Portaria Interministerial Quer “Novo Modelo de Governança” Para as Atividades Espaciais
Olá leitor!
Segue abaixo uma matéria postada na edição de outubro do “Jornal do SindCT”, destacando que
a Portaria interministerial
quer “novo modelo de governança” para as atividades espaciais, portaria esta já
postada aqui no Blog anteriormente (veja aqui).
Duda Falcão
CIÊNCIA E TECNOLOGIA 5
Portaria Interministerial Quer “Novo Modelo
de Governança” Para as Atividades Espaciais
Nova
investida contra o setor público?
Shirley Marciano
Jornal do SindCT
Edição nº 41
Outubro de 2015
Portaria
2.151/2015 cria GTI-Espacial e o incumbe de propor alternativas ao atual modelo
de gestão pública e também um “regime diferenciado de contratação de pessoal
especializado do setor espacial”. Por determinação da Portaria Interministerial
2.151, de 2 de outubro de 2015, os ministérios da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI) e da Defesa (MD) nomearam uma equipe, o Grupo de Trabalho
Interministerial (GTI) Espacial, que terá a missão declarada de diagnosticar e
propor ações que visem fazer avançar os projetos da área espacial, e será
coordenado pelo ministro Aldo Rebelo (agora na Defesa).
A portaria
define as seguintes diretrizes para o trabalho do GTI-Espacial:
“I propor
revisão do modelo de governança para as atividades espaciais no Brasil;
II propor a
revisão da legislação, no que couber, com vistas a: a) formalizar um Programa
de Estado para as atividades espaciais no Brasil; b) propor um regime
diferenciado de contratação de pessoal especializado do setor espacial; e c)
propor um regime diferenciado para aquisição de bens, serviços, obras e
informações com aplicação direta nos projetos e instalações do setor espacial;
III apresentar
proposta de revisão do PNAE para o decênio 2016-2025, harmonizando as diversas
iniciativas espaciais em curso;
IV propor um
Projeto Mobilizador, para o período de cinco anos, visando fomentar o
desenvolvimento da indústria nacional quanto aos seus componentes basilares:
satélite, lançador e infraestrutura de lançamento e operação;
V identificar as
necessidades e propor um plano de recomposição, readequação e ampliação dos
quadros de pessoal especializado do setor espacial, no Comando da Aeronáutica e
no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); e
VI propor um
plano de valorização e divulgação das atividades espaciais no Brasil.”
Uma análise
ponto a ponto da Portaria permite identificar eventuais chances de melhorias,
como as adequações do Plano Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) e a criação
de mecanismos que tragam efetiva valorização à área. Por outro lado, várias de
suas diretrizes causam grande preocupação, a começar da primeira: a encomenda
ao GTI-Espacial de “um novo modelo de governança” para o setor espacial, que
pode abrir caminho à transformação de órgãos públicos estratégicos, como o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em Organização Social (OS).
Na mesma linha, “propor um regime diferenciado de contratação de pessoal
especializado do setor espacial” abre espaço para atacar as carreiras do setor.
“Eu sou contra transformar o INPE em OS. Acredito que no início vai receber
recurso para fazer as adequações, mas depois essa verba irá diminuir e o
instituto terá que andar com as próprias condições.
Aí vai acabar
tendo que encontrar alternativas, como parcerias junto a órgãos como a FINEP e
universidades. Mas é através da indústria que pode haver um desvio de
atividades-fim”, adverte Heitor Patire, tecnologista do INPE. “A tendência é
que o órgão gestor comece a desenvolver para outras indústrias, como a
automobilística, para obter vantagens financeiras e assim lhe garantir o
custeio, porque a área espacial não dá lucro, só despesa.
Poderíamos até
buscar uma comparação com a NASA, que é gerida por uma espécie de OS, mas nos
EUA é bem diferente porque existem muitas encomendas de satélite, inclusive do
setor privado, o que não acontece no Brasil, que atende exclusivamente ao
governo”, explica Patire.
Privatização
Diversas fontes
consultadas observaram que o principal problema dos institutos públicos é a
ausência de um plano que seja exequível, pois há um planejamento, mas não é
liberada verba suficiente ou ela é descontinuada, o que acarreta atrasos nos
cronogramas e complicações, como, por exemplo, equipamentos que vão ficando
obsoletos e precisam ser substituídos por novos.
Vale ressaltar
também o problema crônico de falta de pessoal e o agravante da frequente
condescendência da AEB e do próprio MCTI com as empresas que não conseguem
fazer o serviço e acabam atrasando todo o projeto, como é o caso da
Mectron-Odebrecht (confira na edição 39 do Jornal do SindCT). Para Gino Genaro,
tecnologista do INPE e diretor do SindCT, o estabelecimento dos chamados
“contratos de gestão” do governo com “organizações sociais” é uma forma de
privatização da gestão de órgãos públicos, uma vez que toda OS é uma entidade
de direito privado que, apesar de formalmente não apresentar lucro, tem servido
para manter cabides de emprego, bem como pagar altos salários para seus
gestores.
“Temos
informações de que muitos institutos geridos via OS, como o Laboratório
Nacional de Luz Síncrotron, passaram a perseguir e intimidar dirigentes
sindicais. Isso sem falar nas várias denúncias de malfeitos por parte destas
organizações, como a contratação de profissionais não habilitados, indicações
pessoais, não observância aos preceitos institucionais que regem a
administração pública — transparência, impessoalidade, legalidade etc. Ou seja,
o Estado e a população só perdem com estas terceirizações na gestão dos órgãos
públicos”, finaliza Genaro. Quanto ao “regime diferenciado para aquisição de
bens, serviços, obras e informações com aplicação direta nos projetos e
instalações do setor espacial” apontado pela Portaria 2.151/2015, ele pode
sinalizar tanto um aperfeiçoamento e tentativa de correção das limitações e
problemas da lei 8.666 (Lei das Licitações), como uma revisão que pretenda
burlar as exigências hoje existentes, o que seria prejudicial ao erário
público.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 41ª - Outubro de 2015
Comentário: Pois é leitor, olha aí a visão dos sindicalistas
com relação a esta portaria que criou o GTI Espacial para esta finalidade. Muito
bem, e qual é a sua opinião sobre esta história toda?
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