da UNESP

Maria Fernanda Ziegler
Agência FAPESP
25 de abril de 2017

Asteroide dá uma volta completa no Sol a cada 12 anos,
mesmo período de Júpiter – com quem compartilha
a órbita –, mas movendo-se em sentido oposto.

No Sistema Solar, há um asteroide que gira ao redor do Sol na contramão dos planetas. É o 2015 BZ509, também conhecido como Bee-Zed. Ele dá uma volta completa no Sol a cada 12 anos, mesmo período de Júpiter – com o qual compartilha a órbita –, mas movendo-se em sentido oposto.

A identificação do asteroide na contramão foi a comprovação do que Helena Morais, professora no Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da UNESP, previu há dois anos. Tanto que o estudo sobre a observação do asteroide, publicado na Nature, foi comentado por Morais em um artigo na seção News & Views na mesma edição da revista.

“É bom ter uma confirmação. Tinha a certeza de que as órbitas contrárias coorbitais existiam. Sabíamos desse asteroide desde 2015, mas a órbita não estava bem determinada e não era possível confirmar a configuração coorbital. Mas isso acaba de ser confirmado, após mais observações que reduziram os erros nos parâmetros da órbita. Agora, temos certeza de que o movimento do asteroide é contrário, coorbital e estável”, disse Morais à Agência FAPESP.

Em parceria com Fathi Namouni, do Observatório de Côte d'Azur, na França, Morais desenvolveu uma teoria sobre coorbitais retrógrados (movimento no sentido oposto ao dos planetas) e ressonâncias orbitais retrógradas em geral, em série de artigos publicados na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society e Celestial Mechanics and Dynamical Astronomy. Nascida em Portugal, Morais conta com Auxílio à Pesquisa da FAPESP desde 2016.

No estudo agora publicado na Nature, por Paul Wiegert, da University of Western Ontario, no Canadá, o objeto 2015 BZ509, detectado em janeiro de 2015 a partir do Panoramic Survey Telescope and Rapid Response System (Pan-STARRS) no Havaí, foi seguido com o Large Binocular Telescope, no Arizona. A confirmação do movimento contrário e coorbital a Júpiter veio dessas observações adicionais.

Órbitas contrárias são raras. Estima-se que dos mais de 726 mil asteroides conhecidos até hoje, apenas 82 sejam retrógrados. Por outro lado, coorbitais movendo-se no mesmo sentido não são novidade; só na órbita de Júpiter existem cerca de 6 mil asteroides troianos, que compartilham a mesma órbita do planeta gigante.

Bee-Zed é incomum por compartilhar a mesma órbita de um planeta, estar na contramão e, principalmente, por ser estável há milhões de anos. “Em vez de ser expulso da órbita por Júpiter, como seria de se esperar, o asteroide está em uma configuração que lhe garante estabilidade, uma vez que seu movimento está sincronizado com o do planeta, evitando colisões com este [ressonância coorbital]”, disse Morais.

O asteroide cruza o caminho com Júpiter a cada seis anos, mas, devido à ressonância coorbital, os dois nunca se aproximam mais do que 176 milhões de quilômetros. A distância é suficiente para evitar grandes perturbações da órbita, embora a gravidade de Júpiter seja essencial para manter o movimento orbital Bee-Zed em sincronismo.

Trânsito Dinâmico

Planetas e a maioria dos asteroides do Sistema Solar giram no mesmo sentido em torno do Sol. Isso se dá porque o Sistema Solar foi formado a partir de uma nuvem em rotação. Por essa razão, os planetas e a maior parte dos asteroides rodam em torno do Sol, todos no mesmo sentido.

“A maior parte desses objetos que se deslocam ao contrário são cometas. Eles têm órbitas tipicamente inclinadas, muitas delas retrógradas. É o caso do Halley, o mais famoso de todos, que roda ao contrário no Sistema Solar, com inclinação de 162º, praticamente idêntica à de 2015 BZ509”, disse Morais.

A pesquisadora explica que, quando o Sistema Solar estava em formação, pequenos corpos foram ejetados para distâncias muito grandes do Sol, formando um repositório de cometas conhecido como Nuvem de Oort.

“A essas distâncias, o efeito gravitacional da Via Láctea perturba as órbitas dos pequenos corpos. Inicialmente, estes rodavam próximo do plano da eclíptica no mesmo sentido dos planetas, mas suas órbitas foram sendo deformadas pela perturbação da força de maré da galáxia e interação com estrelas próximas, ficando gradualmente mais inclinadas e formando um reservatório mais ou menos esférico”, disse a professora da UNESP.

Caso as órbitas desses corpos sofram uma perturbação – por uma estrela que passa, por exemplo – eles retornam para perto dos planetas do Sistema Solar, e podem tornar-se cometas ativos. “Os pequenos corpos gelados que se aproximam do Sol se aquecem, o que causa a sublimação do gelo que os constitui, formando uma coma [ nuvem de poeira e gás que circunda o núcleo de um cometa] e por vezes uma cauda, tornando-se cometas observáveis”, disse.

No caso do 2015 BZ509, o que mais surpreende é o longo período de estabilidade. “O tempo de vida particularmente longo de 2015 BZ509 em sua órbita retrógrada faz com que seja o mais intrigante objeto na vizinhança de Júpiter. São necessários mais estudos para confirmar como esse misterioso objeto chegou à sua configuração atual”, escreveram Morais e Namouni no comentário publicado na Nature.

Wiegert especula que é provável que Bee-Zed tenha tido origem na Nuvem de Oort, semelhante aos cometas da família do Halley. De qualquer forma, serão necessários mais estudos para recuperar a saga de Bee-Zed pelo Sistema Solar.

Sabe-se que asteroides em ressonâncias retrógrados não são exclusividade de Bee-Zed. Há registro de outros casos: em 2013, Morais e Namouni descreverem a identificação de um conjunto de asteroides (denominados Centauros e Damocloides), em órbita contrária no Sistema Solar e que entram em ressonância com Júpiter e Saturno. É o caso de asteroides como 2006 BZ8 e 2008 SO218, em ressonância retrógrada com Júpiter, e 2009 QY6, com Saturno.

“De fato, 2006 BZ8 poderia até mesmo entrar na ressonância co-orbital retrógrada com Saturno no futuro. As nossas simulações mostraram que a captura em ressonância é mais provável para objetos que têm órbitas retrógradas do que para aqueles que têm órbitas no mesmo sentido dos planetas”, escreveram Morais e Namouni.

A expectativa é que Bee-Zed possa permanecer por mais um milhão de anos em seu estado atual. Com a descoberta, pesquisadores acreditam que asteroides do tipo coorbitais retrógrados com Júpiter e outros planetas possam ser mais comuns do que se pensava anteriormente, reforçando ainda mais a teoria de Morais e Namouni.

Artigos:

A retrograde co-orbital asteroid of Jupiter (doi:10.1038/nature22029), de Paul Wiegert, Martin Connors e Christian Veillet: www.nature.com/nature/journal/v543/n7647/full/nature22029.html.

Planetary science: Reckless orbiting in the Solar System (doi:10.1038/543635a), de Helena Morais e Fathi Namouni: www.nature.com/nature/journal/v543/n7647/full/543635a.html.


Fonte: Site da Agência FAPESP

Comentário: Mais um gol da Astronomia Brasileira. Está sim apresentando a nossa Sociedade o que se espera dela, e a nossa expectativa é que venha fazer muito mais nos próximos anos. Nossos sinceros parabéns a pesquisadora Helena Morais pela sua conquista.

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