Satélites de Observação Terrestre na América do Sul
Olá leitor!
Segue abaixo um interessantíssimo artigo escrito pelo blogueiro
André Mileski para a Revista Tecnologia & Defesa (T&D) e postado hoje
(01/11) em seu “Blog Panorama Espacial”, tendo como destaque os projetos de Satélites
de Observação Terrestre da América do Sul.
Duda Falcão
Satélites de Observação Terrestre
na América do Sul
André M. Mileski
Revista T&D
Edição n.º 146
Setembro de 2016
01/11/2016
Nos últimos anos, o número de países que passaram a deter
meios autônomos de observação terrestre a partir do espaço cresceu
consideravelmente, seguindo uma tendência global de disseminação da tecnologia
espacial entre os chamados emergentes. Na América do Sul, não tem sido
diferente, com países que já têm tradição nesse campo, como Brasil e Argentina,
lançando novas missões de observação, o Chile e a Venezuela se juntando ao
clube, e outros como Peru e Bolívia prestes a integrá-lo.
A seguir, um panorama sobre os programas e projetos de
satélites de observação terrestre na América do Sul, numa atualização de artigo
similar publicado no final de 2013, na edição n.º 133 de T&D.
Argentina
O programa argentino de satélites de observação é hoje um dos mais avançados da
América do Sul, ao lado do brasileiro, abrangendo missões tanto óticas como
radar, geralmente implementadas em regime de parceria internacional. Seu
primeiro sistema de sensoriamento remoto foi o SAC-C, lançado em 21 de novembro
de 2000, e que contava com dois sensores óticos com resoluções nas faixas de 35
a 350 metros, destinados a produzir imagens multiespectrais para estudos da
Terra, além de sensores científicos específicos. A missão foi realizada em
cooperação com a agência espacial norte-americana (NASA), além de institutos de
pesquisa da Europa e o Brasil, que executou os testes finais do artefato no
Laboratório de Integração e Testes (LIT), do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP).
Passo seguinte foi dado com o SAC-D/Aquarius, uma parceria internacional, com
participação de institutos dos Estados Unidos, França, Itália, Canadá e Brasil,
e colocado em órbita em 10 de junho de 2011. Muito embora a missão tenha
caráter mais científico (o sensor Aquarius, fornecido pela NASA, é um
radiômetro em banda L para medição da salinidade dos oceanos), o satélite
também foi equipado com uma câmera de alta sensibilidade (visualização de
iluminação urbana, embarcações, tormentas elétricas, cobertura de neves), com 200/300
metros de resolução, e um sensor infravermelho (imageamento de incêndios e
atividades vulcânicas), com resolução de 350 metros. Atualmente, a Argentina é
o único país sul-americano a desenvolver de fato uma constelação de satélites
com tecnologia de radar de abertura sintética (SAR, sigla em inglês), capaz de
imagear a superfície terrestre independente de luz e cobertura de nuvens, no
âmbito do projeto SAOCOM. O projeto, que integra o Plano Espacial Nacional e é
tocado pela Comisión Nacional de Actividades Espaciales (CONAE) prevê a
construção de duas constelações, a SAOCOM 1 e SAOCOM 2, cada uma sendo composta
por dois satélites. Os artefatos da primeira constelação estão em
desenvolvimento e devem ser lançados a partir de 2017, tendo vida útil estimada
em cinco anos. Contarão com um sensor radar operando em banda L, com resolução
espacial entre 10 e 100 metros e cobertura de 35 a 350 km, com diferentes
ângulos de observação. Quando em operação, o SAOCOM integrará o Sistema
Ítalo-Argentino de Satélites para a Gestão de Emergências (SIASGE), considerado
único no mundo, que envolverá a integração dos satélites argentinos com a
constelação italiana COSMO-SkyMed.
Outro projeto nos planos argentinos é o do Satélite Argentino-Brasileiro de
Informações Ambientais Marítimas - SABIA-Mar (designado localmente como SAC-E),
discutido desde o final de 1998 com o vizinho, mas que apenas recentemente
recebeu um novo impulso para a sua viabilização.
Bolívia
Apesar de ser um dos países mais pobres da América do
Sul, durante o governo de Evo Morales a Bolívia buscou estruturar um programa
espacial, e seu primeiro projeto concretizado foi o de um satélite
geoestacionário de comunicações, o Tupac Katari, adquirido na China em dezembro
de 2010 e lançado ao espaço no final de 2013. Desde então, um sistema de
observação também está nos planos do governo local, para aplicações como o
monitoramento de recursos minerais, muito embora não existam indicativos claros
sobre a negociação e mesmo disponibilização de recursos para a aquisição. O
satélite já tem até um nome definido – Bartolina Sisa, esposa de Tupac Katari,
uma liderança indígena da história boliviana, com especificações também já
definidas pela Agência Boliviana Espacial (ABE).
Apesar do programa espacial ter se iniciado com apoio chinês, o caminho para a
obtenção de seu satélite de observação não necessariamente passa por Pequim.
Segundo declarações dadas por representantes da ABE, várias empresas
demonstraram interesse em cooperar com a Bolívia na obtenção de seu próprio
satélite, dentre as quais a China, França, Reino Unido, Espanha, Argentina,
Rússia e Japão. Nota-se que o governo e empresas francesas, que nos últimos
anos já fecharam negócios com a Bolívia envolvendo a venda de helicópteros e
sistemas de radares, estão bastante empenhadas em participar.
As estimativas de custos do projeto oscilam entre US$ 100 e 200 milhões, a
depender da especificação final do sistema, e aguarda-se para breve uma
definição sobre a disponibilização de recursos e definição do fabricante.
[Nota do blog: após o fechamento do artigo (setembro de 2016), surgiram
notícias na imprensa boliviana indicando que o governo teria decidido
"atrasar" o projeto de seu satélite de observação, passando a
priorizar a encomenda de um segundo satélite de comunicações, o Túpac Katari
II, para lançamento em 2021. A alegada razão seria o fato de que o satélite de
comunicações geraria receitas financeiras, enquanto que o sistema de observação
exigiria investimentos públicos que não seriam facilmente recuperados, não
sendo o momento atual o mais adequado para tal investimento.]
Brasil
O Brasil foi pioneiro no continente sul-americano na exploração espacial,
inclusive em sensoriamento remoto a partir do espaço. Em abril de 1973, o País
se tornou o terceiro no mundo – depois dos Estados Unidos e do Canadá – a
dispor de uma estação terrena de imagens de satélite, no caso, o
norte-americano ERTS-1 (que originou a família Landsat), instalada em Cuiabá
(MT) e operada pelo INPE. A busca pelo desenvolvimento de alguma autonomia em
imageamento a partir do espaço veio com a Missão Espacial Completa Brasileira
(MECB), lançada pelo governo no final da década de 1970, objetivando
capacitações nos segmentos de lançadores (programa VLS), satélites e
infraestrutura terrestre (laboratórios e centros de lançamento). A MECB previu
o desenvolvimento e construção de dois satélites de sensoriamento, começando-se
pelo SSR-1, que mais tarde veio a ser conhecido como Amazônia-1.
Após uma série de dificuldades tecnológicas e administrativas, a conclusão do
Amazônia-1 é aguardada para os próximos anos, em 2018, após investimentos de
cerca de R$ 200 milhões, e que contou com extensa contratação junto à indústria
nacional. Baseado na Plataforma Multimissão (PMM), desenvolvida pelo INPE em conjunto
com a indústria nacional, será equipado com uma câmera de visada larga com 40
metros de resolução e faixa de cobertura superior a 700 km, que produzirá
imagens da Terra para aplicações no agronegócio, meio-ambiente, monitoramento
de recursos naturais e em outros fins. Após o lançamento do Amazônia-1,
espera-se que outros dois artefatos sejam colocados em órbita nos anos
seguintes, o Amazônia-1B e o Amazônia-2.
Quase dez anos após a MECB, os governos do Brasil e da China assinaram um
acordo de cooperação tecnológica visando ao desenvolvimento de dois avançados
satélites de sensoriamento emoto, dentro do programa denominado CBERS
(China-Brazil Earth Resources Satellite), que desde então tem contribuído
significativamente para a capacidade nacional em obter, processar e interpretar
imagens geradas a partir do espaço.
O acordo assinado em 1988 contemplava o desenvolvimento e construção de dois
satélites idênticos de sensoriamento remoto equipados com sensores óticos. Nos
dois primeiros satélites, as responsabilidades não foram divididas
igualitariamente: à China, caberia o desenvolvimento, fabricação e custeio do
equivalente a 70% do projeto, enquanto que à parte brasileira os 30% restantes.
O primeiro modelo, o CBERS 1, foi colocado em órbita heliossíncrona, a 778 km
de altitude, em 14 de outubro de 1999, e operou até 2003, superando em quase
100% o tempo de sua vida útil estimada de dois anos. O segundo, por sua vez,
subiu ao espaço em 21 de outubro de 2003. Em novembro de 2002, os dois governos
firmaram um novo acordo prevendo a continuidade do CBERS com a construção de
outras duas unidades - CBERS 3 e 4, maiores e mais sofi sticados, com sensores
óticos com resoluções na faixa de 5 a 70 metros. Nesse novo acordo, definiu-se
também uma nova divisão dos investimentos, agora igualitária, cada um
respondendo por 50%.
Após a colocação em órbita do CBERS 2, e considerando que o CBERS 3 seria
lançado apenas mais adiante, o INPE e sua contraparte chinesa decidiram
construir um novo satélite idêntico aos de primeira geração, chamado CBERS 2B,
de modo a cobrir o hiato da retirada de operação do último satélite da primeira
série e a entrada de seu sucessor da segunda série. O CBERS 2B foi lançado em
setembro de 2007.
O CBERS 3 foi perdido numa falha do lançador chinês no início de dezembro de
2013, o que levou a uma aceleração do cronograma para a colocação em órbita do
CBERS 4, de forma a minimizar os danos causados pela ausência de um satélite da
série em funcionamento. Na manhã de 7 de dezembro, a partir da base de Taiyuan,
a cerca de 700 km de Pequim, o foguete Longa Marcha 4B decolou e, 12,5 minutos
mais tarde, inseriu em órbita o CBERS 4.
Em razão da perda do CBERS 3 e considerando a vida útil estimada em três anos
do CBERS 4, os governos do Brasil e da China optaram por construir um terceiro
artefato da segunda geração da família, o CBERS 4A, que se aproveitará de
componentes e subsistemas já contratados e construídos no processo de
desenvolvimento dos modelos anteriores. O equipamento deve ser lançado ao espaço
em setembro de 2018, e o desenvolvimento de uma terceira família, com mais dois
satélites (CBERS-5 e 6) está em discussão no âmbito do Plano Decenal de
Cooperação Espacial Brasil-China 2013-2022.
As imagens geradas pelo CBERS são utilizadas em programas de monitoramento do
desmatamento na Amazônia, bem como em aplicações voltadas para a vegetação, a
agricultura, o meio ambiente, o gerenciamento hídrico, a cartografia, a
geologia, o gerenciamento de desastres naturais e a educação sobre temas ambientais.
O INPE tem também trabalhado há vários anos no conceito de um satélite radar
(SAR), que inicialmente seria desenvolvido em conjunto com instituições da
Alemanha, baseado na PMM. O sistema é tido como essencial para as necessidades
brasileiras, em particular no monitoramento do desmatamento na Amazônia, tendo
em vista sua capacidade de imageamento em quaisquer condições de tempo. No
projeto atual, conforme previsto no Programa Nacional de Atividades Espaciais -
PNAE 2012 - 2021, o SAR deverá dotado de um imageador radar de abertura
sintética, operando em vários modos, com múltiplas resoluções na faixa de 5 a
30 metros, destinado a aplicações voltadas ao meio-ambiente, agricultura,
defesa, entre outras. Seu lançamento é previsto para 2020, muito embora ainda
faltem definições quanto a tecnologia a ser adotada e possível cooperação
internacional.
Outra missão nos planos da Agência Espacial Brasileira (AEB) e INPE é a
SABIA-Mar, desenvolvida em conjunto pelo Brasil e a Argentina. Trata-se de um
sistema completo de observação da Terra dedicado ao sensoriamento remoto de
sistemas aquáticos oceânicos e costeiros incluindo águas interiores, baseado em
uma constelação de dois satélites. Junto à missão primária, os artefatos
poderão, também, observar águas interiores, e obter dados em escala global da
cor dos oceanos. Suas imagens poderão ser usadas em aplicações relacionadas à
pesca e na aquicultura, no gerenciamento costeiro, no monitoramento de recifes
de coral, de florações de algas nocivas e de derrames de óleo, na previsão do
tempo, na análise da qualidade das águas, entre outras. A partilha das tarefas
no desenvolvimento dos satélites será de 50% para cada país, sendo que o
projeto se encontra em fase preliminar.
No campo militar, desde a aprovação pelo Comando da Aeronáutica das diretrizes
para a aprovação do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE),
passou-se a ter um panorama mais claro sobre as demandas das Forças Armadas por
dados gerados a partir do espaço, assim como as estratégias para o seu atendimento.
O PESE considera a constituição de uma constelação própria de satélites para
fins de observação terrestre – tanto óticos como radares, meteorologia,
navegação e comunicações, dentre outras finalidades, cuja viabilização depende
da disponibilização de recursos orçamentários. No rol de prioridades do PESE,
meios de observação, em especial óticos, ocupam o topo, e acredita-se que uma
concorrência possa ser iniciada dentro dos próximos anos.
Mais recentemente, embora ainda em fase muito embrionária, começou a ser
discutido um projeto de pequeno satélite de observação para o atendimento de
demandas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) quanto
ao monitoramento de propriedades rurais. Um acordo de cooperação técnica foi
assinado em maio entre o INCRA e a Agência Espacial Brasileira (AEB), e a
depender da disponibilidade de orçamento e interação com outros projetos
constantes do PNAE e PESE, poderia levar à operação de um pequeno satélite
ótico, a ser denominado Incra Sat, a partir de 2021.
Colômbia
Um dos países do continente que mais tem crescido nos últimos anos - a previsão
é de que nos próximos anos supere a Argentina, tornando-se a terceira maior
economia da América Latina, atrás apenas do Brasil e México - a Colômbia também
considera em seus planos estratégicos a obtenção de capacidade autônoma de
observação terrestre a partir do espaço. Há gestões da Comisión Colombiana del
Espacio (CCE), vinculada à Vice-Presidência da República, para o
desenvolvimento de um programa satelital, iniciativa que deverá envolver
parcerias com governos e indústrias estrangeiras.
Em setembro de 2015, os processos iniciais visando à aquisição de seu satélite
foram interrompidos por orientação do vice-presidente, Gérman Vargas Llera, sob
o argumento de que a compra de imagens diretamente por entidades governamentais
apresentaria um custo inferior à aquisição de um sistema próprio, argumentação
sujeita à críticas e questionamentos mesmo em seu país.
Chile
Em julho de 2008, após um processo de seleção que envolveu os principais
fabricantes do mundo, o Chile se tornou o terceiro país do continente a
contratar um sistema espacial de observação, encomendando um microssatélite
junto à europeia Astrium, hoje parte da Airbus Defence and Space, num negócio
avaliado em US$ 72 milhões.
Lançado no final de 2011, o SSOT (Sistema Satelital de Observación de la
Tierra), também conhecido localmente como Fasat Charlie, é uma missão dual, com
aplicações civis e militares, encomendado pelo Ministério da Defesa do Chile em
julho de 2008. O satélite tem 117 kg de massa e conta com um sensor ótico capaz
de produzir imagens com 1,45 metros de resolução, para aplicações como
mapeamento, agricultura e gerenciamento de recursos e desastres naturais. Sua
vida útil é estimada em cinco anos. A partir de uma estação terrestre em
Santiago, o satélite é operado por uma equipe de engenheiros chilenos,
treinados nas instalações da Airbus Defence and Space, em Toulouse, no sul da
França, onde o sistema e o satélite foram desenvolvidos e construídos.
Com a proximidade do término da vida útil do SSOT, Santiago tem considerado
alternativas para a manutenção e mesmo ampliação de sua capacidade de
observação a partir do espaço, em nova concorrência que deverá atrair a
participação dos principais fabricantes globais. O governo francês e a Airbus
Defence and Space firmaram novos acordos e iniciativas de cooperação com
entidades chilenas visando pavimentar o caminho para a continuidade da parceria
iniciada com o Fasat Charlie, mas outros países e empresas interessadas, com
destaque para a China e Israel também tem buscado se posicionar para fornecer
suas tecnologias ao país andino.
Peru
Seguindo o exemplo de seus vizinhos, o Peru também avançou na busca dessa
capacidade. As intenções peruanas datam de 2006, mas foram celeradas a partir
do momento em que o Chile, um rival histórico, passou a contar com seu sistema
próprio, em julho de 2008, culminando, em abril de 2014, com a contratação da
Airbus Defence and Space para o desenvolvimento e construção de seu primeiro
satélite, denominado PerúSAT-1. A contratação se deu após uma intensa
concorrência promovida pelo Ministério da Defesa e pela Agência Espacial do
Peru (CONIDA), da qual participaram fabricantes da França, Israel, Espanha e
Coréia do Sul, entre outros.
A seleção da proposta da Airbus Defence and Space por parte do governo peruano
foi fundamental para a consolidação de sua presença na região, um mercado que,
embora pequeno, é considerado muito importante, segundo Christophe Roux, vice-presidente
do grupo para a América Latina. A Airbus está atenta a outras possibilidades na
América do Sul, como o Chile, Bolívia e Brasil, e tem seguido uma estratégia de
oferecer treinamento, transferência de conhecimento e acesso a serviços de imagens,
e em determinados casos, como no Brasil, industrialização local e transferência
tecnológica.
O projeto peruano, estimado em cerca de US$ 200 milhões, inclui um satélite
ótico de última geração dotado de um sensor de alta resolução (derivado da
família Naomi), assim como um centro de controle, recepção e processamento de
imagens, chamado Centro Nacional de Operaciones de Imágenes Satelitales del
Perú (CNOIS), que abrigará o segmento terrestre de controle, recepção e
processamento dos dados do satélite. Também abrange um pacote de absorção
tecnológica por meio do treinamento de engenheiros e técnicos peruanos, além do
fornecimento de imagens geradas por satélites óticos e radares da constelação
própria da Airbus Defence and Space.
O PerúSAT-1 foi construído em torno de uma plataforma AstroBus-S, compacta e
altamente flexível, utilizada em missões como as do Pléiades, SPOT 6 e 7,
Ingenio (Espanha) e KazEOSat-1 (Cazaquistão). Contará com um sensor ótico com
resolução de 70 centímetros, a mais avançada da América Latina. O modelo, que
terá massa próxima de 400 kg e será posicionado a 694 km de altitude, foi
construído em menos de dois anos, e produzirá dados para gestão de áreas
terrestres, controle de fronteiras e combate ao tráfico de drogas. Suas imagens
poderão também ser utilizadas para apoio e gestão de missões humanitárias e em
casos de desastres naturais, como enchentes, incêndios florestais,
deslizamentos e erosões.
No início de agosto, o PerúSAT-1 foi transportado de Toulouse para Kourou, na
Guiana Francesa, de onde será lançado ao espaço em setembro, a bordo de um
foguete Vega, operado pela Arianespace
[Nota do blog: o PerúSAT-1 foi colocado em órbita com sucesso em 16 de setembro. No início
de outubro, a Airbus divulgou publicamente a entrega de suas primeiras imagens,
como a tela abaixo, da mina de cobre Cuajone, localizada no sul do Peru.]
Venezuela
Em seu governo, o falecido presidente Hugo Chávez buscou
colocar a Venezuela em situações de independência em alguns setores
considerados estratégicos, como comunicações e observação terrestre. O primeiro
passo dado foi a aquisição de um satélite de comunicações, o Venesat-1,
comprado da chinesa China Great Wall Industry Corporation (CWIC) e inserido em
órbita no final de 2008. O passo seguinte, seguindo a tendência mundial, foi um
satélite de observação terrestre, gozando da parceria espacial mantida com os
chineses desde o Venesat-1, num investimento de US$ 140 milhões.
A contratação para a construção do satélite, chamado de
Francisco Miranda, mas também designado como VRSS-1 (Venezuelan Remote Sensing
Satellite) ocorreu em maio de 2011, e representou o segundo satélite
desenvolvido pela estatal CGWIC para o governo venezuelano - o primeiro,
lançado em outubro de 2008, foi o satélite de comunicações Venesat-1. O VRSS-1
também representa o primeiro satélite de observação exportado pela hina, que se
busca firmar como player nesse segmento, a exemplo do que já acontece em
comunicações.
O Francisco Miranda foi lançado ao espaço em outubro de 2011 por um foguete
Longa Marcha 2D, a partir do centro espacial de Jiquan, no noroeste da China. O
VRSS-1 é capaz de produzir imagens com 2,5 metros de resolução, gerando em
torno de 350 imagens por dia. Seus dados têm sido utilizados para operações de
planejamento urbano, monitoramento ambiental, de mineração ilegal e tráfico de
drogas, além de aplicações em defesa. Sua operação está a cargo da Estação
Terrena de Controle Satelital localizada na Base Aeroespacial Capitán Manel
Rios (BAMARI), a cerca de 190 km de Caracas. Apesar da forte crise política e
econômica, a Venezuela segue adiante com suas iniciativas em sensoriamento
remoto com o satélite José Antonio de Sucre (VRSS-2), com lançamento previsto
para setembro de 2017 e investimentos totais estimados em US$ 170 milhões. A
exemplo dos modelos anteriores, o Sucre está sendo construído na China e
recentemente teve concluída com êxito a fase de revisão crítica do projeto
(CDR, sigla em inglês), conduzida por especialistas chineses e venezuelanos. De
acordo com informações divulgadas na mídia local, o Sucre terá massa estimada
em 1.000 kg, contando com um sensor ótico de alta resolução, apto a produzir
imagens de até 1 metro com faixa de 30 km, e também com uma câmera
infravermelha.
Fonte: Blog Panorama Espacial - http://panoramaespacial.blogspot.com.br/
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