SBPC debate BRICS, Água, Inovação. Setor Aeroespacial Marca Presença
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo publicado na edição de julho e
Agosto do “Jornal do SindCT”, destacando que durante a realização da 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC), foi debatido o BRICS, a água, e a inovação, debate este que contou com a presença do Setor Aeroespacial.
Duda Falcão
NOSSA PAUTA 4
SBPC debate BRICS, Água, Inovação.
Setor Aeroespacial Marca Presença
“LUZ, CIÊNCIA E
AÇÃO”
Antonio Biondi
Jornal do SindCT
Edição nº 39
Julho e Agosto de 2015
A 67ª Reunião Anual da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada em São Carlos (SP),
contou com a participação de representantes do INPE, ITA, CEMADEN, AEB e
Embraer.
Instituições do
setor aeroespacial marcaram presença nos debates, palestras e exposições que
permearam a 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC), realizada em julho no campus central da Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar).
A reunião, que teve como
tema desta edição “Luz, Ciência e Ação”, em alusão ao Ano Internacional da Luz,
celebrado em 2015, aconteceu entre os dias 12 e 18 de julho.
Além dos debates mais
gerais sobre ciência e tecnologia, abordando as novas políticas e a conjuntura
atual do setor (novo Código de C&T, Emenda 85 à Constituição Federal,
diminuição do número de secretarias estaduais da área em ano de crise etc.), a
reunião também dedicou parte de suas 186 atividades a temas como o projeto
nacional e o grupo BRICS.
A temática aeroespacial
e aeronáutica esteve presente em diversos momentos desta reunião anual, mas as
instituições do setor também se ocuparam de questões mais amplas. O Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) capitaneou as conferências “A Radiação
de Fundo e a Origem do Universo” e “A Problemática da Seca no Sudeste
Brasileiro”. O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) participou da mesa
“Repensando a Educação em Engenharia”, ao passo que a Agência Espacial
Brasileira (AEB) coordenou a mesa “O Papel e as Perspectivas dos BRICS no
Mundo Contemporâneo”. Um representante do Centro Nacional de Monitoramento
e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) esteve entre os palestrantes da mesa “Segurança
e Pegada Hídrica”. A ex-estatal Embraer, por sua vez, participou da
mesa “Educação, Ciência e Inovação Tecnológica para o Brasil do Século XXI”. A
67ª Reunião Anual da SBPC contou com programações especiais voltadas às
temáticas: SBPC Inovação (realizada pela primeira vez), SBPC Jovem, SBPC
Indígena e SBPC Cultural. Inscreveram-se no evento 6.372 pessoas, mas a
organização estima que cerca de 10 mil pessoas tenham circulado diariamente na
UFSCar.
Houve inscrições de
todos os Estados brasileiros, vindos de 649 municípios. Além disso, cerca de
mil crianças por período estiveram nas tendas da SBPC Jovem e
da ExpoT&C. No total, foram 186 atividades: 60 conferências, 52
mesas-redondas, 11 simpósios, quatro encontros, sete sessões especiais e 52
minicursos.
Na conferência “A
Problemática da Seca no Sudeste Brasileiro”, Paulo Nobre (INPE) destacou que os
efeitos das mudanças climáticas e da falta de água foram agravados
pela redução de áreas florestais. Para o pesquisador, a “crise hídrica” vivida por
São Paulo e pelo Brasil é um alerta para a necessidade de mudanças: a promoção
do uso racional da água, a preservação dos biomas e a redução da emissão de
gases de efeito estufa.
Na visão de Nobre, os
problemas relativos a essas temáticas ultrapassam as fronteiras estaduais. Não
podem, portanto, ser entendidos como problemas somente de responsabilidade de
gestores locais. Para ele, é preciso “zelar pelos serviços que as florestas
prestam a toda a vida no Planeta”.
Papel
dos BRICS
Na mesa-redonda “O Papel
e as Perspectivas dos BRICS”, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães explicou
que China e Rússia demonstram estar muito cautelosas em relação à participação
do Brasil, África do Sul e Índia no Conselho de Segurança da ONU.
Para o embaixador, as
duas grandes potências na realidade desejam ampliação do papel dos BRICS, com o
aumento do poderio relativo de ambos. “Do ponto de vista da China, os BRICS
exercem um papel semelhante ao da OCDE [Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico] em relação aos EUA”, afirmou. Pinheiro, que foi
secretário-geral do Itamaraty, avalia que a criação do Banco dos BRICS “afeta
o centro de controle do sistema financeiro internacional”, ao afastar
condicionalidades que Banco Mundial e FMI impõem aos projetos e investimentos
que decidem financiar. O embaixador destacou, por fim, que Rússia, China e
Índia vêm se destacando no desenvolvimento de importantes tecnologias no campo
militar — que podem levar a diversas formas de cooperação, inclusive na
indústria aeroespacial e na área civil. Paulo Casella, professor de Direito
Internacional da USP, ressaltou que a associação dos BRICS ainda é muito
incipiente do ponto de vista institucional, não contando com algum tipo de
tratado para sua consolidação, por exemplo.
“É uma forma de
cooperação de modelo diferente da do Mercosul, e que foge da noção de que tudo
o que foi construído em termos de Direito Internacional se restringe ao
contexto ocidental, cristão e europeu”. Casella relembrou as grandes
transformações pelas quais os BRICS passaram no século XX, e considera que a
cooperação entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul pode ser
uma mudança de repercussão mundial, contrapondo-se ao sistema
desenvolvido durante e após a Guerra Fria. “Não se trata apenas de política,
direito internacional, estratégia, economia. É também uma questão cultural”. O
professor defende que os países devam buscar a cooperação entre si, sem
padrões previamente determinados: “Não são obrigados a seguir nenhum modelo”.
No seu entender, os
BRICS devem evitar repetir os erros das grandes potências ocidentais. As
medidas adotadas pela Rússia na crise envolvendo Crimeia e Ucrânia, por
exemplo, a seu ver são “preocupantes”. Por outro lado, acredita que os cinco
países possam ter papel crucial no enfrentamento das questões relativas ao
grupo Estado Islâmico, “um dos desafios centrais do mundo contemporâneo”. José
Eduardo Cassiolato, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
explicou que hoje assistimos a um crescente questionamento das
institucionalidades globais, criadas sob a égide dos EUA após a 2ª Guerra
Mundial.
“Essas instituições se
mostram cada vez mais desajustadas e equivocadas, conforme pudemos notar, por
exemplo, na crise na Grécia”. O crescimento da economia chinesa, que dentro de
aproximadamente uma década tende a superar a economia dos EUA em valores
totais, “muda o eixo da economia global do ocidente para o resto do mundo,
especialmente para o oriente e sobretudo para a China”, destaca Cassiolato.
“O poder também tende a
migrar dos centros tradicionais para outros eixos e institucionalidades”, diz o
professor da UFRJ, para quem as finanças jogam um papel fundamental no cenário:
“Imaginava-se que após a crise de 2007/2008 seria possível criar um maior
regramento e governança para o setor financeiro. Isso hoje está totalmente
descartado.
Elas voltaram com uma
força ainda maior”. Inovação e fomento Já a mesa “Políticas e Incentivos à
Inovação Tecnológica nas Instituições de Ciência e Tecnologia”, coordenada
por Angela Maria Cohen Uller, da UFRJ, foi marcada pela
intensidade tanto nos elogios quanto nas polêmicas, bem como pela ausência da
sociedade civil. Participaram os presidentes da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Carlos
Afonso Nobre; do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), Hernan Chaimovich; da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (FAPESP), Celso Lafer; e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Luis Manuel
Rebelo Fernandes.
Para o presidente da FINEP
“é essencial que se crie um ambiente propício ao fomento à inovação no Brasil”.
Fernandes afirmou que ciência e tecnologia são essenciais para agregar riqueza
e valor à produção de um país, e elencou diversas iniciativas da FINEP nesse
sentido. Chaimovich e Lafer citaram programas com os quais CNPq e FAPESP,
respectivamente, estariam fomentando a inovação. Carlos Nobre, por seu turno,
destacou os programas existentes na Capes voltados a melhorar a qualidade do
ensino básico e a capacitação de professores.
Lafer afirmou que o
desenvolvimento do Brasil nessa área passa pela internacionalização e por
mecanismos de cooperação com outros países. “A atual geração do
conhecimento demanda reciprocidade, interação e trabalho em escala
internacional”. Na opinião de Chaimovich, é preciso desenvolver programas
transversais de ciência, tecnologia e inovação que atendam às necessidades
estratégicas nacionais.
Ele mencionou, ainda, a
importância de o fundo social do Pré-Sal destinar verbas a tais
finalidades. Ao final do debate, as principais intervenções trataram dos temas
do registro de patentes nas universidades e empresas, dos temores envolvendo os
cortes de bolsas de pesquisa e do assédio no desenvolvimento de pesquisas.
Uma estudante da
Pós-Graduação de Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense
(UFF) leu uma carta do curso, apontando dificuldades nesse nível de ensino
naquela instituição, que após a adesão ao Reuni cresceu substancialmente. O
presidente da Capes afirmou que “o MEC está fazendo grande esforço para
assegurar a manutenção das bolsas” e que não houve corte de bolsas.
“É certo que passamos
por um momento de ajuste e dificuldade, mas decidimos não cortar nenhuma bolsa
dos alunos que hoje desenvolvem as pesquisas — e mantendo 90% dos investimentos
e custeio”. Carlos Nobre frisou que as Humanidades são tão importantes quanto
as demais áreas, e que “as grandes inovações e desafios do mundo contemporâneo
são interdisciplinares”.
Para ele, o Brasil
precisa aprimorar questões relativas ao registro de patentes, além de evoluir
em termos das inovações abertas. “O mundo caminha de forma muito agressiva
nesses dois caminhos. Não é uma ou outra, são as duas ao mesmo tempo”.
Para Chaimovich, “a universidade tem que obter patentes relativas ao que
produz, mas não patentear como se fosse uma empresa”.
“Não tenho conhecimento
de assédio a bolsistas”, respondeu o presidente da Capes a outra intervenção.
“Condeno qualquer tipo de assédio. Vou buscar averiguar se ocorre e avaliar
quais as providências que a Capes pode tomar dentro de sua competência”. Os
pós- -graduandos presentes aproveitaram o final do debate para apresentar
reivindicações — como a regulamentação das jornadas de pesquisa e a
licença-maternidade.
Fonte: Jornal do SindCT - Edição 39ª - Julho e Agosto de 2015
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