Parceria Brasil e Argentina na Construção do Sabia-Mar

Olá leitor!

Segue abaixo uma matéria publicada na nova edição da Revista Espaço Brasileiro (Abr. Mai. Jun. de 2010), destacando a parceria entre o Brasil e a Argentina na construção do satélite Sabia-Mar.

Duda Falcão

AEB


Parceria Brasil e Argentina na Construção do Sabia-Mar


Satélite destina-se à observação global dos

oceanos e ao monitoramento do Atlântico

nas proximidades dos dois países




A pesquisa oceanográfica ocupa hoje lugar de destaque no âmbito de observação do Planeta, inclusive no que diz respeito às mudanças climáticas. O Brasil dispõe de um extensa costa e conta com uma vasta exploração de recursos naturais em seu mar territorial e na zona de exploração econômica. Ao mesmo tempo, a observação da cor do oceano será cada vez mais importante, como também o monitoramento da zona costeira, imprescindível, sobretudo, à proteção dos recursos naturais naquela faixa e à garantia das atividades pesqueiras de forma perene.

O projeto Sabia-Mar visa o desenvolvimento de um satélite destinado à observação global dos oceanos e ao monitoramento do Atlântico nas proximidades do Brasil e da Argentina. Será desenvolvido em conjunto pela Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Comisión Nacional de Actividades Espaciales (CONAE) e está em plena consonância como os objetivos fixados pela comunidade científica internacional, mais especificamente, aqueles estabelecidos pelo Comitê de Satélites de Observação da Terra (CEOS, na sigla em inglês) para a constelação de satélites de observação da cor dos oceanos.

A iniciativa conjunta aprovada na última reunião d Conselho Superior da AEB, em abril, terá como órgão executor do projeto no Brasil o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Na opinião do presidente da Agência, Carlos Ganem, o modelo Brasil-Argentina é um exemplo de desenvolvimento tecnológico espacial para países entrantes. “Na América Latina, Argentina, à semelhança do Brasil, desenvolve um Programa Espacial coerente, de nível tecnológico expressivo, recursos humanos qualificados, com os mesmos objetivos que os nossos, ou seja, programação contínua de informações satelitais e formação de pessoal”, diz.

Segundo Carlos Ganem, o Sabia-Mar também complementa os programas de observação da Terra dos dois países. A Argentina é parceira do Brasil no MERCOSUL e nos demais fóruns latino-americanos e enviará, em julho, o satélite Aquarius/SAC-D para mensuração das correntes dos oceanos e análise dos níveis de salinidade oceânica – que estão diretamente relacionados às condições climáticas do Planeta.

Recursos – O investimento total estimado do projeto é de US$ 140 milhões. Já o financiamento para a fase inicial de estudos corresponde a US$ 5 milhões, dividido igualmente entre as partes, com duração estimada de nove meses. O estudo técnico preliminar preparado por especialistas de ambos os países prevê um cronograma de quatro anos para o desenvolvimento do satélite. O lançamento deverá ocorrer do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no estado do Maranhão. Em condições normais, inclusive, no que diz respeito ao fluxo dos recursos financeiros, a construção do satélite deverá está concluída no decorrer de 2014.

Como se trata de projeto cooperativo, cada país desenvolverá uma parte do satélite. Dessa forma, a carga útil (sensores para medida da cor do oceano, constituído por câmeras ópticas) será brasileira. Já a plataforma de serviços, que consiste nos subsistemas básicos que suprem as necessidades do satélite em órbita (subsistema de proteção, telecomunicações e controle de atitude), ficará sobre a responsabilidade da Argentina.

Para Carlos Ganem, além do significado político da colaboração com o país vizinho e a maior aproximação dos dois programas espaciais – o que poderá render frutos no futuro – os trabalhos desenvolvidos terão seus custos distribuídos entre os parceiros. “O intercâmbio de experiências e conhecimentos com especialistas são aspectos extremamente benéficos e retomam à tradição do Programa Espacial Brasileiro de cooperação sul/sul iniciada a 22 anos com a China, no Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS)”, observa.

Em atividade, o Sabia-Mar será fundamental para prover informação sobre estudos da biosfera oceânica (ecossistema oceânico, visando a pesca), mapeamento marinho, poluição marinha e gerenciamento costeiro. O monitoramento será feito por meio de sensores ópticos. A área a ser monitorada compreende as Costa Atlântico-Sul, entre o Brasil e a Argentina, na faixa oceânica aberta com extensão de 2200 quilômetros (resolução de 1,1 quilômetro), e na faixa costeira com extensão de 200 quilômetros (resolução de 100 metros).

Os resultados, se solicitados, poderão ser disponibilizados para outros países.


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - num. 9 - Abr. Mai. Jun. de 2010 - pág. 8

Comentário: Se levarmos em conta a atual forma de como o PEB é conduzido neste país, o prazo de quatro anos de desenvolvimento desse satélite (pelo menos da parte que cabe ao Brasil) apresentado pela matéria é nada mais, nada menos que utópico. Exemplos não faltam que comprovem essa minha tese e esse mesmo satélite é um bom exemplo disso. Acordo assinado por volta de 1998 levou-se 12 anos para que o mesmo pudesse partir para a fase de estudos. Meu palpite? Com sorte, por volta de 2017, sem sorte, bom, ai temos o exemplo do SSR-1/Amazônia-1, ou seja, quase 30 anos de desenvolvimento. Acontece que diferentemente do programa de satélites brasileiro, o programa argentino é sério, dinâmico, eficiente e atuante e assim sendo, não é provável que o projeto siga adiante, caso caia no marasmo brasileiro. Vamos aguardar. Esse exemplo também serve para o recente programa IBSA de satélites, que ingenuamente os irmãos sul-africanos andaram divulgando em realizá-lo num prazo de quatro anos, coisa que só seria possível se fosse um programa ISA e não IBSA.

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