SHEFEX-3 Alemão Não Será Mais Lançado Pelo VLM-1

Olá leitor!

Talvez o título deste artigo já não seja novidade para o nosso Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e para alguns profissionais do setor, mas a verdade é que para o público que acompanha (tenta pelo menos) o nosso desprestigiado e abandonado Programa Espacial de Brinquedo (PEB), sem dúvida essa notícia é uma bomba e extremamente negativa e preocupante, mais uma.

Mesmo antes do lançamento do Experimento SHEFEXX-2 em 2012, já se havia anunciado tanto pelo IAE como pelo DLR, em eventos astronáuticos diversos ou em arquivos PDFs disponibilizados na rede de que, o lançamento do experimento alemão denominado SHEFEX-3 (SHarp Edge Flying EXperiment 3) seria realizado pelo Veículo Lançador de Microssatélites (VLM-1) em um voo suborbital, e posteriormente de que este lançamento seria realizado da Base de Lançamento de Alcântara (CLA), mas precisamente da mesma Torre construída para lançar o agora abandonado VLS-1.

Entretanto leitor, navegando na net encontrei um artigo em PDF intitulado “SHEFEX-3 Optimal Feedback Entry Guidance” (em tradução livre algo como "SHEFEX-3 Gabarito Ideal de Orientação de Entrada"veja aqui) onde no final de sua terceira página esta escrito o seguinte:

“SHEFEX-3 is foreseen to be launched in 2016. The current launch site is again Andøya. The spacecraft will be launched with a rocket based on the brazilian engine S-44.”

Em Português: “Shefex-3 está previsto para ser lançado em 2016. Local de lançamento atual é novamente Andøya. A nave espacial será lançada com um foguete baseado no motor brasileiro S-44.”

Diante disso leitor, tudo leva a crer que agora o voo do SHEFEX-3 será realizado por outro VS-40M (como ocorreu com o SHEFEX-2) e que será realizado de Andøya, não mais de Alcântara como se esperava.

A trajetória de voo do provável VS-40M
com o Experimento SHEFEX-3 abordo.

Alguns leitores podem agora está se perguntando, mas Duda o que houve ??? E outros, porque a missão do SHEFEX-3 era tão importante para o Brasil ????

Bem leitor a resposta à primeira pergunta é fácil de compreender e difícil de aceitar. Respondendo-a eu diria falta de COMPROMISSO do Brasil em cumprir prazos do Projeto do VLM-1, e assim o experimento SHEFEX-3 ficou pronto e eles tiveram de encontrar uma solução alternativa que, felizmente para nós, o escolhido foi ainda um foguete brasileiro, isto talvez por ser mais em conta (mais barato), está disponível e também pelo impactante sucesso do voo anterior.

Vale lembrar que os alemães até chegaram adiar o lançamento do SHEFERX-3 por um ano (de 2015 para 2016), não sei se pelo atraso no cronograma do VLM-1 ou do próprio experimento, ou ambos, mas a verdade é que para nós essa mudança de lançador foi um desastre em vários aspectos e também levanta vários questionamentos, todos eles relacionados com a segunda pergunta.

Porém antes de entramos nesta questão, vale aqui ressaltar leitor que até onde eu sei este artigo (conference paper) foi apresentado primeiramente em 2014 na Conferencia do American Institute of Aeronautics and Astronautics (AIAA), evento este realizado em San Diego, na Califórnia (EUA) de 04 a 07 de agosto daquele ano. Isto significa leitor evidentemente de que o IAE já tinha em 2014 (ou até antes) pelo menos o conhecimento de que o acordo para o uso VLM-1 tinha melado.

Bem leitor para responder a pergunta sobre o porquê da importância para o Brasil deste lançamento do SHEFEX-3 com o VLM-1 a ser realizado de Alcântara, temos de retornar no tempo, ao primeiro dos tais "Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE)" de nossa Agencia Espacial de Brinquedo (AEB), ou seja, ao PNAE 1998-2007, que foi quando apareceu pela primeira vez o Projeto do VLM-1.

Porém já na sua segunda edição o projeto simplesmente saiu de pauta e foi esquecido, até que por volta de 2007/2008 (creio eu), após uma bem sucedida parceria que até aquela época já tinha resultado no desenvolvimento conjunto exitoso de dois novos foguetes (VS-30/Orion e o VSB-30), o DLR alemão procurou o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) para encontrar uma solução de transporte para o Experimento SHEFEX-II e também para a continuidade deste programa.

Foi neste momento que o IAE visualizou a oportunidade de tirar do papel o projeto do VLM e o apresentou ao lado do VS-40, foguete que só havia efetuado até aquela data dois voos, ambos exitosos, um deles inclusive com uma carga útil de 500kg da empresa holandesa Fokker Space (Operação Livramento).

A partir daí as negociações avançaram, o VS-40 foi aprimorado passando a se chamar VS-40M, as pesquisas tecnológicas se iniciaram em torno do Projeto do VLM, que teve sua configuração modificada passando a se chamar de VLM-1, de onde surgiu novas negociações para o desenvolvimento de um novo foguete de sondagem chamado VS-50 baseado no motor do primeiro estágio do futuro VLM-1. Finalmente na noite de 22 de junho de 2012, o novo foguete VS-40M foi lançado exitosamente da Base de Andøya, na Noruega, tendo abordo o experimento SHEFEX-II, em uma missão inesquecível para todos que estiveram presentes na base norueguesa. (veja aqui)

“Com o tempo bonito o lançamento teve uma contagem regressiva perfeita. Foi um lançamento espetacular, com som, chamas e um grande motor que subiu rápido no ar”, disse com entusiasmo na época o gerente de operações do ASC (Andøya Space  Center), Kjell Boen

Após o sucesso do nosso VS-40M nesta Missão SHEFEX-2, as expectativas de todos eram enormes e bastantes positivas, os alemães estavam entusiasmados e certos de que tinha acertado novamente na pareceria com o IAE que, além de possibilitar os testes do Programa SHEFEX, com a viabilização do VLM-1 se abria para eles também uma nova alternativa barata de atender a um mercado que cresce ano a ano, o de acesso ao espaço de pequenos satélites e microssatélites.

Para o Brasil era a oportunidade que precisávamos para tirarmos do papel este interessante projeto baseado no Veiculo Lançador Israelense SHAVIT, certo? Nem tanto. Na realidade a oportunidade poderia ser boa na época para a diretoria do IAE e era mesmo, eu diria extraordinária, mas esqueceram de combinar adequadamente um plano de ação política com o Comandante Tenente-Brigadeiro JUNITI SAITO (não sou de ficar em cima de muro, em minha opinião um comandante tremendamente omisso, conivente, irresponsável e deslumbrado com o poder) e pincipalmente com o humorista LULA e sua sucessora debiloide DILMA ROUSSEFF.

Diante do avanço das negociações entre o IAE e o DLR, em 2013, com um ano de atraso, a nossa Agencia Espacial de Brinquedo (AEB) sob o comando de um tremendo banana tapa buraco, lançou uma nova edição do tal Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) para o período 2012-2021, onde constava uma concepção artística do novo VLM-1 e de tantos outros projetos fantasiosos que nem vale a pena citar. Um livro muito bonito (um belo Antônio), não resta duvida, mas que segundo minha sobrinha de cinco anos não servia nem para ela riscar, e cá para nós leitor, não serve nem mesmo como papel higiênico.

Mas é verdade leitor é que de 2012 até (creio eu) pouco antes da apresentação deste ‘paper’ o projeto do VLM-1 não avançou como os alemães esperavam, passou por dificuldades que resultaram na saída do gerente do projeto do IAE, o Dr. Luís Eduardo Loures da Costa (hoje envolvido com o projeto do ITASAT-1 no ITA), e se juntamos esta notícia a notícia da participação do DLR no projeto SMILE europeu (veja aqui), tudo leva a crer que a parceria em torno do VLM-1 melou de vez.

Se a desistência alemã se confirmar, como tudo parece indicar agora, com isso as chances de tirarmos do papel este projeto de veículo lançador, se já eram pequenas mesmo com o apoio do DLR, simplesmente descem pelo ralo, pois não há interesse nenhum do governo brasileiro civil e populista em desenvolver lançador de satélites nenhum, isto está mais que provado, apesar de ninguém ter a coragem de admitir isso. Manter essa mentira é não só interessante para o governo que pode usá-las para suas barganhas políticas de ordem nacional e ‘internacional’, bem como para todos os envolvidos, pois mantem seus empregos, morando convenientemente onde querem, mas sem o menor compromisso (salvo algumas exceções). É aquela coisa leitor, se você que é meu chefe não se importa, porque eu haveria de me importar?

Dito isto, vamos a resposta da segunda pergunta, aquela do inicio deste artigo, ou seja,  porque a missão do SHEFEX-3 era tão importante para o Brasil ????

Bom leitor essa missão como estabelecida anteriormente era importante para o Brasil por diversos aspectos, científicos, tecnológicos, comercias bem como também políticos. Se não vejamos.

* Seria lançado uma carga útil alemã de grande apelo publico, o que atrairia a atenção do mundo e da mídia internacional apresentando a infraestrutura do CLA e a sua capacidade de lançamento, uma boa propaganda na busca pela sua sustentabilidade econômica. O mundo precisa conhecer a capacidade operacional deste centro de lançamento subutilizado brasileiro e nada melhor do que uma missão como essa como cartão de apresentação.

* Primeira e grande oportunidade de testarmos não só a nova Torre de Integração e Testes (TMI) do CLA, bem como o todo sistema integrado de lançamento da base e sua infraestrutura física e humana de apoio, ainda que em uma missão suborbital, mas que envolveria uma movimentação muito semelhante à de uma missão orbital.

* Testar em voo o nosso primeiro Veiculo Lançador de Satélites realmente com grandes chances de êxito, colocando assim de vez o nosso país entre as nações que dominam o ciclo completo de Acesso ao Espaço, nos tornando assim autossuficientes.

* Apresentar ao mundo e a nossa própria Sociedade o nosso foguete e sua capacidade de colocar pequenos e microssatélite de até 150 kg em órbitas baixas de até 300 Kg.

* Realizar um sonho e mostrar ao mundo que podemos sim, que somos brasileiros e podemos sim, que deixamos o tal do “Complexo de Vira-Lata” do Nelson Rodrigues de lado para nos tornamos uma verdadeira nação.

Pois é leitor, era mesmo uma missão muito importante para nós, mas que pelo visto não passou de um sonho, não sendo por acaso (outro indicio) de que já se fala nos bastidores de um possível acordo ente o INPE e o IAE visando o desenvolvimento pelo INPE de um Satélite Tecnológico (SATEC) para ser testado no voo de qualificação de VLM-1, que segundo o Sr. Braga Coelho, está previsto agora para ocorrer em 2018. Enfim... Será que é preciso dizer mais alguma coisa?????

Duda Falcão

Comentários

  1. Muito bem colocado Duda. O IAE já sabia disso desde 2013 e não sei se cumprirá mesmo essa missão com motor menor. Perder um parceiro (e oportunidades) como o DLR é cair na irrelevância.

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    1. Olá Sr. Heisenberg!

      Pois é nisso que eu me bato há tempos e são coisas como essa que ajudam a desacreditar a imagem do IAE e do PEB. Se eles já sabiam, porque não divulgaram expondo os motivos? Será que o governo da debiloide não deixou, já que assim exporia sua incompetência e a mentira contada pelo seu escudeiro banana? Não sei, mas a verdade é que perder essa oportunidade foi um desastre para o PEB, mas um protagonizado por esses petistas de merda.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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