Lembrando o ECO-8 System e a Histórica Falta de Compromisso do Governo

Olá leitor!

Desde que criei o Blog BRAZILIAN SPACE em 30/04/2009 defendo a tese que o Programa Espacial Brasileiro tem como problema básico a falta de compromisso governamental desde o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

É claro que o programa enfrenta outros problemas, como a falta de recursos humanos e financeiros adequados, defasagem de sua infraestrutura laboratorial, legislação inadequada e engessada, falta de apoio político adequado do Congresso que só sabe fazer jogo de cena, decisões estapafúrdias e irresponsáveis como a criação da ACS, falta de demanda e de desafios tecnológicos para o setor, falta de uma verdadeira política espacial, a não inclusão do setor como política de estado e em certos momentos gestão ineficiente e politizada nas instituições que gerenciam e executam as atividades espaciais do país.

Entretanto todos esses problemas citados são equacionáveis quando existe compromisso governamental, coisa que deixou de ocorrer no PEB a partir do Governo Collor, ou seja, desde o início dos anos 90, e assim o problema que naquela época já afetava as atividades espaciais do país, nos últimos quatro anos do Governo da “Ogra” chegaram a uma situação de completo abandono gerando uma situação insustentável, a ponto de hoje termos um fantoche na presidência de nossa Agência Espacial, conivente com tudo que está acontecendo.

A ineficiência administrativa, a irresponsabilidade política, a falta de visão política, de seriedade, de brasilidade e o populismo exacerbado dos governos civis desde ex-presidente COLLOR DE MELLO, não só prejudicou sensivelmente (e em alguns casos mortalmente) projetos conhecidos do PEB surgidos ainda durante a MECB (Missão Espacial Completa Brasileira), como os projetos VLS-1 e dos Satélites SSR-1 e SSR-2, como também outros projetos poucos conhecidos da Sociedade Brasileira surgidos a partir da década de 90, como por exemplo a PSO, o VLM, SCD-3, a sonda MCE (Monitor de Clima Espacial), a sonda Santos Dumont e a sonda lunar ISTHAR (que sequer foram aprovadas), o motor líquido L15, o Programa Cruzeiro do Sul de veículos lançadores, e por fim (já que a lista é enorme) um projeto que poderia ter ajudado muito o desenvolvimento das telecomunicações no Brasil, ou seja, o projeto “ECO-8 System” do INPE.

Antigo logo do Projeto Eco-8 System

Projeto surgido no INPE a partir do inicio da década de 90 (creio eu), o “Projeto ECO-8 System” tratava do desenvolvimento de um sistema de telecomunicações moveis via satélite de órbita baixa, que posteriormente passou a contar com a parceria da Telebrás.

O sistema em questão seria inicialmente formado por 8 satélites de órbita baixa, mas posteriormente optou-se por um sistema formado por 12 satélites (mantendo-se o nome do projeto)  que seriam posicionados em órbita circular equatorial  a 2000 km de altura, visando com isto prover o nosso país com comunicações de voz e dados entre terminais fixos, moveis veiculares e moveis pessoais. (saiba mais aqui).

Vale dizer que naquela época todos os projetos de satélites do INPE (com exceção os do Programa CBERS) eram concebidos sempre buscando atender as limitações e especificações de lançamento do VLS-1 (dentro do que havia sido previsto pela MECB) que estava sendo desenvolvido no Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE).

Ou seja, esta constelação de satélites geraria durante um certo tempo a demanda que o VLS-1 precisava para sua qualificação, como também para sua apresentação ao mercado internacional, bem como para que as industrias brasileiras do setor pudessem alcançar o desenvolvimento tecnológico desejado também na área de telecomunicações.

O resultado disso leitor é que hoje temos o projeto do SGDB, um projeto questionável, inseguro para a área de Defesa do país e que não acrescenta nada tecnologicamente ao Brasil.

Volto a insistir, o sistema atual tem seus problemas, mas poderia esta funcionando razoavelmente bem (e gradativamente sendo feitos os ajustes políticos, financeiros, legais e de infraestrutura que o setor necessita) se houvesse verdadeiramente compromisso do desgoverno da “Ogra”, e a grande prova disto é que historicamente já funcionou (durante os governos militares) com muito menos recursos financeiros, mas com grande compromisso daqueles governos (na época o Brasil tinha um Programa Espacial do tamanho do Brasil e hoje não tem), gerando com isso uma motivação que hoje de uma maneira geral não existe mais nos institutos executores do programa.

Como exemplo recente de que quando existe compromisso do governo os nossos pesquisadores dão a resposta desejada, temos o exemplo do Satélite CBERS-4. Quando estive no LIT (Laboratório de Integração e Testes) do INPE, no inicio de abril deste ano (veja a foto abaixo) fui informado pelo nosso anfitrião, o Dr. José Sérgio de Almeida, de que apesar da missão ser extremamente difícil (lançar o CBERS-4 um ano após a perda do CBERS-3) não havia problema de recursos financeiros e o INPE faria de tudo para cumprir a missão dentro do prazo, coisa que esperamos seja feita exitosamente no dia 07/12 próximo.

Na companhia do Dr. Otávio Durão ( a esquerda) e de nosso
anfitrião, o Dr. José Sérgio de Almeida.

Na época não dei muito crédito a esta meta estabelecida pela AEB/INPE e por diversas vezes manifestei no Blog a minha incredulidade sobre a mesma, classificando-a como eleitoreira, afinal vivíamos um ano eleitoral e historicamente não faltava exemplos semelhantes.

Pois é leitor, você precisa compreender que o Programa Espacial Brasileiro (PEB) é um programa conduzido pelo governo e para que funcione precisa de compromisso (apoio político, financeiro, logístico, legal, de demanda e planejamento e principalmente cobrança por resultados) para que assim o órgão de gestão (AEB) e os órgãos executores (DCTA,IAE,IEAv,IFI,INPE e as empresas participantes) possam conduzir a execução das atividades espaciais do país adequadamente, gerando como isso conhecimento científico e tecnológico e empregos de alto valor agregado para a nossa sociedade.

Enquanto isto não acontecer o nosso Programa Espacial continuará sendo chacoteado e despertando pouco interesse da nossa sociedade, postura esta que se já na década de 90 do século passado representava uma grande falta de visão, no atual contexto internacional é um tremendo erro estratégico.

Duda Falcão

Comentários

  1. É triste saber de tantos projetos que o Brasil poderia ter desenvolvido e que possivelmente não obtiveram o apoio do Estado necessário.

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  2. Victor G. D. de Moraes4 de dezembro de 2014 às 08:30

    Eu concordo com tudo o que você disse, com a ressalva que a Dilma é até simpática, para ser comparada com uma Ogra. Até agora ela deu demonstrações de ser democrática. Quieta, silenciosa, mas ainda não deu um golpe comunista a "la cubana". Ela deve ter consultado os chineses e depreendido que a tendência é sair do comunismo, e adentar com unhas e dentes no capitalismo, como a China tem feito. Infelizmente, para alguns de plantão, a natureza é cruel. Ela ensina que se você não rega o seu jardim, não haverá flores. E o "Estado" brasileiro que é rico, suga em impostos e não oferece ao cidadão o serviço estatal adequado. O Estado é ineficiente ao extremo. As leis são frouxas e o patriotismo é confundido com "amor a bandeira", "serviço militar", "futebol", e nada mais. O Brasileiro infelizmente prefere o estrangeiro. Tupiniquim mania. Se você vender para a Elite carioca do Leblon um banana com o selo "made in France" você vende caro em em dólares. O patriotismo deveria ser uma das primeiras coisas a ser ensinada nas escolas. O que é patriotismo? Gostar de onde nasceu. Orgulhar-se. Mas veja a televisão. O EUA produz heróis por mês. No Brasil se você tiver um personagem herói brasileiro, certamente ele será engraçado, pilantra, infiel, tipo "casseta & planeta". Assim o Brasil nunca será orgulhoso. Nós somos umas das nações com maior carga de impostos, a sexta ou sétima economia, e temos IDH de submundo. Esperança? Como se diz... é a última que morre. Eu tenho esperança que algum presidente ainda vai fazer este povo brasileiro sentir orgulho real de suas coisas, e privilegiar seu povo. O brasileiro tem mania de criticar os países desenvolvidos como os EUA por serem "dominadores" mas o povo brasileiro tem que reconhecer sua incompetência, para começar a trabalhar certo e ter do que se orgulhar. O programa espacial brasileiro reflete a incompetência de um povo, diante das outras nações. Se é o que interessa. As relações internacionais... A presidente precisa saber que um pais que não desenvolve-se espacialmente está condenado a ser derrotado. E andar a reboque, como sempre fez o Brasil. Enquanto o povo brasileiro canta internacionalmente que é pacífico, a violência urbana mostra que não. E o estrangeiro olha com gozo a hipocrisia do brasileiro, e não o teme. Pois sabe que ele é tão burro e violento como qualquer outro país, mas não tem uma capacidade, nem balística, nem espacial ( o que inclui comunicação, pesquisa, monitoramento...), e uma "elite" pensante na área tecnológica. No Brasil o inventor é risível. O pesquisador, assim como o professor é sub estimado. Eu tenho esperança que Dilma, que eu não considero uma "Ogra", solucione vários problemas do Brasil e que não se prenda apenas ao aspecto econômico ou social. E que Deus nos ajude! (Eu espero que Deus nos ajude, mesmo que você Duda Falcão, e a president"a" sejam menos favorecidos ateus)

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    Respostas
    1. Olá Victor!

      Só tenho três ressalvas ao que você disse. A primeira é que a DILMA é sim uma "OGRA", mas enfim, esta é minha opinião. A segunda é que a DILMA muito pelo contrario não resolverá ou amenizará nada, só irá piorá o trágico governo que realizou nos últimos quatro anos. E a terceira é que você esta enganado Victor, eu não só ATEU, apenas não acredito em deuses, pois eles não fazem o menor sentido. Quem precisa ajudar o Brasil é o seu próprio povo escolhendo melhor seus governantes.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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