Operação Nordeste - Uma Época Quando Existia Compromisso no PEB

Olá leitor!

Enquanto esperamos o lançamento do Cubesat AESP-14 do ITA (previsto para 16/12), resolvemos mexer nos nossos arquivos e lembrar a você o PEB do passado, quando então o país (apesar de viver uma situação econômica extremamente difícil) realizava efetivamente desenvolvimento e pesquisas espaciais condizentes com o poder econômico que detinha naquela oportunidade, e tudo graças ao compromisso dos governos militares que sempre apoiaram as pesquisas dentro do possível, compromisso que jamais existiu desde que os governos civis populistas e corruptos de merda assumiram o poder (com exceção ao Governo Sarney que veio contribuir com alguns avanços e não podemos negar isto).

Vale lembrar que naquela época ainda não existia a Base de Alcântara e nem mesmo a MECB (Missão Espacial Completa Brasileira) e todas as atividades tecnológicas e de pesquisas espaciais eram realizadas desde o início dos anos 60 no Campo de Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno (CLFBI – Como era denominado o CLBI na época). Pesquisas essas que envolviam anualmente diversas operações de lançamentos brasileiras (uma média de 6 a 7 lançamentos anuais) ou em parceria com países como a Alemanha, os EUA, o Canadá e a França. Em outras palavras, uma época quando o nosso país tinha um programa espacial do tamanho do Brasil, situação que jamais voltou a acontecer devido aos desgovernos civis.

Para se ter uma ideia do compromisso dos governos militares da época com as atividades espaciais era comum nas operação mais significativas o comparecimento do Presidente da República e sua comitiva para acompanhar o lançamento, coisa que jamais ocorreu durante os governos civis, sendo que quem mais se aproximou de uma visita dessa foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que chegou a ter sua presença confirmada pela sua assessoria durante a realização da “Operação Almenara” (segundo voo do VLS-1), mas que foi cancelada horas antes (se acredita) por medo de uma possível falha do foguete e do estrago que isto poderia causar a sua imagem política.

Diante disto escolhi para mostrar a você leitor uma operação denominada de “Operação Nordeste”, ocorrida em setembro de 1975 e que contou com a presença no CLFBI do então presidente Ernesto Geisel e sua comitiva, para acompanhar o lançamento de um dos dois SONDA II desta operação, mas precisamente o Sonda II C, que tinha como missão conduzir uma carga útil científica de 41,8kg denominada “ELETRON”, com o objetivo de determinar a densidade de elétrons na baixa ionosfera. Veja abaixo o relatório completo desta missão:

Duda Falcão

DESCRIÇÃO DA CAMPANHA

Primeiro Voo

Data do início da campanha: Não consta
Operação: Operação Nordeste
Foguete: Foguete Sonda II C
Numero do vôo do foguete: Não consta
Data de lançamento:  25/09/1975
Horário: 11h14m
Local:  Campo de Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno (CLFBI)
Apogeu do vôo:  Entre 60 e 100km de altitude
Tempo de vôo:  Não consta
Objetivo: Conduziu o Experimento ELETRON com o objetivo de determinar a densidade de elétrons na baixa ionosfera.
Resultado:  Operação bem sucedida

Experimentos Embarcados:

- Experimento ELETRON

Segundo Voo

Foguete: Foguete Sonda II A
Numero do vôo do foguete: Não consta
Data de lançamento:  25/09/1975
Horário: Não consta
Local: Campo de Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno (CLFBI)
Apogeu do vôo: Não costa
Tempo de vôo:  Não consta
Objetivo: Conduzir uma carga útil inerte de 35kg para obtenção de dados de trajetória e comportamento por acompanhamento de Radar e Rastreio óptico, com o objetivo de testar novo carregamento de propelente desenvolvido pelo IAE/DEE (Divisão de Engenhos Espaciais), bem como obter dados estruturais ainda não totalmente qualificados em voo, como empenas, proteções técnicas e verificação do comportamento do veículo.
Resultado:  Operação bem sucedida

Experimentos Embarcados:

- Experimento Teste de Propelente

Instituições Envolvidas:

MA - Ministério da Aeronáutica
IAE - Instituto de Atividades Espaciais (IAE)
DEE - Divisão de Engenhos Espaciais do IAE
CLFBI - Campo de Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno
CATRE - Comando Aéreo de Treinamento
AVIBRÁS - Avibrás Indústria Aeroespacial S/A

OPERAÇÃO NORDESTE

Durante a realização da “Operação NORDESTE”, as atividades espaciais do então Ministério da Aeronáutica (MA), atingiu um elevado grau de maturidade demonstrado pelos dois voos bem sucedidos do foguete SONDA II, um dos quais equipado com uma carga útil constituída do primeiro experimento espacial brasileiro de caráter puramente científico, o Experimento ELETRON.

Este fato demonstrava na época que a etapa de lançamentos com a finalidade de desenvolvimento tecnológico dos veículos atingira um grau de confiabilidade suficiente para encorajar os nossos cientistas no emprego desse instrumento para concretizar o seu objetivo fim: a pesquisa científica.

O estudo da baixa ionosfera representava naquela época um tópico relevante para a maior compreensão de alguns fenômenos que ocorrem na propagação de onda eletromagnética, altamente dependente dessa camada ionizada da atmosfera ou especificamente de sua densidade eletrônica.

Dessa forma, não era possível pelo método convencional do uso de ionosondas para efetuar tal medida e pouco se conhecia dessa distribuição, além do pouco conhecimento sobre a sua física.

O “SONDA II-C” leitor era um foguete desenvolvido e fabricado inteiramente no Brasil com 300mm de diâmetro e 5.570mm de comprimento total, mas durante a “Operação NORDESTE”, foi também lançado um foguete SONDA II-A com dimensões semelhantes  ao primeiro, mas que tinha abordo uma com carga útil inerte com o objetivo de ensaiar um novo propelente desenvolvido pelo Instituto de Atividades Espaciais (como era denominado o IAE naquela época), o que seria obtido pela análise de seu desempenho, por Radar e Rastreio-Óptico, entre 60 e 100km de altitude.

O IAE pretendia com esse “Experimento ELETRON” dar uma contribuição para um melhor conhecimento dessa região, conhecimento este da maior importância para as comunicações, rádio-navegação e para o estudo da interação Sol-Terra. Assim sendo, com o objetivo de determinar a densidade de elétrons nessa camada, entre 60 a 100km, cientistas, pesquisadores e técnicos do Centro Técnico Aeroespacial (CTA – assim era na época chamado o DCTA) lançaram-se no desenvolvimento de uma carga útil capaz de realizar essa tarefa.

O experimento incluía transmissores e receptores instalados no solo e na carga útil do veículo. O sinal transmitido pelo rádio-farol de Natal na frequência de 400kHz foi captado por 3 antenas perpendiculares entre si e acopladas aos receptores da carga útil. Informações sobre a intensidade do sinal recebido foram transmitidas para a estação receptora no Campo de Lançamento de Foguetes da Barreira do Inferno. As variações desse sinal, atenuado durante sua passagem pela camada ionizada e cujo modelo matemático se conhece, foram analisadas em computador, permitindo a determinação da densidade eletrônica da baixa ionosfera na hora do lançamento.

Vale dizer que experimentos semelhantes foram realizados na década de 1970 na Austrália e nos Estados Unidos, contudo, nas proximidades do Equador Geomagnético, esta foi à primeira vez que isto foi feito. Deve-se ressaltar que o campo geomagnético é um dos fatores predominantes na distribuição eletrônica da ionosfera.

Completando vale lembrar também que o "SONDA II C" foi composto por um motor com propelente bloco livre pastilhado que teve o seu carregamento curiosamente realizado pela empresa AVIBRÁS, enquanto o "SONDA II A" foi composto por um motor com propelente moldado sólido, carregado pelo  EDE do IAE.

VÍDEO:

Vídeo da Operação

FOTOS:

O foguete SONDA II C a caminho da plataforma de lançamento.
A chegada do  Governador Tarcísio Maia (RN), do Presidente
Ernesto Geisel e do Coronel Starling ao CLFBI.
Autoridades e público assistem lançamento do Sonda II C.
O Brig. Araripe Macedo trocando figurinhas com o Presidente Ernesto
Geisel  e o Governador Tarcísio Maia após o lançamento do SONDA II C.

Comentários

  1. Excelente artículo, e interesante para poder conocer mejor la historia aeroespacial sudamericana.

    Saludos dese Argentina

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    1. Estimado Gustavo!

      Gracias por su reconocimiento. Siempre es bueno recordar un momento en que el Programa Espacial Brasileño realmente trabajó en el proceso de desarrollo espacial.

      Saludos desde Brasil

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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