O Destino de Alcântara
Olá leitor!
Segue abaixo um artigo escrito pelo senhor Roberto Amaral
e postado dia (08/08) no site da revista “Carta Capital”, dando destaque a
matéria postada dia 29/07 no site do Estadão (veja aqui), que abordou as novas
negociações entre o Brasil e o Estados Unidos para o uso da Base de Alcântara
pelos americanos.
Duda Falcão
POLÍTICA
Programa
O Destino de Alcântara
Enquanto o Brasil for
ocupado ideologicamente, não conseguirá
fazer política soberana em
temas como o programa espacial
Por Roberto Amaral
08/08/2012 - 08:35
Divulgação
Lançamento do Foguete brasileiro de médio porte VSB-30 VO 7 da Base de Alcântara, em 2010. |
O Estadão (29 de julho, p. A6) diz que o “Brasil
volta a negociar uso de base de Alcântara com os EUA.” Há, no título o
primeiro erro, pois não se trata de uso de "base de Alcântara", que
não existe, mas de cessão de território estratégico brasileiro, para que nele
os EUA e, mais tarde,"europeus e japoneses", continua o
jornal, instalem bases para lançamentos de satélites, suprindo assim suas
(deles) atuais carências, exatamente aquelas que hoje tornam concorrencialmente
viável o projeto espacial brasileiro – o qual tem (ou deveria ter) objetivos
estratégicos determinantes e fins comerciais secundários.
Os europeus não
devem ter interesse na empreitada, pois já possuem, em pleno funcionamento, a
base de Kourou, na Guiana Francesa, cuja localização geográfica, a 5,0º ao
Norte da linha do Equador, preserva algumas das muitas vantagens oferecidas
pela península de Alcântara, no Maranhão. Ela poderia interessar aos russos,
pois suas atuais bases de lançamento, como a de Baikonur, mediterrâneas, exigem
o sobrevoo do satélite sobre áreas habitadas; mas eles estão associados aos
franceses em Kourou, de onde serão lançados os foguetes Soyuz, e com
ucranianos, noruegueses e norte-americanos da Boeing trabalham o
lançamento de satélites a partir de um navio lançador, o Sea Launch,
fundeado na linha do Equador. Coisa que até aqui, felizmente,
não se revelou comercialmente viável. Por enquanto, portanto, a abertura de
Alcântara é o seu fechamento para a exploração dos EUA, e o anunciado réquiem
de nosso projeto de programa espacial autônomo.
A matéria diz
que as discussões são levadas a cabo pelo Itamaraty, “que espera ter um
acordo pronto para ser assinado na visita da presidente Dilma Rousseff a
Washington, em outubro”. Como se vê, ou a coisa vem de longe ou é levada a
toque-de-caixa. A primeira hipótese é a mais provável, é o que deduzo de mais
uma informação do jornal, aquela que diz que “o assunto é ainda classificado
como secreto pelo governo”. Mas eu me pergunto: como é
secreta informação à qual o jornal tem acesso? E me pergunto, ainda:
por que matéria de tal relevância é tratada de forma secreta? Em qualquer hipótese,
não sabemos a opinião da Agência Espacial Brasileira - AEB, autarquia
brasileira encarregada legalmente de monitorar o programa espacial brasileiro
(Qual sua parte nesse negócio? Foi tudo feito à sua revelia?). Não se conhece a
opinião do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais- INPE (responsável pelo
programa brasileiro de satélites). Não se sabe, tampouco, a opinião da
Alcântara Cyclone Space-ACS (a bi-nacional resultante da associação do Brasil
com a Ucrânia, responsável pela construção, em andamento, em Alcântara,
de uma base habilitada ao lançamento do foguete, médio, Cyclone-4). Não se
sabe, a opinião do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a cuja
jurisdição estão subordinadas essas instituições. E não se conhece a opinião da
SBPC, tão fogosa e falante nos idos de 2003. Se alguém sabe de alguma coisa, a
reportagem sonegou aos leitores essas informações.
E a cidadania
não sabe, nem lhe é dado saber, qual a importância, para seu cotidiano, de um
programa espacial, que controla desde o espaço aéreo de nosso país à prospecção
de nosso território, passando pelo controle das comunicações e das condições
meteorológicas e de nossas safras.
Mas voltemos
ao Estadão.
A mesma matéria,
assinada por Lisandra Paraguassu, diz que “O governo vê a localização
de Alcântara – que, segundo especialistas, reduz em até 30% o custo de um
lançamento – como um ativo que deve ser explorado, inclusive para financiar o
próprio programa espacial brasileiro”. Esse é raciocínio típico de
contador, passando ao largo de todas as questões estratégicas.
Expliquemos.
Nossa única
vantagem, posto que não dominamos a tecnologia de lançamentos (dependente do
êxito da ACS) é geográfica, isto é, deriva da proximidade de nosso litoral
Norte-Nordeste em relação à linha do Equador: o município de Alcântara está a
2,2º e o Nordeste brasileiro a 3,2º Sul do Equador, e Kourou, vimos, a
5,0º ao Norte. São duas as vantagens nossas daí consequentes. Primeiro de
tudo, essas condições nos possibilitam realizar, a partir de um único
centro, lançamentos em todas as direções de órbitas utilizadas para os
satélites e outras espaçonaves. Os EUA são obrigados a ter bases nas suas
costas Leste e Oeste, e a Rússia em várias áreas de seu território e mesmo em
outro país, o Cazaquistão.
Às vantagens
decorrentes da proximidade com o Equador, somam-se, ainda no caso brasileiro,
condições favoráveis de segurança, pois, além de evitar sobrevoos sobre regiões
habitadas, dispomos de todo o mar como área para retombamento dos estágios e
coifas (‘narizes’ de foguetes, onde armazenam-se cargas) que são ejetados
durante o voo. E essas vantagens fazem cair as despesas com seguro, baixando
ainda mais os custos de quaisquer lançamentos a partir de Alcântara. Enquanto
isso, para evitar acidentes e invasão de territórios estrangeiros, os veículos
que partem dos cosmódromos russos são obrigados a proceder a grandes e custosas
manobras em voo, determinantes de maior consumo de combustível e de perda de
capacidade de colocação de carga útil em órbita. Os lançamentos a partir das
bases dos EUA também precisam efetuar manobras – custosas – para entrar em
órbita no Equador.
A grande
vantagem geográfica brasileira é, além do litoral aberto, a proximidade
com o Equador.
Como vemos, por
estarem localizados no hemisfério Norte, os veículos da maioria dos países do
clube espacial, para entrar em órbita equatorial, têm de fazer uma manobra
(denominada em inglês dog leg) para
injetar seus foguetes em órbitas equatoriais, o que exige muito mais
combustível, em comparação a lançamentos realizados na proximidade da linha do
Equador, como é o caso do Centro Espacial de Kourou e será o do futuro Centro
de Lançamentos da ACS, o nosso, o qual não requer a manobra
adicional. De acordo com as leis da mecânica espacial, quando um
lançamento é realizado em direção ao Leste, e o mais proximamente possível do
Equador, conta com a vantagem total da rotação da terra, com o chamado “efeito
catapulta” maximizando a carga útil e, em consequência, minimizando o custo de
lançamento.
Qual é o nosso patrimônio,
único? A localização, que torna os lançamentos a partir de Alcântara altamente
competitivos, ao proporcionar uma redução, reconhece o jornal, de até 30% do
custo (estimado entre 25 e 30 milhões de dólares) ou um acréscimo de 30% no
peso da carga transportada, em face, por exemplo, de um lançamento dos EUA ou
da Rússia. Insisto: somente esta vantagem geográfica nos torna
competitivos em face dos EUA, da Europa, da Rússia, da China e do Japão.
Qual a proposta
comercial de nossa única base de lançamentos, a futura ACS? Disputar o mercado
internacional de satélites, a começar pelo maior de todos, o
dos EUA, oferecendo-lhe lançamentos mais baratos. E o que
anuncia o jornal? Que vamos jogar fora essa vantagem competitiva. Quando os EUA
e os demais concorrentes puderem fazer seus lançamentos a partir de Alcântara,
transferiremos para eles a economia dos 30%, e os nossos lançamentos e os deles
passarão competir no mercado com o mesmo preço, donde o total desinteresse de
proceder a lançamentos a partir de nossa base. O que sobrará para o
Brasil? De player, nosso projeto original, seremos, a partir da
concretização dessa nova política, mero agente imobiliário.
Eis um caso
ilustrativo de como, quando não se tem estratégia própria, adota-se a
estratégia do outro – julgando aproveitar, assim, maravilhosas vantagens. Ou,
dito de outro modo: é difícil, impossível quase, fazer política soberana em
país ocupado ideologicamente.
Leia mais em www.ramaral.org
Fonte: Site da Revista Carta Capital - 08/08/2012
Comentário: Bom leitor, em minha modesta opinião,
felizmente nesse artigo o senhor Roberto Amaral faz uma analise tão precisa sobre
o que foi postado na matéria do Estadão que é difícil de acreditar que tenha
sido ele mesmo o autor do artigo. Mas enfim... Sabe leitor, sempre achei que a
implantação do Complexo Espacial de Alcântara (CEA), como havia sido projetado antes
do imbróglio com as Comunidades Quilombolas, era um projeto tão viável como desejável,
desde que fosse conduzido com sapiência, comprometimento e responsabilidade através
de profissionais do ramo, e não políticos inconsequentes, debiloides e irresponsáveis
como o senhor Roberto Amaral e sua trupe de energúmenos. Além é claro e primordialmente,
desde que não viesse atrapalhar o desenvolvimento do verdadeiro programa
espacial do país e sim contribuir com o mesmo. Mas a verdade é que desde que o
processo se iniciou, com a implantação da Base de Alcântara pela Aeronáutica no
inicio dos anos 80, a coisa foi feita de forma errada e com truculência e deu
no que deu. Infelizmente a falta de visão de médio e longo prazo, de seriedade,
de comprometimento do governo com Programa, mesmo ainda na fase militar de
governo, fez com que chegássemos a essa situação, que veio se agravar ainda
mais com a assinatura do acordo com a Ucrânia e posterior criação dessa mal
engenhada empresa Alcântara Cyclone Space (ACS). Se ainda no final da década de
70 (1978/79, quando já se pensava em Alcântara) o governo tivesse criado uma
comissão de especialistas (civis e militares) e enviado a Base da Kourou na Guiana
Francesa, para saber dos franceses como eles conduziram a implantação de sua
base no inicio dos anos 60 (as condições entre a região de Kourou e Alcântara
eram semelhantes) muita coisa teria sido evitada, e certamente a convivência
com as Comunidades Quilombolas hoje seria completamente outra. É preciso que a
Sociedade Brasileira entenda que só existem três tipos de governos no mundo, ou
seja, o péssimo, o ruim e o menos ruim. Países onde o governo é menos ruim,
existe um maior compromisso e seriedade com os interesses nacionais, e países
onde o governo é péssimo, como o Brasil, normalmente são conduzidos por
energúmenos populistas que tem como único interesse a manutenção do poder. Caro leitor, quem tem competência e compromisso faz prevalecer os seus interesses, o resto é conversa mole para boi dormir, e na maioria da vezes, motivada por outros interesses que, no Brasil, tenha certeza, não são nada nobres. Aproveitamos
para agradecer ao jovem engenheiro do ITA, Eduardo Jourdan pelo envio dessa artigo.
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