Diretor do INPE Comenta Medidas Para Conter Impactos da Crise, Novo Plano Diretor e as Prioridades de Sua Gestão
Olá leitor!
Segue abaixo mais uma interessantíssima entrevista com o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Dr. Leonel
Perondi, publicada no número 02 do Informativo do INPE de 03/09, destacando as
medidas do instituto para conter impactos da crise, o novo Plano Diretor e as
prioridades de sua gestão. Leia com atenção e se acomode na cadeira pois a
entrevista é longa.
Duda Falcão
Diretor do INPE Comenta Medidas Para
Conter Impactos da Crise, Plano Diretor
e Prioridade à Gestão
Informativo INPE
Número 02
03/09/2015
O novo Plano Diretor do INPE (2016-2019), em fase de
finalização, contempla metas importantes na área de gestão, dentre elas a
contratação de cerca de 400 novos servidores nos próximos dois anos. O alcance
dessa meta, segundo o diretor do INPE, Leonel Perondi, é fundamental para que
as demais metas técnico-científicas para os próximos quatro anos sejam
atingidas. Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à Gestão
de Comunicação Institucional, em que o diretor falou também sobre os impactos
dos cortes no orçamento nas atividades do Instituto, sobre o processo de
elaboração do Plano Diretor e sobre as atividades de comissionamento do
satélite CBERS-4.
- Quais os impactos da atual crise que estamos vivendo
no funcionamento do INPE, tanto em sua parte operacional como nos projetos e
programas?
Perondi – Na parte do funcionamento do Instituto,
o impacto é bastante significativo. Os cortes na área de custeio vão afetar
alguns contratos de manutenção. O consumo de energia elétrica, que é bem elevado,
terá que diminuir significativamente. As tarifas aumentaram muito. Nós gastamos
em torno de R$ 1,2 milhão por mês de energia – metade em Cachoeira Paulista e
metade em São José dos Campos. Esse número vai ter que cair. Temos que adotar
medidas para baixar essa conta. Estamos gastando quase R$ 15 milhões por ano,
isso é muito para o Instituto. Estamos fazendo um trabalho grande no sentido de
economizar energia, principalmente nas áreas que consomem mais, que são o LIT e
o CPTEC. A energia seria um primeiro item onde se tem liberdade para baixar a
conta de custeio do INPE. É uma forma de adequação aos cortes de orçamento para
custeio. Isso nós pretendemos fazer com todos os demais itens onde puder haver
contenção de gastos por economia. Essas medidas já estão em curso desde o
primeiro semestre.
- Onde poderia haver redução
de consumo de energia, por exemplo, no LIT?
Perondi – As
salas limpas do LIT têm um consumo razoável para se manterem operacionais. O
LIT está fazendo um levantamento para saber qual é a margem que existe para
economizar, se há alguma alternativa de trabalho que permita uma economia de
consumo. O outro grande consumo é o supercomputador, que está no CPTEC. Lá eles
também estão fazendo um estudo, procurando levantar o que se roda no supercomputador
e verificando estratégias que permitam diminuir o consumo. Por exemplo, evitar
ou diminuir o uso do supercomputador nos horários em que a tarifa de energia é
maior. Já houve avanços, reduzindo o uso do ar condicionado e outras práticas
que diminuíram consideravelmente a conta, em torno de 10%.
- Existe uma meta de redução
de consumo de energia?
Perondi – A
conta terá que se encaixar dentro do orçamento que temos, ou seja, precisamos
reduzir em torno de 20%.
- E com relação aos projetos
e programas?
Perondi – Na parte técnica,
estamos estudando o que é possível fazer, em termos de cronograma e ajuste de
escopos, e mais as contenções, para tentar absorver esse impacto de maneira que
cause menos prejuízo em termos de prazos e trabalho realizado. Por exemplo, em
contratos que são plurianuais, podemos ver uma forma de distribuir os
pagamentos de modo que se consiga iniciar o trabalho este ano, mas fazendo uma
curva de investimento um pouco modificada. Assim, não deixaríamos de executar
os contratos previstos para 2015.
O CBERS-4A, por exemplo, já foi assinado pelos dois
governos, já tem um cronograma estabelecido, então estamos vendo uma forma de
não afetar esse calendário. Na prática estaremos transferindo para o ano que
vem pagamentos que seriam feitos este ano, reduzindo o mínimo possível o escopo
de trabalho realizado. Parece mágica, mas às vezes dá para fazer. Por exemplo,
pagamentos que seriam feitos em dezembro, você paga em janeiro do ano que vem.
Você rearranja um ou dois meses e já faz uma diferença enorme.
No caso dos satélites derivados da Plataforma Multimissão
(PMM), por exemplo, o cronograma do Amazônia 1B prevê um primeiro modelo de
engenharia, em termos de sistema, até dezembro deste ano. Essa meta está
mantida, independentemente dos cortes. A partir da PMM, temos três missões. A
primeira seria o Modelo 1, a ser concluído até o final do ano, com lançamento
previsto para 2017. O segundo modelo, seria para 2019 e o terceiro, dentro de
dois ou três anos, provavelmente 2020. Então, estamos trabalhando para que os
cortes não afetem esse cronograma. Temos também o satélite EQUARS, que precisa
ser encaminhado. Esse projeto está sendo revisto. Em princípio, também não se
acredita que os cortes terão grande impacto.
Nas áreas, nós temos os grandes programas institucionais,
que são o Programa Amazônia, que tem orçamento, mas também conta com recursos
externos. Não acreditamos que haja grandes impactos. O BESM (Modelo Brasileiro
do Sistema Terrestre) também está equacionado. Então, em princípio, fazendo
esses ajustes de cronograma, reescalonando as curvas de investimento dos
programas, conseguiremos absorver esse impacto sem atrasos substanciais, que
não possam ser recuperados depois.
Agora, o funcionamento, não. Essa parte terá que sofrer
um corte da ordem de 20%, porque não há orçamento. Temos custos mensais a serem
pagos. Não há como reescalonar, ou alterar curva de investimento. Estamos
falando de serviços. A instituição terá que fazer um esforço enorme para
garantir seu funcionamento até o final do ano.
- O novo Plano Diretor do
INPE está em fase de finalização. Quais são os objetivos e metas para os
próximos anos? Outra questão, que está relacionada ao Plano Diretor, é a
exclusão do Programa Espacial do documento do governo que estabelece as
Estratégias Nacionais. Qual a sua análise sobre isso? O Programa Espacial está
perdendo importância para o governo?
Perondi – A
Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação está sendo revista. O
documento atual abrange o período de 2011-2015. Dentro dos programas de
política industrial, tivemos, no passado, aqueles ligados à indústria, à
tecnologia e à exportação. Acredito que tenha sido nesse contexto que, no ano
passado, tenha sido dito que o programa espacial poderia estar fora das ações
estratégicas para o futuro. Mas eu acho que temos que aguardar a publicação da
revisão dos planos. Eu não acredito que fique fora. A área espacial é uma área
de futuro para o país, que poderá gerar empregos com grandes oportunidades de
renda.
Vamos fazer o seguinte raciocínio da área espacial: o
desafio para um país é gerar, não só empregos, mas oportunidades de renda. Só
gerar empregos pode resultar em uma sociedade muito pouco desenvolvida. Se as
empresas dão emprego, mas com renda muito baixa, você só consegue oferecer uma
forma de subsistência. A promoção da riqueza se dá pela criação de
oportunidades de renda, que é o que promove a melhoria do padrão material de
vida da sociedade de forma contínua. Nós sabemos que o desenvolvimento social está
muito ligado ao desenvolvimento econômico. E as oportunidades de renda estão
muito ligadas ao valor agregado, ao conhecimento sobre o que você produz.
Se você tiver uma economia que só produza matéria prima
para o mundo, em geral a população desse país irá receber pouco pelo que
produz, porque envolve pouco valor agregado. Esse país terá dois andares – um
governo muito rico e uma população com renda muito baixa. Isso gera um gap
de renda tremendo. Se esse país começar a produzir algo com maior valor agregado,
que exija maior conhecimento, mais tecnologia, o quadro muda substancialmente.
As áreas de telecomunicações, de energia, a
agroindústria, a informática, são exemplos de setores de grande valor agregado,
de indústria moderna. Temos também os serviços, de maneira geral. Então, o país
pode resolver esse gap incentivando essas áreas, tanto as produtivas,
como as de serviços. O esforço de desenvolvimento de um país passa pela
capacidade de se inserir nessas indústrias modernas, ou nos serviços derivados,
para poder gerar renda para a sua população. Senão, continuaremos a distribuir renda
de forma verticalizada.
Teremos que ter programas para distribuir renda. Se
olharmos o Brasil sob essa ótica que reproduzimos aqui, vemos que temos matéria
prima em grande quantidade e que, de fato, gera um padrão de remuneração
relativamente baixo. Na indústria do petróleo já temos grande valor agregado.
Na agricultura temos uma grande produção de grãos, que exportamos para o mundo,
com grande produtividade. Outro exemplo de indústria moderna está na área de
aviação. A Embraer é hoje o terceiro fabricante mundial na área de aviação
civil e gera, só na região, cerca de 15 mil empregos diretos, com oportunidade
de renda. Isso porque o avião é um produto de alto valor agregado.
O desafio brasileiro é ter inserção em indústrias
modernas. Nós já perdemos algumas oportunidades, por exemplo, nas
telecomunicações. Tínhamos uma posição muito boa no passado e hoje não somos
protagonistas no cenário internacional. Como não somos também na indústria de
informática e nem na de energia. Na conta dos produtos de alto valor agregado
nós só somos positivos na aviação. Já tivemos, no passado, posições melhores.
Mas sofremos uma competição muito grande, principalmente dos países asiáticos.
Na indústria de serviços, nossa posição também é modesta. E quando olhamos para
o futuro, quais são as indústrias que terão grande projeção, grande presença
mundial? Certamente o espaço é uma das que mais vão gerar oportunidade de
renda, tanto em serviços como pela fabricação de sistemas, em um futuro
próximo.
Talvez a indústria do espaço seja tão grande quanto foi,
ou ainda é, a indústria automobilística. A geração de informações no planeta se
dará cada vez mais a partir dos sistemas espaciais. Se você pensar em geração
de informação para a gestão ambiental, para a defesa, para a gestão de recursos
de forma geral, todas virão de sistemas espaciais. Na verdade, já é o que ocorre
nos países mais avançados.
Por exemplo, o Brasil, se quiser, pode acompanhar os
planos diretores por municípios. Temos condições hoje de monitorar o plano
diretor de cada município, em sua parte física, via sensoriamento remoto, com
imagens de satélites. Para fazer isso nos mais de 5.500 municípios brasileiros
sem uso do espaço, seria preciso montar um exército de auditores, seria
praticamente impossível. A partir do espaço, é perfeitamente possível. Claro
que é preciso se organizar e investir. Isso é apenas um exemplo, há outras
áreas, como zoneamento agrícola, previsão de safras, preservação ambiental,
como o monitoramento do desflorestamento, o acompanhamento das queimadas em
tempo real. Toda a meteorologia moderna também depende do espaço.
Na meteorologia moderna, a previsão numérica de tempo
depende de três ingredientes principais: o modelo meteorológico, que representa
a dinâmica da atmosfera, os acoplamentos oceano e superfície; a computação, a
capacidade de implementar esse modelo computacionalmente; e os dados
históricos. O estudo da ionosfera e como ela perturba a vida aqui na superfície
terrestre também depende do acesso ao espaço.
Mesmo na ciência do sistema terrestre, que faz a
modelagem da atividade antrópica e gera cenários. Esses cenários precisam de
boas informações sobre fenômenos de grande escala, que precisam do acesso ao
espaço. Temos ainda os serviços de telecomunicações. Então, toda essa parte de
serviços, somada à parte de dados, coloca o espaço como a grande indústria do
futuro. E o Brasil pode vir a ter uma grande presença nessa indústria e gerar
oportunidades de renda tão boas ou melhores do que as da aviação. É preciso ter
uma visão estratégica de futuro. Por isso, eu não acredito que uma indústria
desse tipo, que tem grande futuro para o país, fique fora da visão estratégica
do Brasil. Os grandes planos setoriais brasileiros, todos eles colocam o espaço
como uma de suas partes mais relevantes. Há futuro para a indústria espacial no
Brasil. Basta querer.
“ Os grandes planos setoriais brasileiros,
todos eles colocam
o espaço como uma de
suas partes mais
relevantes. Há futuro para a
indústria espacial
no Brasil. Basta querer.”
- E em relação ao Plano
Diretor, ele reflete o que está sendo discutido no Plano Plurianual (PPA) do
governo?
Perondi – Em
agosto do ano passado começamos a trabalhar no Plano Diretor, de forma que
quando se começou a discutir o PPA 2016-2019, nós já tínhamos desenvolvido um
trabalho longo com as áreas. Isso permitiu que o INPE tivesse uma boa
participação nas oficinas que discutiram o PPA. Inclusive nós pudemos enviar as
nossas equipes para discutir o PPA em Brasília. A Direção, acho que pela
primeira vez, ficou um pouco distante dessa discussão.
O resultado foi muito compensador. Conseguimos expandir a
nossa participação para dois outros grandes programas, que são a parte da Defesa
e a de Desastres Naturais. Dois novos programas nos quais não tínhamos ações e
que hoje temos. Isso foi fruto do trabalho desenvolvido previamente, visando a
elaboração do novo Plano Diretor. Ele está afinado com a nossa proposta para o
novo PPA. Nós conseguimos encadear essa ação de planejamento de uma forma
lógica, de causa e efeito, o que é muito importante. O INPE chegou amadurecido
para essa discussão do PPA.
A visão que foi inserida no ano passado e que norteia o
Plano Diretor é a seguinte: são três camadas de atuação. O acesso ao espaço,
que consiste em colocar sistemas espaciais em órbita – dados, informações e
serviços sobre o planeta, para atender à sociedade. Essa parte envolve a
Engenharia, a Integração e Testes, que é o LIT, e o CTE (Centro de Tecnologias
Especiais). Está acoplada às aplicações e contempla também a camada da infraestrutura
necessária para isso.
Nessa parte de acesso ao espaço temos as missões do
CBERS, a programação do Amazônia e as missões científicas. O satélite LATTES conjugava
duas missões, que eram estudar fenômenos da ionosfera na região equatorial e
estudar também fenômenos de altas energias no centro da galáxia, que era a
parte do satélite MIRAX. Essa missão tinha uma complexidade muito grande. O
risco seria muito alto. Então, foi decidido que essa missão LATTES voltaria a
ser composta por plataformas pequenas, de novo, científicas, para o acesso ao
espaço.
Estamos reconsiderando o desenvolvimento de plataformas
de pequeno porte para as missões científicas e tecnológicas. O EQUARS, por
exemplo, volta a ser uma missão, com uma plataforma pequena. Temos discutido
também uma missão conjunta com o DCTA para a qualificação do VLM (Veículo
Lançador de Microssatélites). O INPE tem produzido as cargas úteis para
qualificar os veículos lançadores brasileiros. Vamos considerar o veículo e o
satélite, e mais a parte de solo, como sendo uma missão conjunta completa.
“ Estamos reconsiderando o
desenvolvimento
de plataformas de pequeno porte para as missões
científicas e tecnológicas. O EQUARS, por exemplo,
volta a ser uma missão, com uma plataforma pequena.”
Nessa primeira camada se inclui também o LIT, com a sua
necessidade de expansão para atender às futuras missões. Na parte de
infraestrutura, há o investimento que precisa ser feito na parte de Rastreio e
Controle, são investimentos naturais. O INPE tem sido convidado a participar de
missões internacionais nesse setor. Temos sido participantes dos esforços
internacionais usando nossa estrutura de Rastreio e Controle.
“ Com um centro de dados
nacional, o INPE tem
uma oportunidade única de se colocar como grande
referência de recepção, armazenagem e distribuição
de dados de sistemas
espaciais.”
Aí entra a segunda camada, que é o Centro de Rastreio e
Controle dos objetos em órbita e a recepção, armazenagem e distribuição das
informações geradas por esses sistemas. Ou seja, o que eu preciso para ter os
sistemas operacionais e como eu viabilizo a chegada do serviço ao usuário
final. A informação gerada por sistemas espaciais não pode ser recebida pelo
computador doméstico. A forma de recepção e distribuição dessas informações
exige uma estrutura dedicada, especial. O INPE é reconhecido no Brasil como um
centro de referência, tanto no rastreio e controle quanto na recepção das informações,
armazenagem e distribuição. São duas áreas estratégicas para o uso do sistema
espacial.
Na área de recepção de dados, hoje temos 14 sistemas dos
quais recebemos informações, entre a parte meteorológica e de imagens. A ideia
é que o INPE tenha mais uma iniciativa grande, atuando como um centro de dados.
A visão é a de que no futuro você sempre terá que ter um centro que vai receber
esses dados, processá-los e distribuí-los. O volume de usuários tem crescido
ano a ano. Com um centro de dados nacional, o INPE tem uma oportunidade única
de se colocar como grande referência de recepção, armazenagem e distribuição de
dados de sistemas espaciais. Esse centro de dados envolveria não só aqueles
utilizados pelas áreas de aplicação do INPE, como também pelas áreas de
aplicação da sociedade de uma maneira geral. Nós já fazemos isso, por exemplo,
para o MMA, e para vários outros programas nacionais. Isso não quer dizer que
eu vou ter um centro de dados monstruoso aqui. Isso pode ser feito em sistema
de rede, onde se articula vários centros. Não será uma grande estrutura física.
É uma questão de ter a capacidade de ofertar ao país essa infraestrutura.
Quando se fala no Brasil de compra de imagens – e o
governo está comprando imagens de forma centralizada –, qual é o centro que vai
armazenar essas informações dos usuários, ou que vai funcionar como espelho, ou
centro principal? É o INPE. A outra parte é o sistema de rastreio e controle,
no qual também somos referência.
Por último, temos a camada das aplicações, que se divide
em quatro áreas, também de referência nacional. Primeiro, a área de Ciência
Espacial, a mais antiga do INPE, que começou com os foguetes de sondagem e os
estudos da ionosfera. Foi, na verdade, o braço civil das ações de acesso ao
espaço no Brasil, que viabilizou muitas cooperações internacionais necessárias
ao desenvolvimento dos programas.
Temos a área de Meteorologia, na qual o Brasil foi
pioneiro, acompanhando a tendência mundial, nucleando a primeira iniciativa de
previsão numérica de tempo. A missão do CPTEC ainda é científica, ou seja,
continua sendo a de acompanhar o estado da arte do modelamento da dinâmica da
atmosfera e de manter o modelo aprimorado, adaptado à região continental
brasileira. Mas só o modelo não basta. Tem que haver a parte de processamento
de alto desempenho, que precisa implementar esse modelo computacional e depois
fazer a simulação de dados para que se gere previsões de tempo com grande
aderência à realidade.
O CPTEC é um grande laboratório onde se exercita o método
científico. Eu tenho o modelo, implemento, obtenho o resultado, comparo com a
realidade e vou realimentando o modelo, aprimorando. Não é um centro
operacional para gerar previsão numérica de tempo, mas nesse trabalho de ter o
modelo adaptado é preciso gerar previsões com grande acuidade. E se eu tenho o
melhor modelo e capacidade computacional que tem que estar junto, eu também vou
produzir as previsões de tempo de referência para o país. Por isso, o CPTEC tem
produtos e metaprodutos que têm grande interesse para a sociedade. Mas não é um
centro para ser operacional da meteorologia. É um centro para o avanço do
conhecimento na previsão numérica de tempo e estudos climáticos.
A terceira área de aplicações do INPE é a área de
Observação da Terra. O INPE é reconhecido como o centro que nucleou o
conhecimento nessa área, tanto na parte científica e tecnológica de observação
da Terra associada ao sensoriamento remoto, quanto na área das aplicações. Ou
seja, como se extrai as informações dessas imagens geradas e se utiliza para
alguma finalidade.
A quarta área é a de Ciência do Sistema Terrestre, que é
um complemento das outras. Ela realiza a modelagem da atividade antrópica de
forma bastante ampla e gera cenários de longo prazo dos impactos dessa
atividade. Esses cenários servem para outros estudos. A área está muito
concentrada atualmente na questão das mudanças climáticas. Então, são gerados
cenários de clima para 10, 20, 50, 100 anos, que são utilizados, por exemplo,
para saber qual é o impacto das mudanças do clima na agricultura. Nessas quatro
áreas nós somos referência no país. Essa é terceira camada.
O Plano Diretor procurou refletir visões, planos para
essas três camadas de atuação. Na área de aplicações, o Plano Diretor deve
contemplar desde a parte científica – aprimoramento do conhecimento na área de
atuação –, passando pelos projetos de pesquisa aplicada e desenvolvimento,
depois chegando aos produtos e serviços. É isso o que esperamos da área de
aplicações do INPE.
Mesmo a área de Ciências Espaciais, onde é mais difícil
encontrar produtos e serviços, temos o Clima Espacial, que é um grande exemplo.
Uma diretriz geral do Plano foi a de que deveria contemplar, de um lado, uma
parte técnico-científica e, de outro, a institucional. A outra diretriz foi a
de elaborar um balanço do Plano Diretor anterior. Avaliar todas as metas,
mostrando aquelas que foram atingidas, as que não foram adiante, aquelas que
transbordam para o novo plano, porque tem que haver continuidade, e fazer um
fechamento dessas metas. E contemplar o investimento.
Além disso, o Plano Diretor deveria conter as metas
institucionais, separando o que é premissa e o que é meta. Não adianta dizer
que vou fabricar isso ou aquilo, se para isso eu preciso de gente, de
infraestrutura, e isso não aparece como premissa ou meta. As premissas partem
do que você tem hoje. Se você coloca metas para fabricar sistemas espaciais com
um certo volume de trabalho, é preciso prever as metas institucionais de
infraestrutura e recursos humanos para atingir aqueles objetivos. Então,
contratar gente no INPE tem que ser meta.
“ Se você coloca metas para
fabricar sistemas espaciais
com um certo volume de trabalho, é preciso prever as
metas institucionais de infraestrutura e recursos humanos
para atingir aqueles objetivos. Então, contratar gente
no INPE tem que ser meta.”
- Além dessas três grandes
camadas que você coloca, o Plano Diretor tem uma parte muito forte de gestão,
justamente para atender a essas três camadas. Como a questão de reposição de
quadros se enquadra nas prioridades do Instituto?
Perondi – Na
parte institucional, está presente a meta de contratar cerca de 400 pessoas
dentro de um a dois anos. Se não conseguirmos isso, as outras metas
programáticas, técnico-científicas estarão comprometidas.
- Mas essa é uma meta
factível?
Perondi –
Temos que negociar isso na área do governo. Tem que estar claro para o governo
que podemos assumir certas metas técnico-científicas se houver condições. Nos
últimos planos diretores nós confundimos muito meta com premissa, partindo do
princípio de que a infraestrutura viria junto com o programa. Mas não é assim.
Tem que separar um pouco isso, principalmente na área de recursos humanos.
Então, temos que colocar meta, sim, de contratar 400 pessoas em um curto prazo,
senão estaremos não-operacionais em diversas áreas. Quando formos consolidar o
Plano Diretor, isso tem que estar negociado junto ao governo. Não é só a
questão de capital e custeio, de orçamento. O MCTI tem que ter metas de
recomposição dos quadros do Ministério como um todo.
- As prioridades de reposição
estão na área de gestão?
Perondi – No
momento, sim, na área de gestão. É a área que está mais carente de pessoas.
Estamos extremamente defasados. Para se ter uma ideia, em 2007 o número de
servidores da área de gestão representava 32% do total dos quadros do INPE, e
hoje essa proporção caiu para 23%. E com tendência de cair ainda mais. Eu não
vou entrar na discussão sobre se isso é ou não o ideal, mas dá para comparar o
que existe hoje com a situação anterior. Na área de pesquisa, saímos de 17%
para 19,6%; de tecnologista, de 50% para 57%, enquanto que a gestão teve uma
queda grande. Não estou entrando no mérito. Nós não modificamos nosso padrão de
atuação, então, temos um déficit na área de gestão.
- Como está a questão do
comissionamento do CBERS-4?
Perondi – O
comissionamento foi feito internamente até onde foi possível, e agora temos que
ter apoio externo. Justamente pela falta de quadros, temos que ter uma
contratação externa para apoiar as atividades de comissionamento. Seria um
complemento ao trabalho que as equipes internas executam. Nós conseguimos junto
ao lado chinês o processamento de parte do acervo. É importante dizer que todas
as imagens geradas do Brasil estão sendo gravadas. Cerca de 20% do total desse
acervo já foram processados pelo lado chinês e estão disponibilizados no nosso
catálogo de imagens CBERS-4. Então, há esse acordo com o lado chinês de fazer o
processamento e também de disponibilizar as passagens dentro de um ou dois dias,
para o usuário brasileiro. A parte do comissionamento do lado chinês foi
concluída. Falta o lado brasileiro, que está muito relacionado com uma
ferramenta que temos que ter. Uma espécie de estação que tem que ter
atualizações para que se possa executar todas as atividades de comissionamento.
Estamos em uma fase de contratar o apoio externo para
finalizar as atividades do lado brasileiro. Boa parte do comissionamento já foi
feita, isto é, a posição do satélite em órbita nominal, isso faz parte e já foi
realizado. A extração dos parâmetros dos instrumentos a bordo já foi realizada
pelo lado chinês e bastante pelo lado brasileiro. Modelos das câmeras também
foram efetuados. Falta implementar esses modelos na ferramenta. Muito em breve
essas imagens estarão disponibilizadas. É importante dizer também que o
comissionamento que estamos realizando em conjunto com o lado chinês não
inviabilizará, de maneira nenhuma, o comissionamento do lado brasileiro, nem
qualquer iniciativa industrial. O Brasil vai ter que fazer a sua parte. Uma
iniciativa não mata a outra. O atraso que houve não é algo excessivo e temos
que dizer que boa parte dele se deve à falta de pessoal para fazer o trabalho.
Em breve acredito que tudo esteja regularizado.
Fonte: Informativo do INPE - Número 02 - 03/09/2015
Comentário: Bom leitor, como se pode notar esta entrevista
do Dr. Leonel Perondi é bastante esclarecedora e aborda todas as áreas do INPE.
No que diz repeito aos projetos de satélites a informação de que o satélite LATTES
(formado pelas Missões EQUARS e MIRAX) voltou a sua configuração inicial, ou seja,
o desenvolvimento de dois satélites baseados em plataformas pequenas e não mais
um único satélite baseado na plataforma PMM (plataforma de médio porte), já
havia sido abordado aqui no BLOG. Já o satélite Amazônia-1, o que dizer leitor?
Esta é a maior novela na área de satélites do Programa Espacial Brasileiro e
citar os seu irmãos subsequentes é puro exercício de ficção científica. Porém a
informação de que o INPE está discutindo como DCTA o desenvolvimento de um
satélite visando o voo de qualificação do VLM-1 é nova, e muito significativa e
impactante. Afinal, se será um voo de qualificação, devemos entender de que
esta missão seja anterior ao lançamento suborbital previsto do SHEFEX III
alemão, sendo que, como carregará um satélite abordo, deverá então ser um voo
orbital. Se assim for leitor, isso demonstraria a visão desses homens e
mulheres que estão envolvidos no desenvolvimento desse veículo, pois o sucesso
dessa suposta missão orbital seguida do também esperado sucesso da missão suborbital
do SHEFEX III alemão, colocaria o VLM-1 brasileiro numa posição de destaque
internacional, tanto para lançamento orbitais como para lançamentos suborbitais.
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, isto é, num universo de comprometimento, de
dinamismo, de seriedade e de apoio incondicional do desgoverno da “DebiOgra”, e
não no universo atual que o nosso ‘Patinho Feio’ tem enfrentado em seu dia-a-dia. Como já disse não conheço pessoalmente o Dr. Leonel
Perondi, mas as informações que tenho é de que se trata de um profissional
sério e comprometido com o que faz e pelo visto bastante otimista, como alias
tem de ser mesmo (pelo menos publicamente). Entretanto ele atua da área de gestão
de execução e não na área de gestão de decisão, que é onde se encontra o poder
de decisão e os debiloides irresponsáveis que atrapalham o PEB há décadas. Enfim... boa sorte ao Dr. Perondi, vai
precisar.
O voo do SHEFEXIII no VLM1 foi cancelado há quase 2 anos. Se houver missão conjunta com o Brasil para o SHEFEXIII será algo parecido ao SHEFEXII. O projeto VLM1 está parado desde a saída do Dr. Loures...
ResponderExcluiro Dr. Perondi está fazendo a parte dele planejando e mostrando aos seus superiores as necessidades. Se o primeiro escalão não fizer nada - e tudo indica que não farão - nada acontecerá do que foi planejado. Perondi é competente mas não é mágico.