Estatal Aeroespacial Russa Busca Cooperação Com o Brasil

Olá leitor!

Segue abaixo uma matéria postada ontem (11/04) no site “Diário da Rússia” destacando que Estatal Aeroespacial Russa busca cooperação com o Brasil.

Duda Falcão

Economia

Estatal Aeroespacial Russa Busca
Cooperação com o Brasil

Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin
apresentou seus projetos na LAAD-2013

11/04/2013 - 16h26

De 9 e 12 abril a cidade do Rio de Janeiro sedia a Feira Internacional de Defesa e Segurança Corporativa – LAAD 2013 –, a maior exposição da América Latina de avanços da indústria bélica e da estratégia militar, realizada com apoio institucional dos Ministérios da Defesa e da Justiça do Brasil, a cada dois anos, desde 1997.

Durante o evento, a Voz da Rússia conversou com Kharun Karchaev, vice-diretor da empresa estatal aeroespacial russa Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin, que em seu stand no pavilhão russo apresentou uma grande quantidade de maquetes e material informativo sobre a sua história e os planos e perspectivas de seus futuros projetos. Vamos conferir!

Voz da Rússia –  Senhor Kharun Karchaev, poderia explicar um pouco a história e as principais áreas de atuação da Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin?

Kharun Karchaev  – A empresa foi fundada inicialmente como uma organização que desenvolvia e produzia tecnologias aeroespaciais na União Soviética, e em 2013 completa 76 anos de atividades nessa e em outras áreas. É possível que vocês já tenham ouvido falar daqueles aviões que foram produzidos pelo Escritório de Pesquisa e Construção Lavochkin. Voltando um pouco à história, é preciso destacar que 30% dos aviões russos que participaram da Segunda Guerra Mundial foram desenvolvidos pelo Escritório de Pesquisa e Construção Lavochkin. Já nos anos 1940 e 1950 a base da aviação de caça soviética era formada por aviões produzidos por esta empresa. A barreira do som foi rompida pela primeira vez na União Soviética por um caça La-176, produzido justamente pelo Escritório de Lavochkin. Em seguida, a nossa empresa começou a desenvolver projetos de criação de tecnologias de foguetes. Os foguetes R-25, criados por nós, serviram às Forças Armadas soviéticas no âmbito da defesa antiaérea por mais de 30 anos. Na Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin foi desenvolvido e produzido, em 1954, um míssil de cruzeiro intercontinental balístico que atingiu Mach 3,5 a uma altura de 25 mil quilômetros, um feito sem precedentes no mundo.

VR –  E quando foi que a empresa se voltou para a área de exploração do espaço, para a criação de aparelhos espaciais?

KK –  A nossa área de atuação se voltou para tecnologias e equipamentos espaciais automáticos não tripulados em 1965. Um ano após a nossa estreia no setor espacial, em 1966, nós lançamos com sucesso ao espaço seis aparelhos destinados exclusivamente ao estudo da Lua, que são os Luna-9, 10, 11, 12, 13 e 14. Já no nosso primeiro lançamento, do Luna-9, em 1966, nós realizamos pela primeira vez na história um pouso suave na superfície da Lua, e completamos ali, com sucesso, todos os objetivos colocados a nós pela Academia de Ciências da União Soviética. Naquele mesmo ano, com o Luna-10, nós atingimos a órbita do satélite da Terra e novamente completamos todos os objetivos a nós impostos. E assim por diante, com novos objetivos e devidas modernizações, fomos realizando com sucesso as demais missões Luna.

VR –  E quais foram os projetos que se seguiram a essa primeira fase de exploração lunar?

KK –  O nosso stand apresenta uma série de maquetes de aparelhos automáticos não tripulados, produzidos por nós e utilizados na exploração do espaço sideral. O primeiro aparelho desse gênero lançado por nós, nos tempo da União Soviética, em 1983, foi o Astron. No lugar dos três anos inicialmente programados, ele funcionou num total de seis anos, e descobriu e fez fotografias maravilhosas para a Academia de Ciências da União Soviética de mais de 200 objetos cósmicos. O Astron desvendou cerca de 70 objetos até então desconhecidos à nossa ciência. Foi um projeto interessantíssimo! O nosso próximo aparelho foi o Granat. Lançado em 1989, ele funcionou por nove anos, ao invés de cinco. Tais eram a força e o potencial dos nossos projetistas – e eu gostaria de destacar isso antes de tudo. Este aparelho revelou mais de sete dos chamados candidatos a buracos negros, que já eram levados em conta nos catálogos da comunidade internacional da exploração do espaço. Em meados de 2011, com o lançamento do aparelho RadioAstron, nós retornamos ao chamado clube dos detentores do estudo espacial com o uso de aparelhos de nova geração. O RadioAstron não possui análogos mundo afora. O diâmetro do seu espelho tem 10 metros, enquanto o diâmetro do seu espelho espacial, o chamado interferômetro, é de 354 mil quilômetros. Isso o torna único em seu gênero no mundo e nos possibilita alcançar novos níveis de exploração do espaço.

VR –  Um dos cartões postais da Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin é o seu foguete de estágio Fregat. Poderia contar um pouco sobre esse projeto?

KK –  Até 1990, nós usávamos o foguete de estágio L, que, após o fim da fase de propulsão pelo principal foguete transportador, era responsável por elevar os nossos aparelhos espaciais para as suas respectivas órbitas programadas. Mas, com o passar dos anos, a necessidade de atingir cada vez novas órbitas e maiores potências de propulsão fez com que a nossa empresa desenvolvesse e produzisse pela primeira vez em 1990 o foguete de estágio Fregat. Hoje, nós usamos os foguetes de estágio Fregat-SB para lançar nossos aparelhos espaciais automáticos não tripulados de três cosmódromos. São eles: Plesetsk, Baikonur e o Centro Espacial de Kourou, que é o centro de lançamentos da Agência Espacial Europeia, na Guiana Francesa. Até hoje nós já elevamos para órbitas programadas com a ajuda do Fregat-SB mais de 76 aparelhos espaciais, sem quaisquer falhas ou imprevistos. Portanto, esse foguete é certamente o orgulho da nossa empresa.

VR –  O senhor poderia nos contar um pouco sobre os futuros projetos da Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin?

KK –  Primeiramente, vale destacar que estamos envolvidos no projeto de cooperação internacional Luna-Glob-1, que em 2015 deverá pousar no hemisfério sul da superfície da Lua. Aliás, eu gostaria de destacar que ultimamente todas as potências mundiais de liderança não trabalham separadamente, mas em cooperação internacional, já que a atividade espacial demanda sérios investimentos financeiros, e raramente os países conseguem aguentar o peso de realizar tais projetos de forma isolada. A atividade científica, assim como a música, tem um caráter internacional, e nós partilhamos as nossas realizações e avanços. A ciência não pode ter fronteiras. Pelo menos na nossa área de atuação, quaisquer fronteiras representam um freio ao desenvolvimento da exploração do espaço. Isso é um fato. Mas, voltando aos nossos futuros projetos, o nosso próximo aparelho está programado para ser lançado em 2014, igualmente no âmbito de um programa internacional. Em estrutura projetada e produzida pela Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin, nós combinamos dois telescópios, um produzido pela Alemanha e outro por nós. Esse aparelho deverá completar os objetivos impostos a nós por acadêmicos da área de estudo em radiação gama do espaço sideral. Estamos desenvolvendo também um projeto único em espectroscopia ultravioleta, que deverá ser lançado ao espaço em 2016. Este aparelho é original pelo fato de que pela primeira vez estamos produzindo o espelho principal do seu telescópio espacial em tamanho de 1,7 metro. Por ora estamos realizando testes em terra, e vamos estudar o universo e os objetivos impostos a nós pela Academia de Ciências da Rússia no espectro ultravioleta. Além disso, nós também temos experiência de trabalho e estamos investindo em aparelhos espaciais de pequeno porte para o estudo da superfície da Terra, com vários desses aparelhos lançados no ano passado e atualmente em funcionamento. E é nessa área, aliás, que nós podemos encontrar pontos de convergência com os acadêmicos do Brasil.

VR –  O senhor poderia falar sobre essa questão de cooperação com o Brasil? A Associação de Pesquisa e Produção Lavochkin já tem algum acordo nesse sentido?

KK –  Essa questão, de interação com os especialistas da Agência Espacial Brasileira na área de criação conjunta de aparelhos espaciais, está sendo discutida justamente em conferências no âmbito da LAAD-2013. Isso porque a nossa empresa atua em muitas áreas. Como, por exemplo, na área de lançamento de grandes aparelhos espaciais com o uso do nosso foguete de estágio Fregat e o uso do nosso módulo de serviço por esses aparelhos. Infelizmente, até agora a nossa empresa não tem cooperação com especialistas brasileiros. Mas nós viemos especialmente ao Brasil com a esperança de encontrar pontos em comum, de discutir questões que forem do interesse dos nossos colegas brasileiros. E eu tenho a certeza de que nós podemos encontrar saída para alguns resultados concretos. Para que no futuro nós possamos desenvolver, produzir, lançar e controlar aparelhos espaciais em conjunto.


Fonte: Site Diário da Rússia - 11/04/2013

Comentário: Pois é leitor, era com os russos e não com os ucranianos que deveríamos ter feito um acordo espacial. Vale lembrar que no inicio da década passada o Ministério da Defesa estava negociando com os russos, mas em virtude da saída do de..loide e incompetente do Roberto Amaral do MCT (na época o ministério não tinha a palavra inovação em sua sigla) o governo LULA numa jogada política para não perder o apoio do PSB (partido da bancada de apoio do governo no Congresso na época e creio ainda hoje) apoiou a assinatura desse desastroso acordo com a Ucrânia, indo de encontro aos interesses do Ministério da Defesa (MD) que teve de recuar encerrando infelizmente as negociações com russos, que na época era chamado de Projeto Orion. Curiosamente pouco tempo depois os russos abriram negociações com a ESA que resultou no acordo de lançar o Soyuz de Kourou, operação essa já realizada algumas vezes. Enquanto isso, o acordo com a Ucrânia se quer tem ainda carga útil paga para o seu primeiro voo comercial (vai lançar de graça um microsatélite universitário astronômico japonês chamado Nano-JASMINE e talvez uma carga útil brasileira através de seu voo de qualificação previsto para 2014), não é levada a sério pela concorrência que a ignora por completo e para completar planeja lançar do território nacional um foguete altamente tóxico de Alcântara. Gente, precisamos combater esse desatino, o acordo com a Ucrânia é um desastre em todos os sentidos e não tem a menor chance de sucesso nesse competitivo mercado de lançamentos de satélites comerciais. Além disso, o mesmo serve como um comedor de recursos financeiros do já insignificante orçamento do verdadeiro Programa Espacial Brasileiro, e não é por acaso que vários profissionais do PEB já assinaram a nossa Petição da ACS e precisamos contar com a participação de todos os brasileiros para impedir este desastre anunciado.

Comentários

  1. Não sei se essa empresa russa é uma concessão estatal, porque se o compromisso fosse diretamente de Estado para Estado seria contra. Se a companhia, apesar de estatal fosse uma concessão (que funciona praticamente como uma empresa privada) teria muito mais hipóteses de agir. Sou veementemente contra o atual PEB que nós temos, onde o negociador e investidor é o Estado brasileiro, e pouca liberdade se dá aos próprios institutos (basta ver as várias novelas com o intervencionismo estatal, para observarmos isso, como está acontecendo com o caso CBERS).

    Não digo obrigatóriamente que deveriam privatizar o PEB (apesar de crer que isso melhoraria em muito o Programa Espacial), no entanto se lhe dessem mais liberdade para agir e formar alianças, investindo bastante no inicio creio que o próprio PEB se sairia muito bem. Hoje dependemos da política para agir e para avançar no programa espacial. E isso tem dado errado também em outras áreas, e a Petrobrás é exemplo disso. Mas como o modelo vigente é de controle do Estado sobre os departamentos de governo, continuaremos a assistir a trapalhada que nos acompanha à anos, e veremos ideologias políticas se sobreporem ao crescimento e sustentabilidade económica.

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    1. setor estratégico como o aeroespacial em nenhum lugar do mundo é controlado pelo setor privado (que participa e deve participar)

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  2. " VALORES DA ESTATAL UMA MITOLOGIA DE UMA IMAGEM ABSTRATA"
    Estamos neste exato momento diante de um amplo desafio: continuar implantando os adjetivos da estatal ou destituir seu significado. No caso da Petrobras, mudar o processo de gestão de uma empresa com anos de sucesso e com grande estabilidade é um desafio gigantesco. No caso do PEB sim, tem que reverter esse quadro caótico envolvendo os (DONOS DA VERDADE), com pesquisas científica, essa salada de fruta, com certeza vai azeda, Isto porque qualidade é uma filosofia, uma forma de pensar, e as ações são formatadas nas matrizes do pensamento de nos pesquisadores.
    Se continuarmos a sempre existir os velhos paradigmas, como acreditar que " cientistas, jornalistas, pesquisadores, Blog Brazilian Space, INPE, CTA, CEFAB, e tantos outros é para obedecer os que eles formalizam" , sem pedir a devida opinião, está tudo errrrrrado!" deve haver um consenso da coletividade para discutir o que é melhor para o PEB.
    O time de brasileiros convictos já estão formados em sua total liberdade de pensamento, pois em time que está ganhando não se mexe, tem que haver sim mudanças, se não o PEB caminhará em passos curtos, não avançará.
    A qualidade não ocorre espontaneamente. É consequência de um empreendimento planejado, sem a INFLUÊNCIA DOS DONOS DA VERDADE em BRA, que deve ser liderado pela alta administração científica do país, num esforço integrado de todos que fazem a ciência funcionarem. Sua forma mais eficaz de motivação por todos, é reconhecer a realização do veículo VSB-30, e tantos outros que de se concretizar futuramente.
    Os institutos que ficam dependente do governo, falecem com sua participação, nem gerenciada por governantes que oferecem "FEIJÃO COM ARROZ". É preciso algo mais nutriente. É preciso gerenciar nossos projetos científicos com investimento maiores e constantes, potencializar os institutos e pesquisadores, e inspirar os jovens que serão as novas sementes de amanhã."

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