ITASAT - Entrevista com o Coordenador do Projeto


Olá leitor!


Dando continuidade a série de entrevista com personalidades do Programa Espacial Brasileiro, segue abaixo a entrevista com o coordenador do projeto do satélite universitário ITASAT, o professor de Eletrônica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), David Fernandes, ao qual agradeço publicamente pela atenção dispensada a nosso blog.


Aproveito também para agradecer ao jovem engenheiro Danilo Miranda da turma pioneira de Engenharia Aeroespacial do ITA pela intermediação deste contato.


Duda Falcão


BRAZILIAN SPACE: Em que situação encontra-se o desenvolvimento do satélite ITASAT?


PROF. DAVID FERNANDES: No momento o Projeto está concluindo a fase A (viabilidade) e iniciando a fase B (definição preliminar) estando previsto para novembro de 2010 a Revisão do Projeto Preliminar (PDR - Preliminary Design Review).


Como está configurado no presente momento o satélite ITASAT-1 será um satélite de coleta de dados espinado que ficará em uma órbita polar ou de grande inclinação (maior ou igual a 25o) a uma altitude aproximada de 600km de altitude (baixa órbita). Tem as dimensões aproximadas de 60x60x60 cm e uma massa estimada de 85kg. A Carga útil principal do ITASAT-1 é um equipamento de coleta de dados digital. O satélite terá ainda, como carga útil, dois experimentos: um estimador de atitude que utiliza dispositivos MEMS e um experimento no qual serão realizadas medidas térmicas para fins de validação de modelos térmicos teóricos.


Estrutura do satélite e da sua configuração interna

O ITASAT tem dimensões de 600x600x600 mm


BRAZILIAN SPACE: Já existe previsão para o seu lançamento?


DAVID FERNANDES: O ITASAT deverá estar pronto para ser lançado, como carona (carga secundária de um lançador) no fim de 2012, início de 2013. O Lançador poderá ser qualquer um que possa injetar o satélite em órbita polar, ou de inclinação superior a 25o, a uma altitude aproximada de 600 km.


BRAZILIAN SPACE: Existe interesse do ITA e das instituições envolvidas em prosseguir com esse tipo de projeto, após o lançamento do ITASAT?


DAVID FERNANDES: O projeto ITASAT tem: a) o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) como o responsável pela execução do Projeto e coordenador da participação de outras instituições de ensino e pesquisa; b) o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) como provedor de consultoria técnica, de infra-estrutura laboratorial e gestor financeiro do Projeto e c) a Agência Espacial Brasileira (AEB) como coordenadora geral e patrocinadora principal do Projeto.


Através do ITA participam ainda a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), a EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da USP), a UEL (Universidade Estadual de Londrina) e a UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). Também já participou do projeto a UnB (Universidade de Brasília). Participam alunos da FEG-UNESP (Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá da UNESP) e alunos a TU Berlin (Universidade Técnica de Berlin) estes últimos através do Programa UNIBRAL da CAPES/DAAD.


O ITASAT está inserido no contexto da Ação 4934/AEB do Plano Plurianual – PPA, de “Desenvolvimento e Lançamento de Satélites Tecnológicos de Pequeno Porte”. A Ação 4934 consiste na realização de uma série de missões destinadas a realizar experimentos, desenvolver e testar inovações de tecnologia de satélites e cargas úteis, e capacitar a indústria espacial brasileira neste segmento. O Projeto “Missão” ITASAT é o primeiro projeto-missão desse programa.


Pretende-se ter uma família de satélites ITASAT sendo o primeiro, o ITASAT-1, um satélite de coleta de dados.


BRAZILIAN SPACE: Quais serão os reais ganhos para o PEB, além do conhecido beneficio que esse satélite trará para o “Sistema Brasileiro de Coletas de Dados Ambientais”?


DAVID FERNANDES: O Projeto ITASAT-1 visa o projeto, construção, lançamento e operação de um satélite universitário tecnológico com a missão de coleta de dados. Mesmo não sendo um satélite operacional ele esta sendo projetado para ser compatível com o Sistema Brasileiro de Coletas de Dados Ambientais.


Com este projeto está se formando recursos humanos (graduação e pós-graduação no ITA e nas instituições participantes) na área espacial e em todos os aspectos que se relacional ao projeto, construção e operação de um satélite. Em março de 2010 o projeto contava com 17 alunos bolsistas de pós-graduação e 7 alunos bolsista de graduação.


O ITASAT, como satélite universitário, testará vários conceitos, entre eles o controle de atitude do satélite, o computador de bordo, o sistema de suprimento de energia, a estrutura do satélite e o seu controle térmico, além das cargas úteis, que incluem dois experimentos. Este projeto também poderá servir de referência para outras iniciativas de satélites universitários.


BRAZILIAN SPACE: Com a desativação do CBERS-2B e o avançado estágio de envelhecimento dos satélites SCD-1 e SCD-2, parece claro que o “Sistema Brasileiro de Coletas de Dados Ambientais” pode entrar em colapso a qualquer momento. Se assim for, a importância hoje do projeto do satélite ITASAT ganha proporções bastante significativas, e como tal não deve ser tratado como carga útil descartável como divulgado por algumas matérias em jornais de grande circulação, dando entender que o mesmo seria lançado num dos vôos tecnológicos do VLS-1. Qual é a sua visão sobre esta possibilidade levantada pela mídia?


DAVID FERNANDES: Apesar da importância e da relevância da missão do ITASAT-1 ele é um satélite tecnológico projetado e construído por estudantes, com o apoio dos seus orientadores e dos engenheiros e pesquisadores do INPE. Na sua construção procura-se utilizar componentes COTS (Commertial off-the-shelf) e que não tenham restrições de compra, além disso ele deve ser de baixo custo. Nos satélites universitários procura-se também testar novos conceitos e pode-se, por assim dizer, arriscar mais.


Devido as restrições de custo os satélites universitários eles são lançados, em geral, como caronas. Este será o caso do ITASAT. Temos em vista vários lançadores e o projeto do ITASAT prevê as restrições que os possíveis lançadores possam impor. A incerteza do lançador, no início do projeto, também impõe desafios e uma série de restrições, que acabam complicando o projeto.


Espera-se que o ITASAT seja lançado como carona de um lançador qualificado que atenda o envelope de restrições do satélite.


BRAZILIAN SPACE: Se o blog não estiver enganado existe um acordo assinado com a Índia que cobre perfeitamente o lançamento deste satélite por um foguete indiano em “piggy-back” (Carona). Não seria esta uma boa opção para a satelitização do ITASAT?


DAVID FERNANDES: Está é uma das possibilidades e a equipe de projeto do ITASAT está levando as características deste lançador em conta.


BRAZILIAN SPACE: Outra opção talvez fosse o lançamento do mesmo pelos chineses de carona com o CBERS-3 ou 4. Existe essa possibilidade?


DAVID FERNANDES: Assim como o lançador Indiano é uma possibilidade outras opções também estão sendo levadas em conta.


A escolha definitiva do lançador deverá ocorrer em 2012 e nesta escolha vários aspectos estarão presentes, entre eles: a compatibilidade entre o ITASAT-1, o lançador e a carga principal do lançador, os acordos existentes entre as empresas/governos e AEB, o custo do lançamento, a época em que ocorrerá o lançamento etc.

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