Segredos Brasileiros São Bisbilhotados Há Décadas Por Outros Países

Olá leitor!

Finalizando a série de três artigos que demonstra como é "grave e antigo" o problema da espionagem no país, trago agora para você o terceiro e último artigo dessa série publicado recentemente sobre esse assunto. Este terceiro artigo foi postado dia (03/08) no site do jornal “Folha de São Paulo” destacando que os segredos brasileiros são bisbilhotados há décadas por outros países.

Duda Falcão

MUNDO

Segredos Brasileiros São Bisbilhotados
Há Décadas Por Outros Países

MÁRIO CHIMANOVITCH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
03/08/2013 - 04h00

A denúncia do ex-técnico da NSA Edward Snowden de que os EUA usam métodos sofisticados para nos espionar, que gerou furor nos meios governamentais, não deveria ter causado tanta comoção.

Casos ocorridos nos anos 80 e 90, e até antes, mostram que os segredos políticos e tecnológicos do Brasil são bisbilhotados há décadas não só pelos americanos, mas também por franceses, israelenses e sabe-se lá quem mais.

Documentos ultraconfidenciais do extinto Serviço Nacional de Informações revelam que várias instituições do governo e indústrias estratégicas foram alvo permanente de espionagem externa --os mais visados eram o CTA (Centro Técnico Aeroespacial) e o Instituto de Estudos Avançados da Aeronáutica, em São José dos Campos (SP).

Com o SNI voltado para o "inimigo interno", a atividade de contraespionagem era praticamente nula no Brasil. Mesmo assim, vez por outra, investigavam-se agentes de "países amigos", como John James Gilbride Jr., que também utilizava os nomes John Gilbraith ou Jack O'Brian.

Credenciado como vice-cônsul para assuntos econômicos, fachada comumente usada pela CIA no exterior, operou no Brasil de 1988 a 1992, nos consulados dos EUA no Rio e em São Paulo.

Estava empenhado em recrutar cientistas e pesquisadores do CTA, principalmente do programa aeroespacial. Deixou o país quando já estava "queimado" --ou seja, identificado como agente empenhado em ações prejudiciais a interesses brasileiros.

Apurou-se que Gilbride nunca fora diplomata de carreira. O assunto foi encoberto, já que o governo do Brasil queria evitar a eclosão de um escândalo diplomático.

O espião americano marcara almoço com importante cientista brasileiro numa churrascaria da alameda Santos (SP). Os agentes brasileiros que o vigiavam descobriram ser impossível pôr escutas no local devido à fortíssima interferência das antenas de rádio e TV. Terminado o almoço, o americano despistou nada menos que 11 agentes.

O interesse estrangeiro recaía também sobre os centros de pesquisa de universidades como a Unicamp e a USP, com tentativas persistentes de aliciar técnicos e cientistas.

Entre 1983 e 1985, a então Telesp, hoje Vivo, teve roubados carros e macacões dos serviços de manutenção. Após os furtos, a Polícia Federal localizou gravadores em postes do Vale do Paraíba.

Esses grampos --especulou-se-- objetivavam registrar telefonemas de pessoas ligados ao setor aeroespacial.

MORTE MISTERIOSA

A misteriosa morte do tenente-coronel José Alberto Albano do Amarante, da Aeronáutica, em 3 de outubro de 1981, evidenciou a atuação de um espião do Mossad, o célebre serviço secreto de Israel.

Nos anos 70, o Brasil desenvolvia secretamente um programa nuclear para fins militares. Parceria com o Iraque assegurava os altos recursos financeiros necessários à sua execução; em troca, os iraquianos teriam acesso aos conhecimentos tecnológicos dos cientistas brasileiros.

O responsável pelo programa na Aeronáutica era Amarante, engenheiro eletrônico pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica visto como o pai da pesquisa nuclear no país.

Em outubro de 1981, ele foi atacado por uma leucemia galopante: morreu em dez dias. Sua morte passou a ser investigada pela Aeronáutica --teria sido contaminado de propósito por radiação.

A família acreditava que o cientista fora morto pelos serviços secretos de EUA e Israel, mas nada se comprovou. Na época, a mulher de Amarante contou que ele se queixava de ser seguido quando ia a SP ou ao Rio. Depois, quando seus restos mortais foram exumados para novo enterro no Rio, a família constatou sinais de violação da sepultura.

Amarante fundara o Laboratório de Estudos Avançados, grande centro de estudos destinado a se constituir na espinha dorsal da pesquisa nuclear do país. Seu objetivo era ambicioso: desenvolver o enriquecimento de urânio por raios laser (usados para detonar a reação nuclear), em vez do sistema de centrífugas, mais oneroso e lento.

No exterior, cresciam as suspeitas de que as experiências objetivavam desenvolver armas nucleares, o que sempre foi negado pelo Brasil.

ESCUTAS NO HOTEL

As investigações sobre a morte de Amarante revelaram a existência de um misterioso personagem, Samuel Giliad ou Guesten Zang, um israelense nascido na Polônia, que lutara contra os alemães na Segunda Guerra.

O israelense, apelidado de "Mister Pipe" por fumar cachimbo, chegou a São José em 1979 para gerir o Hotel Eldorado, o principal da cidade, que hospedava muitos estrangeiros, civis e militares, envolvidos em atividades industriais e científicas na área.

Extremamente simpático, Giliad mancava de uma perna devido a um tiro levado na guerra, contava. Hábil, instituiu no Eldorado reuniões sociais de secretárias e gerentes de indústrias, gente solitária capaz de soltar a língua estimulada por drinques. Assim, tinha acesso a informações valiosas: sabia quais delegações visitavam quais indústrias da região e, sempre que possível, a razão das visitas.

O israelense tentou se aproximar de Amarante, mas o oficial o repelia: nunca atendeu a nenhum convite. Passou a frequentar o dentista que atendia Amarante, procurando marcar horários logo depois dos do oficial.

O coronel aborrecia-se com a insistência, e suas suspeitas cresceram quando o dentista o alertou das perguntas que Giliad fazia: "O que é que a Aeronáutica está construindo em Cachimbo (Pará)? Ouvi dizer que se trata de uma grande pista de pouso. Mas para que servirá, se já existem as de Manaus e Belém?".

Era em Cachimbo que estava sendo preparado o local para a primeira experiência do projeto nuclear brasileiro.

Diante dessas perguntas, o alarme foi dado, e Giliad passou a ser vigiado de perto. Descobriu-se que ele tinha cinco passaportes com nomes diferentes e instalara escutas nos quartos e demais dependências do hotel, para ouvir hóspedes e empregados.

Após dois anos, o israelense bateu em retirada de forma hábil quando percebeu que a vigilância crescia: publicou anúncio num jornal local procurando uma acompanhante para dividir despesas numa viagem à Argentina.

O Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica errou ao responder ao anúncio enviando um agente (homem). Percebendo que fora desmascarado, Giliad deixou a cidade e desapareceu.

Foi durante a ação do agente israelense em São José que a mídia internacional revelou que o Brasil fazia remessas secretas de urânio enriquecido ao Iraque, disfarçadas em material bélico da Avibrás.

Foi também durante a sua estada na região que o "Latin America Weekly Report" noticiou a misteriosa morte de Amarante, expondo suas atividades secretas com impressionante riqueza de detalhes.

Finalmente, quando se divulgou, em 1981, a história das remessas secretas, o Mossad já sabia de tudo e as documentara com fotos. O episódio brasileiro, acreditam os especialistas, serviu como manipulação da opinião pública para que Israel justificasse seu bem-sucedido ataque aéreo ao complexo atômico de Tamuz, no Iraque.


Fonte: Jornal “Folha de São Paulo” - 03/08/2013

Comentário: Com esse artigo eu finalizo a serie sobre esse grave problema que não é novo no Brasil, mas que precisa ser combatido urgentemente com eficiência por gente competente e comprometida com os interesses da nação brasileira. Entretanto, esse é apenas um dos graves problemas que a sociedade brasileira terá de enfrentar nas próximas décadas e não será nada fácil, já que será necessário uma profunda mudança cultural para que isso aconteça. Quando o brasileiro começar a se perguntar o que ele pode fazer para ajudar o Brasil, invés de perguntar o que Brasil pode fazer para ajuda-lo, aì sim, estaremos então dando o primeiro passo para construir uma grande nação.

Comentários

  1. Os israelenses deveriam dar uma medalha ao collor ou já patrocinaram sua campanha.

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  2. Isso é de enfurecer. Todo esse tempo, nós aqui fazendo um esfoço hercúleo prá desenvolver NOSSA tecnologia então vem um bando de ladrão, sem vergonha e rouba nossas pesquisas; no dia seguinte tá lá posando de país desenvolvido, capacitado e altamente tecnológico. É claro! Roubando os outros, passando a mão nos projetos. O Brasil tem sido muito ingênuo meu Deus do céu! Se o país fosse uma pessoa, o Brasil deveria dar um soco na cara de Israel e dos EUA e de outros mais prá cair de bunda no chão e tomar o que foi roubado! QUe isso, minha gente! Nós não vamos fazer nada né? Santo Deus.

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