Turismo Espacial Será Realidade Até 2016, Diz Pontes

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Segue abaixo uma matéria publicada dia (02/08) no site “R7” destacando que em entrevista o astronauta brasileiro diz que o Turismo Espacial será realidade até 2016.

Duda Falcão

TECNOLOGIA E CIÊNCIA

Turismo Espacial Será Realidade até 2016,
diz Astronauta Brasileiro

Marcos Pontes fala de crise americana, Marte e
até de futuros passeios turísticos pela órbita
Juliana Damasceno, do R7
publicado em 02/08/2011 às 14h05

Julia Chequer/ R7

Ele só espera a próxima oportunidade de visitar o espaço mais uma vez. Enquanto aguarda o convite para uma nova missão, o astronauta brasileiro Marcos Pontes se divide entre o Brasil, onde mantém negócios e assumiu a nova função de professor universitário e a casa de sua família, em Houston, nos Estados Unidos.

Cheio de histórias para contar, decidiu registrá-las ao grande público em um livro sobre a história completa e os bastidores da chamada Missão Centenário, que tripulou em março de 2006, à bordo da nave russa Soyuz TMA-8. Missão Cumprida reúne em mais de 500 páginas suas experiências mais marcantes, mas também serve de legado para seus filhos.

- Fábio e Ana Carolina têm 25 e 20 anos e não pretendem seguir a carreira de astronautas. Ele, hoje antropólogo, por ter enfrentado um linfoma aos 14 anos e correr o risco de ser rejeitado nos rígidos testes da NASA (a agência espacial norte-americana). Ela, estudante de medicina, ainda pode estudar e seguir os passos do pai, se desejar. Quem sabe mais para frente?

E tudo caminha para que mais pessoas “sigam a trilha” de Pontes além de seus herdeiros, já nos próximos anos. Segundo ele, o planeta está bem próximo de finalmente alcançar o sonho do Turismo Espacial. Para ele, até 2016, haverá um forte “empurrão” neste sonho humano.

- Vejo esse período como o começo da aviação comercial, lá atrás. Pessoas que tinham seu aviãozinho, seu balão, quase uma brincadeira. Militares adotaram e sabemos o fim da história. Passando esse interesse governamental para o setor privado, arrisco dizer que, em 2014, já teremos módulos infláveis habitáveis e vôos suborbitais – os mais adiantados até o momento. Algumas pessoas poderão usufruir desse avanço pagando cerca de R$ 250 mil a 320 mil para viajar em uma nave com cinco passageiros, piloto, copiloto e até um comissário.

E se ele fosse um cidadão comum, toparia entrar nessa dívida para conhecer o espaço? A resposta vem acompanhada de um largo sorriso.

- Eu deveria ter um orçamento de dez vezes este valor por ano para topar a aventura. Sou engenheiro, controlado, muito certinho com as finanças. Preferia pensar num investimento em pesquisa para que aquilo me rendesse. Um treinamento de uma semana ou dez dias é suficiente para que a pessoa faça um belo passeio no espaço. O maior problema dos especialistas é como desenvolver uma espaçonave para turismo por conta de sua complexidade técnica: multiplique por 50 o grau de dificuldade de segurança e alta tecnologia em relação a uma nave para quem como eu é escalado para missões especiais. Mesmo assim, empresas como Boeing e SpaceX já devem estar com todos os seus equipamentos prontos para passeios com uma estação espacial privada. Até 2020, certamente já teremos uma estação turística no espaço.

De acordo com o jornal britânico The Telegraph, cerca de 450 pessoas já se candidataram a embarcar na aeronave que está sendo construída pela Virgin Galactic. As viagens, que incluem 15 minutos para flutuar no ambiente do microespaço, deve ter um total de duas horas. Algumas celebridades já estão na fila, mas a data exata o vôo ainda não foi confirmada. O preço do delírio: R$ 312 mil.

Tudo isso, certamente, deverá ocorrer bem antes de uma possível viagem do homem a Marte. A NASA tem como projeto enviar um explorador de crateras para o planeta apenas em 2030.

- Seriam oito meses desgastantes de viagem. Não temos estrutura para isso ainda e seria impossível preservar a vida desse corajoso astronauta. Afinal, ele chegaria doente, com resistência baixa e, como imaginamos, não deve haver um hospital em Marte. Com toda a certeza, é uma viagem sem volta nos dias de hoje.

Legado para os Filhos

As primeiras linhas de É Possível e Missão Cumprida, as duas obras do aviador, engenheiro e astronauta, foram escritas no espaço. Ele redigia tudo nos intervalos da missão que tripulou, fazia um download para salvar e pedia para um amigo do Centro de Controle da agência espacial para guardar tudo.

- Em órbita, as noites e os dias têm, na realidade, apenas 45 minutos. Orientados pelo meridiano de Greenwich, temos ao todo seis horas para dormir. Mas muito ligado, eu só conseguia descansar por duas horas. Preferia pegar minha máquina fotográfica e ficar fotografando o espaço. São duas mil fotos em meu arquivo. Queria deixar algo escrito para os meus filhos. No espaço, tudo é muito arriscado e sabendo disso, da possibilidade de não voltar, fiz questão de deixar esse registro dedicado a eles.

Pontes lidera uma consultoria de engenharia de projetos e diz que se sustenta com os trabalhos desenvolvidos para empresas. Gosta muito de falar em sonhos, mas como bom engenheiro e amante das ciências exatas, diz que esses podem virar metas, planejamento, preparação, execução, as armadilhas, gerenciamento de tempo, controle do projeto e obstáculos e desafios que precisam ser suportados.

Está à disposição da Força Aérea Brasileira – onde iniciou sua carreira como piloto de caça. Atualmente na reserva, o astronauta gosta de deixar claro que isso nada tem a ver com a escolha de dedicar parte de sua vida às missões espaciais.

- As pessoas confundem muito o emprego na Aeronáutica e minha carreira como cosmonauta, onde sou um civil. Tive uma função militar até 1998 e a deixei para realizar meu sonho de ir ao espaço. Cheguei a passar aperto por uns tempos, até conseguir abrir a minha empresa, dar palestras e recomeçar a vida.

Crise no Espaço?

Marcos Pontes também é responsável por acompanhar as missões recentes ao espaço, bem como enxergar possibilidades de investimento brasileiro – público ou privado – em alguns desses projetos. E logo de cara, aproveitou para “defender” a NASA da confusão que, segundo ele, a imprensa tem feito mundo afora, confundindo a parada estratégica da agência para aperfeiçoamento de suas naves com atual e grave crise econômica que os Estados Unidos atravessam e o momento difícil do governo Barack Obama.

- Os Estados Unidos, Rússia e os países que participam dessa corrida espacial têm uma cooperação muito grande. E é a Rússia quem deve “segurar o rojão” desse período de “seca” americana no espaço. Mas não é verdade que a crise financeira tenha a ver com esse momento: a parada foi determinada em 2005, depois do acidente da Columbia e suas investigações. O Congresso Americano determinou esse espaço por conta de questões de segurança. Sendo assim, o orçamento de aproximadamente R$ 14 bilhões será destinado a um novo projeto: ao invés de gastarmos com operações dentro da NASA, injetamos no setor privado para que esse se desenvolva e gere empregos. Agora, a agência não compra só mais um pedaço de foguete das empresas fornecedoras: compra o foguete inteiro e também sua operação, criando a possibilidade de desenvolvimento de novas tecnologias e incentivando outros mercados, como o do próprio turismo espacial.

Mágoas para os Ares

Pontes também se acostumou a dizer que o ineditismo da Missão Centenário era passível de críticas. E ele admite que o investimento brasileiro para levá-lo ao espaço não foi compreendido por muita gente.

- Divulgar o programa espacial brasileiro, que é um dos maiores do mundo, era um dos nossos objetivos. A Índia, que caminha junto conosco em avanços, investe R$ 1 bilhão por ano, que são distribuídos para projetos de agricultura, comunicação, saúde e demandas que são atendidas pelo programa espacial. Aqui, temos um décimo do investimento. Existe, claro, um interesse do governo em mostrar seu país como autossustentável em tecnologia ou mesmo se esse quiser exportá-la e ter um astronauta é sinal de valorização lá fora, inclusive nas propostas e convites de trabalho. Mas eu decidi ficar no Brasil, mesmo assim. Todo pioneiro leva uma “pancada” e eu sei disso, mas não a vejo voltada a mim. Minha função é apenas cumprir a missão da agência espacial.

Marcos Pontes foi recebido pelo diretor executivo nacional de relações institucionais da Record, Zacarias Pagnanelli e participou do programa Receita Pra Dois, apresentado por Edu Guedes, na Record News.


Fonte: Site R7

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