Defesa Espacial - Artigo Opinião


Segue abaixo um artigo que chamou muito a minha atenção publicado no site Monitor Mercantil Digital em março de 2008 sobre Defesa Espacial por um especialista em relações internacionais do Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj).

Duda Falcão
OPINIÃO

Defesa Espacial Torna-se Realidade, mas Brasil Permanece Alheio




27/03/2008 - 16:03

Eduardo Ítalo Pesce

No dia 21 de fevereiro de 2008, o cruzador norte-americano USS Lake Erie (CG-60) disparou um míssil superfície-ar Standard SM3, com capacidade antibalístico, contra um satélite espião danificado, em órbita a 247 km de altitude, sobre o Oceano Pacífico.

Foi esta a primeira demonstração prática, pela Marinha dos EUA, da capacidade de "guerra nas estrelas" contra um satélite em órbita. Anteriormente, haviam sido efetuados disparos de teste contra mísseis balísticos. A notícia confirma as previsões deste autor, em artigo publicado no Monitor Mercantil de 26 de maio de 1999.

A capacidade de interceptar lançamentos espaciais ou satélites em órbita corresponderia, na guerra naval, ao bloqueio dos portos do inimigo ou à interdição dos acessos marítimos pelos quais os navios inimigos devem passar. O espaço exterior tornou-se uma das múltiplas dimensões da guerra de quarta geração (G4G).

Um centro de lançamento espacial pode ser bloqueado em suas proximidades ou no seu ponto antípoda, uma vez que, qualquer que seja a órbita de destino da carga útil, o vetor de lançamento terá que passar sobre este segundo ponto, para ingressar em órbita.

Os antípodas dos centros espaciais das principais potências estão localizados no mar ou nas proximidades de algum litoral, o que facilita sua interdição (bem como sua defesa) por forças navais ou aeronavais. Por exemplo, o Cabo Canaveral (Flórida, EUA) tem seu antípoda localizado no Oceano Índico, próximo à costa oeste da Austrália.

O Brasil vem desenvolvendo seu programa espacial, voltado para a produção de satélites de uso civil e militar, com os respectivos veículos lançadores. A localização do Centro de Lançamento de Alcântara (Maranhão), próximo ao Equador terrestre, permite o lançamento de cargas úteis em qualquer órbita.

O ponto antípoda de Alcântara fica um pouco ao norte da extremidade leste da Nova Guiné, a uma distância relativamente pequena do Timor Leste. Por ironia do destino, este país de língua portuguesa é o "guardião" da janela de ingresso do Brasil no espaço. Aí deveria ser instalada uma estação de telemetria de satélites brasileira.

Além disso, num futuro não muito distante, a disponibilidade de um ponto de apoio para operações militares naquela região traria vantagens significativas para o Brasil, tendo em vista a necessidade de garantir seu acesso ao espaço exterior e evitar que tal acesso, em caso de conflito, lhe seja negado.

A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) é atualmente constituída por oito países-membros. O Brasil é o extremo ocidental da CPLP, enquanto que o Timor Leste é o extremo oriental. Não é exagero afirmar que "o sol nunca se põe sobre os países de língua portuguesa".

Todavia, o Brasil vem se omitindo, com relação ao Timor Leste. A participação brasileira na Força de Paz da ONU, enviada para supervisionar o processo de independência daquele país, foi excessivamente modesta. Também modesto é o atual nível de cooperação econômica entre os dois países.

A descoberta de importantes reservas de petróleo no Timor Leste contribuiu para aumentar a instabilidade interna do país, devido aos interesses econômicos em confronto. Com isso, o espaço geopolítico vem sendo preenchido, cada vez mais, pela Austrália.

O Timor Leste e os mares que o circundam constituem área estratégica de elevado valor para o Brasil, cuja importância tende a aumentar. Por tal razão, seria conveniente a manutenção de uma presença das Forças Armadas brasileiras na região, possivelmente a cargo da Marinha.

O duplo propósito de estreitar nossos laços de amizade com a nação timorense e demonstrar o interesse brasileiro por aquela área marítima poderia ser alcançado, com a realização de exercícios operativos e visitas de cortesia, por grupos-tarefa e unidades de nossa Esquadra.

Além de intensificar a cooperação econômica e cultural com o Timor Leste, o Brasil deveria ainda prestar assistência militar àquele país lusófono, ajudando a organizar e equipar as Forças Armadas timorenses e formando seus quadros de pessoal militar.

Sob a ótica imediatista que, no Brasil, vem dominando os assuntos ligados à defesa, tais proposições podem parecer visionárias. Contudo, a visão estratégica de um país vai além da simples extrapolação de tendências. Pressupõe a capacidade de antecipar rupturas ou mudanças que afetem os interesses nacionais.

Eduardo Italo Pesce

Especialista em Relações Internacionais, professor no Centro de Produção da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Cepuerj) e colaborador permanente do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Escola de Guerra Naval (Cepe/EGN).


Fonte: Site Monitor Mercantil Digital

Comentário: Esse artigo publicado por um especialista demonstra o que eu venho defendendo através de meu blog. Ou seja, a extrema necessidade que tem um país com as dimensões territoriais e com a importância geopolítica e econômica como o Brasil em investir pesado em ciência e tecnologia espacial e em tecnologia em geral. Não é uma questão de querer investir, e sim de precisar investir, para que o Brasil no futuro possa defender seus interesses a nível mundial. Sem conhecimento tecnológico, isso não será possível e estaremos então a mercê dos interesses de outras nações sem que possamos fazer nada. A visão estrategista do Sr. Eduardo Pesce é nada mais, nada menos, que um alerta para os nossos governantes que estão cegos, pois não conseguem enxergar o momento histórico que estamos vivendo e a extrema necessidade que o país tem em investir em tecnologia como um todo. Essa falta de visão poderá trazer ao país sérios problemas no futuro, pois o abismo tecnológico que separa o Brasil das nações desenvolvidas já é enorme e tenderá a aumentar cada vez mais.

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