A Visão do Blog Sobre o Novo PNAE

Caro leitor!

Desde que recebi pelo correio o novo Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), enviado mim pela Agência Espacial Brasileira (AEB), procurei lê-lo com bastante atenção para hoje vir a público e dizer qual é a nossa opinião sobre este importante documento que traça (tenta pelo menos) os rumos das atividades espaciais brasileiras no período de 2012 - 2021.

Sempre achei que de uma forma geral todos os PNAEs anteriores eram perfeitamente realizáveis e bem objetivos, sendo inclusive bastante modestos para o tamanho do Brasil, mas que foram profundamente prejudicados por uma visão política estratégica governamental incompatível com os objetivos previstos nesses documentos, além de desastrosa (se é que houve alguma política estratégica nesse período) capitaneada por péssimos governos desde o início da década de 90 (Governo COLLOR), e a grande prova disso é que nenhum deles chegou a realizar nem 50% do que previam se colocarmos em nível de porcentagem.

Vale lembra leitor que esses documentos sempre foram elaborados por servidores do MCTI e da AEB, apoiados por profissionais das instituições públicas e privadas ligadas ao programa, sempre objetivando o crescimento e desenvolvimento das atividades espaciais brasileiras, inspirados em estudos feitos, como no caso dessa quarta edição do PNAE, que foi baseada em documentos conhecidos como:

* “A Política Espacial Brasileira”, produzido pelo Conselho de Altos Estudos da Câmara dos Deputados;

* “Desafios do Programa Espacial Brasileiro”, editado pela Secretária de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE);

* “A Visão da AAB para o Programa Espacial Brasileiro”, preparado pela Associação Aeroespacial Brasileira (AAB);

* "Proposta de Evolução do Programa Espacial Brasileiro Período 2011 – 2020", desenvolvido por IAE/INPE/AIAB, 15 de dezembro de 2010;

* Contribuição da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil – AIAB ao documento “Propostas para Reformulação do Programa Nacional de Atividades Espaciais, AEB, 30 de junho de 2011”;

* "Recomendações da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil – AIAB para a Política Industrial – PNAE", maio de 2011.

Diante disso, para que o leitor tenha um melhor entendimento, apesar do PNAE ser um documento oficial do governo, elaborado por servidores do MCTI e da AEB, isso não significa que o governo (leia-se Presidência da República, Ministério do Planejamento, Congresso) tenham o comprometimento e o interesse necessário de realizar os planos que de forma profissional e responsável foram elaborados pelos seus servidores de baixo escalão.

Um país onde a sua presidente diz a seu Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação que: “a política a obriga a incluí-lo entre os cargos para negociação com os partidos aliados”, não pode esperar que o governo em exercício venha a ter o comprometimento, a seriedade e o dinamismo necessário para a coordenação efetiva e exigida por um programa espacial. Mas enfim, essa é a nossa realidade, e é com ela que teremos de lhe dar, pelo menos até que esses energúmenos não estejam mais no poder.

Mas deixando de lado esse governo desastroso, vamos falar do novo PNAE. O documento foi muito bem editado, apresentando em um único volume as duas versões (Português e Inglês) numa edição muito bonita e em nossa opinião com um conteúdo bem objetivo e claro.

Entretanto, não posso deixar de criticar o seu lançamento, pois sendo o mesmo elaborado para o período de 2012 – 2021, esse documento deveria ter sido lançado no máximo em dezembro de 2011 e não agora no final de janeiro de 2013. Mas enfim, só Deus sabe as dificuldades enfrentadas pelo MCTI e pela AEB para a elaboração, edição e confecção desse documento.

Para o ano de 2013 o novo PNAE prevê a realização de três projetos, dos quais dois deveriam ter sido realizados em 2012. São eles:

* O lançamento do satélite CBERS-3;

* O lançamento do VLS-1 VSISNAV;

* O lançamento do SARA Suborbital I.

Dos três o SARA Suborbital I é o único que realmente tem sua campanha de lançamento confirmada em entrevista ontem aqui no blog pelo Dr. Luis Eduardo Loures da Costa, servidor do IAE e gerente do projeto.

Já o CBERS-3, o INPE vem dizendo que pretende lançá-lo ainda esse ano, o que é considerado um grande risco por profissionais da área, numa atitude que só seria explicada por pressão política irresponsável do governo, pois devido ao problema ocorrido ano passado com um dos equipamentos do satélite, fala-se que o certo seria lançá-lo dentro de um ano e meio a dois anos, após as devidas modificações no satélite terem sido testadas adequadamente, evitando assim um vexame ainda maior, que nesse caso seria o não funcionamento do satélite após o mesmo entrar em órbita. Deus queira que isso não aconteça e que essa gente tenha juízo e responsabilidade.

Quanto ao lançamento do VLS-1 VSISNAV, esse sinceramente não acredito que venha ocorrer em 2013, pois o ridículo orçamento da AEB enviado ao congresso pelo governo muito provavelmente inviabilizará a sua realização. Vale lembrar que para esse lançamento acontecer o IAE ainda terá de realizar uma campanha intitulada “Operação Santa Bárbara”, que é na realidade uma pré-campanha do VSISNAV, conhecida como MIR – Mock-up para Ensaios de Interface de Redes Elétricas do VLS-1, prevista para acontecer no primeiro semestre desse ano.

Esta operação será parecida com a “Operação Salina” ocorrida no ano passado, também com motores inertes, porém com outro foco e mais completa, e que deveria ter sido realizada em 2012 em uma única campanha. No entanto, quem tem uma presidente como temos não precisa de inimigos.

O PNAE segue apresentando diversos outros projetos que em nossa opinião em sua maioria não passam de simples exercício de ficção científica, não que não sejam realizáveis, são até modestos, mas que com a atual mentalidade reinante nos bastidores da política brasileira é mais fácil acreditar numa representante bovina cantando o hino nacional na praça dos três poderes em Brasília, do que acreditar que o governo terá o comprometimento necessário para realizá-los.

Entretanto o documento apresenta outros projetos já em andamento que poderão ser concluídos, não necessariamente nas datas previstas pelo mesmo, e sim em algum momento desse período de validade do documento. Estão nessa situação os projetos:

* Satélite CBERS-4 (2014);

* Satélite SGDC-1 (2014);

* Satélite Amazônia-1 (2015);

* SARA Suborbital II (2015) – O PNAE cita o SARA Orbital I, mas o gerente do projeto já disse que é o voo será o da segunda versão suborbital;

* Satélite Científico Lattes (2018);

* Veículo Lançador de Satélites – VLS-1 XVT-02 (2014);

* O altamente tóxico Veículo Lançador Cyclone-4 (2014);

* Veículo Lançador de Satélites – VLS-1 V04 (2015);

* Veículo Lançador de Microssatélites - VLM-1 V01 (2015).

E caso o voo do VLS-1 VSISNAV seja exitoso, qualificando assim a parte baixa do VLS-1 e o seu sistema de navegação e caso o projeto do motor L75 seja realmente concluído, talvez seja possível à realização do:

* VLS Alfa (2018)

Na atual conjuntura, os outros projetos citados no documento não passam de exercício de ficção científica, mas demonstra que os profissionais responsáveis pela elaboração desse documento sabem o que querem, realizando a meu ver um documento que prevê o possível e o desejado, não sendo por acaso que o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Braga Coelho, já tenha declarado que modificações poderão ser feitas antes mesmo do final do período que compreende esse documento.

Uma coisa que me chamou a atenção no novo PNAE foi que apesar do documento colocar a parceria internacional como tema importante e citar entre os projetos que consideramos exercício de ficção científica, ou seja, o Projeto do Satélite Sabia-Mar (fruto de uma parceria com a Argentina que é uma das maiores novelas do PEB), em momento algum foi citado o Projeto do Satélite IBAS, que é fruto de uma parceria com a África do Sul e a Índia, coisa que inclusive também deverá ser notada pelas agências espaciais desses países.

Resumindo leitor, o novo PNAE é nada mais nada menos que um documento que foi elaborado na tentativa de dar uma direção ao Programa Espacial Brasileiro, mas que depende muito da atitude que o governo DILMA ROUSSEFF e os governos subsequentes tomarão no período que compreende esse documento.

Em minha opinião na atual conjuntura política o novo PNAE não sobreviverá a seu período previsto, sendo modificado bem antes do seu final, e os profissionais do PEB terão que lutar muito para pelo menos cumprir os projetos citado por mim acima. Boa sorte a todos eles, pois vão precisar.

Duda Falcão

Comentários

  1. O PNAE parece um espectro, que tem alma mas nunca assume um corpo.

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  2. Onde consigo acesso ao PNAE? É liberado para os civis? Precisa comprar? Tem versão na internet?

    Daniel.

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  3. Olá Daniel!

    Você tem acesso online pelo site da Agência Espacial Brasileira (AEB).

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

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