Microgravidade - A Importância do PBFS Para o Brasil

Olá leitor!

Incomodado com a atual situação do “Programa Microgravidade” da Agência Espacial Brasileira (AEB) ligado ao pouco conhecido “Programa Brasileiro de Foguetes Sondagem (PBFS)”, que é conduzido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), resolvi escrever esse artigo.

O PBFS que é fruto do caminho escolhido pelos pioneiros do PEB para ajudar o Brasil alcançar à tecnologia de veículos lançadores de satélites, especialmente durante a época de desenvolvimento da Família SONDA de foguetes, vive hoje uma situação um tanto inusitada.

Enquanto os foguetes brasileiros do PBFS são sucesso na Europa ajudando os europeus com suas missões científicas e tecnológicas, no Brasil eles são muito pouco utilizados, exatamente uma vez por ano nos últimos três anos, ou seja, na “Operação Maracati II” em dezembro de 2010, onde foi lançado um Foguete VSB-30 para atender uma missão do 3º AO (Anúncio de Oportunidade) do Programa Microgravidade da (AEB), na “Operação Brasil-Alemanha” em novembro de 2011, onde foi lançado um Foguete VS-30 com duas cargas úteis científica e tecnológica do INPE e do UFRN/IAE, e finalmente na “Operação Iguaíba” em dezembro de 2012, onde foi lançado um Foguete VS-30/Orion com cinco cargas úteis científicas e tecnológicas do INPE, UFRN e do IAE.

Ora leitor você há de convir que é muito pouco se levarmos em conta a importância hoje em dia de um programa com esse para o desenvolvimento da ciência e tecnologia como um todo e também de um programa espacial em qualquer parte do mundo. Veja o que foi dito recentemente em um artigo do site ‘spacedaily’ sobre o “Programa de Foguetes de Sondagem da NASA”:

“Sounding rockets, which are part of a broader Low Cost Access to Space program, carry scientific instruments into space along a parabolic trajectory for flights that are typically 5 to 20 minutes long. For over 40 years the Sounding Rocket Program has provided critical scientific, technical, and educational contributions to the nation's space program and is one of the most robust, versatile, and cost-effective flight programs at NASA”.

Vale dizer para aqueles leitores menos informados que um programa de foguetes de sondagem ativo, dinâmico e conduzido eficientemente, é de suma importância para ajudar a Comunidade Cientifica e Tecnológica de qualquer país do mundo a desenvolver o conhecimento científico e tecnológico de suas sociedades.

O Brasil hoje é um dos pouquíssimos países do mundo que dominam o ciclo completo dessa tecnologia (temos os foguetes, as bases de lançamentos e os profissionais para lança-los) e por falta de atitude e de recursos financeiros adequados por parte do governo DILMA ROUSSEFF, continua desperdiçando essa grande oportunidade proporcionada a Comunidade Cientifica do país pelos técnicos e engenheiros civis e militares do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE).

Ora, o leitor mais informado pode dizer: “Mas Duda, o Brasil ainda não dispõem de plataformas para experimentos em ambiente de microgravidade, e utiliza-se de plataformas alemãs para realizar missões, seja no Brasil ou na Europa, o que encarece bastante toda e qualquer missão desse tipo”.

Ora, a colocação do leitor que pensar dessa forma está correta, já que tanto a Plataforma SARA, quanto a Plataforma Suborbital de Microgravidade (PSM) são projetos que se encontram ainda em desenvolvimento no IAE e nas empresas envolvidas com os mesmos, não tendo ainda uma previsão firme de quando estarão disponíveis.

No entanto leitor, nada impede que o IAE negocie com os alemães do DLR (como já aconteceu outras vezes) a troca de foguetes por exemplares dos Módulos MicroG 1 e MicroG 2 (esses módulos tem a função de gerenciar e proteger os experimentos embarcados na plataforma e são compostos por sistemas de resgate, modulagem de serviço, telemetria, processamento e comunicação) que são as únicas partes desse tipo de plataforma que o Brasil ainda não fabrica.

Entretanto os parcos recursos orçamentários do Programa Espacial Brasileiro impedem que o IAE utilize dessa oportunidade de troca, pois não haveria recursos financeiros que pudesse viabilizar um programa de pelo menos, por exemplo, três voos anuais, criando assim uma grande oportunidade para os experimentos da Comunidade Científica Brasileira terem acesso a pesquisas em ambiente de microgravidade.

Recentemente a Comissão de Coordenação do Programa UNIESPAÇO” (um dos programas que pode ser beneficiado em alguns casos por foguetes de sondagem) da AEB, se reuniu em Brasília e definiu os termos do Primeiro Anúncio de Oportunidades de 2013 (AO1/2013), que deverá ser publicado ainda nesse mês de abril, sendo destinado exclusivamente para universidades e instituições congêneres. Isso nos leva acreditar que haja a intenção da AEB de lançar um AO2/2013, este direcionado exclusivamente para empresas.

Entretanto, não há notícias quanto a ações relacionadas ao Programa MICROGRAVIDADE da AEB, programa esse que até hoje não funcionou como se esperava e que seria o grande beneficiado se houvesse no Brasil um verdadeiro Programa de Foguetes de Sondagem efetivo e dinâmico.

Vale lembrar que o último Anúncio de Oportunidade (3˚) do Programa MICROGRAVIDADE foi lançado pela AEB em 21/11/2006, e até hoje não foi integralmente concluído, já que além do voo de um Foguete VSB-30 (efetivado na Operação Maracati II em 2010), o AO em questão também previa o envio ao espaço de experimentos brasileiros através de uma nave russa Soyuz, para serem testados por tempo determinado nos laboratórios da Estação Espacial Internacional (ISS). Meta essa que não foi cumprida até hoje, o que me leva acreditar que talvez tenha sido cancelada, e neste caso o 3˚ AO estaria finalizado.

A esperança agora é que a Comissão de Coordenação do Programa MICROGRAVIDADE”, seguindo o exemplo da Comissão do Programa UNIESPAÇO defina logo os termos de um novo Anúncio de Oportunidade, ou que venha dar sequência ao anterior, e assim dar um rumo a esse programa que já virou até motivo de chacota. A Comunidade Científica Brasileira agradece.

Duda Falcão

Comentários

  1. O Duda como sempre levanta questões fundamentais e "de quebra" ainda nos brinda com informações históricas relevantes.

    Sobre a situação em foco aqui, eu venho sistematicamente batendo na tecla de que, infelizmente, os únicos lançamentos regulares por aqui tem sido apenas os dos foguetes de treinamento: FTB e FTI.

    E que me deixa indignado, essa completa alienação dos interessados, ou que em teoria deveriam estar interessados, pois afinal de contas, de que adianta tantos cientistas, engenheiros e técnicos, tantos programas de pós graduação e até pós doutorado, programas de bolsas no exterior e etc.

    Depois eles vem a público reclamar de apagão de mão de obra. Mas para trabalhar em que? Em foguetes de treinamento sem carga útil científica?

    Só podem estar brincando com a nossa cara. Eu acho que já está passando da hora de repensar TUDO nesse nosso PEB. Afinal de contas é o nosso dinheiro, de todos os contribuintes brasileiros que está sendo jogado no ralo, num programa que sequer consegue lançar mais de um foguete de sondagem por ano.

    ISSO É UM ABSURDO !!!

    Temos um orçamento ridículo, que não atende ao programa dos foguetes lançadores de satélites e nem consegue manter um programa de lançamento de foguetes de sondagem que já dominamos. Um programa de uns 12 lançamentos de foguetes de sondagem por ano, que seria o mínimo para um país com a nossa história na área.

    Ou seja, como eu torno a dizer, o PEB atual, é um programa com uma série de objetivos inatingíveis com esse orçamento ridículo. Todos os envolvidos sabem disso, e ninguém faz nada.

    Isso é realmente cansativo.

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  2. Duda vc ja tentou vincular seu blog a algum portal tipo "folha", vejo que nestes portais existem blogueiros que são contratados.

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    1. Caro Digotorpedo!

      Não sou jornalista de formação e mesmo que fosse, não seria nada fácil fazer isso.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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    2. jornalismo n precisa de diploma desde 2010 o que vc faz é jornalismo ;D

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  3. Mais informações importantes divulgadas aqui no blog pelo amigo Duda.

    Sugiro aos amigos leitores do brazilian space para que se juntemos em um grupo para discutir uma ajuda financeira para manter o trabalho do blog,e propôr ao Duda.

    Sugiro que organizemos um grupo de 150 leitores que estejam disposto a dar uma ajuda financeira de 10 reais por mês para propor ao amigo Duda para que continue com o seu trabalho.

    Não sei se o Duda aceitaria,mas sei se ele dedicar-se somente ao blog isso seria bom pra ele e bom para nós que admiramos o seu trabalho.

    Se conseguirmos juntar um grupo de 150 leitores que dessem uma ajuda de 10 reais por mês,daria 1 500 reais por mês para propor ao Duda para que se dedique exclusivamente ao blog e que continua com o seu trabalho.

    Nós faríamos uma vaquinha,a ajuda financeira poderá ser feita pelo site Vakinha.com.br.
    E poderíamos juntar o grupo interessado no YAHOO!GRUPOS.

    É isso...
    O que vocês acham da minha ideia para nós leitores do blog propor uma ajuda financeira para manter o trabalho do Duda?.

    Aguardo comentários sobre minha ideia.

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    1. Caro E. Gustavo!

      Sua ideia é boa e se realizada ajudaria muito e lhe agradeço pela iniciativa. Entretanto, além de ficar constrangido com a sua proposta não sei se seria certo aceitá-la. De qualquer forma como a proposta partiu de você está ai para ser discutida.

      Abs e mais uma vez obrigado.

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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    2. Já tinha pensado nisso. Nos EUA é comum esse tipo de coisa. Existem apoios entre "fãs" até dos tipos de iniciativas mais estranhas, como os pró-ovni, anti-illuminati, pró-sionistas, etc. Seria uma ótima iniciativa e estaria disposto a dar minha contribuição.

      Na verdade existem sites que funcionam dessa maneira (por exemplo "A Espada do Espírito"), vivendo da contribuição de leitores. E até tem uma parte restrita para os associados, com os artigos mais importantes. É uma iniciativa a se pensar.

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    3. Não só nos EUA, há blogs brasileiros que aceitam doações! Apoio a ideia, afinal seria um bom incentivo ao Duda por seu tremendo trabalho! Se dedicar a uma coisa de forma voluntária e que dedica tanto tempo tendo pouco retorno (veja, por exemplo, o número de inscritos nas petições) é algo muito complicado. Um incentivo financeiro seria de grande valia! Eu contribuiria!

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  4. O problema do programa de foguetes de sondagem não está nos foguetes e nem no Programa Espacial Brasileiro....
    o que falta é demanda cientifica para experimentos embarcados por parte da comunidade científica brasileira!
    sem experimentos para realizar, por que lançar foguetes?
    só resta mesmo lançar foguetes de treinamento para manter a operacionalidade das equipes.....
    e esse problema não é de hoje.....o que dizer dos experimentos brasileiros da missão centenário?

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    1. Olá Anônimo!

      Desculpe-me discordar de você, já que eu mesmo conheço dois pesquisadores que esperaram por três anos por um novo edital do Programa MICROGRAVIDADE, e como o mesmo não veio eles desistiram e arrumaram uma outra forma de realizar o que queriam. As linhas de pesquisas nas universidades brasileiras são diversas e tendo a essa oportunidade colocada a disposição com seriedade, dinamismo e a frequência de vôos que se espera, tenha certeza, os experimentos aparecerão.

      Abs

      Duda Falcão
      (Blog Brazilian Space)

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  5. Mais uma vez: esse também é o problema!

    Se a "atitude" é esperar, eles podem continuar esperando não só por anos mas por décadas. Se os "interessados" não se mobilizam, não vão para as ruas protestar, não se "rebelam" contra esse sistema vigente que não está gerando absolutamente nenhuma demanda, as coisas vão continuar como estão ou até piorar. Fico curioso de saber quem afinal o sindicato daqueles ligados a área de ciência e tecnologia representa? Até mesmo um sindicato de metalúrgicos vai para as ruas protestar para obter não apenas melhores salários, mas também melhores condições de trabalho.

    Gente! A ciência no Brasil não está gerando demanda! Perdão. Acabei de ver num programa desses “qualquer coisa rural” que a Embrapa continua sendo muito demandada, e os agrônomos portanto tem um mercado de trabalho em constante evolução. Pode-se dizer então que o problema de demanda é mais específico, então vamos tratar da área que nos interessa aqui. Enquanto os cientistas, engenheiros e técnicos da área aeroespacial "esperam", os "idiotas" perderam a vergonha e estão tomando o poder, como bem disse uma vez um certo Ministro da Defesa...

    A nossa sociedade está representada no congresso. Pode-se ver deputados e senadores lutando pelos interesses dos seus representados. Então, é por isso que se vê diariamente na mídia, sendo defendidos os interesses de "pastores de igrejas", dos homo afetivos, dos esportistas, dos comerciários, dos industriais, dos metalúrgicos, sendo que esses últimos estão no poder já a um bom tempo, e de tantas outras categorias.

    Temos no congresso uma enorme quantidade de comissões tratando de assuntos ditos "sociais", pois esses garantem votos. Já sobre questões científicas, eu gostaria de saber. Até hoje só li UM documento desses, oriundo de lá, voltado inclusive para a área espacial, e que por sinal não resultou em absolutamente nada.

    O Brasil vive hoje a maior crise de infra estrutura de sua história. Faltam ferrovias, hidrovias, portos modernos, redes de distribuição de energia, administração eficiente. O "governo" esconde os déficits e faz maquiagem na inflação e nos superávits. Não consegue parar a sangria de recursos, que em vez de ser aplicados na infra, vão para o bolso dos "políticos".

    E não podem dizer que falta dinheiro pois estão aí os "elefantes brancos" que a sociedade brasileira vai ter que sustentar depois da Copa, e vão vir mais por aí para a Olimpíada. O "legado" desses eventos vai ser apenas isso, um monte de edificações desnecessárias e de manutenção caríssima, sem contar que como estão sendo construídos as pressas, podem acabar sendo interditados poucos anos depois da inauguração (vide exemplo do Engenhão no Rio de Janeiro).

    Isso tudo se vê diariamente, é jogado na nossa cara todos os dias em horário nobre, e ninguém faz nada para, no mínimo, protestar de forma veemente.

    Já para combater um "suposto teólogo" (que diga-se de passagem está em poder de um mandato de forma teoricamente lícita), que fez e continua fazendo declarações as mais absurdas principalmente no seu programa exclusivo em canal aberto de TV, são arregimentados vários "inocentes úteis" para protestar e até ser presos pela "causa".

    Basta fazer uma conta simples: quantos programas relacionados a ciências em geral existem na TV aberta?

    Quem quiser pode dar uma olhada num estudo feito pelo pessoal da USP, durante o 20o Simpósio Internacional de Iniciação Científica da USP (Siicusp), em Junho de 2012.

    É impressionante.

    Att.

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