CCST Quer Intensificar a Multidisciplinaridade e Ampliar a Comunicação Com a Sociedade

Olá leitor!

Segue abaixo uma interessante entrevista publicada no número 05 do Informativo do INPE de 08/04, com o pesquisador Jean Ometto, coordenador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) do instituto.

Duda Falcão

CCST Quer Intensificar a Multidisciplinaridade
e Ampliar a Comunicação Com a Sociedade

Informativo INPE
Número 05
08/04/2016

Coordenador do CCST,
Jean Ometto.
Na sequência das entrevistas sobre a discussão e elaboração do último Plano Diretor (2016-2019) nas diferentes áreas do Instituto, o INPE Informa traz nesta edição os desdobramentos deste processo no mais novo centro de pesquisa do INPE: o Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST). Jean Ometto, coordenador do CCST, afirma que o mais novo filho do INPE, criado em 2008, trouxe desafios e inovações que estão associados ao tratamento da temática das mudanças ambientais globais, seu principal enfoque. Um de seus mais importantes desafios está na busca constante do exercício da multidisciplinaridade de suas pesquisas. Por outro lado, o CCST inovou ao inserir as ciências sociais entre as disciplinas já tradicionais da cultura científica do Instituto.

Mesmo passando por um processo de consolidação de sua identidade, Ometto destaca que o CCST já vem trazendo contribuições significativas para o país, como a colaboração para o levantamento do inventário das emissões dos gases de efeito estufa, subsídios para o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA) e participação na construção do Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (BESM - Brazilian Earth System Model). Nesta entrevista, Ometto conta que o processo de discussão do Plano Diretor (2016-2019) foi uma oportunidade para o CCST repensar seu modelo interno de atuação, propor meios para intensificar o exercício da sua multidisciplinaridade e discutir a comunicação interna, procurando também definir meios para divulgar os resultados de sua pesquisa e estreitar suas relações com a sociedade. Confira a seguir a entrevista com Jean Ometto, coordenador do CCST.

- Antes de comentar como o CCST está planejando suas atividades para o período que cobre o novo Plano Diretor (2016-2019), poderia falar um pouco sobre a história do CCST, articulando esse contexto histórico com as diretrizes para os próximos anos?

Jean Ometto - O Plano Diretor veio em um período interessante para nós do CCST (Centro de Ciência do Sistema Terrestre). O CCST é novo, foi lançado em 2009. Não participei do processo de construção do Centro, do pensamento para a sua constituição. Mas sabemos que o Centro foi pensado dentro de uma lógica de se buscar, nessa questão de mudanças climáticas, de mudanças ambientais globais, um universo de pesquisas multidisciplinares, de temáticas não disciplinares, que envolvem uma gama enorme de temáticas científicas, de questões do dia-a-dia; um universo muito grande de processos.

Em geral, as ciências das mudanças climáticas tratam o planeta como um ‘sistema’ dentro de um arcabouço de modelagem. Pelo menos, nessa ótica, há uma leitura de integração e interdependência de processos. Essa questão passa, obviamente, pela atuação do Homem no meio. A partir dessa atuação, criando interdependência pela modificação do ambiente, discutimos e pesquisamos o que isso afeta na vida humana e altera processos considerados globais, como a constituição da atmosfera.

As ciências das mudanças climáticas do CCST tratam o
planeta como um ‘sistema’, dentro de uma perspectiva
de integração e interdependência de processos.

Acredito que esse foi o arcabouço que levou a proposta de um centro como esse; e foi criado dentro do INPE porque historicamente este é um instituto com um grande portfolio de ciência avançada, de ciência de ponta, e com uma inter-relação muito forte com instituições internacionais. De certa forma, o INPE já como partícipe desse movimento - de perceber a ciência de forma integrada - explica o fato de ter sido naturalmente escolhido hospedeiro para essa iniciativa. Tanto que o CCST foi proposto para iniciar suas atividades com servidores do próprio INPE, de diferentes coordenações. Não nasceu com pessoal vindo de fora para criar um universo novo dentro do INPE, como se observa nos processos de criação de outros institutos.

O CCST foi criado com servidores e bolsistas do INPE. O primeiro concurso em 2009 contratou apenas cinco pessoas. Outros migraram de outras áreas do Instituto, entendendo que essa proposta de ciência integrada poderia ser desenvolvida em um centro como esse. Eu cheguei nesse momento. Essa descrição anterior é o que entendo como processo de construção do CCST.

E por que falei que o Plano Diretor veio em um momento interessante? Porque do momento que o CCST foi criado dentro dessa configuração até o advento deste último Plano Diretor, esse período foi muito intenso para nós. Essa construção inicial não se manteve por muito tempo. Algumas pessoas entenderam que tinham outras prioridades. Então aquela conformação inicial do Centro, ao longo dos seus primeiros 4-5 anos, foi remodelada de um modo profundo. Muitas das pessoas que participaram desse processo inicial de construção deixaram de participar do processo de consolidação do Centro.

O que aconteceu com o Plano Diretor foi uma oportunidade, depois desse período que o CCST passou, para repensar a sua identidade, aproveitando também a chegada de alguns outros novos servidores. Como se repensa isso, uma identidade que tem que ser reconstruída? O CCST deve ser identificado dentro e fora do INPE com uma determinada característica, uma feição, de geração de ciência.

Inicialmente, pela lógica naquele contexto, a construção do CCST foi feita sobre linhas de pesquisa associadas a grupos e pessoas que construíram o Centro, ou que tinham ideias do que deveria ser o Centro. Pelo Plano Diretor anterior, foi assim que o CCST se constituiu. O Comitê Assessor da Coordenação do CCST seguia essa linha e o desenvolvimento de projetos era baseado nessa ideia.

O que fizemos na discussão desse novo Plano Diretor - que veio logo depois que eu assumi a coordenação - foi trazer a discussão, com alguns workshops e de forma ampla, de como revisitar as linhas de pesquisa - que têm suas propriedades, estão relacionadas a certas pessoas - e sem melindrar, sem criar uma atmosfera de cisão. A ideia foi trabalhar um arcabouço de interfaces. A proposta foi de que as linhas originais de pesquisa e outras em potencial fizessem um overlap, uma interconexão em três universos. O primeiro deles, o observacional, visto como o universo de coleta de amostras, observações em campo ou remotas, havendo ainda a coleta de informações. Buscamos entender, por exemplo, como são os processos de mudança de uso do solo nas perspectivas social, de impacto, de ciclagem de nutriente, etc. As linhas de pesquisa tinham que pensar nessa interação com a componente observacional e também com a de modelagem e outra que estamos chamando de diagnósticos e cenários, integração e geração de informações para políticas públicas.

- Nessas interfaces, tem gente trabalhando nelas ou são dinâmicas para que as áreas se integrem mais?

Jean Ometto – São dinâmicas simplesmente.

- Mas como fazer com que as pessoas se conversem mais?

Jean Ometto – Esse foi o começo da construção. As pessoas são disciplinares, em sua grande parte. Elas têm sua linha de atuação. O que buscamos e trouxemos como desafio foi, a partir das áreas disciplinares de cada um, que se pensasse em qual, ou quais, outras áreas dentro do CCST teriam interface. Por exemplo: será que uma pessoa que atua com eletricidade atmosférica teria interface com modelagem do uso do solo? Quem vai identificar isso são as próprias pessoas, disciplinares. O pessoal de modelagem de uso do solo tem muito a ver com agricultura. Isso é claro. Há interfaces que são claras, mas outras não. A interface não precisa cobrir toda a extensão daquela área temática. Muito pelo contrário. Há pessoas interessadas em aerossol na atmosfera, mas que não querem entender de onde vem, por exemplo. Claro, estou exagerando, mas podem estar mais interessadas na física, que é uma interface óbvia com o CPTEC; mas também tem gente aqui interessada nisso. Por outro lado, o aerossol na atmosfera tem a ver com a dinâmica do uso do solo, por conta das queimadas, adubação, do funcionamento de floresta. Aí está a interface. Esse foi o desafio. O que pensamos fazer? Vamos construir um Plano Diretor entendendo que as áreas têm as suas particularidades, mas que não são pilares, pilares não interagem.

- Vocês criaram uma dinâmica que permitisse a multidisciplinaridade funcionar?

Jean Ometto – Ou que pelo menos fosse exercitada. É muito difícil funcionar. O Plano Diretor foi um caminho nessa direção. Ele é todo segmentado. A gente tem agora algumas iniciativas que estão mostrando que a multidisciplinaridade pode interessar a várias áreas temáticas. Um projeto temático que submetemos recentemente à Fapesp é um exemplo disso. A construção desse projeto foi mais ou menos nessa linha.

Fizemos vários workshops no ano passado dessas diferentes áreas. Para o pessoal da modelagem, pedimos um workshop para entender onde estava a modelagem, quem está fazendo o que, para que e para onde. Foi um workshop só para o pessoal da modelagem e outro abrindo para os demais grupos do CCST. Aí veio o pessoal que faz observação de nitrogênio em rio, por exemplo, e que disse: - Que interessante, tem alguém modelando transporte em área terrestre para aquática! Isso permitiu criar esse ambiente. Claro, não é um universo absolutamente integrado, mas criaram-se oportunidades. Tanto que nossa figura (Fig.1) que está no Plano Diretor tenta refletir um pouco disso.

Figura 1 – Organização do CCST em componentes integrados
através de projetos transversais, visando à construção de
cenários de sustentabilidade para o Brasil.

Essas três áreas – sistema de observação, modelagem e diagnósticos e cenários - se interagem em projetos que são transversais, mas não necessariamente interagem com todas as áreas. Ao mesmo tempo, não há impedimentos que a área desenvolva algo próprio. Algumas áreas são bastante consolidadas, como o ELAT (Eletricidade Atmosférica), com 35 anos de INPE; a rede de observação Sonda (Sistema de Organização Nacional de Dados Ambientais) também. A área social é muito nova, até mesmo dentro do universo INPE, mas vem contribuindo com a discussão em diversas temáticas. Por exemplo, como entendermos um produto já consolidado do INPE e buscarmos perspectivas adicionais? Se olharmos para o mapa de potencial de produção de energia renovável (eólica/solar) e perguntarmos: será que esse mapa pode ser entendido dentro de uma ótica de cenário de mudança de uso do solo? Ou de cenário de alternativa energética? Outro exemplo: se há previsão de diminuição de chuva em uma determinada região, não podemos sugerir de parar de usar água para produzir energia e usá-la para outra coisa, e usar vento para produzir energia?

Dentro desse universo, temos contribuído, entre outras coisas, para o inventário nacional de emissão de gases do efeito estudo. Participamos da discussão sobre o mecanismo REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) no Brasil com a Coordenação de Observação da Terra (OBT). Por que temos feito isso? Porque algumas pessoas do CCST tem interface com esse tema. Como falar de REDD no Brasil se não falar de cenário de mudanças de uso do solo? Temos o mapeamento do desmatamento feito pela OBT. Mas como trazer esse mapeamento para a nossa prática, como traçar um cenário a partir disso, quais são as premissas? Entendemos os cenários como um projeto de transição, que inclui o pessoal da área de ciências sociais, de mudança do uso do solo, da biogeoquímica, porque afinal estamos falando de carbono. Como o carbono vem para a água, vai para o chão e para a atmosfera? Fizemos o Plano Diretor dentro dessa ótica.

Cenários são centrais à nossa proposta ao Plano Diretor. Cenários vão alimentar políticas públicas? Pode ser que sim, pode ser que não. Se houver, por exemplo, um cenário de potencial ocorrência de aedes aegypti associado à clima, à condição topográfica, à gestão de lixo urbano, se vamos construir cenários dessa natureza, isso tem um apelo de políticas públicas muito claro. Dentro do que podemos fazer, a construção de cenários é fundamental.

Essas questões remodelaram o CCST. As pessoas que vinham chegando no CCST, olharam para as áreas de pesquisa e disseram: - eu trabalho em tal área, o meu trabalho contribuiu para aquelas áreas. Claro, há pessoas bem afinadas, que lideram áreas, mas que não seguram mais um bastão, um pilar, acho que a figura que representa melhor hoje a dinâmica que queremos implementar é a delas segurando um tronco na horizontal, interagindo com outras áreas.

A ideia era fazer com as linhas temáticas o mesmo que se faz naquele jogo de palitinhos coloridos de criança. Você joga no chão e observa qual faz interface com qual. Esse é o exercício interno. E como isso vai se consolidando? Com produtos, de uma maneira bem clara. Estamos nos propondo a fazer análises mais profundas, como o problema hídrico de São Paulo, a questão da seca no Nordeste, e de uma forma mais ampla, multidisciplinar.

- Que produtos do CCST você citaria com resultados mais evidentes, ou que estão sendo trabalhados mais fortemente, com essa perspectiva de multidisciplinaridade?

Jean Ometto – Trabalhamos muito com cenários. Temos publicado artigos sobre cenários de mudança do uso do solo da Amazônia. Temos publicado, por exemplo, informações sobre dinâmica da agricultura no Centro-Oeste, sobre impactos no ciclo de nutrientes. Abordamos questões de agricultura e clima regional. Mas isso de um modo muito pontual, associado a projetos de pesquisa.

Coordenador do CCST, Jean Ometto.

Trabalhamos de uma maneira muito interessante com o CPTEC e com a OBT. Utilizamos cenários regionalizados de mudanças climáticas e fazemos análises de uma série de impactos. Há interações com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), com outras universidades, com o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Atuamos muito na preparação do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), que tem uma ótica multidisciplinar. Apesar de ser setorizado, voltado à agricultura, transporte, saúde, etc., sua perspectiva de adaptação não é linear, é multifacetada. A contribuição no Plano não é feita de forma isolada pelo CCST, está dentro de uma perspectiva institucional do INPE. Para o MCTI, temos uma colaboração muito forte com o inventário de emissões de gases do efeito estufa, que o país utiliza na convenção internacional do clima, que não é um documento científico, mas político.

Já os produtos voltados para o usuário não institucional, seja governo ou não, temos poucos; são aqueles relacionados à ocorrência de relâmpagos, por exemplo, que estão bem consolidados no INPE; que já têm história. O CCST, de alguma forma, é beneficiado por essa associação com os laboratórios de atuação tradicional no INPE. Por exemplo, recebemos demandas diárias de pessoas que têm problemas com relâmpagos e que são atendidas pelo ELAT. A questão de energia renovável também, mas nesse caso as relações são institucionais. Não temos produtos para informar variações de energia solar para um gerador doméstico de energia solar, por exemplo, porque esse tipo de equipamento no país não é de uso em larga escala. O CCST ainda tem que trabalhar mais a interface com o usuário não institucional. Hoje isso se dá muito na capacitação, com a pós-graduação, cursos, etc.

- Mas as relações do CCST não devem ser mais voltadas ao usuário institucional e menos ao usuário individual, ao cidadão comum?

Jean Ometto – Acho que são elementos ainda em discussão. Será que poderíamos criar um fórum dentro de um veículo de comunicação? A gente contribuiu muito, por exemplo, com a construção do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Toda a conceituação deste museu, em mudanças ambientais e mudanças climáticas, teve origem no CCST. O universo de conhecimento que aquilo aconteceu está aonde o CCST atua. O Museu do Amanhã tem uma visibilidade que, em certo sentido, vai além de uma relação com o usuário individual, mas, por outro lado, é uma situação em que a pessoa vai lá, aperta um botão e interage com esse conhecimento.

Deveríamos pensar em trabalhar mais com a ideia de um fórum de manifestação frequente, mas não temos maturidade institucional para isso ainda. Temos que fazer esse trabalho internamente primeiro. O mecanismo interno de noticiar o que produzimos de conhecimento, de atividade, de informação, ainda estamos construindo. Essa questão da gestão da comunicação no CCST precisa ser mais trabalhada.

- Sobre esses três componentes ou dimensões do CCST - observação, modelagem e cenários - você poderia falar um pouco mais detalhadamente sobre a atual situação dessas áreas? Qual seria a projeção para os próximos anos?

Jean Ometto – A modelagem é uma atividade importante para nós e a observação é muito importante para alimentá-la. Mas não há como construir uma rede de observação que alimente a modelagem de forma exaustiva. Esse é um trabalho que o Brasil precisa fazer e podemos contribuir um pouquinho, com redes de monitoramento. É preciso estabelecer ou tentar buscar formas de constituir rede de monitoramento de variáveis ambientais. Já temos a rede de monitoramento de energia solar, rede de monitoramento de dados ambientais (como a rede SINDA), coordenada pelo CRN (Centro Regional de Natal), do INPE, e apoiada pelo CCST. Também estamos pensando em uma rede de monitoramento de gases de efeito estufa. Enfim, temos feito isso em vários níveis. A observação, geralmente, é pontual, atrelada a uma pesquisa, na qual se faz coleta de dados. Mas para virar uma rotina, um monitoramento, isso muda de figura. O Brasil precisa pensar um pouco nisso e poderíamos contribuir com isso.

Na figura que mostra a localização das estações e redes de observação, as de biogeoquímica, por exemplo, são essencialmente pontos de coleta (Fig.2). É muito difícil monitorar biogeoquímica. A Cetesb, por exemplo, faz isso em água, no estado de São Paulo, mas não é trivial. Já os pontos de micrometeorologia são de monitoramento, a torre monitora sistematicamente temperatura, umidade, etc.; são vários anos de coleta de dados. Nitrogênio também é pontual. Os pontos que indicam raios são de monitoramento por satélite ou por observação. Umidade do solo é pontual, vento não. Pretendemos, pelo menos, manter o nosso monitoramento de variáveis atmosféricas, especialmente relacionadas à Rede Sonda, que mostra a distribuição de energia solar no país; para raios, com o ELAT, temos investido na ampliação da Rede BrasilDAT (Sistema Brasileiro de Detecção de Descargas Atmosféricas), que já era bem ampla quando foi criado o CCST. Avançamos também na produção e análise de dados com os laboratórios de análises químicas (água, solo, chuva), de gases do efeito estufa e química atmosférica, e de hidrologia.

Figura 2 - Rede atual de coleta de dados do CCST.

Um dos objetivos do nosso trabalho é, nesses quatro anos, revisitar a questão da coleta. O uso de dados solares tem uma interface muito clara com a modelagem; o uso de dados de raios nem tanto, estão fazendo modelagem, mas isso não é o operacional do laboratório. Dados de biogeoquímica alimentam modelos de vegetação dinâmica.

Estamos entrando, agora, naquela caixinha que é a de modelagem, onde temos coisas bem interessantes acontecendo. Uma delas é a construção do modelo de superfície que está atrelado ao Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (BESM), que é uma cooperação muito forte entre o CPTEC e o CCST.

- O desenvolvimento do BESM está no CCST ou no CPTEC?

Jean Ometto - Todo o core do BESM, que é o modelo atmosférico global e o modelo oceânico, está no universo do CPTEC. O modelo atmosférico global é literalmente do CPTEC e o oceânico, foi parametrizado e tem desenvolvimentos no CPTEC. Fazemos o modelo de superfície. O BESM é o modelo do Earth System, modelo do sistema terrestre, que é a lógica das atividades do CCST. Naturalmente, as pessoas entendem que o modelo tem uma aderência maior ao CCST. Mas o modelo do Earth System não pode ter um endereço, deve ser multi-institucional, porque não temos condição no Brasil de fazer um modelo deste tamanho se não juntarmos pessoas e instituições. O modelo é muito grande e são muitos elementos. Mas o core é do CPTEC. Desenvolvemos o modelo de superfície, toda a dinâmica de solo, planta, atmosfera, cobertura vegetal; chamamos esse modelo de INLAND (Modelo Integrado de Processos Superficiais), que desenvolvemos continuamente.

São elementos que juntos se chamam BESM e que separados são modelo de superfície, modelo de oceano e modelo de atmosfera; há ainda o de química atmosférica. Quando juntos, viram BESM, além de ser o que integra todos os outros modelos.

Temos trabalhado também com a modelagem climática regional, outra grande interface com o CPTEC. Nosso grupo atua junto com o grupo de desenvolvimento do modelo regional ETA do CPTEC. Neste trabalho estamos construindo e consolidando a capacitação do CCST para atuar em modelagem climática regional com interesses bastante específicos, relacionados com o sistema terrestre, como cenários. É uma interface institucional muito boa.

Fazemos modelagem do uso e cobertura do solo, com produto que pode ser visto na página do CCST. Em interface bastante construtiva com a OBT, com o modelo INPE EM, a partir dos dados do PRODES, calculamos as emissões de carbono associadas ao desmatamento na Amazônia. Incorporamos, por exemplo, dados do TERRA Class, como também fazemos uso de dados do DEGRAD e DETER. Vislumbramos isso como um produto que pode ser utilizado por diversas instâncias, para a contabilização das emissões pelo setor de uso de solo e florestas no Brasil.

Outro elemento importante que tem interface com a questão de cenários são as plataformas de gestão de dados. TERRA-ME e LUCC-ME são plataformas que lidam com bases de dados de diversas naturezas com o objetivo de modelar a dinâmica de uso do solo, que têm uma grande interface com a OBT. Da mesma forma a elaboração e divulgação de informações sobre desertificação no semiárido Brasileiro, o SAP (Sistema de Alerta Precoce contra Seca e Desertificação), um projeto em colaboração com o CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).

Os cenários, por sua vez, devem ser validados com a observação. E eu fui muito simplista ao falar sobre a observação de dados ambientais. A questão social entra nas observações, por exemplo, com entrevistas. Os cenários do desmatamento da Amazônia foram construídos a partir de cenários participativos – entrevistas com diversos stakeholders, pessoal que entendia da tendência do desmatamento e quais eram os elementos determinantes. Essa observação alimenta os cenários, e não propriamente a modelagem. Esses são alguns aspectos de interação que eu espero que aconteça com o CCST. Mas ainda dentro dessa universo de interfaces do CCST, há ainda outros programas como a REDE CLIMA, Programa FAPESP de Pesquisas em Mudanças Climáticas, Future Earth, InterAmerican Institute for Global Change Research, que são muito importantes na constituição e consolidação da rede de pesquisas do Centro.


Fonte: Informativo do INPE - Número 05 - 08/04/2016

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