Dos Males do Antiamericanismo

Olá leitor!

Segue abaixo um interessantíssimo artigo opinião postada ontem (31/10) no site do jornal “O Estado de São Paulo”. Leia com bastante atenção vale a pena conferir.

Duda Falcão

OPINIÃO

Dos Males do Antiamericanismo

A rigor, por causa disso acabamos por perder recursos e oportunidades

Fábio Biazzi*
ESTADÃO
31/10/2016 - 03h11

Na última década, fomos capazes de estreitar relações com Cuba, Iraque, Venezuela e Angola – dentre outras nações vanguardistas do cenário político e econômico mundial –, mas não com os Estados Unidos. No mais emblemático dos casos desse período envolvendo uma eventual parceria com os americanos, fizemos questão de desqualificar o melhor produto, que concorria com preço competitivo. Os caças F/A-18 Super Hornet, da Boeing, preferidos pelos nossos militares, únicos testados com sucesso em combate, foram, primeiro, preteridos por causa de uma exigência de transferência de tecnologia (depois atendida pela empresa) e posteriormente, na falta de outra desculpa, por um suposto mal-estar provocado pelo vazamento de práticas de espionagem do governo americano no caso WikiLeaks.

Se não é exatamente uma surpresa os governos do PT terem certa ojeriza dos ianques, é interessante perceber que nosso sentimento antiamericano vai além dos simpatizantes das ideias socialistas e afins. Embora não difundido por toda a população, esse sentimento extrapola a classe dos nossos políticos – quase todos autoproclamados de esquerda ou centro-esquerda – e se estende principalmente pelas camadas ditas mais esclarecidas, particularmente entre acadêmicos e “intelectuais” diversos.

Há 20 anos, Alvaro Vargas Llosa, Plinio Mendoza e Carlos Alberto Montaner lançaram o Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano, que trata com muita inteligência e ironia das crenças predominantes nesta região do mundo sobre as causas de nossa pobreza e nosso atraso. Nele retratam que nenhum preconceito, ressentimento ou desculpa pelos nossos fracassos é tão difundido quanto o antiamericanismo, dado que por estas bandas os americanos são considerados não apenas como a quintessência dos valores burgueses e do liberalismo, mas também do consumismo e da exploração imperialista dos fracos da Terra. Segundo eles, as origens dessa crença – dos Estados Unidos como fonte primal dos nossos males – se encontram na cultura hispano-católica, na visão econômica nacionalista ou marxista, na história de conflitos armados entre os EUA e os países ao sul e ainda em sentimentos antagônicos de inveja e admiração.

Em nosso caso, seria cabível desprezar o elemento bélico – seguramente nunca entramos num embate com os gringos; mas talvez acrescentar aquele fator de ordem acadêmica, dada a inclinação histórica de boa parte dos nossos professores e doutores – em especial nas universidades públicas – por autores europeus. Principalmente a França, a Alemanha, a Itália e mesmo a Inglaterra sempre foram olhadas – certamente com razão – como fontes inequívocas e legítimas de teorias, conceitos, estudos e análises, sem as reservas não raramente dirigidas aos americanos. Em minha prosaica, embora longa, passagem – de 1980 a 2005 – pela Universidade de São Paulo fui beneficiado pela frequente exposição às ideias e obras de europeus, porém desproporcionais reduzidas vezes aos acadêmicos e pensadores dos Estados Unidos. Ao menos em minha vivência, essa predileção pelos europeus se fazia presente nas aulas ligadas aos mais diversos temas. Para minha sorte e melhor formação, fui orientado por um excepcional professor que não sofre e nunca sofreu desse viés, ele mesmo estudou na californiana Stanford University durante seu doutorado.

Voltando aos dias de hoje, é verdade que a prática se tem imposto ao pensamento antiamericano com significativa força: são centenas de milhares de brasileiros que estudaram e estudam nos EUA, o número de turistas brasileiros por lá é da ordem de mais de 1 milhão/ano, são também cerca de 1 milhão os brasileiros que migraram para lá e a grande maioria dos 85% de conteúdo internacional das TVs por assinatura no País vem dos Estados Unidos, apenas para citar alguns números. Por outro lado, embora ainda uma das oito maiores economias do mundo, o Brasil é destino de apenas 2% das exportações dos EUA (11.ª posição) e apenas 1% da origem das importações americanas (17.ª posição).

A rigor, com nosso antiamericanismo acabamos por perder recursos e oportunidades. Perdemos recursos porque poderíamos intensificar e tornar mais vantajosas as trocas comerciais entre os dois países e também perdemos oportunidades de desenvolvimento de nossa sociedade por deixarmos de admitir que temos o que aprender com eles em inúmeras frentes, como educação, tecnologia, economia, infraestrutura, gestão pública e cidadania.

Ninguém precisa admirar a Associação Nacional do Rifle ou gostar de Donald Trump, mas ignorar a priori todas as contribuições e os avanços americanos é um total nonsense. Seria importante que, ao menos a partir de agora, tivéssemos uma posição estruturada, institucional, constante e atuante a favor do estreitamento e fortalecimento da relação Brasil-Estados Unidos. Os primeiros sinais da nova fase do Ministério das Relações Exteriores parecem muito promissores. Que a tendência prossiga e independa deste ou daquele titular do Itamaraty.

Para finalizar, vale a pena resgatar uma história que novamente tem que ver com aviões: em 1943 e 1944, Casimiro Montenegro, militar e aviador, fez uma série de visitas ao Massachusetts Institute of Technology, o MIT, com a ideia de desenvolver a Aeronáutica no Brasil. Com a colaboração do chefe do Departamento de Engenharia Aeronáutica do MIT, Richard Habert Smith, concebeu o Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), que viria a ser fundado em 1950. Como consequência direta da existência do ITA, e tendo-o como condição sine qua non, surgiu em 1969 a Embraer, das mãos de um grupo de iteanos liderado por Ozires Silva. Passados quase 50 anos, a Embraer é hoje uma das quatro maiores empresas de aviação civil do planeta, na companhia da americana Boeing, do consórcio europeu Airbus e da canadense Bombardier.

*Engenheiro de produção, doutor em engenharia pela USP, diretor executivo e consultor de gestão, é professor de liderança e comportamento organizacional do MBA executivo do Insper.


Fonte: Site do Jornal O Estado de São Paulo – 31/10/2016

Comentário: Parabéns Fábio pela visão, você está certíssimo e fico ainda mais satisfeito por saber que o artigo partiu de um professor da USP. Porém você expõe as suas colocações partindo de um ponto que é uma completa e inteira fantasia, ou seja, o interesse real de nossos governantes (independente de sua filiação partidária) de verdadeiramente construir uma nação, isto não existe, não há interesse, não há competência e muito menos comprometimento com este objetivo, o que há é a cultura do populismo empregada por esses vermes em prol de seus interesses nefastos. Quem tá mal intencionado Fábio, não irá colaborar para perder a oportunidade oferecida pela cultura vigente, coisa que certamente ocorreria se eles partissem para implantar um verdadeiro Plano Nacional de Desenvolvimento, com educação de qualidade, saúde de qualidade, transporte de qualidade, etc... Isto Fabio, geraria um povo educado, saudável, politizado e cada vez mais exigente, coisa que nenhum populista de merda quer que aconteça. Em outras palavras, quanto menos educado, mais doente, com menos transporte (tudo dentro da proporcionalidade) é mais fácil manipular se valendo da ignorância e da necessidade do povo. Tudo que você disse é verdade, os americanos não são mal, nem bem, só defendem com eficiência e visão os seus interesses e realmente deveríamos estar seguindo a receita de sucesso deles, aprendendo com eles, e se possível igualando ou os superando. Entretanto Fabio isto só seria possível se partíssemos da existência no Brasil de governos sérios e comprometidos, ou seja, de um universo que ainda não existe dentro da politica Brasileira, e talvez jamais tenha existido, com exceção do período militar. Diante disto, tendo a frente esses vermes nos representando, esta aproximação com os EUA pode ser mais nefasta para o Brasil do que benéfica, seja por incompetência ou mesmo por negociatas que possam surgir se levarmos em conta a índole desses energúmenos e o interesse americano de fazer o melhor para sua sociedade. Uma vez mais parabéns pelo artigo.

Comentários

  1. Os EUA são um país imperialista ou não são? Essa é a questão. Sem fazer qualquer juízo de valor se isso é bom ou ruim para eles ou outros povos, sem esquerdismos patológicos, o fato é que o país é mesmo imperialista. Sendo assim, é natural que outros povos tenham certa desconfiança dos ianques – pois ninguém quer ser dominado.

    No caso do Brasil, um país grande e rico em recursos, é mais evidente ainda que não queiramos nos submeter a quem quer que seja. Isso não tem nada a ver com antiamericanismo. Qualquer nação que tente subjugar esse país, ainda que de forma sorrateira, terá como reação a desconfiança. Pode ser estadunidense, chinês, francês, inglês, russo, ou seja lá o que for.

    O texto publicado no Estado de São Paulo é bastante equivocado no que tange às razões do que ele chama de antiamericanismo. Na verdade, a questão é o anticolonialismo. Não é simplesmente uma questão emocional, de inveja ou admiração como ele colocou – infantilizando a questão. É uma questão de negócios, de controle tecnológico e estratégia de dominação. O WikiLeaks foi bem claro em relação a isso.

    O problema maior não é a nação imperialista, mas as cabeças que formam a nação a ser dominada. E aqui, sinceramente, não vejo massa crítica para sairmos dessa penúria. Os vermes que estão no poder, com suas agendas ocultas e infinita incompetência, inseridos em um regime “representativo” que simplesmente não funciona, não se esquivarão de acabar com nossa maltratada indústria de defesa (e espacial) em nome de uma suposta eficiência.

    Como você diz: a situação do país é gravíssima.

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    1. Márcio, além do desmonte na área de defesa, coloca-se nesse mesmo planejamento, o desmonte na utilização dos recursos naturais pelo setor público; o ruim de nossa classe política é que ou perdemos para o entreguismo estrangeiro ou para a corrupção interna, a sangria na sociedade brasileira acontece pelos dois lados, infelizmente.

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